Pokémon - Reverse Gracidea escrita por Golden Boy


Capítulo 10
10 - Entre trabucos e cavaleiros.


Notas iniciais do capítulo

Um capítulo um pouco maior do que estou acostumado a escrever, gosto de fazer capítulos um pouco menores por que é mais meu estilo algo compacto, mas com algum conteúdo. Espero que leiam mesmo assim o/
E é aqui que começa tudo.



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 Thomas levou Aaron e Glazier até seu carro, e os empurrou para dentro. Entrou na parte da frente, e esperou seu pokémon se aproximar para retorna-lo a pokébola. Em seguida, acelerou. Glazier só podia pensar no dinheiro que gastara com aquela viagem, mas agora pelo menos estavam seguros, longe daquela feiticeira. Seu corpo estava totalmente molhado, e ele ainda sentia muito calor no peito e no braço esquerdo. Aaron, por outro lado, estava assustado. Nunca sentira tanta adrenalina correndo por suas veias. Seu coração batia rápido, e nunca sentira tanto medo na vida real, só durante aqueles pesadelos. Malditos pesadelos. Embora fossem aterrorizantes, ele preferia ter trezentos daqueles do que ver Glazier morrendo.

 — Pode nos deixar no Hotel Hearthome. — disse Glazier, quebrando a linha de pensamento de Aaron. — Obrigado por nos salvar.

 — Não. — respondeu, secamente. O instinto do garoto ruivo foi levar a mão até a espada, mas então se lembrou que tinha deixado ela no hotel. Aaron estava olhando a paisagem, a chuva caindo e molhando a janela, enquanto olhava para a pokébola de Chan. Por que, depois de todo aquele tempo, ele tinha ficado assim? Será que uma evolução pode mudar um pokémon? Ao que parece, sim. Não prestava atenção na conversa de Glazier e Thomas.

 — Então terei que matar você. Pare o carro agora. — Glazier fez uma arma com as mãos e pressionou contra o banco do motorista.

 — Vocês estão desarmados, já chequei. Se fosse sua intenção me matar, já teria atirado no momento que eu disse "não". 

 — Quem é você? 

 — Thomas Surge, eu já disse. Fui contratado pelo seu pai pra te levar de volta para Snowpoint. Estamos indo pra lá agora. 

 — Snowpoint? Pai? Glazier, você não era órfão? — Aaron de repente começou a prestar atenção, e fez sua melhor cara de tristeza.

 — Eu... precisei ocultar algumas coisas sobre mim. Desculpe. — Aaron sorriu ao ouvir aquilo.

 — Eu soube desde o começo! Glazier não é um nome tão comum, sabe? Te peguei!

 — Você... sempre soube? Por que não me disse?!

 — Queria ver se algum dia você ia me contar a verdade, ou se esconderia de mim para sempre. — dessa vez ele estava realmente chateado. — Mas tanto faz, você é um fucking príncipe! 

 — Não é tão simples, eu sou o sétimo na linhagem pra ser rei. E mesmo que eu fosse rei, isso não me dá direito a nada. Eu nem sou importante pra eles.

 — Na verdade, é sim. É o único feiticeiro vivo dos Novek. — se intrometeu Thomas. Aaron ficou encarando ele, esperando que ele soltasse uma risada ou algo do tipo indicando que estava brincando. Mas não aconteceu.

 — Você está brincando, certo? — perguntou Aaron, enquanto via Glazier visivelmente tentando ignorar aquele assunto.

 — Não. Não brinco em serviço, garoto. — Glazier olhou pela janela e percebeu que eles deixavam Hearthome. Aaron voltou a olhar para a pokébola de Chan. Punsy estava dormindo, e Chan dava socos e chutes no ar, incansavelmente. Como Monferno, parecia mais confiante, mas também perigoso. Era triste, se pensasse por este lado, e por isso, Aaron evitava pensar por qualquer lado que não fosse a mudança. Ele imaginava, para si, Chan mudando e evoluindo, e um dia sendo seu companheiro novamente. 

 — Olha, eu posso pagar o dobro do que ele está te pagando por esse serviço. — insistiu Glazier, voltando a visão para dentro do carro.

