Minha terra tem palmeiras... escrita por Tyke


Capítulo 4
Meu ar salgado.


Notas iniciais do capítulo

Próximo, :)



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5 dias.

Faltam 5 dias!!!

Danilo e David se encontravam no quarto  do garoto. Guardavam roupas e outras tranqueiras do menino dentro de um malão marrom que tinha um grande "D.H" na frente. Tal malão pertenceu a David nos tempos de Hogwarts e coincidentemente seria muito bem aproveitado pelo filho.

O menino disparava perguntas sem parar enquanto socava as peças de roupas na mala. Eram as mesmas perguntas sobre a Castelobruxo que ele tinha feito nos últimos dias... mas era tanto "blábláblá" ininterrupto que fazia parecer meses e meses repetindo as mesmas dúvidas. David não aguentava mais. Que dor de cabeça!

— Eu já falei que não sei, Danilo! — O homem se exasperou batendo as mão na perna.

— Caramba! Mas você não sabe nada. — Danilo cruzou os braços de birra irritante.

— E não sei mesmo! Quando chegar em Santos pergunte aos seus avós. Eles vão saber.

David voltou a atenção para a mala. Que bagunça! Ele começou a retirar as roupas socadas e dobra-las para serem guardadas direito.

Praticamente empurrado pelo o pai, Danilo sentou na cama e desistiu de "ajudar" a arrumar a mala. Ele sentia o coração pular e bater no peito a cada segundo que sua grande aventura se aproximava. Borboletas voavam inconveniente por seu estômago. E os pés não paravam quietos, eles queriam pular de alegria.

O menino olhou para o pai dobrando as roupas e ajeitando tudo dentro da mala... Mal sabe ele o pouco tempo que aquela "pomposidade" iria durar dentro dela... Danilo sorriu travesso e depois observou o homem em silêncio. Aquele adulto viveu por anos na America Latina não era possível que ele não soubesse nada como havia afirmado.

— O que você sabe?

— Como é? — David lançou um olhar confuso para o menino.

As vezes esquecemos que pensamentos não são audíveis...Danilo suspirou aborrecido pelo pai não o acompanhar, mas ninguém é obrigado entender perguntas aleatórias. Então não jogue perguntar do nada! Volte e faça direito.

— O que você sabe sobre a Castelobruxo?

David pairou pensativo por alguns instantes e Danilo aguardou em expectativa batendo os calcanhares na borda de madeira da cama. O pai pensava, logo uma resposta satisfatória estava a caminho. Finalmente!

— Eu não sei muito...

— Já percebi.

O menino recebeu um olhar de falsa irritabilidade pela interrupção.

— Posso falar? — Danilo acenou com a cabeça em estado de ansiedade — Sua mãe uma vez me contou que o castelo foi construído a milhares de anos, provavelmente é mais antigo do que o castelo de Hogwarts...

— Mas na carta diz que a escola tem quinhentos anos. — Danilo contradisse indignado com a falsa declaração.

— Como escola tem quinhentos anos. Mas o castelo foi construído, a muito tempo, por um imperador inca que queria ostentar um palácio no meio da floresta que ficava para lá das cordilheiras. Então o ganancioso Imperador, junto com sua corte e escravos, escalou as montanhas e construiu um enorme palácio no meio da selva. O Me... quer dizer... o Espírito da Floresta não gostou nada dos invasores terem desmatado uma grande área, então ele expulsou o Imperador de volta para o outro lado das cordilheiras. E o grande palácio ficou abandonado até que os bruxos europeus chegaram na América, à quinhentos anos atrás, descobriram o antigo palácio e fundaram nele a escola que é hoje.

Boca aberta. Era assim que Danilo se encontrava após a história incrível que ouviu. De repente o grande "O" se curvou em uma lua minguante sorridente e por fim o semblante do menino ficou sério.

— Esse Espírito da Floresta tenta expulsar os alunos da escola?

— Não... ele... — David passou a mão pela nuca — Ele nem existe mais, se é que existiu algum dia.

— Não existiu?

