Just One Chance escrita por Fenix


Capítulo 1
Você só tem uma chance pra ser feliz!


Notas iniciais do capítulo

Essa é a minha primeira oneshot e espero muito que gostem.
Todo esse enredo é baseado em fatos reais.



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Deixo aqui agora, aos meus filhos e netos, uma carta que um dia eu tenho certeza que fará todo sentido no futuro. Uma carta que contém uma história única, algo que eu nunca dividi com ninguém até hoje.  Uma história que fará eles perceberem que se você ama alguém, não pode perder essa chance. Não pode deixar a felicidade bater em sua porta e então deixar pra lá por medo de tentar. Não... Não se deve desistir do amor. Não se deve desistir da felicidade. Às vezes, ela aparece quando você menos imagina.

Meu neto terminou de ler a introdução e se aproximou da minha cama. Eu queria poder-lhes contar melhor cada momento que passamos juntos, mas estou velho e cansado. Mal posso falar muito sem antes perder o fôlego. Minha memória já não está a das melhores, mas posso dizer em detalhes como nos conhecemos. Até porque a história mais linda fica gravada eternamente em sua memória. Assim, o deixei continuar sua leitura em voz alta enquanto eu me lembrava dos momentos gloriosos que vivia.

Minha melhor amiga, Alexandra Cristina, o tinha conhecido antes de mim durante um passeio pela cidade o Rio de Janeiro, que naquela época festejava as Olimpíadas na cidade. Ela foi ao Boulevard Olímpico com a irmã, e sem pretensão, encontrou um amigo da faculdade durante uma das filas. Junto com esse amigo, estava Patrick, no seu auge dos vinte anos. Eles se conheceram naquele dia e ela rapidamente veio falar comigo que conhecia uma pessoa que tinha me achado bem bonito e que queria me conhecer.

Como vocês sabem, eu fiquei bem tímido na hora, e então ela me mandou uma foto dele pelo aplicativo de mensagem que usávamos. Além dos áudios que ela e o amigo faziam. Foi uma situação bem engraçada, principalmente por eu nunca saber o que dizer direito. Eu namorava outro rapaz naquele momento, mas eu já não o amava mais. E quando vi a foto de Patrick, alguma coisa mexeu comigo... Não sei explicar o que exatamente... Mas foi como se um fósforo acendesse no meio de uma montanha de palha.

— Você precisa conhecer ele, Fe. Ele é muito a sua cara - Lembro-me da Alexandra dizer isso tão animada que me tirou até algumas risadas. Ela, mais do que ninguém, foi quem deu força para que isso acontecesse.

E no fim do dia aquele menino, que até então era desconhecido pra mim, não saia da minha cabeça. Como pode uma pessoa que você nem conhece, já ficar gravada desse jeito em sua mente? Foi então que eu vi que se eu fosse querer algo com o Patrick, eu não poderia continuar com meu relacionamento. Eu tenho sérios problemas em não querer decepcionar as pessoas, e seria péssimo pra mim terminar com meu namorado atual.

— A felicidade dele não pode custar a sua - Minha amiga, Ana Beatriz, disse durante meu desabafo do quanto eu já não sentia mais nada pelo meu namorado. E foram com essas palavras em mente, que decidi finalmente me libertar de algo que me sufocava todos os dias.

No dia seguinte, eu não tirava aquele Patrick da cabeça, e tudo que eu pensava era como eu queria conhecê-lo, como eu queria poder conversar melhor com ele e saber como ele é. Mais cedo ou mais tarde eu sabia que Alexandra iria sugerir um grupo para que começássemos a conversar.

— Estava só esperando você falar isso! - A respondi com um sorriso no rosto e a esperança no coração.

— Vocês vão se dar super bem. Ele é muito seu estilo, e depois não esqueça de me agradecer! - Brincou.

Sabe aquele friozinho barriga? Eu poderia senti-lo de volta após anos. E foi bom me sentir vivo depois após tantas decepções. Antigamente eu criava meus filmes e séries... Fazê-los era como uma terapia pra mim, pois eu conseguia me focar em algo e esqueci completamente do mundo ao meu redor. Mas com o tempo isso parou de funcionar e a magia que tinha, morreu ao meio de tanto sentimento sem vida que antes me cercava.

Respondi logo depois de terminar de editar um de meus projetos, que naquele momento eu ainda gostava de fazer... Mas isso até outra coisa chamar mais a minha atenção. Até outra pessoa me despertar um interesse enorme a ponto de deixar todas minhas histórias e filmes sem graça. E começamos a conversar. Cada um falando um pouco mais, mas sempre tímidos e retraídos.

— Vocês são meu OTP - Alexandra brincava. Ela sempre nos apoiou desde o início e isso não ficou mais fraco com o tempo, acreditem.

Já quase chegando meia noite. Patrick me chamou em um chat privado, dizendo que estava indo dormir, mas antes só queria me desejar boa noite. Esse menino sabia exatamente os momentos certos para dizer as coisas. E foi inevitável me encantar por um garoto tão fofo e impressionante quanto Patrick. Nossa conversa durou horas, e que horas... Foram as minhas melhores em dias.

— Eu tenho que ir, vou acordar cedo amanhã - Ele disse.

— Vai trabalhar? - Perguntei. Afinal, era sexta-feira ainda e tinha me esquecido que ele não trabalhava.

— Não, eu vou pro jogo das olimpíadas! - É, eu tinha me esquecido disso também.

