Oposto Complementar escrita por Tai Barreto


Capítulo 9
Capítulo 9


Notas iniciais do capítulo

Olar, amores. Esse capítulo foi programado, porque eu não sei se estarei com o notebook.
Peço desculpas por ainda não ter respondido a todas. Eu estou me odiando por isso, mas não está sendo nada fácil do lado de cá. Vou tentar responder pelo celular.
Para quem vai fazer ENEM nesse fim de semana, toda a sorte.
Para quem não vai, que inveja.

Sem mais, boa leitura.



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E, como em todos os domingos, Harry e eu estamos brincando de guerra de bola de neve. A diferença é, que dessa vez, temos Letícia conosco. Quase não há pessoas pela rua, já que ainda é de manhã e pensar que, depois do almoço, terei que arrumar o galpão. Não que esteja uma bagunça, mas é sempre bom fazer uma arrumação mais caprichada. Pessoas comuns fazem isso ao sábado, e eu até faria ontem, mas o problema foi que eu tive que sair com minha irmã para comprar os vestidos para o casamento, que é no fim dessa semana. Bruno e Skye nos convidaram para almoçar lá, mas eu não vou. Letícia e Bruno ainda não sabem dessa decisão, todavia, Harry já tem noção.

O que eu vou fazer lá se a noiva não gosta de mim? Eu prefiro não estragar a felicidade alheia e só vou ao casamento porque é o mínimo depois de Bruno me dar o galpão. Eu ainda não sei o que dar a eles de presente. Nem sei como funciona essa coisa de casamento entre brasileiro e inglesa. Ou vice-versa. Eu recebo uma bolada na cabeça, por estar perdida em devaneios e ao me virar, encontro Harry e Letícia, lado a lado. Um coloca a culpa no outro.

E depois de uma grande guerra de bola de neve, eu me sento, cansada, enquanto dois continuam rindo e se divertindo.

— Ei, meu doce, o que houve? — Harry senta no banco ao meu lado.

— Eu tenho que cuidar das coisas no galpão. Eu saí ontem e aquele lugar está uma zona.

— Você vai trabalhar amanhã? — Letícia senta ao outro.

— Sim.

— E o que eu vou fazer nesse intervalo de tempo?

— Turismo.

— Sozinha? — Seu tom de voz soa estridente.

— É. — Dou de ombros. — Eu não vou faltar trabalho para fazer a sua vontade. Tenho muito que fazer na empresa.

Letícia bufa e eu levanto.

— Que frieza, hein? — Resmunga.

— Vai ver é meu ascendente em capricórnio. — Eu me afasto.

— Ascendente? Isso tem algo a ver com astrologia? Eu lembro de ficar vendo sobre meu signo naquelas revistinhas. Lembra? Vinha com aquela baboseira de cor de roupa do dia.

Eu rio.

— Hoje em dia, aprofundei-me mais um pouco.

— Então, você é de peixes com ascendente em capricórnio?

— Exatamente. E lua em peixes. Sou trouxa demais. Tento me agarrar ao ascendente, mas sempre volto ao sol e lua. — Reviro os olhos. — Então, vai se acostumando, ok?

— Eu vou tentar. E como faz para saber?

— Eu fiz meu mapa astral. — Dou-lhe uma piscadela. — Posso fazer o seu, se quiser.

— Claro que eu quero.

Caminhamos falando sobre astrologia, enquanto Harry somente escuta.

E no nosso andar, ele fica e eu sigo com Letícia. Para a minha felicidade, minha irmã me ajuda com a limpeza do meu galpão.

***

— Está explicado — digo, levantando, completamente frustrada. — Olha só esse mapa astral. — Indico a tela do meu notebook sobre a mesinha de centro e passo a mão nos cabelos, tentando domar os fios que se arrepiaram com a mudança de tempo.

— E qual é o problema com meu mapa astral? — Letícia me olha confusa.

— Seu sol é em gêmeos, isso eu já sabia, mas seu ascendente é em câncer. Isso explica o drama diário que você costuma fazer por pouca coisa. — Reviro os olhos e ela faz o mesmo. — Ou acha que canceriano presta? Socorro. São todos manipuladores e dramáticos. Se fazem de bonzinhos. E você ainda tem o sol. Geminianos também...

