Paralisia escrita por Joana Darc


Capítulo 1
One Short




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Ainda era madrugada. Você não olhou no relógio ao lado da cama porque não conseguia abrir os olhos, mas sabia que o sol ainda estava longe de surgir quando algo desconhecido lhe puxou de seu sono.

Não conseguia se mexer também. E o fato de acordar em meio a uma paralisia completa do corpo quando se está sozinho em casa é simplesmente aterrorizante. Não podia fazer nada além de esperar que algo acontecesse. E de fato aconteceu.

Sua audição, extremamente aguçada naquele momento, capitara pequenos ruídos vindos do cômodo ao lado. Estes se transformaram em passos que lentamente se aproximaram do quanto em que estava. A porta rangeu quando foi aberta. Uma corrente de ar trouxe consigo um fedido odor. "Céus... por deus, que não seja um ladrão." Você pensava.

Queria poder gritar. Queria poder gritar com todas as suas forças, até as cordas vocais se romperem. Queria poder correr o mais rápido possível e apenas parar quando estivesse bem longe deste lugar. É assim que as pessoas se comportam, certo? O instinto de sobrevivência faz perder totalmente o raciocínio e você só consegue pensar em fugir. Salvar sua vida. Mas nenhum músculo se movia. Seu corpo se recusava a lhe obedecer.

POW! A porta se fechou com um ensurdecedor barulho. Alguém estava no quarto. Sim, você não conseguia ver, mas sentia. Sentou-se a beira de sua cama e deste modo passou a te observar. O rosto daquela pessoa estava a centímetros do seu. Um estuprador? Não, algo pior. Você pensa que mesmo que pudesse se mover naquele momento, não teria coragem de se virar. Simplesmente não poderia encarar aqueles olhos arregalados e um imenso sorriso doentio. Meu deus, o que era isso?

Risos. Mais precisamente risos de crianças. Duas crianças. Risos misturados com grunhidos. Você se perguntava se algo mais horripilante poderia acontecer. Aconteceu.

— Veja, veja! Como é deplorável! Nonc!

— Façam silêncio! Não quero que desperte.

— Não se preocupe. Não vai mover tão logo. Nonc!

Das três vozes, duas eram de crianças. Crianças com cabeça de porco que estavam ao lado da cama. Neste momento você já estava desejando que fossem simples ladrões e que qualquer coisa surreal não passasse de sua imaginação trabalhando em uma situação de medo. Não estava aguentando. Iria enlouquecer a qualquer momento. Entretanto você deveria se esforçar ainda mais para não perder a sanidade, pois o circo de horrores ainda não havia terminado.

Subitamente, você sentira um peso em cima do corpo. Não... aquele peso já estava ali desde o início mas apenas naquele momento você havia percebido. Alguém estava sentado em cima de você. Uma espécie de fusão de homem com javali. E era isso em cima de você que lhe impedia de se mover.

Quatro pessoas... quatro coisas te encarando no seu escuro quarto.

— Está nos ouvindo.

— Mesmo? Nonc! Dorme neném que a cuca vai chegar... (risos histéricos)

— Será que devo fazer a brincadeira de morder os dedos dos pés?

— Bem, acho que sim já que estão descobertos. – Neste momento você sentira uma gélida mão balançar seu mindinho do pé.

— Arranque os olhos para a minha coleção. Ronc!

— Eu quero os dentes! Ronc!

— Ou a língua! Ronc!

— O que vai primeiro? Olhos? Dentes? Língua? Que indecisão... Cruel – Mais uma risada de gelar a espinha.

E na medida em que dedos pontudos faziam círculos e contornos no seu rosto, aquelas enlouquecedoras risadas se tornavam mais fortes, mais intensas, mais agudas. E as risadas se transformaram e gritos, Todos os quatro elementos estavam gritando. Gritavam com toda a força dos pulmões. Gritavam até arder o peito... Seu peito.

E de repente é você. Você estava só, gritando no seu quarto. Não havia mais ninguém, apenas você se afogando em um lençol úmido de suor. Suas mãos puxavam com força seus cabelos e seus olhos extremamente arregalados encarando o teto. Na verdade, seus olhos estavam quase saltando das órbitas.

Depois de alguns segundos você conseguiu se recompor. Ofegante, ainda sentia seu peito arder. Limpou o suor da testa tentando reprimir a náusea que estava se formando. Apenas um sonho...  Não, foi mais que isso. Havia tido uma paralisia sono. Já lera a respeito. Estado breve em que o cérebro acorda em meio ao seu estado REM, mas o corpo continua inativo. Como se apenas o cérebro acordasse e o resto do corpo ainda não recebe a “informação” para despertar. Por isso não há como se mover de imediato. Nada paranormal. Explicação totalmente científica. A sensação de haver alguém vigiando não passa do imaginário que dura apenas alguns segundos. Alguns segundos... Realmente pareceu uma eternidade. E ainda existe maluco que induz esse tipo de coisa. Que merda!

Você conseguiu forçar um sorriso e procurou voltar a dormir. Ou ao menos tentava. Não existe nada surreal, certo? Nada além da explicação lógica. Então por que ainda sentira olhos te observando do escuro quando não estava mais dormindo?

 


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Notas finais do capítulo

E aí? Quer mesmo dormir no seu quarto sozinho hoje? Certeza?



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