— Não sei...são lendas dos nativos. — David coçou a cabeça.

Espera, ele estava mentindo? Danilo olhou desconfiado para o pai. Mas sobre o que ele poderia estar mentindo?... Talvez seja impressão... talvez!

— O que foi? — David notou o olhar desconfiado do menino.

— Nada — Danilo chacoalhou a cabeça voltando ao seu estado normal de espírito e correu para fora do quarto.

O homem voltou a atenção para o malão e mal percebeu quando o garoto voltou. O corpo menor paralisou ao lado do maior e ficou gangorreando nos calcanhares enquanto as duas mãos atrás das costas escondiam uma surpresa.

— Fala — David nem se deu ao trabalho de olhar a criança, por isso duas mão entraram no seu campo de visão segurando um pedaço de papel — O que é isso?

— Para quando você sentir saudades de mim. E só levar para todos os lugares.

David pegou o papel retangular enquanto Danilo sorria esticando os lábios, enrugando o nariz e fechando os olhos. O homem girou o presente nas mãos e reconheceu como uma fotografia. A fotografia que ficava no escritório; Um casal e um bebê ou ele, sua esposa e seu filho. A felicidade, que outrora existiu, aprisionada em uma foto enfeitiçada.

— Obrigado! — David sorriu e voltou para a arrumação.

Horas depois estava tudo pronto. Ai meu coração! Danilo sentia a pulsação no ouvido a cada degrau que descia da escada de madeira. Do lado de fora da casa ele se conteve para não pular e junto com o pai, quem carregava o malão, começou a atravessar o pátio, mas ele parou ao avistar um parzinho de olhos brilhando de longe.

— Já voltou. — O menino avisou o pai e saiu correndo em direção ao brilho.

Sally estava escorada na mureta da própria casa, do lado de dentro, e não esboçou nenhuma reação quando Danilo se aproximou.

— Oi — Ele cumprimentou.

— Oi — Ela falou abaixando os olhos — Já está de saída?

— Sim, as aulas começam daqui cinco dias.

— Legal...

Silêncio constrangedor. Que sensação horrível! Danilo olhou os próprios pés, olhou a garota, as casas do Círculo Norte e olhou para trás onde o pai aguardava.

— Eu tenho que ir.

— Está bem. — Sally teve coragem de encara-lo e esboçou um sentimento... Qual seria?... Algo próximo de desapontamento e raiva.

— Tchau, Boa sorte em Hogwarts!

— Tchau... Sorte para você também.

Danilo sorriu e ela não retribuiu, então ele virou as costas pronto para correr de volta ao pai.

— Espera! Quando você volta? — Aquilo era esperança brilhando nos olhos?

— No final do ano, eu acho.

Sally acenou a cabeça e dessa vez sorriu. Quantos sentimentos cabem dentro de uma pessoa tão pequena ao mesmo tempo? Danilo, em dúvida, correu para o pai.

Juntos eles cruzaram o pátio Norte, viraram na estrada de pedra em direção ao Círculo Oeste, atravessaram o pátio Oeste e pararam de frente a um muro de tijolos azulados. Como no Beco Diagonal, David tocou a varinha no tijolo e ele e os demais deslizaram abrindo uma passagem.

Aquela passagem era um ótimo jeito de manter os trouxas do lado de fora e as criança pequenas do lado de dentro.

Pelo arco aberto surgiu uma cidade trouxa. Sabe como é, certo? Carros, pessoas apressadas, casas alinhadas de mais, roupas estranhas, agitação... Eles estavam bem no centro da cidade apressada. Danilo ficou de boca aberta pela segunda vez no dia. Claro que não era a primeira vez que ele via os trouxas, mas era raro isso acontecer já que ele estava sempre preso dentro de Borough Clurican, vulgo; Vila dos Círculos.

David agarrou a mão do menino paralisado e o puxou para fora da vila. Entre os trouxa eles passaram despercebidos. Mesmo ambos usando capa e o menino com um chapéu pontudo, eles não os viam! Danilo começou a se perguntar se o pai havia conjurado um feitiço ou se os trouxas eram tão "pilhados" que simplesmente os ignorava.