— Quer parar de diminuir meu mapa? — Ela levanta, irritada.

— Que mapa? — questiona Harry, entrando. — Meu doce, ainda não se vestiu?

Eu o olho. Ele usa uma calça cinza grafite social, um suéter preto, de mangas compridas e tem os cabelos presos no coque baixo. Sorrio amarelo para ele e meneio a cabeça em negativa.

— Eu não vou.

— Como assim? — Ele se aproxima, depois de fechar a porta. — Bruno acabou de ligar.

— Eu não estou muito afim. — Sento no sofá dessa vez. Essa coisa de fazer no chão não me fez bem.

— O que está sentindo? — Harry senta ao meu lado e eu nego.

— Nada. Eu só... — Desvio os olhos dos seus.

— Fala, Lalinha. — Leti senta ao meu lado.

— É por causa da Skye, não é? — Ele me faz olhá-lo

Eu hesito e Harry suspira.

— O que tem ela? — Letícia o olha.

— Nada — digo, antes que Harry fale a verdade. — Vão sem mim. Digam ao Bruno que eu estou com dor de cabeça....

— Eu não vou sem você. Não vou deixá-la aqui sozinha.

— Harry. — Eu toco o seu rosto. — Por favor. Eu vou ficar bem.

— Não, Laila.

Suspiro.

— Sério. Eu sei me cuidar. Além do mais, é apenas um almoço e Leti quem é a verdadeira amiga dele. Não eu.

— Ele pediu que eu levasse ambas.

— Por favor.

— Eu não quero deixá-la sozinha.

— Por favorzinho. — Junto as palmas das mãos e faço a minha melhor cara de quem está implorando.

E eu acho que surte efeito, pois Harry suspira outra vez.

— Certo, senhorita Vidal. — Ele levanta. — A senhorita venceu. Quando eu ligar, por favor, me atenda, do contrário, virei correndo ver você.

— Obrigada. — Eu levanto, abraço-o e beijo sua bochecha. — Está intimado a jantar comigo.

— Que grande sacrifício.

Eu rio e o aperto em meus braços.

— Divirtam-se e se ele perguntar por mim, digam que... — Eu hesito e me afasto do Harry.

— Você está com dor de cabeça? — Sugere a minha irmã e eu concordo.

— Sim. — Toco as têmporas e faço uma careta. — Desculpem.

— Eu sei que ele vai querer me crucificar por ter deixado você sozinha — diz Harry. — Mas eu vou garantir a ele que antes que faça, eu mesmo estarei cuidando de me crucificar, caso algo de mal te aconteça, então... — Ele beija a minha testa. — Qualquer problema, não hesite em me ligar, está bem?

Eu concordo, coloco-me na ponta dos pés, trago seu rosto para junto do meu e beijo a ponta do seu nariz.

— Comporte-se.

— Pode deixar. — Harry beija a pontinha do meu. — Eu te amo.

— Eu te amo.

Letícia me abraça, com um sorrisinho e logo acompanha o Harry. Eu suspiro e sento, olhando o guarda-chuvas vermelho que ele me deu. Sorrio. Eu não poderia ter vizinho melhor na minha vida. Ainda mais quando ele é meu oposto complementar.

***

Eu sento no sofá outra vez, depois de um delicioso banho e uma tarde exaustiva de muito serviço dentro do galpão. Devo admitir que é terrível ficar aqui dentro sozinha, ainda mais quando Harry me prometeu, ao me ligar assim que chegou a casa do Bruno, que voltaria logo. São exatamente seis da noite e eu estou quase indo dormir, de tão cansada que estou. Deito, abraçando uma das almofadas de decoração e acabo me rendendo ao sono.

***

— Meu doce?

Eu escondo o imenso sorriso que ameaça dividir o meu rosto em dois, na almofada, somente ao ouvir essas duas palavras e o tom de voz dele. Eu não tenho ideia do que se passa comigo, mas Harry tem esse dom de me fazer sorrir com tão pouco. Como se o fato de ele ser quem é, não fosse o suficiente. Então eu lembro que ele deve estar bem atrasado, se bem que eu não sei há quanto tempo estou cochilando.

