Mudança de Planos escrita por Honeyzinho


Capítulo 20
Capítulo XX • Inesperado


Notas iniciais do capítulo

assim como título do capítulo, aposto que minha aparição por aqui também foi muitíssimo inesperada (rindo de nervoso kakaka).

a verdade é que eu tenho trabalhado demais, e escrito pouco - ou nada, pra ser mais sincera.

isso me frustra muito, na verdade, e espero conseguir voltar a criar. ainda tenho muitas ideias perambulando pela minha cabeça.. só preciso ser mais disciplinada e consistente.

sem mais delongas, torçam por mim e tenham uma excelente leitura! ♥



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[CAPÍTULO XX • INESPERADO]
Sophie Dallas

Quando Rob se foi, não demorou nem dois minutos para que minha mãe me chamasse no andar de cima para termos uma de suas clássicas conversinhas. A contragosto, subi as escadas me equilibrando apenas no corrimão, pois minhas muletas já não eram mais tão necessárias assim.

— Qual o problema, mãe? – não conseguia mais camuflar minha impaciência com aquele tipo de coisa. Qual é, eu já estava bem crescidinha e podia beijar rapazes.

Ou o rapaz em questão.

— O que eu disse pra você? Queria que me avisasse quando fosse receber visitas. Principalmente visitas de garotos— ela retrucou desviando seu olhar da papelada, mas ainda com os documentos entre seus dedos.

— Rob apareceu aqui, eu não sabia também – justifiquei, torcendo para que ela parasse com o drama.

Janice respirou fundo, dessa vez largando o que estava fazendo e cruzando seus braços, assumindo uma de suas facetas mais assustadoras.

Contudo, aguentei firme.

Então que subisse as escadas e viesse me avisar que ele estava aqui— a frieza na sua voz era cortante, e o fato de nunca se exaltar sempre foi o que mais me apavorou e me manteve sob suas rédeas curtas. Mas naquele instante eu, sinceramente, não sabia mais como agir. Nem o que dizer. Costumava pedir desculpas e admitir meus erros mesmo que não existissem.

Só que estava cansada, exausta de tanto teatro.

Por muito tempo foram maus comigo no colégio, e minha mãe nunca entendeu a minha situação. Não me defendeu e nem passou por sua cabeça tomar alguma providência a meu favor – afinal, se eu estava mesmo sofrendo, é porque "tinha dado abertura para as brincadeiras sem graça".

Como se isso não fosse cruel o suficiente, todas as vezes em que falávamos sobre a universidade, ela já tinha um projeto pronto para o meu futuro e fazia questão de esfregá-lo na minha cara, sem nunca cogitar me apoiar no meu desejo de cursar Gastronomia, mesmo sabendo da minha paixão pela cozinha.

E agora, a cereja do bolo não podia ser nada mais nada menos que uma implicância desnecessária com a minha vida amorosa, me fazendo sentir culpada até mesmo pelas coisas que eu não tinha controle algum.

— Você não vai dizer nada? – ela me questionou sem entender o silêncio.

— Não tenho nada a dizer. Vou dormir.

Nem esperei sua resposta. Saí dali indo em direção ao meu quarto, trancando a porta e me jogando na cama logo em seguida.

Catei meu celular e vi algumas mensagens de Rob.

Apesar de tudo, aquilo me deixou animada. Ele havia se declarado para mim, e por mais estranho que pudesse ser, eu não conseguia não gostar daquela situação. Até porque, e convenhamos, ele também fazia meu corpo todo estremecer.

Não sabia se era amor. Como eu havia dito a ele, não sabia o que eu sentia realmente.

Mas era bom. Tudo o que tínhamos era bom demais pra ser verdade.

Acordei na manhã seguinte e encontrei um bilhete pregado na porta.

“Você tem consulta às 13h para olhar o tornozelo. Não se atrase.”

Era da minha mãe, e só pelo fato de ela não ter assinado eu sabia: estava furiosa comigo.

Contudo, não tive muito tempo para me importar com isso. Me preocupava mais em não perder o ônibus, afinal, enquanto meu tornozelo estivesse naquela situação, seria complicado dirigir.

De todo modo, como já não sentia dores, tentei pelo menos ser otimista e me consolar com a possibilidade de me livrar daquela parafernália o quanto antes.