 — Sou um velho amigo do seu pai, tô fazendo isso pelos velhos tempos, não por dinheiro. — Thomas respondeu, e então Glazier percebeu que não valia mais a pena insistir. Agora já estava seco, graças ao aquecedor do carro de Thomas. Dormira mal a noite passada, então cochilou rapidamente, caindo inconscientemente no ombro de Aaron, que também já dormia. Thomas olhou para eles pelo retrovisor, e cerrou os olhos. Eles logo sofreriam. Pensou em acabar com tudo aquilo bem ali, com sua pistola, mas não tinha coragem para matar crianças. Se lembrou do garoto Dubois, e mesmo depois de um mês caçando ele, ainda assim hesitou para matá-lo. E então o deixou ir. E faria o mesmo com aqueles dois.

 +++++

 Quando Peter, Mercy e o Lucario de olhos vermelhos chegaram na terceira torre para achar Salamence e Bruce, se depararam com o filho de Skarnak, Oryn, olhando a batalha na montanha. Suas orelhas pontudas passavam pelo cabelo branco curto, e seus olhos eram azuis. Não parecia ser albino, seus cabelos também não pareciam tingidos. E aquelas orelhas definitivamente não eram normais para um humano. Outro trabuco foi disparado, na direção da torre onde eles estavam. Peter colocou Salamence na pokébola, e Mercy fez o mesmo com Bruce, e então encararam Oryn, que se virou vagarosamente.

— Nós vamos te proteger. — disse Peter. Eles não subiram em Salamence, precisavam pegar a caixa de ferro que os tirou de Floaroma antes. E então disse isso em voz alta, parecia totalmente idiota arriscar sua vida por uma caixa que não abria. Mas Peter sentia que devia fazer aquilo, e inconscientemente, Mercy também. Abriu a porta que levava para a escada em espiral que descia por toda a torre. E foi quando sentiu uma pontada. Um tiro, de uma besta. Caiu na parede, e Mercy logo foi em seu socorro, derrubando o cavaleiro antes dele recarregar e roubando sua arma. Ele correu assim que ela apontou a besta para ele.

 A flecha atravessou por seu ombro direito, e Peter agora perdia a consciência, talvez por medo, talvez pela dor que parecia não sentir. Seus olhos se fecharam, e seu corpo desmaiado caiu na escada de pedra. Mercy pegou a besta do chão, e a jogou no meio da escada, a fazendo cair até o primeiro andar e se quebrar. 

Correu pelos degraus quando viu o garoto albino se aproximando, e ela fez um gesto para que ele cuidasse de Peter. Enquanto ela descia a escada espiralada com um sentimento de determinação correndo pelas veias seus cabelos rosa agora na altura do ombro voavam para trás com a velocidade em que ela se movia. Quando chegou no fim, estava suando, e se viu de cara com um cavaleiro, que possuía um ferimento mortal, jogado perto da porta. Seu capacete parecia estar preso, então ela o ajudou. Seus olhos eram azuis, e seu cabelo grisalho. Mercy se levantou para voltar a sua procura, mas foi surpreendida por um pedido do homem no leito de morte.

— Por favor, não me abandone em meus últimos momentos. Não quero morrer sozinho. — a preocupação e o medo em sua voz eram perceptíveis. Mercy não era empática, nunca fora. Mesmo que nunca dissesse aquilo em voz alta, ela não sentia pena ou empatia por outra pessoa senão ela mesma. Mas não podia ignorar um pedido como aqueles, e então se sentou ao lado do homem, que gemia de dor. 

— Qual seu nome?

— Ted, pelo que me lembro. Essa maldita guerra...

— Luta por quem?

— Não luto por ninguém, além de minha lâmina. Os que protejo me dão segurança e dinheiro. Mas não luto por eles, luto pelo ouro. Maldita escolha que eu fiz anos atrás. — respondeu Ted. Mercy percebeu que suas próprias roupas estavam manchadas de sangue.

— Tem filhos, esposa, alguém pra quem voltar?

— Eu vivo o momento, vivi ao máximo e agora pago toda a dor que causei para pessoas inocentes com minha morte dolorosa. Mas eu sou um covarde. Desculpe fazê-la ver isso. — A dor que aquele homem sentia devia ser excruciante, pelo que ele fez a seguir. — Obrigado por ouvir. Agora, eu devo partir. — disse, olhando nos olhos de Mercy. Puxou uma adaga da cintura, e tirou a própria vida num só golpe, antes que Mercy pudesse falar ou fazer algo. Se levantou, e fechou os olhos de Ted, esbugalhados para o nada.