O pai parou na sarjeta de uma rua menos movimentada, esticou o braço direto e... Essa não! Os ônibus enfeitiçado dirigido por malucos não! Como criança não opina, Danilo teve que entrar no ônibus branco, mesmo a contra gosto.

— Não tinha outro jeito? — O menino perguntou entre dentes quando já estava sentado nos bancos também brancos.

— Não consegui autorização para aparatar com você, não tem rede de flu em Brighton e nem começa! Eu não ia voar de vassoura com você nas minhas costas até lá.

Danilo calou a boca que iria questionar. Realmente ele ia argumentar sobre a vassoura... Uma lavancada e o ônibus estava em movimento... Pulemos a desagradável viagem...

 Danilo correu para fora do transporte maluco assim que as portas se abriram e vomitou na primeira lata de lixo que encontrou. Lá se vai o café da manhã.

— Tudo bem? — David apoiou uma mão carinhosa nas costas do filho.

— Melhor fora daquilo — Ele encarou feio o ônibus branco que zarpava a toda velocidade.

Eles caminharam pelo comprido píer. Estava frio. Danilo abraçou o próprio corpo em baixo da capa olhando as águas do mar. Ele esteve naquele local a dois anos e o lugar não tinha mudado nada.

 Chegaram! A visão era de brilhar os olhos. Havia brinquedos coloridos e lojinhas para todo lado, só não havia pessoas. Estava deserto.

David guiou o filho para a loja central do píer, a redonda parecendo uma meia bola. Dentro dela, um senhor no balcão assistia futebol em um parelho preso na parede. O velho nem deu atenção aos dois bruxos que se dirigiram para o fundo da loja.

Eles passaram por uma prateleira cheia de barquinhos dentro de garrafas de vidro. Danilo sentiu aquela vontade infantil de pedir, mas ele se controlou sabendo que o pai não gastaria dinheiro com um obejeto inútil como aquele. O menino percebeu que estava ficando para trás por observar as garrafas, então correu se posicionando ao lado do pai. David tinha parado em frente a uma porta de madeira, tocou a varinha e ela deslizou para o lado. Um elevador.

— Oh! — Danilo sorriu, pois se lembrava um pouco vagamente daquilo.

Entraram no elevador, a porta se fechou e o equipamento desceu aos trancos e chacoalhando. Quando a porta deslizou, ao invés da lojinha, revelou um pequeno porto submerso. Um feitiço parecia englobar o local mantendo a água e os peixinhos afastados. No centro havia um monumento em homenagem as pessoas que morreram na Guerra Bruxa de 90 - esses monumentos estavam espalhados em todos os cantos do Reino Unido -. E apenas dois navios pequenos estavam atracados no porto.

Danilo, sentindo as mãos suarem, foi guiado pelo pai até o navio que parecia mais novo.

— Bem... — David agachou na frente do menino. — Aqui está sua passagem. Dentro do navio vai ter um comissário de bordo, pesa ajuda a ele para encontrar sua cabine. Quando chegar em Santos, desça do navio e aguarde seus avós no porto. Não saia sozinho, entendeu?

— Sim, pai. — Danilo pegou a passagem com as mãos tremendo.

— Boa sorte e não se esqueça de me escrever.

— Não vou.

— Eu te amo! — O homem puxou a criança para um abraço muito apertado e demorado, como se não quisesse solta-la nunca mais.

— Eu também te amo — Danilo respondeu sendo sufocado.

Infelizmente o tempo não pode ser eterno, então o abraço teve que acabar. Afastados, Danilo caminhou carregando o próprio malão até a entrada do navio. Olhou para trás... estava deixando o pai, mas era por uma boa causa... Então sorriu e acenou alegre para o homem. Depois, respirando fundo, passou pela porta do navio e procurou o comissário.

Minutos depois estava em sua cabine. Era pequena, havia uma cama e um armário para guardar os pertences. Uma janelinha redonda e lacrada centralizava-se na parede. Danilo se aproximou dela e olhou. O navio já estava em movimento cortando as águas salgadas e espantando os peixes.