— Ainda dói? – Rob perguntou durante a aula de Química. Ele estava, na verdade, tentando me distrair para não dar muita atenção aos cochichos que tinham tomado conta da turma desde o momento em que o capitão resolvera acenar pra mim quando cheguei.

Ele até se ofereceu para “resolver” aquela situação, mas o conhecendo como eu o conhecia, sabia que seria pior para nós dois se ele se exaltasse ou coisa parecida.

— Até que não. Mas tenho consulta hoje pra saber quando vou poder tirar – comentei baixinho.

— Vai sair mais cedo? Sua mãe vai vir te buscar?

— Pouco provável – deixei escapar uma risadinha triste.

— Vocês duas brigaram feio, né? – Rob supôs, abaixando um pouco a cabeça para conseguir me encarar – Eu disse que quero conversar com ela. Por que você não deixa?! A culpa é minha, Sophie.

— Não é! E não é tão simp...

Estou interrompendo alguma coisa?— Sr. Turner questionou com sua voz grave, fazendo os alunos todos congelarem e olharem em nossa direção.

Eu nem havia me dado conta de que não estava prestando atenção na aula. Aquilo era incomum. Mas, poxa vida, o que eu podia fazer? Minha vida amorosa mais parecia um clichê adolescente, e em casa o gênero era drama do mais puro tipo.

— Sint... – ameacei dizer.

— Foi mal, professor. Culpa minha! – Rob falou mais rápido, acompanhado de seu clássico sorriso de menino arteiro, erguendo as mãos em sinal de rendição.

— Pare de amolar a Srta. Dallas, Müller. Último aviso.

E então nosso professor se virou novamente, anotando algo no quadro e continuando sua explicação sobre o experimento que havíamos feito em aulas anteriores.

— Você vai de quê? Pra consulta, digo. – Robert sussurrou depois de alguns poucos minutos em silêncio.

— Foca. Na. Aula. Müller. – sussurrei de volta, pausadamente, na esperança de que ele entendesse que eu não queria ser suspensa.

— Não enrola, lindinha. Vai de quê?

Corei sem pretensão. Que ódio daquele garoto.

Ônibus?

E então ele assentiu com a cabeça, fazendo um bico lindo de morrer, e não falou mais nada – o que foi estranho, mas não ao ponto de eu querer questioná-lo a respeito.

...

Rob tinha treino pela manhã, então assim que a primeira aula acabou, ele foi para a piscina. Na sua ausência, tentei ficar o mais quieta e invisível que pude. Não queria chamar mais atenção do que já havíamos chamado, pois não me sentia pronta para lidar com certos comentários sozinha.

Quando o sinal do intervalo ecoou pelos corredores, decidi sair quando a sala estivesse vazia – e assim o fiz. Desacompanhada, quiquei até o refeitório com ajuda das muletas e um plano muito bem traçado em mente: pegar minha bandeja e ir para longe dali, na intenção de tentar evitar o encontro inevitável entre Sam e eu.

Desde o episódio na aula de Educação Física, nós ainda não havíamos nos esbarrado.

E eu temia esse momento.

Afinal, se ela era louca e má o suficiente para apedrejar a minha cozinha e mandar suas amigas-capangas armarem contra mim numa viagem da escola, o que ela faria comigo cara a cara após ter sido, supostamente, descoberta pelo diretor?

Coisa que eu nem havia pensado muito nos últimos dias, para ser sincera, mas era um fato. E Robert tinha dedo nisso também.

De início, achei que fosse puramente por minha culpa, porque decidi contar o que vinha sofrendo. Mas pensando bem, e relembrando do diálogo – ou melhor, dos gritos histéricos— que rolaram naquele jogo quase trágico, ele tinha sim armado algo.

O cara de quem Sam pelo visto gostava muito havia aprontado com ela. E pior: para me defender. Defender a garota que ela mais odiava no planeta Terra.

É. Eu realmente precisava conversar com Rob. Precisava entender qual a gravidade daquele assunto, e me preparar para lidar com as consequências quaisquer que fossem.