E seguiu seu rumo, para a segunda torre. O exército inimigo estava em maior número, ao que parece, e os trabucos continuavam atirando pedras incessantemente. A segunda torre estava quase totalmente destruída, mas Mercy achou a caixa de ferro rapidamente. Estava no topo de alguns escombros, como se quisesse ser encontrada. Um baque foi ouvido no começo da sala, e todos os soldados inimigos passaram pela porta, uma enxurrada. Os que já tinham chegado ali tinham sido por escadas ou por pokémon, mas agora todas as tropas tinham acesso. E Skarnak provavelmente estava morto. 

Assim que tocou na caixa de ferro, ela se abriu e a esfera rosa levou Mercy num brilho até o topo da terceira torre, junto a Oryn, Peter machucado, e Lucario, lutando incessantemente contra um soldado. 

— Ele já está melhor, assim que acordar vocês devem sair daqui. — disse Oryn. 

— Quem é você, pra começar? — Mercy indagou, se debruçando nas ameias para ver os guardas vindo pela ponte. Gritou para Lucario: "Tem muitos vindo!", e este balançou a cabeça, e lançou para ela a pokébola de Bruce, que foi liberado no ar e se juntou a sua treinadora.

— Sou Oryn, filho de Skarnak. Herdeiro do Trono Fleur d'hiver, e conhecedor de todas as passagens secretas desse palácio. — respondeu de imediato. Ele foi até o outro lado do pátio, e pressionou um tijolo no chão. Uma passagem se abriu, e Oryn carregou Peter para dentro dela, enquanto Bruce e Lucario seguravam a porta para que os soldados não entrassem ali. Mercy tocou no ombro deles, e correu para dentro da passagem secreta com a Caixa de Ferro na mão ao mesmo tempo que uma pedra a fechou. E então seguiram escada abaixo, iluminada por uma tocha na mão de Oryn, que ninguém fazia ideia de como ele conseguira.

— Para onde estamos indo? — Mercy perguntou para Oryn, que parecia uma criança. Ela estimava que sua idade não passasse de dez anos, e mesmo assim ele tinha força para carregar Peter como se fosse nada. 

— Embora desse lugar.

— E o seu pai?

— Morto.

— Como sabe disso?

— Do mesmo jeito que eu sabia dessa passagem secreta. Não questione meus conhecimentos, garota. Pare de fazer perguntas estúpidas e me ajude com essa porta. — disse, apontando para a porta de ferro a frente. Mercy calculava que estivessem no meio da montanha agora, passando por dentro dela. Mercy abriu a porta com ajuda de Lucario, que chegara em seu quarto minutos antes do sino ser tocado e a batalha começar. Ele a guiou pelo castelo, enfrentando todos os perigos, e ela nem sabia se era um pokémon selvagem ou não. Mas não tinham tempo para questionar nada. Do outro lado da porta, mais escadas. Oryn entregou Peter para Bruce, e então se virou para a parede esculpida da própria montanha. 

Juntou as mãos, e tocou na pedra com delicadeza, avançando cada vez mais com as palmas, até que suas mãos desapareceram dentro do granito. Seu corpo todo passou, como se fosse apenas água. Mercy tocou no lugar por onde ele passou. Duro como todo o resto do corredor. Ela praguejou, já pensando que Oryn tinha traído eles.

— Venham! — disse Oryn, de dentro da parede.

— Como? — Mercy e Lucario se entreolharam.

— Toque na parede, e sinta a pedra escorrer por seus dedos. Relaxe todos os músculos, e caia! — Mercy bateu uma palma rápida, e então bateu na parede. Suas mãos doeram e ficaram vermelhas, mas ela não as recuou. Tentou empurrar a pedra, como se fosse passar pela força. 

— Não consigo! Essa... maldita... parede... — disse, entre diferentes empurradas. — como você fez isso?

— Venho aqui desde que aprendi a andar, a parede já me conhece. A parede só se abre pra quem conhece. Então, sinta a parede, conheça ela, e ela te conhecerá.