Então nos despedimos e quando desliguei o celular, aquela conversa retrocedeu em meus pensamentos. E mesmo que estivesse sendo incrível, eu ainda me sentia culpado por estar gostando de um e namorando outro. Foi então que definitivamente eu vi que não tinha escolha... Eu precisava terminar meu relacionamento o quanto antes. Não só por ele, mas por mim... Eu não estava bem continuando com aquilo. E quando finalmente fiz, foi tirado um peso enorme de meus ombros. Eu poderia seguir em frente e estava livre para poder tentar algo com aquele que me despertava algo que ainda não consigo explicar o que é. Nem mesmo hoje, aos meus setenta e oito anos, eu não sei dizer o que foi que eu senti quando começamos a nos falar e muito menos quando eu o vi pela primeira vez.

Uma lagrima escorria pelo canto do meu rosto que já está enrugado, com marcas do tempo que hoje sinto tanta falta.

— Devo continuar? - Meu neto perguntou, preocupado com meu estado emocional.

— Sim... - Respondi com a voz baixa.

Eu e Patrick tínhamos muito em comum. Tanto que uma hora chegou a ficar bem esquisito. Ele gostava de várias músicas, mas quando Britney Spears lançou seu nono álbum, Glory. Patrick baixou só pra tentar me fazer feliz e comentar um pouco sobre as músicas, pois sabia que eu gostava... Se deu certo essa jogada para me conquistar ainda mais? Com certeza!

Ele me mostrou que coisas muito boas podem acontecer se tivermos paciência e esperança. Eu me sentia tão bem quando conversávamos. Era como se eu não precisasse conversar com mais ninguém, como se meu mundo fosse inteiramente preto e branco e ele a aquarela que me coloria dia após dia.

As coincidências continuavam a aparecer, como, por exemplo, ele preferir ir as locais com piscina a praia, ele também adorava pizza, o que eu confesso ser louco até hoje. Patrick era aquele tipo de menino de catálogo de revista, ou até personagem de livro de romance. Ele não existia, não na vida real... Por um tempo eu acreditei que tudo aquilo era um sonho. Mas não me impediu de ter aproveitado até o último segundo. E quando me falou que adorava viajar de carro, e compartilhava da mesma ideia que eu... Vi que ele era de fato tudo o que eu vinha procurando ao meio de toda essa gente. Ele era o motivo de não ter dado certo com mais ninguém, porque estávamos destinados a nos conhecer e ficar juntos.

Algumas de minhas amigas, acreditavam que talvez meu relacionamento, caso fosse acontecer, com o Patrick, não iria pra frente. Mas sabe por que eu tinha esperança? Porque cada relacionamento entre duas pessoas é absolutamente único. Por isso você não pode amar duas pessoas da mesma maneira. Simplesmente não é possível. Você ama cada pessoa de modo diferente por ela ser quem ela é e pela especificidade do que ela recebe de você. E quanto mais vocês se conhecem, mais ricas são as cores desse relacionamento.

Mas eu precisava ir com calma, eu sou muito intenso e não poderia deixar isso me atrapalhar desta vez. Travei uma luta contra meus próprios sentimentos, que por si só já estavam a flor da pele, afinal, podemos ter encontrado a pessoa certa. Ou não, mas era a pessoa que até mesmo após os defeitos aparecerem, eu iria gostar acima de tudo, pois não é só de qualidades que são feitos os homens.

Ele tocava piano de forma majestosa, acreditem, fui privilegiado de ouvir por um vídeo que o mostrava sentado em frente a um piano elétrico e tocava uma música clássica. A forma que ele se sentava, que ele tocava cada nota, era tudo tão perfeito... E eu não conseguia tirar meu olhar do seu rosto sereno, que fecha os olhos para sentir as notas do piano. Não precisei ver de fora para saber que naquele instante meus olhos brilharam de orgulho. Eu não estava só me apaixonando por ele, como minha admiração ia crescendo cada vez mais.

Comecei a tossir bastante e pedi que meu neto buscasse um copo com água para mim. Ele deixou a carta de algumas páginas em cima da cama e saiu do quarto. Essa história ainda mexe comigo, ainda me toca na alma de forma que nem os Deuses são capazes de entender.

— Aqui vovô! - Ele disse.

Tomei o gole e pude sentir minha garganta refrescar com a água gelada que me acalmava para continuar a ouvir a melhor época de toda a minha vida.

Meu pai chegou em casa anunciando que havia decidido morar em Portugal com toda a minha família e não demorou muito para começarem a procurar casas em Lisboa e outros lugares por lá.

— Portugal? - Perguntei sem acreditar - Como assim, morar em Portugal? E tudo que temos aqui?

— O que temos aqui? - Minha mãe perguntou.

— Trabalho, família, amigos...

— O trabalho do seu pai vai abrir uma filial em Portugal. As condições de vida lá são melhores que as daqui no Rio - Minha mãe parecia bastante determinada em sua decisão.

— E meus amigos?

— Eles podem ir te visitar... E você fará novas amizades lá - Meu pai se pronunciou novamente.

Não, eu não queria fazer novas amizades. Eu queria continuar no Rio, onde eu cresci e onde eu estava começando a criar uma história tão perfeita e maravilhosa. Eu não posso deixar isso acontecer. Não vão tirar de mim o que eu esperei todos esses anos pra acontecer.

Nesse mesmo dia, Patrick me ligou pela primeira vez. Meu coração se acelerou tão rápido que eu podia sentir as palpitações fortes em meu peito.

