Classe dos Guerreiros - O Ressurgimento escrita por Milady Sara


Capítulo 10
Capítulo 10


Notas iniciais do capítulo

Capítulo mais longo dessa terceira temporada até agora ~



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Os Guerreiros se moviam lentamente, o trotar dos cavalos era suave. Estavam em uma colina, totalmente campo aberto, e procuravam ficar atentos.

— Lena? – perguntou Marin. A fila de cavalos seguia a mesma ordem de antes, e os três ressuscitados estavam alguns metros à frente deles.

— Hm... – Lena observava seu mapa. – A Caverna deve estar mais à frente.

O caminho deixou de ser totalmente abertas, algumas árvores começavam a aparecer. Até que todos puderam ver o que parecia uma pedra gigante. Chegando mais perto, era possível ver que a pedra tinha um enorme furo.

— Caverna das Lembranças. – murmurou Carter passando os dedos pelos desenhos entalhados no arco de entrada do lugar.

— O teto é alto demais pra irmos montados. Desçam. – disse Seth pulando da sela de seu cavalo.

— Isso é seguro? – perguntou Derek. – Parece o lugar perfeito pra uma armadilha.

— É o caminha mais rápido. – disse Lena tornando a abrir seu mapa. – Se tentarmos dar a volta vamos demorar demais, o terreno é muito irregular e em certos pontos totalmente reto, teríamos que puxar os cavalos pra cima.

— Pela caverna sinistra então! – disse Hunter se adiantando puxando a rédea de seu cavalo.

Melanie, Mia e Carter o seguiram rapidamente, assim como os mestres. Os demais porém, pareciam mais apreensivos. Drica suspirou entrou a passos firmes na caverna, seguida um pouco mais atrás pelos restantes.

De início, a Caverna era apenas isso, uma caverna. Sua escuridão era palpável, nada podia se ver ali dentro, muito menos ouvir, apenas os passos dos Guerreiros e suas montarias na pedra fria. O piso se inclinava levemente para cima, mas pelo chão ser liso, era fácil escorregar.

Até que de repente, as paredes da caverna começaram a se iluminar, como janelas de todos os tamanhos e formatos, imagens sugiram ali. No início apenas cores, depois texturas variadas e borrões. As imagens pareciam procurar algo em si mesmas. Eles não entendiam o que estava acontecendo, mas pelo menos assim podiam enxergar melhor ali dentro.

Então, Carter olhou para uma das janelas. Aquele borrão lhe era extremamente familiar. Ao se aproximar mais da parede da caverna, a imagem se tornou nítida. Os outros pararam e o observaram.

— Eu me lembro disso... – falou ele. – Foi quando eu quebrei a perna... - na imagem á frente dele, braços de um garotinho subiam em uma árvore. E ele se saia bem, quando um louva-a-deus se aproximou de sua mão direita, o assustando. Os braços soltaram a árvore e ela se tornou distante. A imagem tremeu como um impacto, o garotinho tinha caído no chão. Carter riu. – Caverna das Lembranças. É eu devia ter adivinhado. – o rosto de Regina apareceu, sua voz parecia um sussurro, mas era evidente que ela perguntava como ele estava, parecia preocupada e apreensiva. Carter sorriu enquanto lágrimas brilhantes e prateadas saíam de seus olhos. Lena o abraçou enquanto a imagem dava um flash e a pequena Regina fazia uma tala na perna de Carter. Agora ela parecia brava, dando uma bronca no mais velho, aquilo o fez dar uma pequena risada.

Com isso, todos olharam as imagens como se procurassem algo e pareceram encontrar. Pouco a pouco cada um se concentrou em uma janela.

Marin pôde se ver novamente em sua cerimônia para se tornar mestre. Mia reviu o processo doloroso para cuidar de seus pés machucados quando foi acolhida pelos Guerreiros. Hunter gargalhou ao ver o dia em que assustou as crianças vizinhas transformando seu rosto no de um pato, pouco depois de descobrir seus poderes.  Cada um teve das mais diversas reações enquanto mergulhavam em suas lembranças.

