Quando o Amor acontece escrita por Lizzy Darcy


Capítulo 53
Capítulo 53




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Quinquagésimo Terceiro Capítulo ❣️

Quando Shirlei despertou, ela nem se lembrava em que momento havia caído no sono. Tudo que sabia era que estava deitada na cama, envolta nos braços de seu príncipe, pois o seu cheiro era característico e inconfundível. Sorriu ao se recordar do beijo que trocaram algumas horas ou minutos antes. Nem mesmo ela sabia a quanto tempo estava dormindo. Mas o beijo... Esse ela nunca iria se esquecer. O segundo primeiro beijo. Como ele mesmo dissera em meio aos beijos e carícias. Quase todas por parte dela, já que Felipe ainda não movia suas mãos o suficiente para poder toca-la. E conhecendo seu noivo tão bem quanto Shirlei, ela tinha noção do quanto deveria estar sendo torturante para ele não poder usar de suas mãos para acarinha-la.

Voltando à realidade, devagar, ela retirou o braço de Felipe de sua cintura e depois de tascar um beijo casto em seus lábios, foi saindo sem fazer barulho. Entretanto, antes que pudesse descer da cama, ela sentiu quando uma mão, de repente, segurou seu pulso, de leve, impedindo-a de continuar sua "fuga noturna".

Virou o rosto e se deparou com os olhos castanhos e brilhantes de seu namorado, que a mirava com as sobrancelhas erguidas.

— Onde a mocinha pensa que vai? - Ele perguntou com a voz rouca, bocejando logo em seguida.

Shirlei sorriu com ternura, principalmente porque imaginou o sacrifício que ele devia ter feito para mover sua mão a fim de lhe segurar o pulso.

— Eu preciso ir embora. - Ela respondeu sem mais detalhes.

A expressão no rosto de Felipe, de garotinho que acaba de perder seu brinquedo preferido, quase partiu o coração de Shirlei em centenas de pedaços.

— Num vai não. - Ele pediu, fazendo bico. - Dorme aqui comigo.

Shirlei acariciou o rosto dele com uma das mãos, que correspondeu esfregando o rosto na mão Dela de olhos fechados como que para sentir o calor da pele Dela. Shirlei derreteu. Entretanto, a imagem de Benjamim lhe veio à mente e ela teve de ser forte.

— Desculpa, mas eu tenho mesmo que ir. - Falou já se desvencilhando da mão de Felipe e seguindo em direção à porta antes que o seu coração tomasse um outro rumo.

— Mas vai assim... sem nem sequer me dá um beijo de boa noite...?

Diante daquela pergunta, Shirlei parou quase que instantaneamente, segurando a maçaneta da porta, com ela entreaberta.

— Vou. - Respondeu ela por fim e sem olhar para trás. Felipe baixou a cabeça decepcionado até escutar Shirlei continuar - Porque se eu te beijar agora, não sei se terei forças suficientes para sair mais desse quarto e... Eu realmente preciso ir. - Felipe levantou a cabeça, sorrindo feliz pela declaração. E se deparou com o olhar apaixonado de Shirlei que o encarava com o rosto virado por cima do ombro.

Ambos soltaram um suspiro e ali ficou bem claro o quanto estavam necessitados um do outro. Mas Shirlei tinha de fazer uma escolha... E foi aí que Felipe escutou quando a porta do seu quarto bateu, levando sua princesa embora.

Sozinho, Felipe sentiu como se um pedaço de seu coração tivesse atravessado aquela maldita porta. Era uma dor que ele não se lembrava jamais ter sentido antes. Então acabou por concluir que o Felipe de antes amava aquele mulher com todas as estruturas e forças de sua alma. E que o Felipe de agora a amava com a mesma intensidade, ou talvez mais, ou talvez espera... Talvez sua cabeça pudesse ter se esquecido Dela, mas o seu coração jamais, em hipótese nenhuma, havia cogitado a ideia de esquecê-la. Era como se ela nunca tivesse sido arrancada dali; como se ela estivesse grudada em seu coração, tal qual a lua no céu.

Sorriu para o nada quando mais uma vez a imagem de Shirlei lhe veio à mente, entretanto seu semblante mudou quando de repente escutou o barulho da porta sendo aberta com ímpeto três minutos depois de Shirlei ter saído. E para sua extrema surpresa...

Era ela.

Felipe Franziu a testa sem compreender o que havia acontecido para aquele retorno tão rápido, contudo nada mais importou quando ele viu Shirlei se aproximando com passos rápidos em sua direção para segurar o seu rosto entre as mãos e selar seu lábios com um beijo de tirar o fôlego.