— Alô! - Tentei soar o menos nervoso possível.

— Oi Fe, desculpa te ligar... - Nossa... A voz dele era tão doce e rouca... Ouvi-la era como o canto dos pássaros mais raros do mundo. Eu reparo muito nas vozes das pessoas e a dele tem algo que eu nunca tinha ouvido antes - Eu to indo no Boulevard e vou me encontrar com a Alexandra lá,dai pensei em te ligar pra você nos encontrar lá!

— Hm, claro... Eu vou ver aqui e te falo, porque eu não sei ir pra lá.

— Ah, pergunta pra alguém.

— Beleza, eu vou falar com a minha mãe e te respondo - E foi então que quando eu disse a ela, minha mãe não deixou eu ir. Afinal, eu já tinha dito que ficaria em casa enquanto ela fosse na rua.

Eu fiquei bastante irritado, voltei pro meu quarto e não sabia o que fazer. Queria poder conhecê-lo logo, mas não podia sair de casa. "E se ele não entender?" eu dizia a mim todo o segundo. A aflição foi crescendo cada vez mais, e depois de um pedido de desculpas enorme e talvez até um pouco exagerado. Depois de esperar muito tempo... Muito tempo mesmo, ele me respondeu quase onze horas da noite. E me acalmou de forma que só ele conseguia fazer.

Alexandra era minha válvula de escape para minhas loucuras. Ela sempre foi uma boa amiga, e nesse momento, mais do que nunca, eu precisava dela do meu lado. E ela sempre esteve ali para ouvir tudo, principalmente o que eu deveria omitir na frente dele. Afinal, se eu fosse totalmente eu, ele já teria fugido há muito tempo... Ou seria muito louco para encarar. Seja o que for, eu não pagaria pra ver.

— Vô... - Ouço meu neto enquanto meus olhos vermelhos com o choro, estavam voltados para o céu azul que avisto pela minha janela.

— Por favor, só continue lendo... - Disse, sem tirar minha atenção das nuvens que me faziam relembrar tudo daquela época gloriosa.

— Tem certeza?

— Só... Continue.

Ele tocou em minha mão, me tirando um suspiro profundo e voltou a ler.

As olimpíadas chegaram ao fim. Nosso encontro de ir ao Boulevard Olímpico, teve que ser cancelado e marcamos outro em cima da hora. Decidimos nos encontrarmos no shopping. Meus pais perguntaram o que iríamos fazer lá, e sabe que nem eu sabia? Simplesmente queríamos nos ver a todo custo e não sei ele, mas eu precisava disso. Precisava conhecer a pessoa que tanto despertava essa vontade em mim... Não era uma coisa qualquer, não era um simples "crush", como chamávamos uma pequena paixão naquela época. Era algo que eu podia gritar para as estrelas o quanto era forte e verdadeiro.

No dia que nos encontramos pela primeira vez foi bem engraçado, diga-se de passagem. Primeiro que talvez ele nem fosse, pois chovia demais onde ele morava. Conversei com Alexandra que nos encontraria no local marcado, e disse que aquilo tinha me desanimado bastante e que agora eu não queria sair mais.

— Mas não quer ir nem comigo, Fe? - Ela perguntou. Pude ler ao som de sua delicada voz.

— Desculpa, Ale... Isso me desanimou mesmo - Dizia ainda deitado na cama. Foi bem intenso a mudança repentina que tive. Em um instante eu tava pronto para pular da cama, me arrumar ao som de Britney e cantar loucamente no chuveiro, pois eu sabia que seria um dia memorável. E mesmo com ele chuvoso e nublado, eu faria o sol nascer no horizonte da esperança e acender meu coração que tanto aclamava por vê-lo naquele dia. Mas no instante seguinte, eu ainda estava ali na cama... Sem vontade, apenas querendo dormir de novo e querendo que o dia passasse rápido.

"Eu não poderia deixá-la na mão" pensei após um forte suspiro. E então comecei a me arrumar e depois do banho peguei meu celular e mandei mensagem para Alexandra dizendo que íamos sim ao shopping, com ou sem o Patrick. Bom, estava mais propício a ser sem ele, o que ainda me entristecia um pouco. Tinha tantos planos pra esse encontro. Fantasiei tantas coisas em minha mente antes de dormir, isso quando eu conseguia tal proeza. Esse menino dominou minha mente de tal forma, que ninguém será capaz de entender.

Lembro de uma vez imaginar que eu estava na mesa de uma cafeteria muito famosa antigamente, Starbucks.Vocês devem conhecer, ela ainda existe, mas não tem em tantos lugares como em 2016. Os frappuccinos de lá eram coisas de outro mundo. E ele chegava devagar, sentava do meu lado com o sorriso mais lindo que eu poderia ver em todos aqueles anos. A gente conversava e ele tocaria na minha mão que repousava em cima da mesa, e então seria algo perfeito... Como as cenas daqueles filmes de romance que eu amava assistir quando era jovem. Mas isso estava longe de se tornar realidade agora.

— Eu sinto que ele vai sim - Ela disse.

— Lindooooo, parou de chover aqui - Recebi a mensagem de Patrick logo depois de soltar o celular. Quando ouvi que sua mensagem chegou, peguei aquele aparelho rapidamente e um sorriso tomou conta do meu rosto novamente. Meu coração voltou a se acelerar e as coisas voltaram a dar certo.