— Eu não sei o que é isso. – disse Melanie observando a imagem que lhe chamara. Derek se aproximou dela. – Isso... É um móbile? - na imagem Melanie estava deitada olhando para pequenas nuvens e um Sol presos por finas cordas, braços gordinhos se esticaram tentando alcançar as figuras balançantes. Melanie observava concentrada a imagem  e aquilo a tornou mais e mais real. Era possível ouvir seu choro, o que chamou atenção dos outros que logo foram até ela. Uma mulher surgiu então, e pegou Melanie no colo. – O quê...

A mulher tinha um sorriso gentil. Um lenço marrom com um Sol desenhado estava em sua testa, ela fazia caretas para a bebê, que ria.

— É a sua mãe, Mel. – disse Hunter colocando a mão no ombro da garota.

— E ela era cigana. – falou Mia.

— Minha... Mãe... Ângela...  – Melanie sussurrou colocando a mão na parede da caverna.

Pronto, agora sem choro, tá?— disse Ângela. – A mamãe tem coisas pra fazer então você fica quietinha ouviu? — e desceu a bebê Melanie para uma pilha de almofadas e colocou em suas mãozinhas uma boneca de pano.  Ângela foi para alguns passos dali, escrever em uma escrivaninha. Estavam em um vagão de madeira, como os do clã de Mia. Pouco depois, um homem entrou. de barba e rosto quadrado, ele parecia cansado. – Damon? Tudo bem?

Sim.— ele disse dando um beijo na testa da bebê Melanie e sumindo de sua visão logo em seguida. – Ela vai chegar logo, deixa a sua pesquisa pronta.

— Pai...  – disse Melanie com lágrimas brotando de seus olhos.

Ângela colocou alguns papéis juntos e os arrumou batendo na mesa, logo Cassandra apareceu na porta.

— Mestra? – exclamou surpreso Carter.  As duas mulheres se cumprimentaram e falaram baixo, Melanie não conseguia ouvir o que diziam, especialmente por estar concentrada em sua boneca e em uma aparente aventura que ela e o coelho de pelúcia estavam tendo.

Tem certeza?— disse Cassandra quando o coelho pulava da perna direita para a esquerda de Melanie. – Se isso for verdade... Nossa... Eu me dedico desde sempre a procurar provas, você pode ter me ajudado muito. Talvez eu finalmente possa provar que os Noctem existem!

É um prazer ajudar.

Com um flash a imagem mudou. Melanie estava acordando, a luz da manhã banhava o berço, mas não era a luz da manhã, era fogo. O vagão estava em chamas. A bebê Melanie chorou, e Damon apareceu, suado e com a blusa chamuscada ele levava Ângela desmaiada em um ombro e com a mão livre pegou Melanie no colo. Apenas a visão do queixo de Damon com os sons de madeira sendo quebrada e a respiração ofegante dele podiam ser usados como informação para o que aconteceu.

A bebê Melanie caiu no chão quando seu pai despencou neste, tossindo. Ângela caíra também, mas quando a bebê levantou o olhar, não pôde ver o rosto de sua mãe, apenas sangue manchado na roupa dela. Ela chorou novamente, alto e berrando.

— Shhhhiu.— fez Damon entre uma tosse e outra. — Mel, por favor, quietinha.— ele olhou para Ângela e fez uma cara de dor, em seguida olhou para trás. Ele rapidamente tirou seu lenço que usava ao redor do pescoço, colocou na boca enquanto tossia, pegou Melanie no colo e começou a andar. Por cima do ombro do pai, a bebê viu sua mãe ficando mais distante, assim como o vagão em chamas.

— Por que eles estavam sozinhos? – perguntou Melanie num engasgo.

— O clã Hobsbawn não costuma andar em grupo. – esclareceu Mia. – Apenas em eventos especiais.

Damon tossia e andava enquanto tentava gritar o que parecia ser “Cassandra”. 

DAMON!— disse a voz de Cassandra. – O que ouve, eu vi a fumaça? Você está bem, cadê a Ângela?

— Eles a mataram...— disse ele. – Eu acordei com a cama ensanguentada, o vagão em chamas, os cavalos fugidos e a porta trancada.

Oh não...

Eles vão me achar, por favor, leve a Melanie.— e Cassandra, com uma expressão confusa no rosto a pegou no colo, de modo que ela ainda podia ver o pai.

