Mitchel deitou-se sobre a cama e ficou olhando para o teto branco. O jovem parecia distante, em outro mundo. Ele então pegou um travesseiro e cobriu a cara aproveitando para gritar com toda a sua força. Então retirou o travesseiro do rosto e sentou-se sobre a cama. Era hora de parar de ser idiota.

― Para de ser patético, cara! ― Mitchel se repreendeu enquanto mordia o próprio lábio como penitência.

Ele sentiu vontade de chorar, respirou fundo então olhou para seu celular jogado em uma poltrona perto da cama. Rapidamente pulou da cama e correu até o celular, em segundos Mitchel bateu o dedo no celular e levou até a orelha.

― Alô, Luc! ― Mitchel disse sério e esperou. Ouvi algo ao telefone. ― Eu vou te contar uma coisa, mas você tem que prometer que vai ficar calado e ouvir. Promete?

Ele então esperou a resposta mais uma vez.

― Está bem, estou com vergonha de te contar uma coisa dessas, mesmo sabendo que você é meu melhor, tá... Calma, vamos lá. ― Mitchel disse baixo. ― No sábado...  Você lembra que na balada, você estava me achando estranho? Eu encontrei o Vincent lá! Sim, Vincent. Não me pergunte que porra ele estava fazendo lá, eu não sei, talvez me perseguindo não bastava a pressão que ele me faz na empresa, tem que ir nos mesmo lugares que eu, mas... A pior coisa foi que pra ferrar tudo, ele me beijou e...

Mitchel então se calou e fez uma cara de desespero.

― Não tem nada de engraçado nisso. ― Ele gritou no telefone arrancando o mesmo do ouvindo.

Pela cara que Mitchel fez, Luc deveria estar gritando ‘tá namorando, esta namorando’ ao telefone. Ele voltou a ficar em silêncio e concentrado.

― É claro que eu estou pensando nesse beijo o tempo todo. ― Ele confessou sem graça. ― Que dizer que... Não, porra você está maluco? ― Mitchel corrigiu em um verdadeiro desespero. ― Porra, não dá pra conversar sério com você. ― Ele disse irritado e desligou o celular jogando o aparelho de volta na poltrona.

Mitchel bufou e foi em direção ao seu banheiro. O garoto entrou no mesmo e arrancou sua roupa. O corpo branquela ficou exposto. Era um corpo era magro, mas definido, e possuía uma bunda grande e pernas razoavelmente grossas, muito lindas. Até mesmo as mulheres sentiriam inveja do corpo dele, masculino, mas com um charme afeminado. Mitchel se olhou no espelho e tocou os lábios. Pela primeira vez na noite, ele sorriu e fechou seus olhos lembrando-se do calor dos lábios de Vincent pressionando os seus.

― Para Mitchel, que porra você está fazendo? ― Ele gritou consigo mesmo e entrou no box do banheiro espaçoso.

Ele não estava apenas irritado com o melhor amigo. Na verdade ele estava mais irritado pelo fato do chefe ter viajado a negócios na segunda feira pela manhã. E que só voltaria na quarta. Ele já estava sentindo saudades.

Mitchel terminou seu banho rápido e secou-se. Ignorou qualquer outra coisa que tinha para fazer e jogou-se na cama ainda pelado, pouco tempo depois, adormeceu.

Três dias haviam passado relativamente rápido. Quando se tem muito trabalho pra fazer é isso que acontece. Mitchel estava lotado de coisas pra terminar para o próximo catalogo.

― Sim, sim, sim... Estará tudo pronto hoje às vinte horas, senhor Tommy. ― Mitchel falou ao telefone. A cara do jovem não era muito boa, parecia estar irritado.  ― Sim, tudo bem. Eu que agradeço! ― Bento desligou o telefone e bateu o mesmo no gancho com força. Jogou-se na cadeira novamente e respirou fundo tentando se acalmar.

O rapaz estava tendo um dia de cão. Não estava nada interessante. Ele arrumou alguns papeis em sua mesa, e olhou quando a porta de sua sala se abriu.

O coração do rapaz parou. Ele ficou olhando para o homem que entrou por ela.

― Dia difícil? ― Vincent perguntou sério olhando para o funcionário que estava sentado sem jeito na cadeira.

― Vince... Senhor Belluce! Boa tarde, eu não sabia que o senhor já havia chegado. ― Mitchel disse meio desconsertado ao sentir o perfume amadeirado e gostoso do homem invadir sua sala.

Vincent riu, ele sempre achava graça na forma constrangida que o outro tentava agir na sua presença, sempre tentando parecer mais formal do que era, o homem fechou a porta a atrás de si.

― Não se preocupe Mitchel. ― Vincent disse. ― Depois daquele beijo, nada mais provável que você passe a me chamar pelo nome, nada mais provável que a gente sente juntos para conversar sobre o que...

― Que beijo? Não me lembro de beijo algum! ― Mitchel disse sério e encarando o homem em sua frente com determinação

Vincent apenas riu riu.

― Vai dizer que não pensou no beijo nem um pouquinho? ― Vincent perguntou e começou a caminhar na direção de Mitchel

― Por favor, se mantenha longe de mim, ou serei obrigado a gritar! ― Mitchel ameaçou se colando de pé.

Vincent riu mais alto.

― Não teria coragem de fazer isso! ― O homem alto e forte disse sorrindo ainda caminhando para mesa.

Mitchel engoliu em seco.

Vincent encostou as mãos na mesa e ficou mais próximo de Mitchel.

― Pensei bastante no nosso beijo. Não saia da minha cabeça! ― Vincent admitiu.

Mitchel sorriu por um momento com aquela declaração, mas então mordeu o lábio para evitar sorrir.

Vincent inclinou o corpo pra frente e chegou perto do outro, eles ficaram frente a frente.

― Diz que você também pensou! ― Vincent disse e segurou o queixo de Mitchel.

― B-Bom... ― Mitchel começou.

― Mitchel eu preciso de... ― Disse uma voz feminina.

Mitchel rapidamente se afastou de Vincent e bateu em sua cadeira caindo sentado nela.

― É, oi Fê! ― Mitchel disse totalmente sem graça.

― Eu volto depois! ― A secretária disse segurando o riso e se retirou.

Vincent riu e sentou-se na mesa de Mitchel para que os dois continuassem próximos.

― É eu preciso trabalhar. Eu tenho hora... ― Mitchel começou.

― Me de apenas um beijo e eu lhe deixo em paz por hoje! ― Vincent pediu sorrindo.

Mitchel olhou para o chefe com uma cara de desprezou e levantou-se da cadeira dando a volta na mesa.

― Eu vou tomar um café, e quando voltar, que não esteja mais em minha sala. ― Mitchel disse sério e saiu.  ― Ótima tarde, senhor, e seja bem vindo de volta.

Ele correu pra cafeteria e sentia o coração disparado. E uma alegria nova tomava conta do seu peito.