Deus, eu nunca tinha ficado tão nervoso na minha vida. Era como se eu estivesse indo encontrar o Presidente dos Estados Unidos ou até mesmo a minha cantora favorita, Britney Spears. Minhas mãos pareciam iceberg de tão geladas que estavam, e não conseguia me controlar, por mais que eu tentasse.

Depois de alguns encontros, ninguém nunca tinha me deixado tão nervoso assim. Minhas borboletas no estômago não estavam sozinhas, acredita que naquele instante eu estava com todas as aves voando loucamente por todo meu interior. Minhas pernas não paravam de tremer, tanto que acredito que deve ter feito até um terremoto no Japão. Meus olhos seguiam cada um que passava em minha frente, na esperança sem fim que ele fosse aparecer. Cheguei bem antes do combinado, e fiquei esperando que eles aparecessem durante duas angustiantes horas.

Ele dizia que não queria que eu ficasse esperando e também iria sair cedo de casa para nos encontrarmos. Mas isso obviamente não aconteceu. Eu estava tão aflito, que meu estômago começou a doer bastante depois de um certo tempo de espera. Ficava me perguntando em que momento ele iria aparecer. E depois que aparecesse, o que eu faria? Que assunto eu puxaria? E se ele não gostasse de mim? Meu Deus, e se meu beijo fosse ruim? Todas essas perguntas soavam desesperadamente em minha cabeça e eu só queria que tudo desse certo. A incerteza é algo muito difícil de lidar. Principalmente quando você quer impressionar alguém, quer mais do que tudo que aconteça algo depois daquilo, mas a minha insegurança sempre foi muito presente em todos os momentos.

Patrick era um rapaz forte, corpulento, com o rosto perfeito e sorriso que poderia tornar o dia de qualquer um, um dia mais feliz e bonito. E eu... Bom, eu era um garoto baixo, magro, que colecionava HQ's do X-men e amava jogar video game. Eu sempre fui, e ainda sou, inseguro com meu corpo. E quando ele demonstrou também ser assim, apesar de achá-lo perfeito em todos os sentidos. Entendi que não é a altura, nem o peso, nem os músculos que tornam uma pessoa grande, é a sua sensibilidade sem tamanho. Não me apaixonei por ele por seus músculos, me apaixonei pelo seu coração que batia assim como o meu.

Alexandra chegou um pouco antes dele. Patrick não conhecia o shopping e quando chegou, tivemos que ajudá-lo a nos encontrar, já que estávamos na praça de alimentação. Quando eu o vi se aproximar, meu coração veio na boca. Só conseguia pensar no quanto ele era realmente bonito, no quanto era estiloso e meu Deus, eu não consigo piscar. Finalmente ele chegou a mesa e o abracei... Fechei meus olhos e podia me sentir tão bem naquela hora. Poderia ficar daquele jeito por toda a minha vida... Não me importava com mais nada, só queria que ficássemos daquele jeito. Minha timidez voltou e no início ainda estávamos bem acanhados.

Umas brincadeiras ali e outras aqui, pra quebrar o gelo. Alexandra dizia estar com calor e toquei em seu braço para sentir o tecido de sua blusa, então ele tocou em minha mão por alguns segundos.

— Olha eu aproveitando - Ele disse.

Sua mão era tão delicada e suave. Bom, definitivamente ele não tinha nada de errado, ele não tinha uma coisinha se quer para eu por defeito. Patrick não era só mais um garoto, pra mim, ele era O garoto!

E quando nos beijamos... Deus, quando nos beijamos pela primeira vez, foi espetacular. Durante o escuro do cinema, ele se aproximou de mim e então cedi para que ele pudesse avançar. Foi um beijo diferente, com vontade, com sentimentos reais envolvidos ali. Não era só um ato, era tudo... O local, ele, o que eu sentia. Naquela época, eu sentia muito as coisas... Era 8 ou 80, e não tinha meio termo. Ou eu amava demais, ou não conseguia nem dizer um 'Oi'.

Durante o filme, ficamos bem juntos, minha cabeça repousava em seu ombro e ele encostava sua cabeça a minha. Nossos braços dados e sua mão em minha coxa. O jeito que ele acariciava meu braço, o jeito que me tocava ficará gravado em minha memória pro resto da vida.Em alguns momentos, ficava olhando-o assistir ao filme. Era tão impressionante tê-lo ali comigo que eu não conseguia acreditar que estava realmente acontecendo. Ele era tão lindo... Meu coração se apertava sempre que eu deixava o filme de lado, e tudo o que importava era ficar olhando pra ele... Admirando-o tão de perto. Fechava os olhos e só não queria que o tempo passasse.

Todas as vezes que nos beijávamos, era como se eu, de alguma forma, me entregasse de corpo e alma para ele que tanto mexia comigo. Sabe, tem coisas que nem a ciência consegue explicar, e acredito que uma dessas coisas, é a forma que apenas uma pessoa, uma única pessoa, pode mudar todo o sentido da vida pra alguém. Pode te mostrar que podemos ser felizes de verdade. Não digo felizes como um estado momentâneo. E sim, felizes de verdade, por completo. De não ser só o seu corpo a sorrir, mas também a sua alma que nunca ficou tão viva antes.

Depois que terminou o filme, eu segurei sua mão...

Não consegui evitar o choro. Deus, meu peito dói demais agora. Meu coração parece estar sendo espremido por alguém, quando na verdade é a saudade que veio me lembrar de quem eu mais gostei em toda a minha vida.

