I miss u escrita por isaac


Capítulo 1
i'm still missing you




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Eu lembro de como me senti quando recebi a ligação do hospital.

Finalmente entendi o significado da expressão sem chão; era como se eu estivesse em um tapete voador, à milhares de metros de altitude, e alguém o arrancasse de debaixo de mim. Uma caída desesperada, fria, com tudo indo contra você - a gravidade, o vento, sua própria mente -, e seu coração acelerado, mas do pior jeito possível.

Eu simplesmente não consegui acreditar. Você não podia ter sofrido um acidente; você tinha me prometido que estava chegando. Você tinha me prometido pizza e vinho quando chegasse em casa. Pizza, vinho e uma maratona de anime, nós deitados em conchinha no sofá. Tudo já estava na minha cabeça, desde a garrafa de vinho que iríamos beber, até como seu braço mecânico sentiria contra o meu, carne, osso e sangue.

Sangue que, naquele momento, fervia e congelava, como uma explosão térmica.

Minhas mãos tremiam loucamente, e lutei para sair do apartamento, trancar a porta e entrar no carro. Por sorte, assim que ouvi o motor rosnar, a adrenalina finalmente me atingiu e dirigi, dirigi rápido e desesperado; tomando o cuidado nos sinais, já que fora um descuido de outra pessoa na frente de um semáforo que causara o acidente.

Ideias disparavam pela minha cabeça: fora realmente culpa da outra pessoa? Não poderia ser sua culpa, poderia? Você nunca faria isso comigo, nem com ninguém. Você era bom demais para passar em uma luz vermelha, talvez até na amarela. Meu coração gritava para eu encontrar a outra pessoa e matá-la, matar alguém que significasse tanto para ela quanto você significava para mim, para que ela sentisse minha dor, mas sua voz me lembrava. Não deseje sua pior dor nem para seu pior inimigo. Ninguém mereceria sentir aquilo. Por que, por que, eu fora o escolhido?

Eu tinha perdido a noção do tempo quando o carro chegou no hospital, quase derrapando na entrada do estacionamento. Me enfiei em uma vaga, parando torto, mas não era como se eu me preocupasse. Agora eu só precisava te ver. Te encontrar, e finalmente decidir se a esperança ardendo no meu coração era válida ou não.

Corri e empurrei as portas do prédio com toda minha força. A sala de espera do pronto-socorro estava praticamente vazia, apenas a enfermeira da recepção e um pai preocupado com um bebê no colo ocupando a sala inteira. Eu não estava ali por causa do homem de meia-idade com mais rugas do que deveria, não; eu estava ali por você.

Disparei para o balcão e não consegui controlar ou escolher minhas palavras:

Onde ele está?

— Perdão, mas quem?

— Takashi. Quer dizer, uh, Shiro. Takashi Shirogane.

— Ah, você é o sr. Kogane? - a enfermeira perguntou, sua voz calma e pausada. Como raios ela conseguia não se estressar com você em perigo, eu não fazia ideia. Assenti rapidamente e ela sorriu. Meu coração se partiu um pouco mais; não era um sorriso tranquilo. Percebi dó, tristeza e algo mais em seu olhar, em seu sorriso. As notícias que ela acabaria me dando não seriam boas. - Por favor, me acompanhe.

Ela deu a volta no balcão e entrou por um corredor. Fui atrás, sentindo lágrimas se formando nos cantos dos meus olhos, elas crescendo à medida que eu me aproximava de você. E no momento mais inconveniente, uma lembrança inútil de você voltou à minha mente: o motivo de você nunca - quase nunca — chorar. Simplesmente para não borrar o delineador; já dava trabalho o suficiente ter que tentar fazer olhos iguais de manhã, você dizia, mas ter que refazê-los? Esforço demais.

E aquela memória sem sentido de você conseguiu me fazer sorrir, rir por meio das lágrimas. Pelo menos isso. Mesmo em qualquer que fosse o estado em que você estivesse naquele momento, você ainda me deixava feliz. E, se eu tivesse te perdido, eu não sabia se eu me sentiria feliz de novo.

