— Isso vai ser tão chato — murmurou Sirius enquanto seguia os amigos.

— Nem me fale, Padfoot — concordou James, o coitado parecia se arrastar pela rua. Lily, sua namorada, o puxava disfarçadamente pelo braço. — Por que a gente não pode ir ver “O Rei Leão”?

— James Potter, eu não vou responder essa pergunta estúpida de novo. — O tom de voz usado por Lily foi tão assustador que o homem começou a andar por conta própria. — Você sabe quando tempo demorou para que eu conseguisse comparar esses ingressos? Todos os outros dias da nossa viagem estavam esgotados, aparentemente o mundo todo quer ver “Hamilton” menos esses dois idiotas.

James se encolheu, temendo a própria namorada. Sirius revirou os olhos, era preciso mais do que uma garota ruiva irritada para causar medo nele.

— Então acredito que não será difícil vende-los para alguém na rua. — O olhar que Lily o mandou foi o bastante para que ele repensasse seus pensamentos anteriores.

Remus, o quarto e último integrante daquele grupo, finalmente entrou na conversa.

— O que vocês tem contra “Hamilton”?

James e Sirius responderam juntos:

— História.

— Por favor... — Lily revirou os olhos, Sirius teve a impressão que ela estava pensando seriamente se havia feito a melhor escolha de namorado.

— Não é uma aula, é uma peça — disse Remus. — Vai ser divertido.

— Moony, você é meu namorado deveria saber que isso não é diversão para mim — protestou Sirius.

— Eu estou com o Padfoot! — concordou James. — Tirando a parte do namorado, é claro. Só tenho olhos para a Lily.

— Você deveria começar a ter olhos para outras pessoas, não sei se a gente vai durar muito.

Sirius e Remus não conseguiram segurar a risada, porém o outro homem ficou sério e branco como um fantasma.

— Vamos entrar — anunciou estufando o peito, como se estivesse se preparando para um combate.

Os amigos pararam de rir.

— Você está abandonando nossa causa? — questionou Sirius abismado.

— Desculpa, não sei viver sem a Lily.

O outro suspirou, também desistindo.

— Tudo bem, vamos fazer isso — anunciou. — Mas se for chato, o que vai ser, eu vou dormir.

***

— Isso foi... — James começou.

— Incrível — completou Sirius.

A peça havia acabado e o grupo tentava se separar da multidão que saia pela porta. Depois de alguns minutos, eles conseguiram encontrar um canto mais vazio (como era Nova Iorque vazio queria dizer: dá para respirar aqui).

Surpreendentemente, ou não, Sirius e James gostaram tanto de “Hamilton” que choraram grande parte do ato 2, ainda dava para ver seus olhos vermelhos.

— Eu nunca pensei que história pudesse ser tão legal — comentou James.

— Nem eu — concordou Sirius. Ele olhou para o namorado. — Remus, por que você não me disse que história é tão legal?

— Eu não sei, Sirius, eu não sei.

Um pessoa esbarrou com força no ombro de Lily, fazendo com que a mesma suspirasse exausta.

— Hamilton foi incrível, mas agora vamos arranjar algo para comer e voltar para o hotel — sugeriu.

James a ignorou.

— Será que existem outros musicais que falam de momentos históricos? — indagou. — Como a Revolução Francesa, por exemplo.

Lily queria bater na própria cabeça, mas o próximo comentário de Sirius evitou que ela fizesse isso.

— Vocês viram o cabelo do cara que faz o Hamilton? É tão mais legal que o meu, achei que isso era impossível. — Tocou nos próprios fios negros. — Qual será o shampoo que ele usa?

— Lily. — Remus chamou a amiga. — Nós criamos monstros.

***

Depois de ter que arrastar os dois homens pela cidade, os quatro finalmente encontraram um restaurante que era do agrado de todos (muita carne, fritura e batatas). E por cinco minutos ninguém falou sobre o musical, e sim sobre que prato pedir. Entretanto assim que os pedidos foram feitos, o assunto voltou.

Sirius parecia prestes a chorar (de novo).

— Não consigo parar de pensar que Eliza fundou o primeiro orfanato privado na cidade de Nova Iorque.

— Ela viu as crianças crescendo. — James também parecia prestes a chorar.

Remus e Lily, ou melhor, ou únicos que se julgavam normais naquele grupo, trocaram olhares preocupados.