— Baboseira. Lucario, exploda essa merda. — comandou, se afastando. Bruce estava com Peter nos braços, então Mercy apelou para seu novo companheiro, que concentrou uma esfera de energia em suas palmas ao som de Oryn gritando e implorando para que ele não o fizesse. A parede explodiu, e uma passagem se abriu. Oryn caiu de joelhos, e olhou com um ódio mortal para Lucario. Murmurou alguma coisa como "Morrerás, Metamorfo!", mas numa língua ancestral que os homens nunca dominaram. Se levantou, e suspirou.

— Agora a montanha está zangada com vocês. Ela vai desabar. 

— Ela vai morrer por que nós quebramos uma partezinha dela? — Mercy perguntou, passando para dentro. Um grande salão se encontrava, e um rio estava no centro dele. Água caia de uma fissura do teto de abóboda, também esculpido dentro da montanha. Oryn pegou Peter no colo e o deitou no rio. 

— Não é uma partezinha. É uma das partes mais importantes da montanha. E ela não vai morrer, só vai desabar. E então vai virar rochas, e depois areia. Nada muda na natureza, apenas se transforma. — disse, enquanto colocava o rosto de Peter para dentro da água.  

— Ele não vai se afogar?

— Esta água tem propriedades mágicas, mas só pode ser usada uma vez por humano. Sua água é milagrosa, mas também tóxica a pele. Na primeira, ela cura e as toxinas não agem, mas a partir da segunda, sua pele queima. Leve um pouco com você, nessa jornada.

— Jornada para onde?

— Para fugir de seus inimigos, para encontrar a si mesma.  Pode viver seu grande sonho, e eu sinto que fará grandes amigos. Agora, precisamos ir. — Oryn tirou Peter da água, e Mercy percebeu que seu ombro estava completamente curado, então ela o acordou enquanto a criança de cabelos brancos colocava um pouco da água num frasco de vidro. Lucario e Bruce conversavam num canto da sala, esperando algum comando. 

— Mercy? Preciso pegar a caix-- — A garota o interrompeu, mostrando a caixa de ferro para ele. — Já peguei.

— Onde estamos? — indagou, se levantando e olhando ao redor. Não havia nenhuma entrada senão o buraco na parede.

— Dentro da montanha. Os soldados logo entrarão, e nós precisamos estar longe daqui antes disso. — disse Oryn.

— Você... enfim, nisso eu posso ajudar. Salamence pode tirar todos nós daqui, contanto que tenha espaço para ser liberado.

— Há um pátio mais a frente, uma caverna. Mas precisamos correr, logo eles... — algo explodiu no topo das escadas, e o barulho de metal batendo invadiu o ouvido deles. Desciam a escada rapidamente, para matar todo e qualquer sobrevivente, como foram mandados. — Corram!  — Peter ficou de pé completamente, e correu junto a Mercy, Lucario e Bruce. Oryn ficou para trás, tocando nas paredes e tentando sentir os sentimentos da montanha. E então correu atrás deles, os alcançando em menos de dois segundos, e passando em menos tempo ainda. Corria tão rápido como um carro, pensou Peter. Os Pokémon iam atrás, virando em alguns momentos para ver se eles já tinham alcançado. Foram sete minutos correndo, e Mercy já estava esbaforida quando chegaram a caverna. Caía neve lá fora, uma imensa tempestade.

— Uma nevasca? Mas estava sol pela manhã! — disse Peter, sem entender.

— Provavelmente um Pokémon causou isto. — respondeu Oryn, que não parecia estar cansado. — A viagem será longa, mas precisamos sair o quanto antes. Os soldados se aproximam, e pelo que senti, a montanha desabará nos próximos minutos. 

— Você "sentiu" a montanha? — perguntou Peter, extremamente confuso. Oryn era estranho, fato, mas ele não sabia que era tanto. — Que seja. — liberou Salamence numa jogada de pokébola, e o pokémon rugiu. Os soldados já estavam no corredor que eles acabaram de passar. Mercy chamou Bruce para a pokébola, e a guardou no bolso. Peter subiu em Salamence, e Oryn conversava com ele numa língua que eles não pareciam conhecer. A montanha rugiu, e pedras caíram do teto.