Ele fechou os olhos e correspondeu ao beijo, aprofundando-o com a língua entrelaçada a Dela. E como gostaria de poder agarra-la com os braços, deita-la naquela cama e fazê-la sua pela segunda primeira vez. Precisava começar essa droga de fisioterapia o mais rápido possível! Ele pensou, desesperado.

O beijo foi demorado e sôfrego, até que cessou com ela mordiscando o lábio inferior dele e passando a ponta da língua em seu lábio superior, quase que como uma tortura.

— Boa noite, príncipe. - Ela murmurou, com a testa encostada na dele, enquanto seu peito e o dele subia e descia, tentando recuperar o fôlego perdido durante o beijo.

Em meio a isso, Felipe abriu a boca para falar algo, mas Shirlei calou sua voz, pousando dois dedos em seu lábios.

— Por favor, não... - Pausou para engolir a seco. - Não fala nada.

Então da mesma forma que entrou, Shirlei saiu rapidamente do quarto dele, batendo a porta atras de si, deixando um Felipe agora bem satisfeitinho para dormir em paz, sentindo o gosto de sua princesa em seus próprio lábios.

Lá fora, alguém se aproximou de Shirlei, enquanto ela estava encostada à porta do quarto de Felipe, tocando os lábios com os dedos e sorrindo como uma boba apaixonada.

— Com licença. - A pessoa pediu, atraindo a atenção de Shirlei, que instantaneamente se recompôs e se virou para ver quem era. - Por acaso, seu nome é Shirlei? - A pessoa perguntou e Shirlei agora podia ver que se tratava de um dos enfermeiros do Hospital.

— Sim, sou eu. Por quê?

— É que estão chamando a senhora na ala dos Achados e Perdidos. É a respeito de uma tal pulseira que a senhora estava procu... - Mas antes que o enfermeiro pudesse terminar a palavra, Shirlei arregalou o olhar, passou por ele quase correndo e foi em direção a tal ala dos Achados e Perdidos. - ...rando. - O enfermeiro terminou de falar, olhando para o corredor por onde Shirlei tinha ido com uma cara de quem não havia entendido nada. Por fim, deu de ombros e foi embora.

Quase cinco minutos depois de Shirlei ter ido embora, Henrique apareceu para visitar seu amigo. Bateu na porta por duas vezes e entrou sem nem ao menos ouvir se podia. Estava apreensivo. Precisava do amigo. Conselhos. E ele nunca em sua vida imaginou ir pedir a ele. Nunca.

— Fala, amigão. - Henrique cumprimentou Felipe, logo que entrou. - E aí, como está se sentindo hoje?

Felipe se acomodou melhor na cabeceira da cama e abriu um sorriso para o amigo.

— Bem melhor. A Shirlei... Cara, ela é demais! - Felipe falou empolgado e com um sorriso Ainda mais aberto.

Henrique se aproximou com as mãos guardadas no bolso. E deu um sorrisinho sugestivo, enquanto seu olhar era de quem estava pensativo.

— Por que será que eu tenho a leve impressão de que já escutei isso antes...?

Felipe fez uma expressão de quem não havia entendido o que o amigo tinha falado.

— Hã? Num entendi, cara.

— Esquece. Você não vai entender mesmo. Mas... Fala aí, em que pé vocês estão?

Por alguns segundos, Felipe ficou pensativo.

— Não sei, cara. Quando eu acho que as coisas irão se ajeitar, ela some... Eu sinceramente não entendo.

— Um dia você vai entender. Por hora confia nela, cara. Tudo que ela faz quando some é importante. E em certa parte tem a ver com você.

Felipe Franziu a testa.

— Comigo...? Cara, quando você quer ser enigmático, você consegue, hein?

Henrique deu uma gargalhada.

— Eu sou o cara! - Felipe revirou os olhos. E Henrique aproveitou para entrar no verdadeiro assunto que o levou até ali. - Aí, amigão, tô precisando de uns conselhos.

— Você me pedindo conselhos? Isso é novidade pra mim. - Felipe debochou.

— Pra mim também. Mas é que... Tô com um problema aí com duas escovas de dente que tá comendo o pouco juízo que eu tenho.

Felipe levantou as sobrancelhas.

— Peraí, escovas de dente? Quer ser uma pouquinho mais claro, por favor, obrigado!

Henrique soltou uma lufada de ar.

— Sabe o que é, amigão, eu tô namorando. E antes que você me pergunte, ela é a irmã da Shirlei. - Felipe arregalou o olhar. - A gente tá namorando há uns dois meses. E essa semana quando eu cheguei em casa, lá estava a escova Dela junto da minha. Junto, cara. Cê sabe o que isso significa, né? - Felipe esperou o próprio amigo responder. - Ela quer coisa séria, amigão. E eu não sei se eu tô preparado, a verdade é essa.