— Será que isso vai passar? — perguntou o homem, enquanto os amigos começavam uma conversa sobre Thomas Jefferson.

— Eu espero — respondeu Lily. — Estou com medo do que James pode começar a cantar enquanto transamos.

Remus arqueou uma das sobrancelhas.

— Ele faz isso com frequência?

— Gostaria de poder dizer que não.

***

Sirius Black

REMUS (9:36)

MOONY (9:37)

Remus Lupin

Eu estou na sala, cinco paços do quarto. Se quer falar comigo venha até aqui (9:37)

Sirius Black

É importante! (9:38)

E me recuso a levantar da cama antes das 10 (9:38)

Remus Lupin

Ok, pode falar. (9:39)

Sirius Black

AARON BURR ERA BRANCO (9:39)

VOCÊ ACREDITA NISSO?? (9:39)

Remus Lupin

Vai se foder, Sirius (9:40)

***

— Remus, você não pode fazer isso! — Sirius seguiu o namorada até a sala do pequeno apartamento que dividiam.

— Eu não sei do que você está falando — disse ao se sentar no sofá. Remus pegou o livro que estava lendo e tentou retomar a leitura, mesmo sabendo que aquilo seria impossível.

— Você escondeu meu Hamilton! — acusou.

— Eu fiz o que era melhor para o nosso relacionamento.

— Você vai me devolver?

— Talvez, quando você parar de agir como uma criança — respondeu.

Sirius sentou na outra ponta do sofá, parecendo bem irritado.

— Aquele CD tem o autografo de Lin-Manuel Miranda e Leslie Odom Jr. — disse. — Sabe o quanto eu paguei por isso?

— Sim, pagou tanto que ficamos sem poder fazer compras.

— Valeu a pena.

Remus colocou o livro de lado e encarou Sirius.

— Acredite em mim, precisava ser feito.

O outro homem balançou a cabeça, dramático. E, infelizmente, Remus sabia muito bem o que acontecia quando ele ficava dramático.

— Por favor, não...

— I’m erasing myself from the narrative... — começou.

— Sirius...

— Let future historians wonder how Sirius reacted when you broke his heart.

— Eu não acredito que você fez isso.

***

Lily Evans

Remus, eu não aguento mais (21:07)

Remus Lupin

Deveríamos ter ido ver Rei Leão (21:10)

Lily Evans

Não posso nem sair em público com James mais (21:11)

Remus Lupin

Ele canta em público? (21:11)

Pelo menos Sirius não faz isso (21:12)

Lily Evans

Nós fomos para esse restaurante francês (não me pergunte por que eu achei que seria uma boa ideia levar James a um restaurante francês, nem eu sei) e ele não ficou satisfeito com a comida, então começou a cantar satisfied (21:14)

Remus Lupin

Sinto pena de você (21:15)

Pelo menos ele não adapta as músicas (21:15)

Lily Evans

Como assim? (21:16)

Remus Lupin

I know I don’t deserve you, Remus. But hear me out. That would be enough (21:17)

Lily Evans

Deus (21:18)         

Isso precisa acabar (21:19)

Remus Lupin

Concordo (21:20)

***

Domingo de manhã ninguém parecia com vontade de levantar da cama, já havia passado das dez. A noite passada tinha sido muito agitada.

Sirius beijou a clavícula de Remus e continuou os beijos até o pescoço do homem. Remus abriu os olhos e encontrou olhos cinzas o encarando.

— Bom dia — disse Sirius com a voz rouca, ele amava aquela voz.

— Bom dia.

A mão direita de Sirius subiu preguiçosamente do abdômen de Remus até sua bochecha.

— A gente vai levantar ou você vai ficar encarando o meu rosto?

— Eu gosto do seu rosto — respondeu e Remus sorriu. — Eu amo o seu sorriso.

— Também gosto do seu rosto, mas precisamos levantar — disse, porém não fez nenhum esforço para levantar da cama.

— Look into your eyes, and the sky's the limit — cantou. Sirius cantava surpreendente bem, mas não precisava saber disso.

Remus não conseguiu segurar a risada.

— Já esperava por isso.

— Cante — pediu.

— Não — respondeu ainda rindo.

Sirius acariciou a bochecha de Remus com o polegar.

— Por favor...

Suspirou, havia perdido daquela vez.

— And long as I'm alive, Sirius, swear to God, you'll never feel so...

O namorado se inclinou para beijá-lo antes de completar a música.

— Helpless.