— Ela está com o Müller? O que ele viu nela?— ouvi alguém sussurrar logo atrás de mim, interrompendo meus pensamentos, e tive que fazer um esforço descomunal para não levar o comentário a sério.

— Ela é que deve estar perseguindo ele – outra voz respondeu, seguida de uma risadinha.

Meu estômago deu um nó.

Felizmente, já estava na última parte do bandejão, e assim que peguei minha comida, apressei os passos do melhor jeito que pude, caçando um lugar longe dali. Se na ausência da rainha vermelha eu já me sentia vulnerável daquele jeito, não queria esperar sua chegada para me sentir ainda pior.

Contudo, fui impedida de continuar. Na verdade, eu acabei fazendo besteira ao encarar o chão ao invés do caminho à minha frente e trombei com um dos garotos do time de futebol.

— D-desculpe... – gaguejei, dando meia volta na intenção de fugir dele. Não deu. Uma mão agarrou meu braço, com força suficiente para me fazer parar sem me machucar.

Até porque eu já estava machucada.

Qual é! Tenham pena de mim pelo menos uma vez na vida.

— Por que está fugindo? – sua voz era suave e brincalhona, o que de certo modo me fez relaxar um pouco. Ergui minha cabeça pela primeira vez e o fitei. Era Joshua.

— Não estou – respondi baixinho. Ele me soltou e cruzou seus braços, fazendo uma expressão estranha enquanto me observava – Já posso ir embora?

— Então você é a Dallas... – ele comentou pensativo, com aquele tom de voz muito semelhante ao do Müller. Os populares tinham um idioma diferente e eu acabara de comprovar isso.

Arrastando asa pra mais um macho, Dallas?— outra voz surgiu no meio da nossa “conversa”. E era ela. A pessoa que eu não queria encontrar tinha me achado, e devo admitir que tornei as coisas bem fáceis já que não fiz o favor de me esconder.

Parabéns, Sophie.

— Não. Estou de saída – respondi às pressas, ajeitando as muletas e tentando caminhar até a porta principal do refeitório. Samantha não se moveu quando passei por ela, o que achei suspeito.

E foi então que senti algo gelado e com cheiro doce escorrer pelo meu cabelo.

Equilibrando minha bandeja e quase fazendo uma acrobacia com meus apoios de metal, eu me virei e vi a Gray segurando uma latinha de refrigerante. Sua expressão era vazia, como uma folha em branco. Eu, ao contrário, não consegui disfarçar a tristeza que senti naquele instante.

Miúda. Insignificante. Deslocada.

Perdida.

 

Por mais que eu tentasse, por mais que eu me esquivasse, as coisas não pareciam melhorar.

— Eu vou te atormentar até o fim desse inferno que é o último ano, Sophie – ela falou devagar e polida. O refeitório inteiro assistia àquele show sem nem conseguir mastigar direito. A tensão foi crescendo.

Meu estômago continuava se contorcendo, até que meus olhos começaram a arder e minha preocupação se tornou outra. Eu não podia chorar. Não ali, na frente de todos.

Pensei no Müller, mas ele não veio.

Olhei ao meu redor e concluí que eu estava sozinha. 

As pessoas naquele lugar jamais iriam me defender. Quem iria querer bater de frente com Samantha Gray?

Respirei fundo inúmeras vezes. Meus braços tremulavam, minhas pernas também. A bandeja estava prestes a despencar das minhas mãos, quando vi Joshua caminhar na minha direção.

Achei que ele fosse continuar a brincadeirinha que Sam havia iniciado, e por isso eu me encolhi toda e não pude evitar o choro. Que merda. Não era para eu me entregar assim.

As lágrimas deixaram a minha visão turva.

— P-por favor, não... – comecei a implorar para que ele não aprontasse comigo. 

Obviamente, eu não estava tão confiante de que as coisas ficariam mais interessantes para mim àquela altura do campeonato.

— Me dá a bandeja – ele disse já tomando a comida de mim e colocando numa mesa qualquer ao nosso lado.

— O-o que você tá fazendo?

Sem responder, o garoto tornou a segurar em meu braço, praticamente me arrastando para fora do refeitório. Samantha perguntou o que ele pretendia fazer comigo, e ele só deu uma risada sinistra.

Por ela não ter tentado impedir, eu fiquei ainda mais apavorada.