Felipe piscou os olhos diante do desabafo. Achou um absurdo o amigo estar tão preocupado por causa de uma escova de dentes, mas conhecendo o amigo como conhecia, sabia que aquilo estava tirando o seu sossego. E se tinha alguma coisa que Henrique prezava era o seu sossego, ou em outras palavras, a sua solteirice.

— É, amigão, a coisa tá seria mesmo. - Felipe afirmou, mas ele mesmo sabia o quanto estava exagerando. Entretanto queria testa uma coisa com o amigo para saber que tipo de sentimento ele tinha com sua cunhada. - Mas... Acho que eu tenho a solução para o seu problema.

Henrique levantou as sobrancelhas, animado.

— Ah é? Qual?

— Simples. Acaba esse namoro.

Henrique paralisou, tentando processar aquele conselho, até que...

— Como é que é? Terminar com a Tancinha? Tá maluco cara?!

Felipe soltou um suspiro.

— Henrique, entende uma coisa... As mulheres têm expectativas, cara. A Tancinha com certeza não deve ser diferente. Então se você não tem intensão de corresponder, o melhor que você faz é deixá-la livre para que ela possa encontrar um cara que possa fazer isso. Vai que esse cara esteja na fila do pão numa hora em que ela vá comprar e ela só não conheceu ele porque está presa a você. Acha isso justo?

Henrique Franziu a testa, indignado.

— Cara, pra seu governo, Tancinha nem gosta de pão.

— Mas... Vai que a mãe Dela tenha a ideia de mandar ela comprar...

— A mãe Dela... mandar ela comprar pão...? Eu num vou deixar, cara! Mas não vou deixar mesmo! A Tancinha é minha! Ai de quem se aproximar Dela na fila do pão. Eu sou capaz de... de... - Henrique dizia, cerrando os punhos. - Ah, cara, eu nem sei do que eu seria capaz! E quer saber, eu vou agora mesmo deixar isso bem claro pra ela!

Felipe se segurou para não rir. O amigo tinha caído direitinho em sua história, pois o mosquito verde do ciúme nunca falha.

Então em meio aos seus pensamentos e sua vontade de rir, Felipe viu quando o amigo girou os calcanhares e saiu apressado, batendo a porta com força, esquecendo-se até mesmo de se despedir.

Enquanto isso, no quarto de Shirlei, Tancinha tinha acabado de dar banho em Benjamin e naquele momento estava enxugando o pequeno, enquanto o mesmo lhe dava aqueles sorrisos sociais que derretia o coração de quem quer que visse, quando de repente, escutou o barulho da porta sendo aberta com vontade.

Automaticamente, Tancinha se virou para ver de quem se tratava. E se deparou com um Henrique, que parecia ofegante, como se tivesse corrido muito. E era verdade.

— Ma o que aconteceu pra você me entrar assim no quarto? Tá tudo bem, Henrico? - Tancinha perguntou, franzindo a testa.

Foi aí que Henrique diminuiu a distância entre eles e segurou os braços de Tancinha com um pouco mais de força do que de costume.

— Aconteceu. - Henrique começou a dizer. - Aconteceu que eu não vou deixar você comprar pão coisa nenhuma. - Tancinha Franzoi Ainda mais a testa. Que tipo de loucura era aquela que seu namorado estava falando? - Se você estiver com vontade de comprar pão, eu vou com você e ai de quem se atrever a colocar os olhos em você!

— Ma você me tá louco? Dá pra fazer sentido porque eu não tô me entendendo nada!

Antes de responder, Henrique segurou o rosto dela entre as mãos, segurando o olhar Dela com o seu. O coração de Tancinha disparou.

— Eu vou fazer sentido, Tancinha. E você vai entender... A verdade é que eu não tinha percebido até agora, mas eu não consigo mais me ver sem você. Por isso mesmo contra tudo o que eu sou, eu vim aqui pra saber se você... Aceita juntar sua escova de dentes com a minha para sempre?

Os olhos de Tancinha começaram a ficar marejados. E um sorriso frouxo começou a se formar em seu rosto quase que involuntariamente.

— Henrico, você num me brinca comigo porque...

— Eu não tô brincando. Aliás, eu nunca falei tão sério em toda minha vida. É isso é bem raro em se tratando de mim! Mas... A verdade é que eu... Me amo você, Tancinha, e quero saber se você aceita se casar comigo?

O rosto de Tancinha ficou encharcado com as lágrimas Dela e num ímpeto, ela segurou o rosto do namorado entre as mãos e depois de abrir um largo sorriso, respondeu:

— Ma é claro que eu me aceito casar com você, Henrico. Porque eu também me amo você demais!