— Precisamos ir agora. — Oryn pulou em Salamence, e encarou Lucario, que criava um Bone Rush. 

— Lucario, não ouse... — Mercy percebeu a intenção do pokémon, mas já era tarde demais. Ele atacou fortemente o chão frágil, que começou a desabar pela costa da montanha, forçando Salamence a levantar voo. Os soldados alcançaram o lugar naquele momento, e Lucario os enfrentou por tempo suficiente até que a montanha desabasse. Mercy colocou a mão na boca e abraçou Peter, enquanto Oryn guiava Salamence pela nevasca, na direção da saída.

+++++

O carro estacionou em frente ao palácio Cristal Reluzente, no centro de Snowpoint. Tinha esse nome por seu formato, fino, alto e feito de materiais brilhantes. Na verdade, esta era apenas a fachada. Por baixo de todo aquele material caro, haviam grandes camadas de pedra, tijolos e madeira para que os moradores não passassem frio nas partes mais rigorosas do inverno.

— Chegamos, crianças. — Thomas desligou o carro, colocou a chave no bolso e pegou uma pistola no porta malas. Aaron percebeu o gesto que ele fez para fazer aquilo, ele está levando de precaução. Não sabe se quem está lá dentro é amigo ou inimigo.

— Glazier, acorda. — Aaron mexeu no corpo de Glazier, caído sobre seu ombro. O ruivo se levantou rapidamente, e saiu do carro para se esticar. Aaron demorou mais, era maior e definitivamente mais preguiçoso. Não que Glazier fosse baixo, mas Aaron era bem mais alto. Abriu a porta, a empurrou totalmente e deslizou para fora, fechando ela num baque que Thomas definitivamente não gostou. Aaron murmurou algumas desculpas e eles seguiram para o portão do castelo, protegido por dois homens com lanças que depois Aaron percebeu que eram só armaduras vazias. O homem bateu na porta, e percebeu a sensação estranha que aquele lugar causava em Glazier. Ele parecia querer sair correndo dali, e eles nem mesmo tinham entrado.

Engrenagens de um material azul se moveram dentro das paredes, e a porta se dividiu em dois bem no meio, deixando o local onde antes havia uma porta totalmente vazio para eles passarem. Thomas foi na frente, tentando dar um jeito para esconder a pistola dentro do casaco. Aaron o seguiu, maravilhado com os grandes adornos daquele salão principal. Olhou para o vitral que parecia um Empoleon andando na neve, mas antes que pudesse decifrá-lo, uma voz chamou por eles. 

— Thomas! — o pai de Glazier, Hakome, correu para cumprimentar seu velho amigo, com um abraço. Eles trocaram palavras curtas enquanto Aaron olhava e Glazier se afastava, fingindo distração com alguma coisa nas estátuas que decoravam o hall. Não havia imperfeições nelas, ele mesmo já checara várias e várias vezes, durante os anos que passou ali totalmente sozinho. Mas mesmo assim não queria olhar nos olhos de seu pai, e ao que parece, seu pai também não. Cumprimentou Aaron gentilmente, acenou com a cabeça para Glazier, e então levou os dois para quartos de hóspedes, no corredor a esquerda do trono. Passou pelo arco de pedra, mas voltou para gritar algo a seu filho. — Espero que se recorde do caminho até seus aposentos. — disse, e não esperou a resposta.

Glazier foi para o corredor a esquerda, que levava a uma grande escada. Passou a mão na madeira das paredes enquanto subia, tentando se recordar das imensas lembranças que tinha daquele lugar. O corredor onde todos os quartos dos herdeiros ficavam, inclusive o dele. Passou a mão na porta perfeita do lado de fora, e a guiou até a maçaneta, e abriu. 

O quarto estava exatamente igual, tirando algumas teia de aranha. Seus poucos livros na estante, sua lanterna ao lado da cama, o tapete redondo de Snorlax no chão. Não era um quarto grande, Glazier não queria espaço. Queria conforto, e então deixou isso claro para Hakome. Se jogou no puff no canto do quarto, e sentiu o cheiro de... poeira. Encarou a porta, com várias ranhuras de lâmina. E se lembrou da velha espada que seu instrutor lhe dera. Procurou no lugar aonde sempre guardava, mas não estava lá. Estranhou, mas não se importou. Checou seu celular, agora já se passavam mais de dez minutos desde que deixara Aaron. Uma mensagem de Aaron. 