Mas e você?

Respirei fumaça demais...— ele colocou seu lenço entre as mãozinhas de Melanie. – Além disso, vão vir atrás de mim, salve o meu bebê, por favor, mantenha ela segura. Você disse que sentiu magia nela, então quando ela for grande o bastante, a ensine a usar...— ele teve um acesso de tosse. – Vá, antes que te vejam.

Mas...

VÁ!— um instante depois de ele berrar, correu de volta por onde tinha vindo e Cassandra foi pela direção oposta.

Melanie, Ângela, Damon, Melanie, Ângela, Damon preciso de um papel...— ela dizia enquanto corria ofegante. A bebê Melanie gemeu. — Shhhiu, calma querida, vai ficar tudo bem.

Melanie se virou para Hunter e enterrou seu rosto no ombro dele enquanto chorava. A imagem se tornou embaçada novamente.

— Ela nunca nos contou... – disse Marin.

— Foi ela quem me deu a ideia de passar no orfanato onde eu cresci. – disse Seth. – Ela queria que eu te achasse, Mel.

— Por que ela nunca me disse? – perguntou a de cabelos curtos num soluço.

— Ela tinha os motivos dela com certeza. – falou Hunter passando a mão no cabelo dela. – Seus pais morreram pela nossa causa, foram heróis, tenha orgulho deles.

Todos continuaram junto a Melanie o resto do caminho, sem mais olhar para as paredes, tinha sido emoção demais por um dia. Enquanto saiam, Seth olhou para uma imagem. Mesmo a alguns passos de distância ele podia reconhecer aquela lembrança, porque na verdade pensava nela todos os dias.

Viu o rosto de Marin, alguns anos mais jovem, e suas mãos fazendo carinho em suas bochechas. Algo que há muito tempo não fazia. Os dois estavam deitados na cama e ele a viu adormecer.

Suspirando, ele seguiu seu caminho, deixando para trás as lembranças.

~*~

Mia estava sentada agarrada a seus  joelhos, Drica parecia dormir, deitada ao seu lado. A fogueira crepitava e ela se sentia levemente desconfortável.

— Isso é ridículo. – disse ela.

— O quê? – perguntou Drica com uma voz sonolenta, sem abrir os olhos. Derek ao lado da ruiva se virava para o outro lado, em sono profundo.

— Isso ai. – falou a cigana. Estava se referindo a como pareciam estar organizados desde que saíram da Caverna das Lembranças. Melanie e Hunter estavam abraçados em um canto, Lena e Carter conversavam em voz baixa em outro e os mestres pareciam falar de algo sério, mas Seth olhava para Marin de um modo muito carinhoso. Caleb um pouco mais afastado escovava o pelo de um dos cavalos. – Eles precisam ficar assim?

— Se você tivesse um namorado e pudesse morrer amanhã provavelmente faria o mesmo, agora me deixa dormir.

— Como se você tivesse namorado muito.

— Você sabe que eu não tô nem ai pra essas coisas, agora, com licença. – a ruiva virou de bruços, com a cabeça virada para onde Derek estava. Mia bufou.

Foi quando percebeu Caleb vindo em sua direção. Ela desejou silenciosamente que ainda fosse capaz de dormir, só para fingir que estava dormindo sem parecer uma mentira óbvia.

— Oi. – disse ele sentando ao lado dela.

— Oi. – respondeu Mia baixinho, escondendo o rosto em seus joelhos.

— Bonita noite né? – comentou o moreno olhando para o céu.

— Deve ser.

— Okay, por que você tá agindo assim comigo? Sério, tá me corroendo por dentro, você nem olha na minha cara.

— Experimenta voltar dos mortos e receber uma suposta declaração de amor do seu melhor amigo.

— Olha só eu achei que você fosse ficar feliz! Só o que eu ouço de todo mundo desde que você morreu é como eu era burro por nunca ter percebido que você gostava de mim!

— E que diferença isso faz? Eu já morri! – ela disse a última parte pausadamente.

— E...?

