Civil War: Moon. escrita por Barbs


Capítulo 13
Quarto.


Notas iniciais do capítulo

Fui rápida não fui? Podem falar. Bom, aqui está mais um! Espero que gostem e comentem! Beijão!



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Acordei subitamente inclinando meu corpo para frente, assustada, como se estivesse acabado de acordar de um pesadelo. Estava ofegante, suada, e ainda perdida em meio à meus pensamentos. A última coisa que vinha em minha cabeça era a troca de olhares entre eu e Peter enquanto eu era rendida pelos guardas. Sorri ao lembrar do abraço apertado que damos assim que a luta acabou – mesmo que momentaneamente, afinal, eu sabia que aquela guerra ainda não tinha terminado – o que me fez perceber que ainda éramos amigos e ainda estávamos bem um com o outro.

Foi quando arregalei os olhos segurando a respiração ao perceber que estava em casa.

Em casa? 

Que diabos eu estava fazendo em casa? 

— Merda, merda, merda. 

Resmungava enquanto levantava da cama com as pernas doloridas, olhei para meu tornozelo e notei que usava uma fina tornozeleira transparente que parecia estar ligada devido à uma luz verde, fraca, que a iluminava em meio a seu material transparente. Meu coração acelerou e notei, mais uma vez, que não estava com a última roupa que havia vestido, estava com um de meus pijamas e com o cabelo preso. 

Caminhando lentamente por meu quarto pensei que, talvez, aquilo fosse nada mais do que uma alucinação, afinal, não fazia sentido algum estar em meu quarto já que eu havia fugido para lutar ao lado de Capitão América na Alemanha, o que não era certo, mas certamente não havia possibilidades de estar em casa. No mínimo estava em uma cadeia que utilizava de hologramas para mostrar meu quarto exatamente como ele é. Por que não seria? Tony Stark é um gênio que pode muito bem transformar qualquer ambiente no que ele bem entender e parece a cara dele fazer algo do tipo.

Parei em frente à minha janela e a tornozeleira tremeu levemente em meu calcanhar, assustei-me desencostando as mãos da janela antes mesmo de observar a rua. Dei alguns passos para trás olhando para o asfalto e a caixa de correio que mantinha o sobrenome de meu pai escrito em letras garrafais. Olhei para o relógio, ao lado da mesinha de cabeceira, que marcava duas horas da manhã, segurei-o entre os dedos e então percebi que não estava em um mundo de realidade virtual ou feito de holograma, era meu quarto, meu relógio, minha rua e minhas coisas. Ao invés de estar tranquila me sentia completamente amedrontada. A última coisa que me recordo é de olhar nos olhos de Peter antes de ficar inconsciente, então, acordar na minha cama como se nada tivesse acontecido, a não ser pela tornozeleira delicada, parecia surreal.

Andei em direção à porta de meu quarto e assim que estiquei a mão na direção da maçaneta redonda a porta se abriu, impulsivamente dei um pulo para trás sentindo o calor emergir em meu corpo e o escudo transparente se expandir de dentro de mim. A tornozeleira tremeu com uma intensidade maior e caí ao chão soltando um grunhido ao sentir a carga de choque que passou por meu corpo, fechei os olhos sentindo meu coração disparar e o calor sumir de meu interior, o escudo havia desaparecido e meus ouvidos zumbiam levemente. 

— Luna…

Escutei a voz de meu pai abrindo os olhos em seguida, o vi correndo em minha direção e então ativei meu escudo mais uma vez, certa de que não era ele. Deitei meu corpo para trás sentindo outra carga e, mais uma vez, o escudo se esvaiu sem minha vontade. Fechei os olhos com força enquanto o escutava:

— Calma, não se preocupe, sou eu. Você não precisa usar seus poderes pra se proteger – ele se jogou sentado ao meu lado no chão me abraçando rapidamente – sou eu, meu amor. 

Encostamos as costas em minha cama enquanto ele me afagava em seu peito, sentia meu corpo tremer levemente enquanto meus ouvidos paravam de zumbir. De olhos fechados apenas senti seu perfume me dando conta de que era real, que meu pai estava realmente ali e, ao contrário do que havia imaginado, ele não estava irritado com a atual situação: sua filha prisioneira devido à uma escolha que havia feito. Pensei que, talvez, quando tudo acabasse ele não olharia mais na minha cara, mas ele estava ali para mim e por mim.