Henrique nunca imaginou, mas lágrimas de alegria começaram a derramar em seu rosto, enquanto um sorriso que ia de orelha a orelha se formava em seu rosto. Então foi aí que ele trouxe os lábios Dela de encontro aos seus, e o beijo foi intenso e sôfrego, selando o sim dado em seus corações para sempre.

Entretanto aquele momento de entrega foi logo interrompido por batidas na porta.

— Entra. - Tancinha disse após se afastar de Henrique e se recompor.

Uma enfermeira toda paramentada com máscara e gorro nos cabelos abriu a porta devagar e entrou.

— Desculpa interromper - A voz dela saiu abafada pela máscara. - Mas é que o médico me pediu para levar o menino para fazer alguns exames.

Tancinha Franziu a testa. Ela estava sendo abraçada por trás por Henrique, que só observava a enfermeira, desconfiado.

— Ma que exames são esses? Eu não me estava nem sabendo que o Ben ia fazer exames hoje.

— Pois é. Mas... São ordens médicas. Só estou cumprindo. Posso levar o menino?

Tancinha encarou a enfermeira, desconfiada. E Henrique teve a leve impressão de que aquele olhar não lhe era estranho.

Entretanto, mesmo em meio a dúvida, Tancinha não quis questionar algo que pudesse prejudicar a saúde de Eliseu afilhado. Longe Dela uma coisa dessas!

Por isso, sem mais pensar, ela vestiu o pequeno Benjamin e o entregou nas mãos da enfermeira que sem dizer mais nada, saiu apressadamente do quarto.

— Eu hein? Coisa mais estranha. Se o Ben me tinha de fazer exames porque a Shirlei não me disse nada?

Henrique deu de ombros.

— Ah, vai ver ela se esqueceu, mas... Só por via das dúvidas, o que você acha da gente ir procurar a sua irmã para esclarecer isso?

— Eu me acho uma ótima ideia. Vamos?

Henrique concordou e os dois saíram de mãos dadas em busca de Shirlei pelo Hospital.

***************

— Mas o senhor tem certeza de que não encontrou nenhuma pulseira? Ela é cheia de berloques e... O senhor não faz ideia da importância que essa pulseira tem pra mim! - Shirlei explicou ao atendente dos Achados e Perdidos, logo depois dele vasculhar todos os armários e afins do lugar.

— Sim. Eu sinto muito, mas... Essa pulseira não está aqui. Eu tenho certeza.

Shirlei soltou um suspiro frustrado.

— Está bem. Muito obrigada. E desculpa o incomodo. - Ela disse e de pois de menear a cabeça com um sorriso triste, saiu da sala. - Droga! Será que eu nunca vou conseguir encontrar... - Shirlei falou para si mesma, enquanto percorria o corredor do Hospital direção ao seu quarto. - Me perdoa, príncipe, por ter perdido um pedaço da nossa história!

Em meio aos seus devaneios, Shirlei deu de encontro com sua irmã e Henrique. Ela olhou para os braços de Tancinha e estranhou o fato dela não está com Benjamin. E mesmo sem saber o que tinha acontecido, sentiu seu coração apertar.

— Tancinha, cadê meu filho?

Tancinha parou e segurou as mãos da irmã entre as suas.

— Não se preocupe. Ele só me foi fazer uns exames.

Shirlei Franziu a testa.

— Que exames são esses, Tancinha? - Shirlei começou a ter um mau pressentimento e isso estava apertando Ainda mais o seu coração.

— Ma a enfermeira não me explicou pra mim. Só disse que o médico foi que me tinha mandado ela ir buscar.

Shirlei engoliu a seco. E sem pensar duas vezes, ela passou correndo entre os dois. Precisava saber que história estranha era essa de exames, já que ela não estava sabendo disso.

Entrou na sala do Pediatra sem nem sequer bater, tamanho era seu desespero.

— Desculpa entrar assim, doutor, mas eu precisava saber... Que exames são esses que o senhor mandou fazer no meu filho?

O Pediatra Franziu a testa sem entender.

— Exames? Mas que eu saiba eu não pedi nenhum tipo de exame hoje para nenhuma criança. Explique-se melhor.

A respiração de Shirlei começou a faltar e ela se tornou ofegante, ao mesmo tempo que seus olhos já começavam a ficar marejado pelas lágrimas que se formavam.

Ela espalmou as duas mãos na mesa do médico, encarando-o com fúria.

— Doutor, uma enfermeira foi buscar o meu filho com a desculpa de que o senhor tinha pedido uns exames. E eu exijo saber agora mesmo, CADÊ O MEU FILHO?