— Vovô... Vovô, você ta bem?- Meu neto perguntava durantes meus soluços de choro. Ele não entendia o quanto eu sofria por lembrar novamente dessa história, mas o quanto ela era necessária pra mim. Não era eu que estava chorando, era a minha alma que segurou isso por todos esses anos. Porque dentro do meu coração ainda tem uma foto dele, tem a saudade espalhada por todo lugar. E ela me consumiu agora... Não quero evitar, afinal, a dor precisa ser sentida.

Meu neto saiu do quarto gritando por ajuda. Meu peito queima como fogo, e minha respiração parece travada no momento. Não tenho mais forças para puxar o ar. Mas não posso ir agora... Não, eu preciso me lembrar de tudo... Preciso sentir aquilo novamente. Preciso do amor, da felicidade.

— Papai... - Ouço meu filho dizer ao entrar abrupto no quarto. Ele chegou perto de mim e tocou em meu peito - CHAME UMA AMBULÂNCIA, AGORA! - Ele volta sua atenção a mim - Calma, pai, vai ficar tudo bem...

— Meu filho... - Disse com dificuldade.

— Não, não... Por favor, por favor, não fala... Por favor... - Ele dizia começando a chorar.

— Não... - Disse - Termine... A carta... - Apontei para a carta com minha mão tremula.

— Pai...!

— Por favor... - Implorei com meus olhos cheios de lágrimas. A dor que sentia pela saudade daquilo tudo, era mais forte que qualquer outra coisa.

— A gente precisa de uma ambulância, precisamos te levar ao hospital.

— Não... E--eu não quero... Por favor - Digo ao meio do choro - Por... Favor... - Não posso partir sem antes ele ser a minha última lembrança.

Chorando, ele pegou a carta contra sua vontade, mas obedecendo a minha decisão. Sentou perto de mim e me olhou no fundo dos meus olhos. Segurei sua mão.

— Não... Não me deixei sem... Tê-lo pela última vez... - Sinto-o apertar minha mão e ouço continuar a ler.

Depois que terminou o filme, eu segurei sua mão. Ele a mantinha sempre no bolso e no início eu estava bem tímido pra fazer isso, mas depois eu tomei coragem e a segurei. Ele tinha me contato que já tinha namorado algumas vezes, então não vi problema em fazer tal ato. Caminhamos pelo shopping assim, e ele sempre fofo e com seu jeito meigo de falar. Sentamos em frente a um chafariz. Alexandra ligou para o namorado e nós ficamos nos beijando. Estar com Patrick, não era questão de prazer, é que ele me fazia feliz. Ele poderia ter sido meu mundo. Eu poderia dar-lhe tudo, eu lhe daria o mundo se pudesse... Mas eu não conseguia fazer muita coisa naquela época. Eu era só mais um jovem que morava com os pais.

— Eu sei ler mãos - Ele disse pra mim.

— Jura?- Perguntei dando um sorriso bobo.

— Sim. Não é bem ler, é meio que um sentimento, sabe?

— Hm... E o que você sente vendo a minha mão? - Deixei a minha em cima a dele.

— Você tem uma mão linda, primeiro de tudo - Ele disse dando um sorriso que me fez dar uma leve risada. Era a primeira pessoa que eu conheço que elogia a minha mão. - Sinto que você é uma pessoa forte, que tem presença. Decidido e sabe o que quer. Ah, e que não desiste das coisas.

Ele falou tudo enquanto eu olhava no fundo dos seus olhos e ria, pois ninguém tinha me conhecido tão bem quanto ele. Ninguém nunca me conheceu de verdade. Mas Patrick sempre se mostrou ser especial, sempre teve um toque diferente. Eu não sei se foi a Alexandra que contou tudo isso a ele, ou se ele realmente sentiu isso só de olhar a minha mão. O que interessava, é que ele derrubou todos os muros de proteção que eu havia criado em volta do meu coração.

— Ele é isso tudo ai mesmo - Alexandra concordou.

— É, eu sei - Patrick completou enquanto permanecia segurando a minha mão.

Infelizmente o dia chegou ao fim. Eu os levei até o metrô que havia perto do shopping e me despedi ali. Abracei a Alexandra e então me virei pra ele. Passei o dia memorizando cada detalhe do seu rosto, cada gesto seu, até seu cheiro, pra ficarem guardados comigo por muito e muito tempo. Que se por alguma razão, ele não tivesse gostado de mim, ou não quisesse me ver nunca mais. Eu poderia dizer que aproveitei o máximo que eu pude. Que me doei o máximo que eu conseguia e que mesmo assim, eu queria poder fazer mais para que tudo desse certo. Me aproximei e lhe dei o último beijo do dia. O beijo mais doloroso de todos, o beijo de adeus.

Então voltei pra casa, minha mente estava longe. Minha cabeça encostada na janela do carro dos meus pais, olhando a chuva bater contra o vidro. Aquela tristeza e incerteza se eu o veria de novo era agonizante. Eu precisava fazer tudo dar certo. É uma droga não poder saber o que a outra pessoa está sentindo. E agora? Como ficamos? Eu era tão inseguro aos meus vinte e um anos.

Cheguei em casa e não parava de sorrir. Simplesmente não parava.

Não evitei de sorrir novamente ao ouvi-lo ler isso. Meu peito dói, mas não tanto quanto antes, a saudade pode ser devastadora, principalmente se for acompanhada de um arrependimento.

— Pai, precisamos te levar ao hospital.