Afastei meu rosto de seu peito empurrando-o de leve enquanto me soltava de seu abraço, sentia meu rosto quente e os olhos lacrimejarem, mas eu não estava chorando e muito menos com vontade. Com a pouca luz da lua e meus poderes enxergava o rosto de meu pai quem sorria ao me fitar. Nunca havia visto-o daquela maneira, aparentemente feliz por me ter ali, me abraçando e completamente preocupado comigo. Era estranho.

— O que houve? – perguntei com a voz falha.

— Você não se recorda de nada? 

— Sobre o que? 

Ele sorriu – Sabia que não era você. Sabia que não faria uma loucura dessas. 

— Preciso que seja mais claro, pai – esfreguei a palma da mão na testa. 

— Aposto que foi coagida por essas pessoas a viajar… A escolher um lado. Sabia que não era você. 

O fitei fechando os olhos lentamente, assim que os abri dei de cara com sua mão estendida em minha direção dizendo para ficar de pé. 

— Eu sabia – ele sorriu em pé na minha frente – sabia que não podia ser você. Ligarei para Tony Stark para notificar que você estava fora de si e que essa tornozeleira é inútil. Você não é uma criminosa. 

— Era eu, pai – falei em tom de voz baixo – sempre estive ciente do que aconteceu e escolhi ficar ao lado do Capitão América. 

— Você acabou de perguntar o que aconteceu – seu sorriso sumiu – você obviamente não está bem.

— Não lembro como vim parar aqui, em meu quarto – o corrigi pigarreando.

— Como assim?

— Pai – fitei minhas mãos enquanto falava – sinto muito por ter saído de casa sem te avisar, sem dizer nada, foi errado e egoísta. Não há justificativa no mundo para isso. Ninguém me coagiu a nada, foi uma escolha minha, Capitão América, por sua vez, até tentou me parar e dizer para vir para casa e por mais que eu quisesse, eu não podia.

— Por quê? – ele perguntou com sua voz falha.

— Porque Tony Stark apareceu aqui aquele dia para me “recrutar” para seu time de pessoas com habilidades, não foi como se eu pudesse escolher me manter nula em relação à tudo isso porque ou eu aceitava receber ordens do governo ou seria taxada como criminosa.

— Aposto que se conversasse...

— Eu tentei, pai – esfreguei uma mão na outra levantando meu olhar para fitá-lo – eu tentei. Mas não acho que seja totalmente sua culpa também, ele está seguindo ordens e acreditando que está certo, o trabalho de Stark agora é “recrutar” pessoas com habilidades especiais para trabalhar ao lado da lei. Isso é o que ele julga certo.

— E como isso não é certo? – ele passou as mãos na cabeça bagunçando seu cabelo – então você escolheu, você mesma estava ciente do que estava acontecendo e escolheu ficar do lado oposto à lei? À uma lei que sequer se aplica à você porque você não tem nada a ver com esses seres habilidosos que expõem suas vidas ai fora?

O fitei em silêncio.

— Não, eu não acredito nisso – ele abaixou as mãos batendo-as em sua calça de pijama – esta não é minha filha. A minha filha Diana jamais faria algo parecido porque ela sabe a proporção...

— Não sou Diana – o interrompi de imediato fazendo com que ele se calasse – você não conviveu com a Diana quando pode então pare de tentar fazer de conta que ainda sou a mesma. Você não me viu crescer, amadurecer, você não esteve lá por mim quando fui colocada em uma maldita clinica como se fosse uma doente. Então não, Diana não está mais por aqui, não quero lembrar de Diana e nem retornar a ser aquela Diana. Sou Luna, você goste ou não. E eu, Luna Cabbot, escolhi ficar contra o Governo em toda essa bagunça porque, mesmo sem querer, eu já estava incluída nesta nova lei simplesmente porque mostrei meus poderes ao mundo enquanto ajudava a cidade, durante a noite, ao lado do Homem-Aranha. Tentei fazer a diferença neste mundo, mas em troca, só ganhei alguns hematomas e uma tornozeleira – apontei para meu pé sem desviar o olhar de seu rosto perplexo – e, por incrível que pareça, não me arrependo disso, pai.

Ele apenas me fitou enquanto eu prosseguia:

— Sinto muito por não ser a Diana que você conheceu e conviveu, mas isso foi há onze anos atrás e desde então muita coisa aconteceu como minha mudança de nome, agora sou Luna.