O médico arregalou o olhar, assustado com a atitude de Shirlei.

— Eu sinto muito, senhorita Shirlei, mas eu de verdade não pedi exame nenhum para seu filho é muito menos mandei que uma enfermeira o buscasse em seu quarto!

Lágrimas de desespero começaram a descer pelo rosto de Shirlei. E o seu desespero e angústia eram nítidas em sua expressão. Ela colocou a mão na testa e começou a caminhar de um lado para o outro.

— Como o senhor não sabe? O senhor tem de me dar uma explicação! Meu filho sumiu e eu quero ele, AGORA! - Trincou os dentes.

Tancinha e Henrique entraram na sala. E só ver a sua irmã naquele estado, Tancinha correu para conforta-la em um abraço forte.

— Acho bom vocês se acalmarem. - O médico disse ao se levantar, recebendo de Shirlei um olhar fuzilante. - Nós ainda não sabemos o que realmente aconteceu, então eu sugiro que um de vocês vá até a recepção e peça que anunciem o desaparecimento da criança. E vocês vão ver que tudo isso não passou de um mau entendido.

— Eu vou. - Henrique se prontificou já atravessando a porta, correndo enlouquecido.

Todo o corpo de Shirlei tremia enquanto Tancinha dava a ela um copo com água e açúcar. Ela não aceitou nenhum medicamento com medo de que a sedassem.

Elas estavam sentadas no sofá da sala do médico quando quase meia hora depois, Henrique voltou com notícia. Sua expressão não era nada boa. É isso fez com que o coração de Shirlei fosse se despedaçando aos poucos, enquanto seus ombros subiam com os soluços do choro.

— Então, Henrico, você me descobriu alguma coisa? - Tancinha perguntou já que Shirlei parecia não está nem em condições de falar.

— Descobri. - Ele respondeu e Shirlei enxugou as lágrimas, ficando atenta ao que ele ia dizer. - Depois de procurar meu afilhado por toda parte, um dos enfermeiros me deu a ideia de checar as câmeras de segurança. E foi o que eu fiz. - Pausou para encarar diretamente a cunhada - Shirlei, a enfermeira que entrou no quarto não era enfermeira coisa nenhuma. Ela era a Jéssica disfarçada. Eu a reconheci e... Vi quando ela saiu do Hospital segurando o Ben nos braços.

Shirlei se levantou abruptamente.

— A Jéssica? Mas o que... Ela não pode ter feito isso comigo! Ela não poderei sequestrado o meu filho! Não pode! Henrique fala que isso é mentira!!! - Shirlei pediu implorando e segurando o colarinho do amigo em desespero. - Fala, Henrique! Fala que é mentira! - A voz de Shirlei saiu falha e embargada pelo choro estarrecedor.

Henrique engoliu a seco e segurando as mãos da cunhada que lhe seguravam o colarinho, ele respondeu com a voz triste:

— Eu sinto muito, Shirlei, museu não posso dizer que é mentira.

Então diante disso, Shirlei simplesmente foi retirando as mãos de seu colarinho e se deixando cair no chão, enquanto gritava desesperada:

— Nãããããão!

****************

— Pronto, o bastardinho já está comigo como eu disse a você que faria. - Jéssica falava no celular em meio ao choro do pequeno, que estava no banco de passageiro. - Então, a senhora chegou de viagem? Posso ir no seu apartamento para que nós possamos traçar um plano do que vamos fazer com o pirralho? Ótimo. Chego aí em no máximo meia hora. Não se preocupe, Dona Vitória, porque agora nós conseguiremos separar aqueles dois para sempre. Eu garanto!

Então depois de ouvir sua ex sogra concordar com tudo, Jéssica desligou o celular e acelerou o carro. Queria chegar o mais depressa possível lá, pois não via a hora de destruir o Amor Shirlipe.

***************

Alguma horas depois, Já era de madrugada, quase duas horas, e Shirlei não havia pregado o olho, pois suas lágrimas não paravam de descer, enquanto Tancinha e Henrique não paravam de procurar meios para encontrar o afilhado. Tinham até mesmo acionado a polícia, que já estava fazendo seu trabalho. Mas sem sucesso até o momento.

— Tancinha, o que eu vou fazer da minha vida se a Jéssica fizer alguma coisa com o meu filho? Tá doendo muito minha irmã. Faz parar de doer! - Pediu Shirlei, recebendo todo o carinho de Tancinha que não havia saído um só segundo de seu lado. E naquele instante a apertou Ainda mais forte contra o peito.

Mas foi em meio a isso, que ambas escutaram a porta sendo aberta.

