Uma vida feliz para Arlequina? escrita por Dani Tsubasa


Capítulo 24
Capítulo 24 - Love that guy


Notas iniciais do capítulo

A quem interessar, para saber o que realmente aconteceu entre Selina e Bruce na casa de Selina e as cenas que inspiraram os momentos deles nesse cap, procurem esses dois vídeos no youtube:

"Batman and Catwoman Romance Kissing Scene - Batman Telltale Episode 3 Bruce & Selina Full Scene"

"Batman Arkham Knight - Beijando a Mulher-Gato"



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Capítulo 24 – Love that Guy

Pam caminhava pela casa às cinco da manhã, estava cozinhando e cuidando de suas plantas, com Bud e Lou correndo atrás dela para todo na maior felicidade do mundo. Passou pelo quarto, sorrindo ao ver Harley dormindo serenamente e os bebês também. Selina não estava em casa, já havia procurado até no teto. Devia estar roubando alguma coisa por aí, ou não, dada a grande proximidade que o Batman estava com elas ultimamente. Então a ruiva riu baixinho ao ter pensamentos mais prováveis.

— Deve estar com o morcego. Espero que volte logo, precisamos da ajuda dela com as crianças quando formos sair. Venham meninos, deixem sua mãe e seus irmãozinhos dormirem.

Saiu do quarto com Bud e Lou, fechando a porta discretamente e voltando à cozinha.

******

Selina ronronou enquanto dormia, a gata siamesa de estimação também dormia enrolada perto de seus pés. Bruce sorriu. Antes de adormecer eram apenas eles dois, mas agora vários gatos estavam espalhados pelo chão do quarto e até embaixo na cama. A siamesa não gostava dele, então teve o cuidado de não acordá-la quando estendeu a mão e afagou suavemente o braço da Mulher Gato.

— Oi... – ela murmurou com um sorriso, abrindo um pouco os olhos claros para vê-lo – Estou faminta – ela falou se espreguiçando, mas ainda com sono.

Bruce se aproximou, beijando seu rosto.

— Eu estava esperando por algo mais que isso – ela abriu os olhos, sorrindo antes dele unir seus lábios.

Ela voltou a fechar os olhos e se encolher na cama em seguida. O morcego a olhou por um tempo, depois observando as bandagens que cobriam seu peito, ombro e o braço esquerdo. Selina havia cuidado dele ao chegarem em sua casa. Conseguia esconder muito bem, mas ainda estava ferido dos disparos que o haviam atingido e um deles ainda doía bastante.

— Eu acho que tem alguma coisa na geladeira – a gata falou quase dormindo de novo quando o ouviu levantar da cama – Só tenha o cuidado de verificar a data de validade antes de comer qualquer coisa.

Bruce riu baixinho e a deixou dormindo, indo procurar algo para fazer café da manhã para os dois e desviando do vários gatos no caminho. Por sorte, nem todos eram ariscos com ele. Duas horas mais tarde eles saíram. Bruce não disse exatamente aonde iam. Selina olhava para ele e para a janela do Batmóvel, curiosa. Bruce disse que queria fazer algo que vinha adiando há dias e que não tinha mais porque esconder dela. Arregalou os olhos quando reconheceu o lugar onde pararam. O milionário desceu do veículo, ficando parado diante das ruínas da mansão Wayne, enquanto a brisa fazia a capa do Batman esvoaçar em suas costas. Selina desceu do carro e seguiu até ele. Por longos minutos Bruce apenas olhou o local destruído. Selina pode ver a dor em seus olhos azuis e tentou fazer contato.

— Pensando em reformar, bonitão? – Falou tentando chamar sua atenção, subindo numa grande pedra ao lado dele e o abraçando pelos ombros.

Bruce não respondeu, parecia perdido. E ela reconheceu aquela dor. Dor por Batgirl, dor por Robin, dor por tudo que o Coringa havia levado. Selina confessava que sentira ciúmes da morceguinha na época em que ela ajudava Batman, mas que apesar de ter acontecido alguma coisa, Bruce ainda amava a ela, Selina. E se havia duas pessoas que não mereciam morrer, essas eram Barbara e Jason.