— Uma criminosa que se acha no direito de falar como quer com o pai porque pensa que tem autonomia o suficiente para tomar decisões que envolvam e mexam com sua família inteira? – ele respirou fundo fazendo uma breve pausa – Você pensou em como eu ficaria com seu desaparecimento? Como foi comunicar a polícia que minha filha desapareceu debaixo do meu nariz e, acima de tudo, ter que ouvi-los dizer que não podiam fazer nada antes de quarenta e oito horas? Você tem noção do que foi deitar minha cabeça no travesseiro no dia em que você sumiu e receber uma ligação de madrugada dizendo que eu precisava estar presente em um local desconhecido imediatamente para pegar minha filha considerada uma criminosa pelo governo local sendo acusada de conspiração contra o país ao lado de um bando de “heróis” que julgam saber o que é melhor para nós, pessoas normais?

Apenas o fitei sentindo meus olhos enxerem de lágrimas, a culpa estava presa em mim e agora, com meu pai dizendo todas aquelas coisas sobre como se sentiu minha vontade de chorar apenas aumentava.

— Sinto muito se eu não soube lidar com o fato de ter uma filha com habilidades especiais, se eu não soube cuidar ou olhar para você sem querer compreender mais e mais o que acontecia dentro de si – ele cruzou os braços pigarreando quando sua voz começou a ficar trêmula – sinto muito ser um covarde. Sinto muito sua mãe ter morrido e você ter que ficar comigo. Sinto muito não dar a atenção que você merece. Sinto muito por não ter sido presente nos momentos mais difíceis de sua vida e não há justificativa plausível para isso. Sinto muito não ter sido um pai. Mas não pense que não me preocupo, que não a amo e não temo pelo mundo lá fora e tudo o que você terá que passar por não ser considerada dentro dos padrões da normalidade. Isso me assusta de um jeito que não consigo nem mesmo explicar e muito menos expressar. Então sim, sinto muito por ser esse cara que mais parece um estranho à seu próprio pai. Sinto muito você ter que carregar esse fardo por algo que não foi sua escolha.

— Pai...

— Estou cansado – ele me interrompeu antes mesmo que eu pudesse falar algo, levou uma mão para seu rosto secando a lágrima que tinha acabado de escorrer – você deveria dormir também, Tony Stark estará aqui amanhã com algumas pessoas para lhe apresentar um acordo que a deixará em liberdade condicional.

Não o respondi, senti meu coração acelerar com a notícia, afinal era mais do que obvio que não sairia impune devido a minha posição nessa briga, mas essa não era minha preocupação no momento. Talvez eu tivesse sido rude demais com meu pai desnecessariamente o que me deixava ainda pior. Mas eu simplesmente não conseguia resistir me sentir diferente quando ele me chamava de Diana, não sou mais Diana, deixei meu passado para trás junto com a minha vida no Brasil e minha infância nos Estados Unidos, era como se minha vida tivesse começado do zero a partir do momento em que, legalmente, mudei meu nome para Luna.

Eu não duvidava de tudo que meu pai sentia por mim, sei que, apesar de estar sempre distante cuidando de sua vida ou de seu trabalho, ele sempre me amou, mas não sabia da dificuldade que ele teve em aceitar que, de fato, sou diferente. Para mim sempre foi normal, desde o princípio, até entender que eu não era considerada uma humana por causa de minhas habilidades. Este assunto era algo com qual eu evitei lidar por muito tempo porque, apesar da mágoa de não ter tido meu pai durante a infância e parte da adolescência, eu o amava e não queria perdê-lo novamente.

— Pai, eu sinto muito.

— Não, você não sente – ele levou a mão até a maçaneta puxando a porta do meu quarto.

— Sim, eu sinto – fiquei de pé o fitando, senti o chão gélido em contato com o meu pé enquanto tentava pará-lo para me explicar – realmente, não sinto muito pela escolha que fiz, mas sim por ter feito você se sentir dessa maneira. Sei que não podia ter saído de casa sem avisá-lo, mas sei também que não me deixaria ir e tomar minha decisão se tivesse lhe dito. E, mais uma vez, não te culpo, pai – dei um fraco sorriso fazendo uma breve pausa para secar as lágrimas que escorriam – sei que quer me proteger e isso nunca vai mudar, mas não posso ficar parada enquanto as coisas desmoronam ao nosso redor. Não digo nada pessoal, mas um amigo me fez perceber que se sou capaz de fazer algo para mudar uma coisa ruim não devo me abster e fazer de conta que não sei de nada. Por anos tive medo desses poderes, por causa do que aconteceu no Brasil, mas não mais. E sinto muito por tê-lo feito passar por tudo isso no último dia, sinto muito por pensar que é tudo aquilo que acabou de dizer porque para mim você é meu pai, eu te amo e nunca duvidei disso, nem mesmo por um segundo – soltei uma fraca risada lembrando de minha mãe – porque mesmo que quisesse minha mãe não me deixava esquecer que eu tinha um pai e mesmo longe ele me amava incondicionalmente. 

