Garotas Boas Viram Más escrita por deboralopes


Capítulo 6
Como tudo termina, ou não




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Eu fui muito feliz. A questão da felicidade pode ser distante pra muitos, mas eu sei que fui feliz naquela época conturbada da minha vida. Também sei que parece muito fútil encontrar diversão em bebida/homens/festas e afins. Mas o fútil havia se tornado parte da minha vida. Eu não conseguia mais distinguir o certo do errado.

Para os padrões da sociedade vigente, eu estava errada. Jacob estava certo: eu estava afundando minha vida, deixando passar grandes oportunidades. De tanto ouvir aquele discurso acabei decorando, mas nunca realmente o entendendo.

Foi mais ou menos por aí, quando a vida que eu estava levando se revelou superficial demais que eu resolvi dar novas chances ao amor. Um pouco tarde demais, confesso.

Se encontrarem outra garota que mais se deu mal dessa área, contatem-me, por favor, que ela será contratada. Somam-se inúmeras decepções, traições que culminavam sempre em novas noitadas para fugir da realidade.

Jacob sempre acompanhava meus passos.

Gostaria de dizer que no final das contas ele acordou e percebeu que eu era o amor da vida dele. Que nós nos casamos e tivemos uma filha linda e vivemos felizes para sempre.

A vida real não, lady, não é assim. Então é melhor ir se acostumando.

Jacob acabou se casando, anos mais tarde, com uma mulher chamada Lorena. Bem bonita, educada, gentil, tudo o que eu era e desaprendi a ser com o passar dos anos.

Eu o acompanhava do mesmo jeito.

Tomei jeito quando entrei na faculdade. Descobri que se quisesse continuar vivendo o resto da minha vida com uma qualidade razoável teria que levar aquela parte a sério, ao menos. Ninguém colocou moral em mim, mas eu acreditava no meu potencial.

Não que as minhas notas estivesse boas no segundo grau.

_ Direito, Camila? Você quer mesmo fazer direito? – Jacob questionou logo que contei meus planos.

_ Claro que sim, acho que é meu destino – brinquei, rodando a taça de vinho parcialmente vazia – Quem sabe eu finalmente “tome-jeito”, como você e minha mãe tanto querem.

_ Você tem que fazer algo que goste, não algo que nos agrade.

Observei sua fisionomia. Jacob havia virado um homem, era a conclusão. Não havia mais traços leves, característicos da infância, e nem uma sombra de dúvida que contradissesse sua afirmação.

Ele estava falando sério.

_ Eu gosto de beber, ajuda?

_ Você gosta de fotografar, e é muito boa nisso – ele apontou, sério.

_ Quer que eu viva da fotografia, irmãozinho?

_ Por que não?

Então, se algum dia eu morrer de fome porque minhas fotos não me dão dinheiro suficiente, a culpa é toda e eternamente do Jake. Porque foi por apoio dele que me tornei fotógrafa.

Já viajei uma boa parcela do globo.

Já conheci muitos homens, de todas as partes dele.

E já me ferrei em cada cantinho desse mundo velho.

Às vezes, temos que simplesmente aceitar que não nascemos para determinado fim. Eu não nasci para me dar bem no amor.

Concluo isso sentada em um café numa rua suficiente calma em algum lugar da grande São Paulo. Quero descrever essa rua, para vocês terem alguma noção do meu estado de espírito.

Acabou de chover e já faz um sol lindo. A rua ainda está molhada, ainda tem aquele cheiro de chuva e as árvores que cobrem todas as calçadas ainda não pararam de pingar. Acho que desemboquei aqui, afinal. Agora as corredeiras descem mansamente rua abaixo, uma rua ainda de paralelepípedos e casas acolhedoras, e eu já sentei meu facho.

Meu café já está pela metade, estou fechando meu laptop para ir embora encontrar Jacob e a esposa na casa deles. Ela está grávida e eu nunca vi meu amigo mais radiante. Tenho que dar um apoio moral e levar meu presente.

Agora ele sabe que eu já o amei muito, e também presumo que saiba que ele foi o motivo da minha virada total. Embora não possa fazer muita coisa. Um dia desses qualquer, eu puxei o assunto.

_ Sabe, Jacob, eu já te amei muito.

Ele não pareceu surpreso. Acho que ele sabia o tempo todo.

_ Hmm – ele murmurou calmamente – E então?

_ Eu já superei a muito tempo – expliquei, mesmo não sendo preciso achei melhor enfatizar - Achei que seria legal se você soubesse.

Continuamos caminhando em silêncio. Eu tomava o meu sorvete, ele dava passos largos com as mãos no bolso, não estando disposto a continuar com aquilo. Eu estava.

_ O que você teria feito se eu tivesse me declarado? – perguntei um tempo depois.

Agora sim ele pareceu surpreso, até mesmo inseguro. Ele já havia feito aquela pergunta a si mesmo milhões de vezes. Nunca achou uma resposta. Eu nunca achei uma resposta.

Não há como saber o que aconteceria. Nunca.

Só existe um momento, e o nosso passou muito rápido.

Sorrio lembrando de tudo o que passou. Talvez quem diz que só se ama de verdade uma vez possa estar certo(a).

Fiquei em dúvidas se ao contar essa história eu deveria ter falado um pouco mais sobre Pedro. Eu meio que gostei mesmo dele. Ou sobre minha família e sobre as várias amigas que tive. Como é ser popular e ter muitos caras na sua cola. Ter aprofundando mais em como não se deve beber toda a sua cota de bebida em uma só fase da vida, em como confiar em homens bonitos e populares é o mais erro da sua vida.

Mas, afinal, tudo isso você já ouviu antes, e já pode até criar uma tese de doutorado sobre.

Agora eu realmente tenho que ir. Pedro está me ligando (tudo bem, eu ainda o vejo freqüentemente e aposto que ele pensa que estamos namorando, mas nem coloco mais pilha nesses relacionamentos) e Jacob já deve estar batendo os pés em casa, nervoso.

Algumas coisas nunca mudam. Estações mudam, as pessoas não. Não mudei, mas fica em aberto sobre o que vem aí pela frente.

 


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