"Estamos te esperando pro jantar."

Merda, Glazier pensou. Estava atrasado. Colocou algumas roupas limpas, e se deitou na cama por alguns segundos. Tudo o que era feito de tecidos estava limpo, como se fosse lavado toda semana. Talvez fosse isso o que realmente acontecia, considerando a mania de limpeza de seu pai. O que era estranho em tudo aquilo, na verdade, era que até agora não tinha visto nenhum de seus irmãos. Era possível que eles estivessem dormindo, mas não todos eles. 

Desceu as escadas dois degraus por vez, e foi até a sala de jantar, que estava vazia. Olhou o celular mais uma vez. Não faziam nem três minutos que Aaron tinha deixado a mensagem, não era possível que eles já tivessem terminado e ido para o quarto. Mas então, Glazier sentiu uma presença estranha. Liberou Pip por instinto, e procurou com a cabeça algum inimigo. O candelabro no topo da mesa tremulou, e uma Shadow Ball foi na direção de Glazier, que foi jogado contra o chão. 

— Pip, o candelabro! Ataque com Bubblebeam! — Piplup atirou uma rajada de bolhas contra o candelabro, e as velas se apagaram. Quando tudo escureceu, ele tentou ligar para Aaron. Mas outro ataque do inimigo o impediu de ligar. Precisava terminar a batalha antes, e no escuro. — Vamos ficar perto. — Pip pulou para o colo de Glazier, qeu ficou no canto da sala tentando ligar para Aaron. Uma segunda esfera foi lançada na direção dele, e iluminou o caminho escuro até o inimigo: Um Haunter. — Agora! Use Peck! — Glazier jogou Pip para a escuridão, e ele avançou com suas pequenas asas na direção de onde veio a última Shadow Ball. O ruivo ouviu o barulho de Pip atingindo algo, mas parecia ser a madeira. Praguejou, e percebeu que nunca derrotaria um inimigo que não pode ver. Então, pegou Pip quando pode e correu para fora, até a sala do trono, fechando a porta atrás de si.

Hakome estava sentado, e várias pessoas estavam olhando para ele. A visão de Glazier estava turva e um pouco confusa, mas ele tinha certeza que ninguém podia vê-lo ali. Uma mulher de turbante foi para frente do trono, com um bebê no colo. Outras freiras se aproximaram, para reforçar o que ela dizia.

— Esta criança é um demônio! Filho de Giratina, herdeiro dos cabelos vermelhos que simbolizam o fogo do pecado! — disse a primeira, com o bebê no colo. Hakome continuava calado, com o punho segurando o rosto. 

— Ele congelou a água quando ia passar pelo ritual do nascimento, ele não foi abençoado por Arceus! — disse a segunda;

— Ou uma frente fria congelou a água e você acredita em baboseiras sobre Arceus e Giratina. — respondeu Hakome.

— Lorde, tens seis filhos saudáveis, mas este aqui não. O melhor a fazer é sacrificá-lo! — disse a terceira, cordialmente.

— Ele é meu filho. Sangue do meu sangue, seus cabelos não significam nada. Saiam daqui antes que eu mande prendê-las por desacatarem um príncipe! — respondeu irritado. Foi então que Glazier percebeu. A criança nos braços da freira, o bebê de cabelos ruivos. Aquele recém-nascido era ele. E aquele era o dia de seu ritual de nascimento, quando as crianças eram abençoadas para Arceus na presença de três freiras. E as suas disseram que ele era um demônio. Belo começo pra vida, hein? pensou, sarcástico.

Assim que piscou, a visão se turvou mais um pouco e então sumiu. Aaron agora estava em sua frente, e Thomas também. Ele corria para fora, enquanto algo púrpura girava ao seu redor. Piplup estava na pokébola, e Punsy estava do lado de fora tentando enfrentar o Haunter. Thomas atirava no trono, como se visse alguém ali. 

Estavam presos, numa ilusão. E nenhum deles tinha percebido ainda.

 


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Notas finais do capítulo

Mostramos aqui um pouco de como reagiram quando Glazier nasceu, e uma parte dos motivos dele ter fugido, embora não estivessem no lugar real.



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