Fiz uma breve pausa o fitando nos olhos, observei um pequeno e breve sorriso surgir em seus lábios úmidos e sorri mais abertamente enquanto prosseguia: 

— Eu te amo, pai. Eu, Luna Cabbot ou Diana Peters te amo.

Ele me fitou segurando a maçaneta retirando o sorriso de seus lábios – Boa noite, Luna.

O fitei fechar a porta um tanto quanto surpresa por não ter tido nenhuma reciprocidade sentimental, respirei fundo sentando em minha cama e olhando para o céu escuro e um pedaço da lua que iluminava meu quarto. Tornei a olhar a tornozeleira observando a luz levemente verde que, provavelmente, indicava que tudo estava bem. Eu realmente estava sendo tratada como uma criminosa em liberdade condicional, como acontece em filmes e séries, e não sabia qual era meu limite, mas provavelmente ficaria sabendo com a visita de Tony Stark quando ele aparecesse em minha casa pela manhã. 

Um acordo seria oferecido e eu não sabia o que esperar disso, afinal, não pretendia aceitar acordo algum, mas caso não o fizesse o que aconteceria comigo e, mais ainda, com meu pai? Confesso que, apesar de ir contra toda a ideologia de Tony e o Governo, escutaria o que ele tinha a dizer sem pensar apenas em mim, sem ser uma filha egoísta desta vez. Mas estava com medo do que me seria oferecido e do quanto eu teria que abrir mão da minha ideologia e opinião para isso. 

Sentei-me no chão, novamente, encostando as costas na cama enquanto olhava para o chão do meu quarto que estava sendo iluminado pela Lua enquanto ela também me iluminava. Sentia um vento leve entrar pela janela do quarto enquanto a luz do luar me revigorava como de costume, encostei a cabeça no colchão após me virar de frente para a janela enquanto apoiava minhas costas na cama, levantei as pernas abraçando-as logo em seguida e olhava o céu, talvez na esperança de ver Peter com seu novo traje de Aranha passando por ali. 

Desejava sair e dar uma volta pela cidade, agora um pouco deserta, para me perder em meus pensamentos e me sentir um pouco melhor com toda a sensação que causei em meu pai, mas se a tornozeleira já tremia só de chegar perto da janela aposto que sair era algo que eu realmente não poderia mais fazer.

Mais uma vez, como já estava se tornando de praxe, adormeci fora da minha cama e acordei com um barulho alto de um pássaro piando na minha janela como se tivesse o intuito de me acordar. Meu relógio despertou logo em seguida pontualmente às sete horas e abri os olhos notando que estava deitada no chão, onde o Sol já iluminava deixando minha pele um pouco quente. Ergui o corpo ficando de pé, assustando o pássaro, que voou para longe enquanto desligava o despertador.

 No banheiro, olhei para meu reflexo no espelho enquanto me perguntava se poderia tomar banho com a tornozeleira, elas normalmente são feitas para que possam permanecer no corpo sem problema algum, mas não sabia dizer sobre aquela especificamente já que sequer vi quando a colocaram em mim. Retirei a roupa ligando o chuveiro e soltando o cabelo, coloquei o pé com a tornozeleira embaixo da água antes de entrar com o corpo inteiro, mas nada aconteceu, para meu alívio. Pelo visto a tornozeleira só ativava quando eu estivesse perto ou fora de casa e quando usava meus poderes. Como isso pode ser chamado de liberdade? 

Bufei tomando um banho demorado o suficiente para dar tempo de meu pai sair para seu trabalho, não queria fitá-lo depois da conversa que tivemos ontem, ainda me sentia culpada e um pouco chateada com a frieza final, mas sabia que, depois do que tinha feito, não tinha o direito de me sentir assim. 