Ambas viraram pare ver de quem se tratava, e para sua imensa surpresa... Era Vitória. Shirlei se levantou, enxugando as lágrimas.

— Dona Vitória, o que a senhora tá fazendo aqui?

— Quando eu disse daquela vez que estava disposta a me redimir com você, Shirlei... Eu estava falando muito sério. Por isso eu vim aqui para devolver pra você... O seu filho.

Nesse momento, uma enfermeira entrou no quarto, carregando Benjamin nos braços que só chorava. Shirlei correu ao seu encontro e arrancou seu filho dos braços da enfermeira, e em meio a um grande sorriso de felicidade e as lágrimas, ela beijava o filho sem parar.

— Meu filho, meu principezinho, minha vida, meu amor...! Obrigada, Senhor! Muito obrigada por me devolver um pedaço de mim!

E foi aí que seus olhos se voltaram para os de Vitória.

— Mas como...? Como a senhora conseguiu trazer o meu filho de volta?

Dona Vitória deu um sorriso sem graça.

— A Jéssica me ligou e quis me inserir em seu plano para sequestrar meu neto. Mas... Como eu disse... Eu quero me redimir, então eu armei uma armadilha e quando ela chegou na minha casa, era a polícia quem a esperava. E ela teve de devolver o seu filho... O meu neto.

Shirlei mal podia acreditar no que estava ouvindo, ficou estupefata. Dona Vitória realmente tinha se arrependido e ela agora devia a sua própria vida a ela.

— Bom, era isso. - Vitoria falou, enquanto arrumava a bolsa no ombro. - Eu só vim mesmo para devolver o seu filho e...

— A senhora está perdoada, Dona Vitória. Por mim, tudo está esquecido e... Agora tudo que eu quero é olhar para frente. Para um lugar em que nós Ainda iremos brigar muito. - Vitória Franziu a testa. - Mas é por causa do tanto que eu tenho certeza que a senhora vai encher de mimos esse seu neto. - Shirlei sorriu com ternura. E foi correspondida por um sorriso terno e verdadeiro de alguém que agora definitivamente se tornava sua sogra e avó de seu filho tão amado.

****************

Dois dias se passaram desde o triste episódio de quase sequestro. Com medo de deixar o seu filho sozinho, Shirlei não apareceu nenhuma vez para visitar seu noivo, que já se encontrava desesperado de tanta saudade. Mesmo que nesse tempo, ele tenha dedicado a fazer sua fisioterapia e já estivesse obtendo grandes progressos, tudo que Felipe mais queria era ver a sua princesa.

— Eu já disse, amigão, a Shirlei teve um probleminha e... Precisou ficar um tempo afastada, mas logo logo ela tá aí pra você largar mão de ser mimado! - Henrique explicou pela milésima vez naquela noite em que foi visitar o amigo.

Felipe que já se encontrava de pé, colocou as mãos na cintura, indignado.

— Henrique, fala a verdade, cara! A Shirlei não quer mais me ver, né? Ela cansou de mim. Cansou de esperar que eu recuperasse a memória, não foi?

Henrique revirou os olhos.

— Cara, que maluquice é essa?! Claro que a Shirlei não se cansou de você! É mais fácil o céu virar cor de rosa do que isso acontecer. Eu já disse e vou repetir... Confia na Shirlei. Confia no Amor de vocês, cara!

Felipe soltou uma lufada de ar. A saudade e a angústia de não saber nenhuma notícia de sua princesa tinham uma força tão grande em seu coração que Felipe não estava conseguindo nem raciocinar em cima de confiança.

— Cara, me diz onde ela tá? Pelo amor de Deus, me fala! - Felipe implorou.

— Eu não posso, cara. É quer saber do que mais, tô indo nessa! Mas relaxa que a Shirlei logo logo aparece por aqui. Então paciência, cara! - Henrique disse, segurando o ombro do amigo para em seguida sorrir e saindo quarto, deixando um Felipe mais agoniado do que já estava.

**************************

— Cadê o principezinho da mamãe? - Shirlei brincava com o seu filho, enquanto o enxugava com uma toalha felpuda que tinha orelhinhas. - Assô, mamãe! - Ela disse já colocando a fralda no pequeno que correspondia a tudo que a mãe dizia com um sorrisinho social e os olhos brilhantes do pai. - Meu principezinho agora vai mamar pra depois ir mimir, tá certo? Tá, mamãe? Cê quer dormir com a mamãe, quer? Você quer, minha vida? Mamãe ama tanto esse menino, mais tanto, tanto que... eu tenho vontade de apertar e da muito beijo... huuuuuuummmm... - Shirlei dizia enquanto salpicava seu pequeno com beijos estralados.