A enfermeira parou, e me lançou um olhar preocupado antes de abrir a porta.

Não sei como não desmoronei ao te ver.

O topo de sua cabeça estava todo enfaixado, terminando perto de suas sobrancelhas; alguns fios brancos e acinzentados de sua mecha tingida escapavam. O curativo estava manchado de um vermelho vivo, intenso, que parecia ainda molhado. Você deitava com aquela camisolinha estúpida que era claramente curta demais, e todos aqueles fios e tubos enfiados em sua pele…

Era assustador.

— Sr. Kogane, você deve ter percebido, mas não trago notícias boas…

Me virei para a enfermeira, bruscamente, sentindo as lágrimas que eu estava tentando reprimir escapando e escorrendo pela minha bochecha. Merda. Você não podia estar morto. Se você estivesse morto, nem teriam se preocupado em ligar tubos, né? Lógico. Pra que se incomodar…

— O sr. Shirogane sofreu uma morte cerebral, por um estilhaço que atravessou seu crânio.

Morto.

Você estava morto. Suas promessas, quebradas. Suas memórias, perdidas. Suas palavras, esquecidas. Seu corpo, sem vida. Nada mais de você realmente restava; lembranças e fotos não eram suficientes. Nunca foram suficientes, e agora eram menos do que nunca. Porque você era tudo, meu mundo inteiro. Eu podia ainda ter Lance, Pidge, Hunk, Allura e Coran, meus poucos amigos, mas eu não tinha mais você.

Meu único amor.

Eu não via mais motivo algum para continuar em pé; acho que foi aí que caí. Só lembro de uma dor momentânea nos joelhos e azulejos frios contra minha pele, minhas mãos, minha face. A voz tranquila demais da enfermeira perguntando se eu estava bem, chamando meu nome. Sr. Kogane, sr. Kogane, sr. Kogane…

Acordei do colapso antes que ela voltasse. Tinha saído para buscar alguém, ou alguma coisa do tipo. Reencontrando o fôlego, me levantei e fui até você, deitado na maca, morto. Acariciei sua bochecha, tão horrivelmente fria, com meu polegar, e senti qualquer resquício de vida que ainda houvesse em você fugir para meu dedo. Deixei meu carinho descer até seus lábios, brancos e pesados, e suguei a memória de todos os nossos beijos, de sua boca correndo cada centímetro de meu corpo.

Levei minha mão até a sua. Essa sempre era fria, um metal que me trazia conforto apesar de gelar minha pele. Eu não tinha demorado para achar um porto seguro naquela prótese mecânica, simplesmente porque estava ligada ao seu corpo. Nas noites em que você tinha pesadelos, eu te deixava me embalar num sono sem sonhos, no abraço daquele mesmo braço.

Mesmo com você ali, na frente dos meus olhos, eu já sentia tanta saudade. Tanta saudade, tanta, tanta. Eu não podia mais ouvir sua voz, me confortando, tentando me animar, dizendo que eu não podia ficar sendo tão pessimista e triste. Estou só sendo realista, eu justificava. E eu estava. A realidade doía, e eu sabia disso. Afinal, depois de tentar me dizer tantas vezes que tudo dá certo no final, você estava morto.

Bufei e me afastei. Era autossabotagem me prender ao passado daquele jeito; sim, eu precisava apreciar todo e qualquer momento que eu tivesse passado com você, até as brigas, até as lágrimas e palavras-adagas, mas eu também precisava aceitar que tinha acabado. Aquelas coisas tinham acontecido, mas nada nunca mais aconteceria com você. Nunca mais.

— Sr. Kogane! - dei meia-volta, e vi a enfermeira chegar com um médico jovem. Ela não parecia mais tão calma, uma expressão de alívio em seu rosto. - Você está em pé. Você está bem.

— É. Estou. Obrigado. Eu, uh, preciso preencher alguma coisa? Quero-- Preciso ir embora.