A viajem foi longa... longas horas.

 Danilo adormeceu e acordou no dia seguinte, olhou pela janela e viu que o navio estava emergido. Sendo criança curiosa e desavergonhada, ele correu direto ao comissário, que chamava-se Paul, e perguntou porque eles navegavam sobre as águas.

— Porque estamos atravessando a dorsal Meso-antlântica — Paul respondeu em sua postura educada.

— O que é isso? — Danilo questionou imitando a postura do homem.

— São como cadeias montanhosas submersas. É mais rápido passar por cima do que ficar desviando em baixo. E como estamos no meio do oceano não somos vistos pelos trouxas.

Paul resolveu dar uma resposta completa e evitar os curiosos"Por quês?"... E caramba! Existem montanhas em baixo d'água!... Pobre comissário Paul que no fim não escapou das perguntas de Danilo. O menino ficou tão abismado que se pós a fazer perguntas sem parar sobre tudo que vinha na cabeça.

Após um longo tempo conversando com o garoto, Paul acabou gostando dele. Viraram amigos!... amigos até chegar no porto, é claro... Quando o navio submergiu novamente, chegou ao destino e Danilo desembarcou, cada um deles seguiu o próprio caminho esquecendo do outro pouco a pouco.

Danilo caminhou até o centro do porto e paralisou em um lugar. Esperando e observando em volta. Aquele porto também era pequeno e englobado por um feitiço "afasta-água". Talvez a diferença mais notória seria a estátua de um bruxo bigodudo no lugar do monumento em homenagem aos mortos da guerra.

— Danilo! — Uma voz distante veio até ele. Aliviado por não ter sido esquecido, o menino se virou feliz para ela.

Ele não via os avós a quase dois anos, foi na última vez que David teve condições de viajarem para a América. Os idosos não haviam mudado nada, mas estavam diferentes... ou talvez Danilo quem via o mundo diferente aos quase onze anos.

Avós mudados ou não, o menino correu na direção deles e os abraçou.

— Quanto tempo! Como você cresceu, querido. — A vovó Maria beijava incessantemente as bochechas do garoto.

— Está a cara da Silvia! — O homem velho, barrigudo e de cabelos ralos falou. Era o vovô Zê.

— Que besteira, Cafeteiro. Ele é quase uma cópia do David. — A senhora abraçou e depois guiou o menino para o elevador daquele porto. — Vamos para casa, amanhã compraremos seus materiais na capital e...

Pelo caminho todo a avó recitou os planos que tinha feito para os próximos cinco dias antes do embarque no aeroporto.

Danilo mal dava atenção à mulher e admirava a cidade a sua volta... "Me lembro daquilo." Ele avistou um barzinho antigo em uma esquina. "E daquilo" Uma estatua em uma praça... Ele não imaginava que possuía tantas lembranças ainda guardadas. Respirou fundo tragando a umidade salgada do ar e depois sorriu.

—— ... o Felipe vai te ajudar, então não se preocupe. — A avó concluiu seu monólogo.

— Quem?

Danilo pensou no nome e no quanto lhe era familiar, mas não conseguia se lembrar a quem ele pertencia.

— Felipe, seu primo. Ele está no primeiro ano do Segundo Ciclo.

Ah, sim! Felipe o primo gordinho e bochechudo. Essa era a última imagem que tinha do primo e ela era tão antiga que o rosto do parente nem possuía mais traços. Como era o rosto dele? Vai saber.

Finalmente o grupo parou em frente a uma casa antiga de dois andares. Danilo se lembrava daquele lugar. Esteve ali varias vezes com a mãe e o pai. Em um tempo quase remoto, eles almoçavam naquela casa, passavam Natal e outras festas.

A casa de seus avós. Não havia sensação melhor no mundo do que retornar àquele lugar.

 

 


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado desse.

Um desenhinho do Danilo com sua mãe. (antes tinha o David, mas ele estava muito bugado então o apaguei)



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