— Sabe... O Batman também chorar de vez em quando.  Não somos deuses. Isso pode ser muito pra vocês suportar no começo, mas lembre que não podemos trazê-los de volta. O melhor a fazer agora é viver sua vida de uma forma que os deixaria felizes por você, onde quer que estejam – ela disse descendo da pedra para ficar na frente dele – E lembre que estou aqui pra você. Tem coisas que não dá pra fazer sozinho, Bruce – falou suavemente deslizando a mão pelo local ferido em seu peito.

Finalmente o morcego a olhou, a puxando para perto. Selina envolveu as mãos em seu pescoço quando ele a abraçou, e os dois se beijaram.

— Você também – ele falou ao se separarem – Quanto aquele assunto... Você não está sozinha. Eu estou aqui pra você.

— Não sei não... Vou te dar muito trabalho. Uma mudança tão drástica depois de tantos anos...

— Vai dar certo, Selina. Você cuidou de dois bebês sozinha por um ano, além de todos aqueles gatos, e devolveu as crianças em perfeitas condições a mãe. O que mais acha que pode fazer? Nós dois podemos recomeçar. Esse lugar é só o primeiro passo.

— Eu vou tentar, Bats – ela sorriu antes de lhe dar um selinho – Agora vamos. A tia Selina precisa cumprir sua função de babá com Lucy e Joe.

******

— Olha só, parece que a noite foi quente, hein? – Harley provocou com um sorriso quando Selina chegou em casa às oito da manhã.

Harley estava sentava no sofá amamentando Lucy, Joe estava sentado ao seu lado, morrendo de rir com as hienas que abanavam a cauda e faziam gracinhas para ele.

— Como foi com o morcego? – Pam também provocou sorrindo.

— Eu também tenho uma casa, lembram? Fui até lá cuidar dos meus gatos.

— E de um rato voador também? – Harley perguntou entre gargalhadas.

— Não enche – Selina sorriu, indo para outro cômodo.

Às nove e meia Harley trajava seu uniforme e tinha o cabelo preso, só não estava com o taco, o revólver e seus saltos costumeiros. Usar saltos exigiria mais força dela, portando Pam a havia restringido a calçados mais baixos até que se recuperasse. Por isso Harley estava usando coturnos brancos com listras pretas, vermelhas e azuis que ela mesma havia pintado. Selina ficou com os bebês e as hienas, enquanto o Batman levou Harley e Pam até a grande casa do Coringa.

— Você não vem, Bats? Achei que fosse dar uma de vigilante vinte e quatro horas.

— Não – ele respondeu à palhaça – Eu não posso tirar os olhos de você, mas respeito a sua dor, e esse assunto deve ser resolvido por você. Eu vou esperar aqui.

— Obrigada – Harley sorriu e saiu do carro com Pam. As duas seguiram até a porta da frente e pararam. Harley inspirou fundo e a Hera apertou sua mão ao ver a dor em seus olhos. As duas se encararam brevemente e diante do olhar de incentivo da amiga, Harley finalmente destrancou a porta e entraram.

— Senhorita Quinn – Jonny a cumprimentou com um sorriso, ao qual ela retribui.

Todos os homens do Coringa estavam presentes. Se levantaram e acenaram com a cabeça em respeito.

— Senhorita, ele deixou um testamento.

— Eu me lembro, eu o vi escrevendo, mas nunca li realmente.

Jonny lhe estendeu os papéis após ela e Pam se sentarem no sofá. Deviam estar tratando daquilo com alguém da justiça, mas tinham os meios para driblar aquilo. Harley leu com atenção durante alguns minutos. Ele havia deixado tudo para ela, tudo! A casa, os carros, sua fortuna e o que mais houvesse. Sabia que o Coringa havia feito o testamento mais por brincadeira pouco antes dela engravidar, pois assim era a vida para ele, uma piada. Também havia deixado em suas mãos o destino dos capangas. Mas tudo estava bem claro ali. Ao fim do texto a própria letra dele assinava “Para minha pequena Harley Qinn, Coringa”. Harley inspirou profundamente e sentiu os olhos marejarem. Pam afagou seu ombro em consolo.