— Venha comigo, sim?

Segui-a até a recepção, e preenchi uma papelada sem prestar atenção alguma. A informação escorregava de mim, coisas que eu quase sempre esquecia saindo fácil do meu cérebro. A única coisa realmente presa à minha mente era minha necessidade de sair dali, de ir para algum lugar onde eu pudesse esquecer por um segundo que você não estava mais vivo.

E eu sabia exatamente para onde ir.

O observatório.

Sempre que eu ou você estávamos tristes, o outro sabia que o lugar onde encontrá-lo era o observatório. Esse nosso interesse com o universo e todos os mundos lá fora não era novo, nem apenas um hobby. Era nossa maior diversão, traçar constelações e observar todas as luzes no manto escuro da noite.

Nosso primeiro encontro fora ali; você me levou, e passou a noite inteira sentado comigo, contando histórias e fatos sobre cada um dos astros. No final, estávamos deitados, eu quase sobre você. Em silêncio, apenas ouvindo o outro respirar, e sentindo o seu calor aquecer nós dois… E num movimento de coragem, eu te beijei. E tudo se encaixou, naquele exato momento.

Agora tudo estava quebrado de novo.

E eu estava sentado sozinho. Isso não estava certo; você tinha que chegar, me abraçar e dizer que tudo estava bem, que tudo ficaria bem, que você estava ali e disposto a me ancorar no mundo. Que eu não precisava me preocupar, que não havia com o que me preocupar. Com você do lado, eu não me preocupava…

Olhei para todas as estrelas e planetas que eu conseguia, e pensei em todos os outros que eu não conseguia ver. Em algum lugar, em um universo paralelo, em outra linha do tempo, você estava vivo. Você estava bem, e estávamos nós dois em casa, lábios sujos de ketchup, vinho e do sabor um do outro. Anime no volume máximo na TV, e eu encolhido contra você. Quis voar até esse universo e tomar o lugar do outro eu.

Deixei minhas lágrimas correrem ali, num choro silencioso e mais doloroso do que qualquer coisa que eu já experienciara. Eu precisava lamentar, porque trancar tudo no meu coração e na minha alma seria como tentar conter uma mangueira; eventualmente, tudo explodiria, e seria muito pior do que simplesmente deixar sair num fluxo normal, tranquilo, triste. Fazia parte. Você já estava morto, né? Não havia mais como voltar atrás.

Takashi Shirogane. Você era uma pérola, uma pepita de ouro, minha pepita de ouro. Eu não devia ter te perdido. Não devia ter te deixado ir. Devia ter tomado cuidado, te apreciado com tudo que tinha dentro de mim, mas não. Eu precisava ser o mesmo imbecil, o mesmo garoto estúpido de sempre, e te perder. Eu só não entendia por que tinha que ser você, logo você. Você era a pessoa que me ajudava a não sofrer demais com alguma perda, a valorizar o que realmente importava; e agora? Você não estava ali para me ajudar a superar… Você.

Então eu tinha que passar por tudo isso sozinho. Só eu e sua voz na minha cabeça; ninguém mais me entendia, ninguém mais me conhecia ao ponto de saber o que falar, o que fazer, para eu resistir. Só você. E agora, eu tinha que ser essa pessoa para mim mesmo. Eu queria que eu fosse capaz mas, no fundo, eu sabia que não era. Você continuava me reafirmando na minha cabeça: vamos lá, Keith, é só se levantar e lutar suas batalhas. Acordar a força rugindo dentro de você e destruir a tristeza, até apenas a saudade sobrar. Porque a saudade não dói, ou não deveria; a saudade acolhe, e a saudade conforta.

E estimulado por aqueles resquícios da sua voz falando na minha cabeça, eu fiquei em pé. Lancei uma despedida para as estrelas, e pedi que o você de outro mundo me mandasse a força para continuar sozinho. Imaginei, também, se em algum lugar, era você que tinha me perdido. De algum jeito, em algum momento, eu fora o alguém a morrer. Nossos mundos poderiam colidir, você não acha? Para o eu perdido reencontrar o você perdido. Para nos amarmos de novo, nas mesmas condições, com as mesmas regras, mas de outro jeito.