— Shirlei? - Alguém chamou por ela, depois de abrir a porta que nem foi escutado por Shirlei, tão absorta ela estava em seu momento maternal. Era uma voz masculina, que Shirlei teve a impressão de conhecer muito bem, mas temos em acreditar que fosse quem ela estava pensando.

Ela se virou e quando seu olhar se deparou com o de um homem parado, e olhando para ela desconcertado, o coração de Shirlei deu um salto que quase explodia sua caixa torácica.

— Felipe? - Ela arregalou o olhar, pois estava com Benjamim em seus braços.

Felipe diminuiu a distância entre eles. E seu olhar se voltou para o menino risonho nos braços de sua amada. Ele era lindo e tinha os olhos brilhantes e vívidos como os de... Como os dele!

Felipe arregalou o olhar, então enquanto permitia que a criança agarrasse o seu dedo, sorrindo, ele encarou Shirlei, que já estava emocionada e lacrimejava.

Felipe engoliu a seco. - Shirlei, quem é essa criança? - Shirlei não conseguia responder, pois parecia que sua vez se encontrava entalada naquele momento. - Vamos, Shirlei, responde! Quem é essa criança? - Felipe insistiu, o coração já dizendo com todas as letras de quem se tratava, mas ele queria ouvir da boca de sua noiva. Precisava ouvir para acreditar no que o seu coração já tinha plena certeza.

Mas o silêncio Ainda foi a resposta de Shirlei.

Foi aí que Felipe deu dois passos para trás, e sua cabeça começou a rodar. Ele ficou tão tonto com aquela revelação que segurou a cabeça com força, pois uma dor lancinante tomou conta Dela, enquanto algumas frases ditas por ele juntamente com imagens vinham em sua mente como flashs de sua vida.

" Eu nunca ia te deixar cair."

"Eu me chamo Felipe. E você como se chama..."

" Não. Nada disso. Ela não me parecia maluca. Henrique, eu sei que você vai me achar meio louco, mas... ela era diferente de todas as mulheres que eu já conheci. Sei lá, ela tinha os olhos tão expressivos, sabe? E um sorriso que chegava a ser... Puro. "

" Shirlei, será que eu posso?"

" E eu não costumo forçar a barra. Portanto, Shirlei, se algum dia a gente se beijar de novo... Esse beijo vai ter que partir de você. "

" Eu sei o que você quer, Shirlei. E você também sabe. Só é um pouco teimosa pra aceitar. E como eu disse... Vai ter que partir de você."

" Eu tenho vinte dias, num tenho? Então? Eu vou te provar que você não quer ficar com ele, que é a mim que você quer. "

" Shirlei, se eu fiz tudo isso foi porque o que eu tô sentindo por você é muito sincero. Muito forte também. E... eu espero que ao final de tudo isso você consiga compreender. "

" Porque uma vez você me disse que quando a gente tá apaixonado, a gente sente um frio na barriga, as mãos transpiram, as pernas ficam bambas e a gente até perde a fala... E isso, Shirlei, eu nunca senti com mulher nenhuma, só com você."

" O que eu proponho é que você peça um tempo para o seu noivo porque é justo com ele, né? Já que você traiu ele. Mas... não por muito tempo. Por 15 dias apenas. Tempo suficiente pra que eu... possa tentar provar pra você que eu posso ser o cara certo pra você!"

" Cada dia dos quinze você receberá um berloque correspondente..."

" Princesa, a gente sozinho aqui... Não tá dando certo. E eu quero de verdade te respeitar, mas tá difícil resistir... Ainda mais com essa chuva caindo, esse friozinho... Princesa, por favor, confia em mim, melhor eu te deixar em casa! "

"Isso tudo é pra você, princesa. De mim pra você. "

" Eu disse. Mas é porque você não faz ideia do quanto eu tava precisando ouvir isso que você disse agora. Desculpa, se eu pareci egoísta, mas... Eu achava que tava sozinho nessa. Ainda mais depois de ouvir que você anda falando todos os dias com o seu ex noivo. Você não sabe o quanto eu tive medo de você me deixar virar o barco. De você me deixar terminar o nosso namoro. De perder você, princesa... "

" Lembra do que eu te disse na primeira vez que a gente se viu? "Eu nunca ia te deixar cair"

"Princesa... Eu só não te disse até agora porque eu tinha medo de que você achasse cedo ou sei lá, mas eu te amo desde o nosso primeiro beijo ou melhor desde a primeira vez que eu pus os olhos em você naquele palco. Se brincar eu te amo antes da gente se conhecer porque a verdade é que eu esperei por você a minha vida inteira, princesa. "