Voltei para meu quarto enrolada na toalha enquanto escutava alguns barulhos na cozinha, meu pai ainda estava por ali e eu não entendia muito bem o porquê, o relógio marcava oito horas e ele, supostamente, deveria estar no trabalho assim como eu deveria estar na aula. Fechei a porta do meu quarto escolhendo uma calça jeans, uma blusa qualquer e penteando meu cabelo molhado. 

Escutei o barulho grudento da teia de Peter e tentei evitar um sorriso tão largo, mas foi inevitável a medida que me aproximava da janela e o barulho se tornava mais nítido. Parei em uma distância pequena da janela podendo ver o Homem-Aranha, com seu novo traje, passar rapidamente por cima de minha janela parando no telhado da casa vizinha. Rapidamente, com a mochila nas costas, Peter engatinhou pela parede entrando em seu quarto que estava com a janela aberta. Ainda sorrindo o observei fechar a janela e a cortina olhando para todos os lados antes de o fazer.

Mudei meu olhar de direção quando escutei meu celular chamar, até então não tinha me dado conta de que ele estava por ali e sequer tinha dado falta do mesmo. O procurei pelo quarto e então o encontrei em cima da cômoda próxima ao guarda roupa, em meio aos enfeites coloridos e os livros de Ciências da Computação, Nível Um e Ciência Geral: Uma história sobre a importância da ciência ao longo dos séculos. A tela indicava que havia uma mensagem de Peter e a abri lendo-a: “Em cinco minutos estou na sua casa. Fiquei sabendo que voltou.”, o respondi com um simples “ok” e comecei a mexer vendo a quantidade de ligações e mensagens de Jullie e meu pai. Pensei em respondê-la, mas talvez ela estivesse furiosa comigo por ter sumido. E, novamente, não a culparia também.

Deixei meu celular no mesmo lugar quando a campainha tocou, desci as escadas normalmente enquanto escutava meu pai dar bom dia para Peter e ele retribuir dizendo que estava ali para me visitar já que ficou sabendo que eu estava de volta da viagem para o Brasil. Franzi as sobrancelhas enquanto escutava ele e meu pai serem educados e simpáticos um com o outro, e logo parei no fim da escada observando Peter rir com alguma piada sem graça do meu pai, nossos olhares se encontraram e tudo o que fiz foi sorrir. Tive medo de nunca mais vê-lo entrando em minha casa como um adolescente normal que contém um segredo que o mundo não sabe.

— Ai está ela – meu pai disse após se virar na direção em que Peter olhava – seu amigo está aqui. Você pode me ajudar a pegar umas coisas na cozinha? 

— Claro – o respondi desviando meu olhar do de Peter. 

Dei um fraco sorriso para Peter quem, sem graça, mantinha as mãos nos bolsos da calça jeans enquanto esperava parado no pequeno hall perto da sala que ligava a entrada com a cozinha. Parei ao lado de meu pai em frente à pia enquanto ele pegava alguns pratos para fazer barulho.

— Seus amigos vieram te procurar quando esteve fora. Não quis preocupar ninguém e disse que viajou ao Brasil porque sua avó estava mal e quis te ver. Mantenha isso, certo? 

— Certo – concordei balançando a cabeça.

Ele apenas me lançou um olhar e abriu a torneira começando a lavar os pratos, virei-me para trás e pude ver Peter parado olhando para outra direção enquanto se perdia em seus pensamentos, apesar de parecer contente sei que ele estava completamente incomodado com algo, algo que talvez eu não saberia já que teríamos que fingir que nada aconteceu e que ele não sabia de nada e estava presente na mesma briga que eu. 

— Bom dia, Parker – sorri parando na sua frente.

— Luna, oi! – ele mantinhas as mãos nos bolsos enquanto me fitava com seu sorriso de sempre – como vai? 

— Bem e você? – segurava o riso achando aquela conversa tradicional completamente engraçada.

— Também – ele segurava o riso enquanto me fitava nos olhos – fiquei sabendo de sua avó, ela tá bem? 

— Ela está… – gaguejei pigarreando – ela está bem. Obri… Obrigada.

Ele apenas sorriu retirando as mãos dos bolsos para coçar a nuca, era uma de suas manias constantes e já havia notado isso há certo tempo.

— Você não deveria estar na aula? – perguntei após um tempo em silêncio.