— Harley? – Ela chamou baixinho diante de seu silêncio.

Harley secou os olhos e tomou ar, encarando Jonny.

— Eu não vou desamparar vocês. Me deem só um tempo. Quando eu resolver alguns assuntos em relação a mim mesma eu vou decidir o que fazer.

Jonny assentiu.

— Senhorita... Precisamos resolver sobre... A câmara ainda aguenta um tempo, mas é melhor resolver isso logo. E assim todos poderemos seguir em frente.

— Certo.

— Lembra-se dos termos? Depois que alguém mais entrar lá dentro, precisamos correr com o restante, pois não haverá mais meios de conservá-lo.

— Eu me lembro. Você já acertou tudo?

— Sim, senhora, como combinados ontem. Devemos ligar para a firma, ou quer esperar?

— Liguem. Eu só vou ficar um pouco e depois vamos pra Arkham.

— Tem certeza de que vão permitir?

— Eu falei sobre isso com o Batsy no caminho. Ele ficou abismado, depois riu. Disse que era típico do meu Pudinzinho, e prometeu resolver isso com a direção de Arkham enquanto estamos aqui.

— Tudo bem.

— Harley... Não estou entendendo nada.

— Vou te mostrar Pam.

Jonny as guiou pelas escadas, lentamente devido à condição de Harley, e na sala mais distante e escondida ele abriu a porta. Pam arregalou os olhos ao ver uma câmara de vidro dentro da sala, com sensores de sabe-se lá o que presos do lado de fora do vidro, mas isso não era o pior, o mais assustador estava no centro. Num suporte de mármore o corpo do Coringa descansava, vestindo as mesmas roupas de quando havia morrido, mas agora limpas e bandagens envolviam o local ferido. Jonny abriu a porta de vidro, permitindo a passagem de Harley e Pâmela. Harley olhou para o rosto de seu palhaço e não aguentou, a dor voltou instantaneamente ao olhar o local ferido, e ela desabou em lágrimas, sendo abraçada por Pam, que afagava seu cabelo e suas costas, enquanto Jonny permaneceu em silêncio. Depois de longos minutos Harley se acalmou, secando o rosto e se aproximando de seu Pudinzinho.

— Devo explicar o processo, senhorita Quinn?

— Sim – ela murmurou em resposta.

— Esse lugar – ele começou olhando para Pam – Foi criado pelo senhor Coringa para guardar o corpo do Batman. Esta câmara de vidro remove completamente o oxigênio quando é fechada, impedindo que o corpo se deteriore e que até mesmo que enrijeça. Mas levamos algum tempo para trazê-lo até aqui e deixá-lo mais apresentável. Por isso não podíamos esperar muito mais. Ele queria aumentar a utilidade da câmara no futuro...

Pâmela assentiu, tentando esconder seu espanto. Só o Coringa para imaginar e criar algo tão macabro, ainda mais dentro de casa! Olhou para Harley, que havia se sentado na beira do mármore e acariciava o rosto pálido do Coringa.

— Jonny. Traga o smoking que ele usou o dia que me resgatou. Eu vou arrumar ele.

— Agora mesmo – o homem disse antes de sair.

— Harley – Pam chamou – O melhor é deixar você fazer isso, mas do jeito que está pode precisar de ajuda.

— Fica, Pam.

Minutos depois Jonny voltou com a roupa que Harley havia pedido e deixou as duas mulheres sozinhas. Não foi difícil remover as roupas que o Coringa usava, deixando-o só de roupa íntima. Logo vestiram as calças pretas do traje, e Harley decidira manter as meias do Batman que ele tanto amava. Colocaram a camisa branca e Harley fez uma pausa antes fechar os botões, deslizando os dedos pelas tatuagens, lembrando-se das vezes que fizera aquilo em momentos maravilhosos, e conseguiu sorrir brevemente. Fechou os botões e as duas terminaram de vesti-lo. Harley pediu a Jonny para improvisar um cravo branco, que ela prendeu no smoking. Acariciou os cabelos verdes e olhou para Jonny.