" Eu tô sim, pode acreditar. Porque essa não é só a sua primeira vez, mas é a minha também. Princesa, não é nenhuma novidade pra você que eu tive muitas mulheres, eu nunca escondi isso, mas... sei lá, eu nunca tive vontade de organizar um momento ou preparar um dia como eu tô fazendo pra você. O que eu tô querendo dizer é que com elas sempre foi só coisa de pele, entende? Com você, eu sinto que pela primeira vez na vida... Eu vou fazer amor. "

" Eu te amo, princesa... E sou seu. Pra sempre seu! "

" Eu já disse. Porque como a gente vai seguir em frente, eu não queria que a gente já começasse com mentiras. E quanto ao porquê de eu ter dormido com ela... Ah, Shirlei, eu sou homem! Você acha o quê? Já fazia um tempão que eu tava ali tentando com você e você se fazendo de difícil, dando uma de puritana, santinha... Quer mesmo saber? Tava de saco cheio! Então pra aguentar mais um pouquinho até Paris, fui buscar na Helô o que você não me dava e... "

" Eu ainda tenho que achar a Dona desse sapatinho. É que no fim do vai ela correu e acabou esquecendo e eu prometi que um dia me casaria com a Dona do pé que coubesse esse sapatinho. Serviu"

" É, eu devia ter desconfiado sim, mas sabe quando bate o desespero e... Droga, Henrique, eu não consigo dormir direito faz um mês ... Eu tô a ponto de enlouquecer. Eu preciso vê a Shirlei de novo, sentir o cheiro dela, o toque... Eu não aguento mais, cara! "

" Sabe que você ainda me deve uma explicação, né, mocinha? Mas por hora, tudo que eu quero é ter você de novo nos meus braços e sentir que ninguém vai tomar você de mim... Que você é minha. Só minha!"

" Oi você aí dentro, eu sou o seu papai. Sabia que eu amo muito a sua mamãe? E que a gente já te ama muito? Vem logo, viu? A gente tá te esperando e vai preparar um quarto bem bonito pra quando você chegar e... "

" Tá ouvindo, princesa? É o coraçãozinho dele. "

" Princesa, nessa pulseira tá faltando o último berloque... O definitivo. Aquele que mudará as nossas vidas pra sempre. Aquele que provará de uma vez por todas o quanto eu te amo e o quanto eu quero passar o resto da minha vida com você. Dividir e partilhar cada sorriso e cada lágrima com a mulher que mudou a minha vida. Que me mostrou que contos de fadas existem sim. Só depende dos nossos corações para que eles possam acontecer e QUANDO O AMOR ACONTECE... ele é pra sempre! "

" Então, Shirlei Rigoni Di Marino, minha Princesa, meu amor, você aceita se casar comigo?"

" O nosso principezinho. Já escolheu um nome? "

" Ele vai se chamar Benjamin, que significa, filho da Felicidade. "

" Benjamin, Benjamin, Benjamin..."

E o nome dele se repetiu na cabeça de Felipe por alguns minutos, até que de repente, ele olhou para Shirlei e disse uma única palavra, aquela que ele não dizia há muito tempo:

— Princesa...?

Com os olhos arregalados e marejados, Shirlei encarou o noivo.

— Príncipe, será que você por acaso se lembrou de...

— De que eu amo você? - Felipe questionou para um Shirlei com expressão de interrogação no olhar. Então ele se aproximou e fazendo um carinho em seu rosto, continuou: - Mas disso eu nunca esqueci. - Shirlei baixou o olhar desapontada pelo fato de que sua esperança de que ele pudesse ter recuperado a memória era só ilusão - Acho que o nosso filho é uma mistura da gente. Nosso Benjamim é muito lindo.

O coração de Shirlei disparou e ela levantou o olhar que ao se encontrar com o dele foi como se tudo voltasse para o lugar certo.

— Príncipe, eu não disse que ele se chamava Benjamin e...

Felipe sorriu, os olhos marejados.

— Foi. Você não disse.

Shirlei arregalou o olhar.

— Príncipe, sua memória voltou!

— Voltou, princesa. Junto com todo o Amor que eu sinto por vocês dois!

Então, retirando Benjamin dos braços de Shirlei, ele o abraçou e chorou.

Chorou muito.

De Felicidade.

Felicidade por conhecer o seu filho pela primeira vez. Felicidade por formar uma pequena família com quem mais amava... Sua princesa, que o olhava com um sorriso lindo, aquele mesmo sorriso que o conquistou.

Um sorriso puro.

E foi aí que Felipe puxou Shirlei para um abraço e os três juntos formaram uma linda pequena família, e um só coração!


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