— Meu filho... Eu não... Não preciso de um hospital... Eu não preciso continuar... Eu preciso viver... Viver de volta a felicidade que vivi há 57 anos.

Eu queria poder gritar ao mundo que eu era o garoto mais feliz do planeta. Essa foi a primeira vez na minha vida, que eu chorei de tanta alegria. Eu sabia que isso era possível, mas nunca tinha acontecido comigo. Sempre que eu dizia estar feliz, não era felicidade de verdade, mas aquilo... Aquilo que eu estava sentindo, aquilo sim era felicidade. Meu coração batia em uma sincronia diferente, era como se ele tivesse motivos para ser especial. Eu, me sentia especial. Nunca fui muito religioso, mas ao meio do choro, olhei para cima e agradeci. Não sei se existe um Deus na verdade, mas alguém lá em cima me ajudou, e eu só queria agradecer... Por tudo que fizeram comigo e por isso estar dando certo.

Contei aos meus amigos como foi meu dia, e todos só tinham as mesmas respostas "Eu nunca te vi tão feliz assim". Pois é, nunca me viram assim porque eu nunca fui realmente assim. Eu me sinto totalmente diferente. Poderia voar se quisesse... Mas ai já seria bem fora do lógico, eu entendo. A questão é que sentia que poderia fazer qualquer coisa. E sim, por ele, eu poderia. Eu cruzaria o oceano se fosse preciso, eu faria qualquer loucura se fosse para vê-lo. Tanto, que naquela época a Britney Spears iria performar uma premiação chamada, Video Music Awards, era sua primeira performance desde o fiasco em 2007. O mundo estava voltado para ela, e eu estava disposto a sacrificar esse domingo para poder ver Patrick novamente.

— Fe, foi um prazer enorme conhecer você. Eu adorei nosso dia. - Ele disse horas mais tarde.

— Amei o nosso dia,amei te conhecer, você só confirmou o que eu realmente já achava... Você é de fato o garoto mais incrível que já conheci! E eu espero que você tenha gostado tanto quanto eu. Obrigado por tudo, e espero que possamos nos encontrar mais - Respondi. Eu não sabia o que tava fazendo, eu deixei minhas emoções responderem por mim. Pela primeira vez, ouvi tudo o que meu coração dizia.

— Awnn fofo!! Eu também gostei muito do dia e do tempinho que a gente passou juntos. E você também é lindo e fofo, como eu imaginava.

Engraçado que ele conseguia tirar o meu mais lindo e puro sorriso. Ele fazia de mim uma pessoa mais alegre... Ele não me completava, ele me transbordava. E eu achei que tudo tinha ido bem. Mesmo ele demorando eternidades para me responder, eu realmente achava que tudo estava se encaminhando bem.

Patrick me contava sobre sua vontade de fazer intercâmbio nos Estados Unidos. Ficar 1 ano lá. Eu tinha o mesmo sonho.Mas eu não sei se conseguiria ficar tanto tempo afastado de uma pessoa que eu amasse. Bom, ao menos ele não demonstrava ter problemas com isso. Em hipótese alguma, ele hesitou e dizer algo a respeito disso. O que no fundo eu entendo. Sonhos foram feitos para serem seguidos. E se as coisas tivessem dado certo entre a gente, eu sofreria sem tê-lo por perto, mas ao mesmo tempo, ficaria feliz por ele estar realizando um sonho.

Depois de muito tempo me preparando, eu me atrevi a chamá-lo novamente para sair. Para nos encontrarmos novamente no próximo final de semana.

— Vai fazer alguma coisa no sábado? - Perguntei.

— Não sei, lindão! A princípio não, eu não tenho nada... Mas como meu pai ta tão desconfiado, não sei o que fazer... - Respondeu.

Ele tinha uma relação complicada referente a sua família evangélica. Seus pais completamente preconceituosos. Uma família tão focada nas tradições de homem e mulher, que não percebiam o quanto isso o afetava. E naquele instante, percebia que talvez ele não estivesse pronto para ter um relacionamento que eu estava disposto a dar.

— Eita... Deixa pra lá... Melhor não criar problemas, depois a gente marca alguma coisa - Escrevi com meu coração apertado. Sabe, eu realmente estava com minha felicidade ali... Bem perto de mim... E de uma ora pra outra, eu não tinha mais nada.

Afinal, o que eu poderia fazer? Forçá-lo a sair pra quando chegasse em casa tivesse uma briga com o pai? Não, isso me destruiria por dentro.Eu estava de mãos atadas, a única coisa que poderia fazer naquele momento, era entendê-lo e aguarda a próxima vez. Mas os questionamentos são inevitáveis. Quer dizer que só vamos poder nos ver 1 vez? E como seria daqui pra frente? Será se teria alguma coisa pela frente?

Me apaixonar não estava nos meus planos agora. Então ele chegou com aquele jeito inocente e único, aquele jeito que parecia ter saído de um livro encantado da Disney. Como eu poderia evitar me apaixonar por alguém assim?

— No shopping, eu fiquei com vergonha quando a gente tava de mãos dadas... Queria até te pedir desculpas por isso, mas é que é algo meio novo pra mim ainda. E acho que tenho uma barreira por ainda não ser assumido - E foi ai que de fato eu perdi todas as esperanças. Foi então que cheguei ao chão do penhasco que pulei. E nunca tinha sentido uma dor tão forte antes.

Sabe as borboletas no estômago? Foram digeridas. Quando li o que ele tinha escrito, um vazio cresceu dentro de mim. Queria poder dizer que não senti nada... Antes tivesse. Mas eu senti tudo, senti cada pedaço do meu coração ser pressionado contra meu peito.