Meu choro foi substituído por desespero.

Me larga!— comecei a gritar, e Joshua permaneceu em silêncio – O que você quer comigo? E-eu nunca te fiz nada! Cuidado com meu tornozelo!

Foi só quando finalmente chegamos ao corredor, longe dos olhares curiosos, que o garoto me soltou e tornou a falar.

— Que merda. Eu estava te salvando, nerd!— ele respondeu indignado, batendo uma mão contra a outra, limpando os prováveis resquícios nerds da sua pele.

— E aí, Josh! E... Dallas?!— ouvimos o cumprimento de longe. Era ele— O que você se estão fazendo aqui... juntos?!

Müller parecia curioso e confuso, o que era perfeitamente compreensível. Joshua e eu nem nunca havíamos trocado ideia na vida. O contato mais próximo que chegamos a ter foram nas vezes em que ele e sua turminha resolveram me perturbar. Ou me afogar.

— Estava salvando sua namoradinha. De nada, capitão — ele explicou, cruzando os braços com aquela mesma expressão de superioridade que também costumava ver na cara de Rob.

Como é que é? — Müller continuava confuso, e a combinação de suas sobrancelhas élficas em sinal de dúvida e o cabelo molhado só conseguiam deixar ele mais lindo que o normal. Ok, prioridades. Eu precisava me controlar – O que aconteceu? Sophie... por que parece que você tomou um banho de Coca?

— Porque ela tomou - Joshua respondeu por mim.

O semblante confuso de Rob se apagou, dando lugar a um olhar irritado.

— Quem fez isso? Quem fez isso com você?! - ele deu uma breve pausa, respirando fundo e andando de lá pra cá - Foi ela, não foi? A Samantha.

Apenas acenei com a cabeça, afirmando.

— Eu vou destruir aquela garota. Puta merda.

— Rob! Não faz isso – falei alto na intenção de fazê-lo parar. Ele já estava prestes a voltar para o refeitório – Eu estou acostumada com isso, deixa!

— Essa não é a questão, gata. Ela vai continuar te infernizando. Eu achei que depois daquele vídeo... ela...

— A gente precisa conversar sobre isso, Rob. Muita coisa aconteceu e eu ainda não consegui entender...

— Eu te conto tudo. Mas não fiz nada de errado, eu juro.

— Roubar gravações do colégio meio que é errado, cara – o jogador soltou tentando não rir. Olhei pra Rob logo em seguida e ele fitava o amigo como se fosse quebrar sua cara a qualquer instante.

Respirei fundo.

Continuar surtando com tudo aquilo não iria resolver nada. E eu tinha uma consulta para ir. Como eu apareceria lá naquele estado?

— Eu preciso de um banho. E de roupas limpas - aleguei mudando de assunto de repente – Tenho que ir pra clínica.

— Vamos pra sua casa, eu te levo pra consulta depois – Rob soltou, soando o mais calmo que conseguiu depois de toda aquela novela – Josh, valeu. Valeu mesmo.

Eles se cumprimentaram daquele jeito que os garotos fazem e então começaram a andar em caminhos opostos, enquanto eu ainda estava parada, pensando no que ainda precisava fazer, apesar de todos os pesares.

— Ei! – chamei, mas não muito alto. Só o suficiente para que ele ouvisse. Josh se virou um tanto incerto, apontando para si.

— Você ainda é meio babaca, mas me ajudou hoje. Muito obrigada.

— Era o mínimo que eu podia fazer depois de tudo. A gente se vê!

E então seguimos nossos caminhos.

Rob não comentou nada a respeito, mas sorriu de canto durante o percurso até o carro, o que me levou a supor que ele, certamente, tinha ficado aliviado e agradecido. Contudo, era esperto o suficiente para perceber o óbvio: aquele tinha sido só o primeiro passo de muitos que teríamos que dar para que nossa relação e convivência começassem a ser menos problemáticos.

Pra nós. E pra todos.


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Notas finais do capítulo

e aí, gostaram? não se esqueçam de comentar. ♥

e me perdoem pela demora mais uma vez :( prometo tentar equilibrar melhor as coisas do lado de cá pra dar um final feliz a essa história que me acompanha já há alguns anos hihi



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