Pov Peeta.

Eu já estou cansado de tudo isso. Não poderei te dizer o quanto isso dói, porque nem eu sei, a cada dia que passa, parece que ela só aumenta. Depois do episódio do flashback onde eu achei que realmente ia perder o controle, eu e Katniss nos “afastamos” de novo. O que isso significa? Nada de beijos, nada de abraço, nada de dormir no mesmo cômodo que eu. Não que eu tenha pedido isso, é claro, disse que vou respeitar o espaço dela e estou o fazendo. Mas cada dia, parece que Katniss dá um passo para longe de mim, é como se ela estivesse escapando dos meus braços. Eu sinto sua falta, falta dos seus beijos, dos seus carinhos, do seu olhar transbordando amor, sabe, aquele olhar que faz você se sentir a pessoa mais especial do mundo? Que faz você pensar que você é tudo, que você pode tudo, parece que as coisas perderam os sentidos. Confesso que pensei que depois dos nossos beijos, que foram apenas dois. Ela iria se soltar mais comigo, porém, as vezes eu esqueço que essa é a Katniss dos jogos. Talvez, no final das contas, ela só estivesse fingindo de novo. Mas, quem seria o seu público agora?

Os dias tem passado e na maioria do tempo eu me ocupo em tentar tirar o Peeta-Bestante da minha cabaça, tento pensar nos momentos bons que tive com Katniss, e isso na maioria tem me feito recobrar o controle. Porém, existem dias como aquele, em que as imagens, as falas de Snow e o veneno das teleguiadas falam mais alto. Tive algumas grises depois daquele dia, nada muito sério, mas não posso bobear. Na maioria das vezes, eu só tive que segurar em alguma coisa fortemente até tudo passar, mas tenho medo de que se as coisas continuarem assim, eu perca a fé e desista. A minha ancora entre essa vida e a vida dos condenados a viver dentro da própria mente, é Rye. Seu sorriso fácil, seus olhos azuis, seu cheiro e jeitinho de bebê e todo seu carinho, tem sido vitais para a minha sanidade. A única coisa que me mantem vivo e mentalmente controlado.

Começo a pensar em como tudo na minha vida mudou, primeiro, eu era um pobre menino apaixonado por uma garota que eu achava impossível, depois, quando eu finalmente achei que tinha uma chance, descobri que tudo aquilo era uma farsa da parte dela para nos manter vivos. Pulando a parte do telessequestro e de Gale, quando eu finalmente me acerto com ela, apesar das desavenças e começamos a viver felizes, vem essa coisa de amnesia. Acho que eu decididamente não nasci para ser feliz.

Saio do meu devaneio quando escuto a voz de Katniss me chamando.

— O que foi? – Pergunto.

— O forno apitou. – Ela diz, só então me lembro do bolo no fogo.

Retiro o bolo do forno e coloco para esfriar.

— Peeta – Ela chama, mas vejo que está receosa.

— Quer me ajudar a decorar? – Pergunto. Sei que ela vai tocar no assunto de ela não me amar, ou talvez ela se reprima. E eu não quero falar sobre isso, por que a cada indicio que ela dá de que não conhece o amor, meu coração se aperta um pouco mais. Por que ela o conheceu, ela o conheceu comigo. E isso me faz pensar que talvez eu ela nunca mais volte a me amar. E eu não quero pensar nisso, eu quero ter esperanças. Eu preciso ter.

— Não sou muito boa com essas coisas. – Ela diz meio sem jeito.

— Eu sei. – Digo sorrindo um pouco. — Eu te ensino.

— Está bem. – Ela se levanta e vem até mim.

Eu desenformo o bolo e peço para ela pegar a cobertura que eu colocarei no bolo. Jogo um pouco da cobertura sobre o bolo.

— Pronto, agora passa a espátula espalhando a cobertura dos lados. – Digo para ela, que pega a espátula e começa a passar sobre o bolo. Só que Katniss é muito indelicada nesse ponto. Ela não está fazendo isso direito.

Coloco-me atrás dela que se sobressalta e vira o rosto para me encarar. Mas eu não digo nada, apenas pego sua mão que segura a espátula – ignorando um intenso calafrio que se espalha por meu corpo –, e começo a guia-la sobre o bolo, de forma delicada. Porém assim que coloco meu outro braço ao seu redor para virar o bolo e espalhar a cobertura do outro lado, seu corpo fica ainda mais tenso, abaixo minha cabeça até que ela fique na altura do seu ombro, e sem querer, meu queixo passa em seu ombro descoberto, fazendo-a arrepiar-se e soltar um leve e quase inaudível ofego. “Ao menos algum efeito eu causo nela.”. Penso, tiro a espátula de sua mão e em um movimento rápido viro-a de frente para mim. Ela me encara com os olhos levemente arregalados e eu sorrio, aproximando ainda mais nossos corpos e rostos, a ponto do meu nariz encostar no seu e nossos lábios roçarem.

— Qualquer dia desses você podia me beijar de novo. – Sussurro, dando um leve sorriso.

Ela não diz nada, continua estática, porém, em um movimento nervoso,  ela passa a língua sobre os lábios, fazendo-a encostar levemente nos meus e eu tive que me controlar para não a beijar.

— Melhor, qualquer dia desses eu vou beijar você, sem permissão e nem nada. – Digo, passando meu nariz levemente sobre o seu. — E você não vai poder reclamar, por que eu estou te avisando desde já.

Ela continuou calada, porém fechou os olhos quando nossos lábios se encostaram levemente de novo. Eu poderia beijá-la, aqui e agora. Mas, Katniss não está facilitando para mim. Eu não a entendo, posso beijá-la agora, e correr o risco de ela passar o resto da semana sem olhar para mim. Como quase aconteceu nas duas vezes em que ela me beijou. Então, em um suspiro pesado, levanto minha cabeça e deixo um beijo na ponta do seu nariz e outro em sua testa, acariciando sua bochecha com meu polegar. Katniss com certeza, será minha perdição. Quando me afasto dela, ela abre os olhos parecendo um pouco surpresa e seu rosto logo fica corado. Ela não sabe o quanto é linda.

— Vou ver como Rye está. – Ela diz saindo da minha frente.

— Tudo bem. Vou acabar aqui. – Digo.

Acabo sorrindo enquanto ela sobe as escadas, talvez eu ainda tenha uma chance de entrar em seu coração de novo. Talvez.