— E que isso torna ainda mais doloroso o fato... – Mia fica de pé num salto, com raiva. – De que eu tive que morrer pra você sequer notar a minha existência! Eu morro e de repente eu sou mais do que uma amiga? Faça-me o favor, Caleb. – e com um salto, entrou na mata enquanto Caleb ficava boquiaberto sem saber o que dizer.

— Mas você é muito burro, Caleb. – falou Drica ficando de pé esfregando os olhos. – Podia ter deixado pra fazer merda amanhã, mas nãããããão! – e entrou na mata resmungando alguns palavrões.

Caleb colocou o rosto entre as mãos e soltou um grito abafado.

— O que você fez? – disse Lena se aproximando e sentando ao lado dela.

— Ela tem razão...

— A Drica? Bom, você é meio burro mesmo, mas eu tava falando da Mia.

— Ela também tem razão. – disse afundando mais o rosto nas mãos. – Minha melhor amiga teve que morrer pra eu perceber que gostava mais dela do que pensava.

— Caleb, você não deu valor ao que tinha até perder, isso acontece tanto quanto chuva.

— Era pra isso me ajudar? – perguntou olhando para a amiga.

— Eu só tô dizendo que você não é o primeiro com quem acontece isso, e também não vai ser o último.

— O que você quer dizer?

— Ela quer dizer... – disse Hunter se aproximando. – Para de choramingar e se achar especial. Quer fazer alguma coisa conserta o seu erro, mas de preferência de manhã, pode ser?

Caleb suspirou colocando o rosto entre as mãos de novo.

~*~

— Te achei! – disse Drica ao finalmente encontrar Mia, sentada em uma grande pedra. – Podia só ter dado um chute na cara dele sabia?

— De que isso ia adiantar? – perguntou olhando por cima do ombro para ver a ruiva.

— Ele calaria a boca.

— O que você quer Drica?

— Olha, eu sei que o Caleb é um burro. Mas tenta dar um crédito pra ele...

— Oi?! – disse virando-se para a outra.

— Ele sofreu. Tá? Você não viu, mas eu vi. Ele passava dia e noite te olhando na Parede. Passou uma semana sem comer e outras duas parecia que só o corpo dele estava aqui e a cabeça tinha ido pra outro mundo.

— Mas é muita... Hipocrisia, não ligava pra mim e agora...

— Mia, as pessoas são hipócritas! Eu não vou ficar aqui falando sobre como o Caleb sofreu por você e o que ele sente. Apenas pensa nisso.  – as duas se encaram alguns segundos. – Agora eu vou dormir e espero que você não esteja com essa cara feia de manhã. – e voltou para o acampamento.

A cigana ainda passou alguns minutos sentada ouvindo o som dos grilos, até que ficou de pé e voltou para onde todos estavam. Os que podiam dormir, já dormiam e Carter estava com Melanie ao lado da fogueira. Olhando rapidamente para eles, ela foi até Caleb.

Enquanto este respirava devagar dormindo, Mia tirou o caderno dele de sua mochila e começou a folheá-lo. A primeira metade era apenas de desenhos de paisagens e de Lena. Nada que a cigana já não conhecesse, depois disso, esboços de rostos que haviam sido começados, mas depois foram riscados, algumas páginas rasgadas e finalmente... Ela. A morena engasgou por um segundo a se ver.

Era um desenho dela, na Parede. Era assim que tinha ficado quando sepultada? Era um desenho triste, melancólico. Em seguida ela em uma série de poses diferentes, esticando o arco, tocando arpa, com os cabelos ao vento, lutando... Momentos que podiam ter acontecido como podiam ser inventados da cabeça de Caleb, apenas um dos vários desenhos ali ela se lembrava de quando havia sido.

Era um desenho do ponto de vista de Caleb, ela olhava para ele por cima do ombro e sorrindo, usava roupas formais e estavam montados em uma criatura com chifres. O alce vermelho. No dia do sepultamento de Charles, depois de irem ao lago e acharem o alce. Mia perdeu a noção de quanto tempo folheou o caderno. Por fim, uma imagem que ela tinha certeza que era inventada. Os dois estavam juntos, sorrindo, os rostos pareciam corados e estavam incrivelmente próximos, como se fossem se beijar ou mesmo mergulhar um nos olhos do outro.

Com um suspiro, ela fechou o caderno.


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