— Ai, desculpa, foi mal - Disse. Foi inevitável, meus olhos já foram se enchendo de lágrimas.

— Nãããão, poxa. Foi bom, só é novo pra mim - Respondeu.

— Sério, é que eu não sabia, não queria te deixar desconfortável - Eu e minha incrível habilidade de por tudo a perder. O que eu tinha de tão errado comigo que as coisas nunca conseguiam ser boas? Eu sempre tinha que batalhar contra tudo para conseguir um instante de felicidade plena.

— Relaxa, lindão. Tudo que rolou foi muito bom - Se o que dizia era verdade, porque não me convenceu? Tantos garotos já tinham mentido pra mim antes, como eu poderia confiar? Eu sei, eu estraguei tudo. Foi tudo culpa minha, e isso foi pra que eu aprendesse que na vida, nada é como deve ser. Não é porque você quer muito uma coisa, que ela vai acontecer.

—Eu sei, mas eu deveria ter perguntado - Então tive que parar de digitar. O choro estava em seu auge, não enxergava mais nada por causa das lágrimas que não paravam de escorrer pelo meu rosto.

— Lindão, você fez o que tava com vontade, e eu também!! A gente não deve se privar de nada. Se eu tivesse desconfortável assim, eu teria te falado. Você não tem que pedir desculpas, sério!

— Então eu não estraguei tudo? - Perguntei.

— Claro que não. - Ele respondeu.

Mas ficava pensando nos próximos dias. Eu queria viver uma grande história de amor, eu faria de tudo pra ter uma. Tudo bem que os pais dele não possam aceitar nosso namoro, caso fosse acontecer. Ele teria a mim e minha família que poderia acolhe-lo, a gente o trataria normalmente e ele poderia ir na minha casa e tudo mais. Eu não me importava com os pais dele, me importava de nossos encontros serem tão limitados, de chegar ao ponto de amá-lo de verdade e não poder continuar. Porque não é só de mensagens por telefone que se faz um relacionamento.

Patrick me contou sobre seus relacionamentos, principalmente sobre um que o menino morava sozinho e por isso ele ia sempre a sua casa. É, de fato eu não tinha como competir com isso. O que eu poderia oferecê-lo naquele momento, era apenas uma paixão que seria capaz de fazer tudo só para vê-lo feliz e bem novamente. Eu só queria ser a razão dos seus sorrisos, ser aquele que receberia seu primeiro 'Bom Dia'.Eu me encantava pelas coisas mais simples da vida, e a falta dessas coisas, que me faziam desistir cada vez mais.

Um 'Bom Dia' não é só um gesto educado, não pra alguém que se está apaixonado. Um 'Bom Dia', é um modo de dizer "Oi, eu acordei pensando em você". E bom, com Patrick, poderíamos passar horas sem nos falarmos, e tiveram dias que só fomos nos falar durante a noite. E meu Deus, como eu sentia falta daquilo. Como eu sentia falta de ter algo pra conversar. Uma vez meu pai perguntou durante o jantar.

— Por que você olha tanto pro celular? Existe alguém no mundo, nesse momento, que poderia te ligar agora e te deixar feliz? - E ele não sabia o quanto eu queria que o nome dele surgisse ali na tela agora. Eu sempre ficava esperando, todos os dias, ele me mandar uma mensagem.

Ele era ocupado, eu entendo, mas um simples gesto de um 'Bom Dia', seria capaz de mudar todo o rumo do dia. Foi então que suas palavras fofas começaram a perder seu efeito em mim. Quando diziam o quanto ele gostava de mim, eu já não acreditava mais. E foi então que desisti. Desisti de continuar, de tentar ser feliz de uma forma que eu sabia que nunca seria. Eu me perdi, sai do caminho e já não sabia mais como voltar.

Patrick não era tão diferente dos outros meninos. Eu só não era o que ele procurava. E cabia a mim aceitar isso. No dia seguinte, ele nem se quer falou comigo. A queda de voar alto pode ser bem violenta. Foi então que decidi me mudar para Portugal.

— Você tem certeza? - Minha mãe, perguntou - Você já estava combinando de ficar aqui no Rio com sua irmã.

— Não... Eu pensei bem, e... - Engoli o choro que já deixava meus olhos ficarem embaçados - Eu quero ir. Pode ser legal, me mudar pra um local novo.

— Sim, você vai gostar de lá - Ela disse com um sorriso alegre, já o meu nem tanto.

Lembro que foi a maior decisão que eu tomei na minha vida. E tudo começou a realmente mudar. Eu deixaria meus amigos naquela cidade enorme onde cresci.

— Fe, não faz isso, por favor - Alexandra chorava pelo áudio do chat - Não consigo aceitar a ideia de você ir pra Portugal. E o Patrick?

Enquanto isso,  eu chorava em meu quarto sabendo que nunca mais poderia sair com eles de novo, que não estaria perto para as reuniões na casa de alguém para assistirmos só um filme. Que de tanto marcar com Alexandra para assistirmos ao dvd da Britney, esse dia de fato nunca mais chegaria. O tanto faz chegou de forma tão abrupta que derrubou tudo o que eu tinha, que me desarmou e me matou por dentro.