— Fui liberado hoje – ele deu de ombros sorrindo – por mim mesmo. Eu estava só… Sei lá… Desanimado.

Balancei a cabeça positivamente arqueando uma sobrancelha – Entendi. 

Estremeci assustada com a voz de meu pai próxima a meu ouvido anunciando que iria, rapidamente, ao mercado. Assenti tentando parecer tranquila e ele sorriu forçadamente para Peter saindo pela porta de vidro com as chaves de seu carro em mãos. Olhava na direção da rua esperando que seu carro passasse para que Peter e eu pudéssemos conversar mais abertamente sobre os acontecimentos. 

— Quer comer algo? – perguntei vendo meu pai dar ré da garagem.

— Claro – Peter respondeu enquanto evitava olhar para trás – ele se foi? 

Andei em direção a cozinha lançando um último olhar para o carro saindo de casa – Sim.

— Agora sério: como você está? 

O fitei levantando a calça e mostrando a tornozeleira – O que aconteceu, Pete? 

— Eu não sei – ele parou ao meu lado no balcão – realmente não sei. Tentei impedir que te levassem, falei que te conhecia, mas fui segurado o tempo todo. Eles disseram que não iam te machucar, eles fizeram alguma coisa com você?

— Tirando o fato de que me deixaram desacordada, colocaram uma tornozeleira em mim e me trouxeram para minha casa após acordar meu pai no meio da madrugada? – cruzei os braços sendo sarcástica – não, está tudo em ordem.

— Senhor Stark me garantiu que você não sairia prejudicada, ele me prometeu que ninguém faria nada com você e que não passaria sua vida presa…

— E os outros, Pete? – perguntei o fitando séria – onde está Wanda, Clint, Sam e Scott?

— Não sei – ele sussurrou – eu juro que não sei.

— Provavelmente presos como criminosos! Na melhor das hipóteses – levei uma mão ao rosto respirando fundo – você acha mesmo que é justo, Pete? Honestamente? 

— Eu… Eu não sei, Luna – ele respondia visivelmente incomodado, mas ao mesmo tempo uma expressão de alívio tomava conta de seu rosto – Capitão acha que está certo. Sei que ele está defendendo um amigo e sei como é o medo de perder um amigo que confiamos e gostamos, mas… Mesmo sendo controlado, mesmo estando fora de si, Barnes matou pessoas. E ele tem que pagar, seja com algum tratamento, em uma tentativa de lhe curar ou sei lá o que. 

— Capitão América, uma patriota nacional está contra o Governo e um de seus melhores amigos – o fitei me aproximando – Peter, você acha mesmo que está tudo certo? Capitão não acredita que o Governo tratará Bucky com justiça, ele não concorda…

— Honestamente, Luna? – Peter me interrompeu – eu sei de tudo isso. Já escutei os dois lados…

O interrompi de volta – Pela boca de Stark! Quem garante que ele está dizendo a verdade? 

— Quem garante que Capitão também está dizendo? – ele bufou encostando as mãos em um dos banquinhos do balcão – olha Luna... Estamos em lados diferentes, com ideias diferentes, mas o que ambos queremos é que tudo fique bem. Não estou aqui para brigar e realmente tô feliz por estar em casa, talvez eu seja um egoísta que tá, de certo modo, aliviado por te ver bem ao invés de te ver em uma prisão. Mas não tô me importando, pelo menos não agora. Podemos, por favor, fingir que não tem nada disso rolando e que somos dois adolescentes comuns que se preocupam um com o outro? 

O fitei de braços cruzados – Não podemos fazer de conta que não tem nada acontecendo, Pete. Não podemos ignorar que heróis estão presos por discordarem de cláusulas de um acordo sem terem o direito de recorrer ou dar uma solução. Eu bem queria, mas não consigo ignorar o fato de que não há nada acontecendo. 

— Acabou, Luna – ele deu um fraco sorriso – em breve tudo voltará ao normal, você sabe que o Senhor Stark não é o vilão nessa história. Assim como eu sei que o Capitão também não é. Mas não há nada que eu possa fazer no momento e nem você. Sei que Tony virá aqui hoje, ele me disse, ele vai apresentar um acordo muito bom pra você sem pedir nada em troca. As coisas mudaram pra você, eu sei disso, mas independente do lado que escolha ou do que faça eu sempre estarei por perto. 

— Seja do lado oposto ao meu ou negando minha ajuda. 