— Vá em frente. Nós vamos esperar lá fora com o Batsy.

— Entendido.

Cerca de  quarenta minutos depois estavam todos em Arkham, na parte externa das salas da prisão, exatamente em frente à parede que dava para a antiga sala de Harley quando era psiquiatra. As paredes em Arkham tinha quase um metro de espessura para dificultar ao máximo tentativas de fuga. Quando chegaram um grande buraco feito verticalmente já estava aberto ali, suficiente para caber um caixão dentro. Pam tentou ficar em silêncio, mas ficou tão chocada que não conseguiu se conter.

— Tive uma esperança de que você estivesse brincando quando disse que ele queria ser enterrado nas paredes de Arkham.

Harley soltou um risinho, mas voltou a entristecer. O buraco para o caixão estava feito, o caixão estava ainda aberto entre ela, Pam, o Batman, Jonny, os outros capangas, quatro funcionários da firma funerária e dois funcionários de Arkham. Várias armas antigas e já inúteis do Coringa rodeavam seu corpo, junto a várias flores que Harley havia colocado, além da bengala roxa e dourada ao lado.

— Devemos prosseguir? – Jonny perguntou.

Harley trocou um olhar com ele, pedindo que esperasse, e ele entendeu.

A palhacinha se aproximou do caixão, novamente afagando o rosto de seu Pudinzinho e esforçando-se para não chorar. Se abaixou até ele, o beijando longamente.

— Eu te amo, meu Pudinzinho – disse.

Queria dizer muito mais, mas nenhuma das palavras aliviaria sua dor, e não conseguiu dizê-las. Colocou uma rosa vermelha em suas mãos, como o primeiro presente que ele havia lhe dado, junto a um pequeno bilhete “Puddin, I’ll love you forever”. Harley olhou uma última vez para seu rosto pálido, observando com atenção as cicatrizes, as tatuagens, os olhos escurecidos, os lábios vermelhos que pareciam sorrir. Repousou a mão sobre o peito do palhaço e se deixou levar por suas emoções, começando a cantar baixinho.

“Mama, I am in Love with a criminal

And this type of love isn’t rational, it’s physical

Mama, please, don’t cry

I’ll be alright

All reason aside I jus t can’t deny

Love that guy”

 Harley cobriu so lábios com as mãos, voltando a chorar. Respirou fundo para se conter e olhou para Jonny.

— Estou pronta.

O capanga assentiu e ela se afastou do caixão, que foi fechado pelos agentes funerários e cuidadosamente encaixado no buraco da parede de forma que não caísse. Ficaram lá até os funcionários da prisão fecharem completamente o buraco na parede com concreto e escreverem “Coringa” em letras maiúsculas no local.

— Batsy, eu sei que há coisas a serem resolvidas, mas me deixe por hoje, por favor – ela pediu chorando baixinho.

— Eu vou levar as duas de volta – ele respondeu suavemente.

Selina sentiu o coração apertar ao ver a tristeza das duas amigas ao chegarem em casa. Pam sentou no sofá com Harley, abraçando a amiga tentando acalmá-la. Os bebês estavam no carinho dormindo e o rádio estava ligado baixinho. Bud e Lou correram até Harley com expressões tristes e sentaram-se a observando. Selina sentou no outro sofá, em silêncio. A canção que começou no rádio em seguida fez Harley chorar ainda mais, You don’t own me, uma canção que parecia ter sido feita para descrever a vida de Harley com o Coringa nos últimos tempos. Selina sentou-se do outro lado de Harley, também a abraçando.

— Isso vai passar – ela disse baixinho.

— Está certa... Mas por agora vamos deixá-la chorar – Pam falou.

— Fui eu que fiz isso – Harley murmurou entre as lágrimas.

— Não querida, não foi culpa sua! – Pam sussurrou de volta – Todos estávamos confusos e abalados, você nem percebeu o que fez. Podíamos estar todos mortos. Não foi culpa sua, Harley! Pense que nos salvou.

Ela abraçou forte as duas amigas, que continuaram em silêncio, deixando-a chorar até quando precisasse.


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