— Você demorou. — Resmungo, antes esmo de abrir os olhos.

— Desculpe. — Ele coloca uma mecha dos meus cabelos atrás da orelha e afaga o meu rosto. — Distraí-me conversando com sua irmã.

Olho-o e vejo que já está de banho tomado, com os cabelos úmidos e de camisa preta, como sempre. Suspiro e sento, sendo puxada para um abraço. Escondo o rosto no seu pescoço, manhosa e ele ri.

— O que trouxe para jantarmos? Ou vamos ter que pedir? — Afasto-me o suficiente para manter os olhos nos seus.

— Eu já pedi. São oito da noite.

— O quê?! — Eu levanto num sobressalto, prendo os cabelos num coque rapidamente. — Oito da noite?

— Sim.

— Deusa! Eu dormi demais. Eram... — Hesito e tento lembrar a hora em que pausei o meu serviço. Como é que ainda tem pessoas que agem como se ser “do lar” é uma vida fácil? — Ah, não. — Suspiro, aliviada. — Eram sete da noite quando desci. — Sento e ele suaviza a expressão. — Cadê a Letícia?

— Almoçou?

— Hm? — Coço a cabeça e tento maquinar alguma resposta que não o irrite. Se bem que eu sei que não vou obter resultado. Harry estreita os olhos escuros para mim e eu luto contra a vontade de revirar os meus. Mordo o lábio inferior e eu juro que é provável que ele ouça as engrenagens do meu cérebro funcionar.

— Eu sabia que não deveria te deixar sozinha. — Harry levanta.

— Ei. Eu comi sim.

— O que, Laila?

Olha, eu sei que pode parecer bobagem, mas eu ando tão acostumada com ele me chamando de “meu doce”, que quando ouço meu nome, fico temerosa. Prendo os lábios numa linha rígida e encolho os ombros.

— Uma saladinha... — Sorrio amarelo, mas ele não me acompanha. — Também não precisa ficar chateado comigo. — Levanto. — Eu estava entretida com os serviços por aqui. Esse galpão é imenso e eu não dou conta sozinha.

— Não poderia parar e preparar algo decente?

— Sem tempo? Cadê a Letícia?

— Ela e a Skye se deram bem.

— Por que eu só me fodo? — A pergunta escapa por entre meus lábios antes que eu me impeça e faço uma careta.

— Do que está falando?

— A Skye se deu bem com minha irmã e não comigo. O que eu fiz a ela?

— Você se importa com o fato de ela não gostar de você?

— Claro. Eu não dei motivos.

Harry balança a cabeça em negativa e alguém bate à porta. Vou até lá e abro, encontrando um entregador de pizza. Ele me olha dos pés à cabeça e Harry logo se coloca à minha frente. Eu recuo dois passos.

— Quanto deu? — questiona, grosseiro e eu vou arrumar a ilha. — Não deveria ter ido atender, Laila. — Ele se aproxima.

— A casa é minha. Claro que eu ia atender. — Defendo-me. — Ele não tinha nada que me olhar daquele jeito. Que nojo. Além do mais, não tem nada de anormal aqui.

— Ele deu sorte de não ter soltado nenhuma cantada. E ainda esperou gorjeta. — Harry bufa e senta.

Eu estou usando short jeans de cintura alta, um pouco justo e curto. A camisa, branca e levemente transparente, eu fiz o favor de amarrar um pouco abaixo dos seios, o que deixa parte da minha barriga de fora. Mas, para minimizar toda essa exposição, eu estou usando uma camisa de mangas compridas e arregaçadas até metade do antebraço, de estampa quadriculada preta e branca.

— O que eu posso fazer se tenho um corpo lindo? — Sento ao seu lado e pego uma fatia. — Além de ser, claro. — Jogo o cabelo por sobre o ombro com a mão livre.

— Nada.

— Diga-me, como foi lá. — Peço, depois de engolir.