Ele soltou uma fraca risada se sentando no banquinho – A todo momento eu olhava pra ver se te achava em algum canto, eu estava morrendo de medo de você se machucar, mas, na verdade, você livrou minha barra e eu acabei cheio dos hematomas – ele apontou para seu olho roxo rindo – aquele Falcão tem uma direita muito forte. E o cara com o braço de metal… Eu fiquei muito assustado, mas de um jeito positivo.

— Há um jeito positivo em ficar assustado? – sentei-me no banco ao seu lado sorrindo. 

— Sim, claro – ele rodou o banco virando-o em minha direção – de um jeito tipo “Você tem um braço de metal? Isso é incrível, cara!” e caramba, como era incrível! 

Ri o fitando – Eu estava por perto quando você disse isso. 

— Mesmo? – ele riu coçando a nuca – ah, verdade! Você me impediu de impressionar o senhor Stark com os dois. 

— O que passava na sua mente? – perguntei curiosa – o que você ia fazer com eles? 

— Jogar mais teia pra que eles ficassem presos – Peter deu de ombros – por quê? Você acha que eu faria alguma coisa ruim? 

Balancei a cabeça negativamente - Você não é um cara ruim.

— Mas eu podia muito bem ter sido mais rápido e impedido aquele troço de me levar dali – ele bufou me fitando. 

— Desculpe distrair você – pedi olhando para o balcão enquanto apoiava as mãos nos mesmos.

— Não foi sua culpa.

Com um pequeno sorriso o fitei virando meu rosto em sua direção, não sabia dizer se aquilo era algo positivo ou negativo, mas após ver o sorriso amigável de Peter pensei que a primeira opção fosse mais provável. 

— Eu estava com tanto medo – sussurrei o fitando.

— Eu também – ele respondeu sem sorrir. 

— Estava com medo de nunca mais te ver ou… – fiz uma breve pausa dando um breve e fraco sorriso – algo mudar entre nós. Eu não consigo parar de pensar que falhei, que deveria estar tentando algo ao invés de ficar sentada na cozinha reclamando sobre o quão injusto isso é, mas, de certo modo, eu tô um pouco feliz por estar em casa conversando com você. 

Ele sorriu novamente – Eu também. 

Parados e sentados no balcão nos fitávamos com um fraco sorriso, ambos estavam desconfortáveis com a atual situação após a batalha no aeroporto na Alemanha, mas também estávamos felizes por estarmos na companhia um do outro sem o fardo de nossas habilidades. 

— Você foi pego de jeito no olho, hein? – ri zombando do roxo em seu rosto. 

— Esse provavelmente foi Capitão – ele deu de ombros – tive que dizer para Tia May que ele era um cara da escola. 

Novamente ri o fitando, girei o banquinho parando de frente para ele – Sério? 

— Claro, o que eu supostamente deveria dizer? – ele ria  – “Cai da escada porque tinha um degrau solto, Tia May.”

— Ei! - protestei me referindo à desculpa que dei quando comecei a aparecer com os hematomas devido às noites pela cidade ao lado do Homem-Aranha. 

Ele riu – As pessoas acreditaram em você, não é mesmo? Foi um milagre essa desculpa ter dado certo uma vez, não quero arriscar.

— E se ela resolver ir na escola falar sobre esse tal de Steve? – perguntei arqueando as sobrancelhas.

— Tia May não é assim – ele sorria convencido – eu disse que estava tudo bem.

— Claro que disse.

— Não, sério – ele gesticulava com as mãos na minha frente – ela não iria.

— Será? – perguntei escondendo o sorriso enquanto o fitava com as sobrancelhas arqueadas.

— Ela não…  – ele fez uma breve pausa olhando para o chão enquanto pensava em algo, seu sorriso tinha sumido e ele parecia realmente preocupado – você acha que ela…? 

— Claro, Pete. Ela só agiria como uma tia preocupada – cruzei os braços tentando parecer convincente. 

— Droga – ele ficou de pé – tenho que ir e falar…

Gargalhei o fitando – Relaxa, Parker. Estou brincando. 

— Mas e se…?

O interrompi mais uma vez – Você a conhece muito melhor do que eu, se ela não é assim significa que ela não vai na escola. Relaxa. 

Ele então me fitou ainda sério. 

— Relaxa, Parker! – fiquei de pé rindo, segurei seus ombros o sacudindo – pare de se preocupar.