E agora é assim.

Eu sinto saudade, todo dia quando acordo, toda noite antes de dormir. A cada refeição, a cada canção, em qualquer lugar, em todo lugar. Sinto falta dos nossos momentos, da sensação de você contra mim, de seus lábios contra os meus, de suas palavras doces em meus ouvidos.

Seu funeral foi tão ruim quanto eu esperava. Foi pequeno; sua família, e nossos amigos. Allura e Coran estavam claramente sentidos, e tentaram me apoiar emocionalmente o máximo possível, mas era inútil. Lance perdeu toda sua característica brincalhona, o brilho em seus olhos e a autoconfiança; parecia estar escorando em Hunk o tempo todo, mal. Hunk tentava o máximo possível ser o maduro e responsável, emocionalmente estável, papel que costumava ser seu; não tinha nem perto toda a maturidade e atitude para fazê-lo, mas era o único perto de ser capaz.

Pidge… Pidge estava quase tão destruída quanto eu. Você era quase outro irmão mais velho para ela, de qualquer jeito; e estava tão mal que me doeu. Seus óculos estavam tortos, seu cabelo bagunçado e, honestamente, agia de um jeito quase idiota, nem perto da garota inteligente que costuma ser. Eu queria confortá-la, dizer para ela que estava tudo bem, que tudo ficaria bem, mas ambos sabíamos que essa era a maior mentira que eu podia contar. A maior mentira que eu não me deixaria contar.

Então aceitei seu abraço, mais do que todos os outros. Mesmo não por inteiro, ela sentia minha dor; mais do que os outros, ela sentia minha dor. Mais do que perder um familiar, mais do que perder um amigo: perder uma pessoa que te fazia sentir inteiro, que te sustentava e te preenchia, a única que te entendia e a única que tentava entender.

Você.

E o funeral não foi quase nada, para ser honesto. O que dói mesmo é o cotidiano, ver sua sombra e sentir sua falta em lugares onde você deveria estar, olhar para o relógio na hora que você deveria chegar, fazer coisas que você deveria fazer, procurar o calor que você deveria ter. Eu sinto saudade. Muita, muita, como se meu coração fosse arrancado do meu peito e jogado no mar, para ser levado para longe.

Mas nunca vou parar de sentir saudade. Como eu poderia? Você é o único que eu jamais amei. Não existe substituição para você, então nem me darei ao trabalho de procurar. Basta aprender a viver com a dor, até que ela não incomode mais. Vai acontecer, eu sei que vai. Sempre acontece, precisa acontecer. Faz parte.

Só quero que você saiba disso. Que ainda te amo, Deus, como eu te amo. Por favor, continue me amando também. Antes que você perceba, vou aí me juntar a você. Juro.

Espere por mim, Takashi.



***



I'm

Still missing you

And I can't

See the end of this

Just wanna feel your kiss

Against my lips

And now all this time

Is passing by

 

I miss you when I can't sleep

Or right after coffee

Or right when I can't eat

I miss you in my front seat

Still got sand in my sweaters

From nights we don't remember

Do you miss me like I miss you?

Fucked around and got attached to you

Friends can break your heart too, and

I'm always tired but never of you

 

I don't mean no harm

I just miss you on my arm

Wedding bells were just alarms

Caution tape around my heart

You ever wonder what we could have been?

You said you wouldn't and you fucking did

Lie to me, lie with me, get your fucking fix

Now all my drinks and all my feelings are all fucking mixed

Always missing people that I shouldn't be missing

Sometimes you gotta burn some bridges just to create some distance

I know that I control my thoughts and I should stop reminiscing

But I learned from my dad that it's good to have feelings

When love and trust are gone

I guess this is moving on

Everyone I do right does me wrong

So every lonely night, I sing this song

 


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