Eu esperava que ele voltasse, que antes de ir para Portugal, Patrick soubesse e pedisse pra eu ficar. Porque se ele pedisse, se ele realmente pedisse, eu ficaria... Ficaria pra sempre. O vazio podia estar em mim agora, mas eu ainda gostava dele... Sim, eu gostava demais, com o tempo, acredito até que por um tempo fui capaz de amá-lo. Foi ai que entendi que a vida não nos dar outra escolha. Só temos uma opção... Sem segundas chances. E eu estraguei a minha primeira e única chance de ser feliz.

Eu nunca pedi nada demais. Só queria poder sair com ele, ir para locais onde pudéssemos ficar abraçados sem que tenha problemas, sem que seja escondido. Seja na praia a noite ou no mirante ao por do sol, porque essas pequenas coisas são o que fazem o relacionamento se revigorar de novo e de novo. Será se eu conseguiria isso com ele? Ou tudo não passaria de apenas encontros aleatórios? Isso era o que mais me perguntava quando mais novo.

E se eu nunca mais pudesse ver o rosto dele de novo, queria que soubesse que nada mudou. Que ninguém poderia tomar o lugar que um dia foi dele. Viver com isso fica mais difícil a cada dia. Me desculpe, mas não tem outro jeito. Depois de alguns meses, fui finalmente para Portugal. Durante anos eu vim tentando viver sem ele, mas as lágrimas caiam pelo meu rosto sempre que seu nome me vinha a mente. Eu o amava mais do que eu jamais amei. E agora já é tarde demais.

Eu ficaria, eu ficaria pra sempre se ele pedisse. Eu nunca quis perdê-lo. Se eu tivesse que escolher, se eu tivesse meu último pedido, seria ele. Sempre foi ele e sempre vai ser. Eu honestamente posso dizer que ele esteve na minha mente desde que eu acordei naquela Sexta-Feira durante as Olimpíadas, até hoje. Durante os primeiros anos em Portugal, eu olhava a nossa foto que tiramos no dia do shopping, e as memórias voltavam, mas eu não me importava. Eram as mais lindas memórias que eu já tive. Às vezes você não pode explicar o que viu em uma pessoa. É simplesmente a maneira que a pessoa te faz se sentir e que ninguém mais consegue.

Eu vou sempre levá-lo em meu coração. Por mais que não fosse pra ser, pra mim foi... Foi em uma história, foi em um filme, foi em minha mente criativa. Mas pra mim, foi o melhor que Deus poderia me dar. Ele foi um pedaço da felicidade que eu achei que não existia. Ele foi um pedaço do meu coração... Que levou com ele quando nos afastamos.

Ele foi o único homem que eu amei de verdade em toda a minha vida. Não deixei que a insegurança domine vocês, não desista da felicidade só por causa disso. Eu encontrei o pai de vocês após anos em Lisboa, mas eu nunca o amei de verdade. Eu nunca poderia amar ninguém de novo, porque o amor só acontece uma vez na vida. E eu não pude amar. Eu não agarrei a chance, a deixei escapar bem na minha frente por não querer enfrentar as dificuldades que a vida traz com ela.

Ame e não tenha medo disso. Não cometam os mesmos erros que eu cometi. Eu amo vocês meus filhos, e não suportaria que deixassem o amor só por medo ou insegurança. Não vale a pena desistir de um sentimento tão forte, não perca a chance. Amar não é como um sentimento qualquer que você pode sentir de novo. Você só é capaz de amar uma vez na vida. Digo, amar de verdade, no fundo do coração. Eu os amo incondicionalmente, e vou sempre amá-los.

Por hora eu ficarei bem. Sei que estou muito doente e não tenho mais minha família ou meus amigos comigo. Sei que piorei quando Alexandra faleceu em 2066, ela era o que mantinha vivo o que restava de esperança em mim. E agora eu não quero mais... Eu quero paz. Quero descansar e quero contar a ela todas as novidades do mundo. Quero abraçá-la e dizer o quanto eu sinto saudade de tê-la aqui comigo. Eu quero a voz dela de novo, e quero poder rir das besteiras que vamos falar. Então, por favor, não se preocupem comigo, eu vou estar feliz. E seja lá pra onde eu for, eu vou olhar vocês e vou pedir para que os anjos os ajudem a não fazer todas as minhas burradas.

Eu amo vocês. Com amor, Papai!

— Pai... Por favor, eu preciso de você aqui comigo... Eu preciso de você! - Sinto o último toque de meu filho enxugando minhas últimas lágrimas que escorriam por meu rosto.

Lembro-me de quando eu e Patrick nos beijamos pela primeira vez. Ainda posso sentir seus lábios nos meus. Lembro-me de quando pegou minha mão para lê-la, e disse que eu era forte e decidido. Ou quando falou que por eu ser o mais velho dos dois, eu teria uma grande responsabilidade. Eu me lembro de tudo até meu último segundo. E seu rosto dominou minha mente antes do meu último suspiro. Agora eu sentia exatamente o que eu sentia há anos, como quando nos conhecemos. Alguns esperavam que eu esquecesse-o com o tempo, mas não tem como esquecer uma paixão verdadeira,ele sempre esteve em minha mente, e eu não consegui evitar de me apaixonar por ele. Se hoje eu pudesse tê-lo comigo, eu teria feito tudo diferente.  Mas o que eu queria esquecer, o que eu mais queria esquecer... É o nosso Adeus.


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Notas finais do capítulo

Se gostaram, por favor, comentem. Eu amo saber se gostaram da minha história e principalmente se querem mais.
Obrigado por lerem 'Just One Chance'. ♥



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