Ele então abriu um sorriso me fitando - Só queria ver até onde você iria com suas teorias. Peguei você!

Ri o fitando – Pensei que nunca mais teríamos momentos assim.

Ele transformou sua risada em um pequeno sorriso – Sei como se sente. 

— Está tudo bem, certo? – perguntei sentindo meus olhos enxerem de lágrimas repentinamente, minha respiração ficou um pouco falha e, de repente, eu estava sentindo uma imensa vontade de chorar e não sabia explicar o porquê. Tive medo de perder Peter, meu pai, Jullie, tive medo de tudo mudar drasticamente da noite pro dia a partir do momento em que escolhesse me aliar à Capitão e, pensando naquilo tudo, parecia uma imensa loucura ter feito o que fiz. 

— Espera…  – Peter me fitava agora sem entender – o que houve?

— Não sei, Pete – respondi com a voz embargada enquanto secava as lágrimas, que insistiam em escorrer, com as pontas dos dedos. 

— Vem aqui – ele sussurrou me puxando para um abraço.

Encolhi-me em seus braços que agora estavam à minha volta, encostei meu rosto de lado em seu tórax podendo ouvir seu coração bater um pouco mais rápido que o normal, respirei fundo sentindo seus braços quentes me envolverem como se eu fosse seu bicho de pelúcia favorito. 

— Eu só…  – sussurrei respirando fundo – eu não sei. Tô com medo. Medo de tomar a decisão errada, medo de não ter acabado tudo isso, medo de perder você e não digo de você morrer porque você é realmente muito bom no que faz, o que é ótimo, diga-se de passagem, mas… 

— Você nunca vai me perder. Nunca deixarei isso acontecer, porque não quero perder você também.

Seu coração acelerou tão de repente que ergui meu rosto para fitá-lo e certificar que estava tudo bem e, aparentemente, estava. Meus olhos encontraram o de Peter imediatamente e, além de seu coração acelerado, o meu também começou a saltar de uma maneira que nunca havia sentido antes. O silêncio ao nosso redor era preenchido apenas pelo barulho dos carros que passavam pela rua e, pela primeira vez desde que começamos a conversar, não sabia o que dizer e não queria falar algo, não naquele momento. 

Peter afrouxou seus braços em volta de mim, mas não me soltou por completo, e, de repente, tomando um impulso em sua direção, senti seus lábios úmidos e frios nos meus. De olhos fechados tentava controlar minha respiração a medida que sentia meu rosto arder tendo noção de que estava corada. O que eu estava fazendo? Só poderia estar fora de mim mesma para tomar um passo como aquele. E Jullie? Meu Deus, Jullie! Ela gosta de Peter e estou sendo a pior amiga que alguém pode ter beijando-o naquele momento.

Soltei-me de Peter me afastando completamente assustada comigo mesma, estava ofegante e era como se ainda sentisse a pressão de seus lábios nos meus o que fazia com que meu coração acelerasse ainda mais. No instante em que pensei em abrir a boca pra implorar desculpas, Peter, sem expressão alguma, inclinou-se em minha direção selando nossos lábios mais uma vez, porém com mais intensidade que anteriormente. Meu coração parecia completamente incomodado em meu peito devido ao modo em que batia tão acelerado que eu não conseguia escutar os batimentos de Peter, não que isso fosse algo relevante no momento. 

Fechei os olhos novamente tentando tranquilizar meu coração e estremeci ao sentir a mão de Peter em meu rosto, sua mão não estava fria e nem quente, estava em uma temperatura que, naquele momento, fora ideal para me acalmar. Transformando o atual beijo em algo mais intenso, sentia meu coração tomar seu ritmo normal a medida em que o beijo fluía, passei meus braços em volta do pescoço de Peter apoiando-os em seus ombros e, naquele exato momento, nada parecia errado ou irreal, muito pelo contrário, nosso beijo pareceu muito mais do que certo. 

E eu estava gostando completamente.


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Notas finais do capítulo

E entãaaaaaaaaao? Esse é um dos meus capítulos favoritos, por favor, por favor, por favor, me contem o que acharam! E esse beijo? Caramba, finalmente seus lerdos!
Agora aquietem os bumbuns de vocês por um tempinho que o próximo capítulo está em andamento, mas tenho uma semana muito agitada e posto assim que der, tá? (Não passará de uma semana, relaxem)!
Espero que tenham gostado, não deixem de comentar e até o próximo lindezas! ♥