Harry fala que Bruno ficou chateado com minha ausência, mas a Skye fez o que pode para que ele esquecesse isso. Eu só quero ver a cara dela quando eu chegar na recepção do seu casamento, lindíssima como eu sei que estarei. Eu sei que isso é idiota, ela é mulher como eu, mas eu jamais ficaria com ciúmes de alguma amiga do meu noivo, se eu tivesse um. Eu me tornaria amiga dela, bem como de qualquer outra que veio antes de mim. Não são as mulheres que são nossas inimigas, e sim, os homens.

— Laila?

Eu pisco e olho para Harry.

— Oi.

— Você ouviu o que eu falei?

Eu faço uma careta e dou outro sorriso amarelo.

— Desculpa, mas não. — Pego a segunda fatia. — Somente a parte em que a Skye distraiu o Bruno sobre minha ausência.

Eu vejo o seu queixo cair, tamanha surpresa com minha revelação e eu encolho os ombros, comendo.

— Eu continuei falando sem parar por meia hora e você só entendeu o início? Então, por que concordou?

— Não sei. — Confesso. — Sabe que eu tenho essa mania de me perder em devaneios. Desculpe.

— Tudo bem. Nem era tão interessante assim.

— Desculpe.

— Meu doce, está tudo bem. Eu quem esqueci dessa mania. Fica tranquila. — Harry beija a minha testa e afaga a minha bochecha.

A campainha ecoa e eu lembro que o entregador bateu à porta. Será que ele não viu? E antes que eu salte, Harry me impede e vai atender. Termino de comer minha fatia, vendo minha irmã entrar no meu galpão emanando uma felicidade sem igual. Eu resisto, mais uma vez, à vontade de revirar os olhos e pego a terceira.

— A Skye é maravilhosa! — Letícia vem até a cozinha e lava as mãos.

Qual é? Quem prefere gêmeos a peixes? Eu sou um amorzinho. Não apenas por ser pisciana, claro, porque até antes de eu vir para cá, eu mal me importava com essas coisas de signo.

— Mesmo? — Ironizo e me surpreendo por tal coisa.

— É. Rimos e nos divertimos, enquanto falávamos sobre o passado do Bruno no Rio. E ela é tão linda. Amável.

— Cobra... — murmuro.

— O quê? — Letícia me olha e eu meneio a cabeça em negativa.

— Eu disse “droga”. Acabei de lembrar que eu tenho que ver se ainda possuo... — Eu salto da ilha. — Volto logo. — Subo a escada e vou ao meu quarto.

Maravilhosa. Linda. Amável. Reviro os olhos exageradamente, comendo a minha pizza e entro no closet, indo à última gaveta dali e abro, encontrando a caixinha do meu absorvente interno. Pois é, eu estou toda moderninha desde que cheguei aqui e o comprei quando saí sem o Bruno. Ele não precisa saber desse tipo de coisa da minha vida. Eu gostaria de usar o coletor, entretanto, ainda sou virgem.

Desço a escada novamente e encontro Harry sentado ao sofá, conversando com minha irmã traíra. Bem a cara dessa falsiane fazer isso comigo. Não consigo ver signo melhor para ela.

Espera. Eu só posso estar enlouquecendo com tudo isso de signos. Talvez seja melhor parar. Esses estereótipos não se aplicam a todo mundo. Se bem que, desde que comecei a pesquisar, eu analisei cada uma das pessoas que conviveram comigo e concluí que, em parte, aplicam sim. Suspiro e vou à cozinha, arrumar a minha bagunça, mas encontro-a impecável.

— Queria dar um descanso a você — diz Harry.

— Obrigada.

— Se quiser mais pizza, tem na geladeira.

— Obrigada, mas eu estou bem com três fatias.

— O rostinho e coração é de mocinha, mas a fome, de pedreiro — diz Letícia.

— Tem toda razão.

— Vem cá. — Ele gesticula e eu me apresso. Aproveitando que ambos estão nas extremidades do sofá, eu sento no meio e deito a cabeça no colo do Harry, apoiando os pés no da minha irmã.

— Ei. — Ela resmunga.

— Faz uma massagem, Leti. Eu estou exausta.

E praticamente ronrono quando Harry começa com seu cafuné.


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Notas finais do capítulo

Eu espero que tenham gostado. De verdade. Vejo vocês semana que vem. Eu espero.
Bom fim de semana. Beijos e até mais.



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