Rock the baby escrita por Nanahoshi


Capítulo 11
É o que os amigos fazem


Notas iniciais do capítulo

E NÃO É Q O NEGÓCIO ESTÁ RENDENDO ♥ Mais um capítulo de RtB fresquinho para vocês!
Esse foi um dos capítulos que mais me emocionou até agora. Fazia tempo que eu não chorava escrevendo uma cena. Um dos diálogos da Mika com a mãe nesse capítulo era de suma importância para a história, e eu queria infundir bastante emoção nele. Se eu chorei, espero pelo menos emocionar vocês um pouco ♥ E meu Deus PREPARA Q NO PRÓXIMO CAPITULO VCS VÃO MORRER DE FOFURA, E ESSE CAP PREPAROU TUDO PARA ESSA EXPLOSÃO DE FLUFFY ♥
Um agradecimento especial a @Lahi, @LadyIgniss e a minha sis @Tamaki_Pixel, essas divas arrasadoras que não desistiram de mim nem dessa fanfic q é meu xodozinho *u* Muiti obrigada do fundo do coração por me apoiarem! Agora sem mais delongas, o capítulo!



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Quando Mika despertou, demorou longos minutos para se situar. Sua cabeça ainda doía, principalmente na parte anterior, e ela não tinha a menor ideia de quanto tinha dormido. Acordara diversas vezes durante a noite, grogue, mas não por tempo suficiente para lembrar do que tinha acontecido. Mika demorou para digerir a informação que se encontrava no hospital e que havia dormido por quase 22 horas. Sua mãe, ao vê-la desperta, afobou-se em verificar seu bem-estar, e seu estado agitado fez Mika ter uma leve tonteira. Além disso, a garota precisou reviver as lembranças do dia anterior ao relatar o que tinha acontecido para a mãe, o que definitivamente não a fez se sentir melhor. Quando estava chegando na parte em que perdera a consciência, Mika se lembrou de algo importante.

—Mãe, o Mitsui-kun... Ele... Foi ele que acudiu no banheiro! Se não fosse por ele, agora... – a voz de Mika morreu e ela baixou os olhos para a mão direita, e um arrepio correu-lhe o pescoço ao se lembrar da líder delas erguendo o pé para pisotear seus dedos.

Hisako assentiu. Estava pálida feito cera, e mesmo que Mika tivesse se esforçado ao máximo para ocultar os detalhes mais pesados, seus machucados se encarregaram dessa parte de forma a deixá-la naquele estado.

— Ele estava aqui quando eu cheguei... – disse Hisako numa voz sumida, como se estivesse vagamente consciente do que falava.

— O Mitsui-kun!? – exclamou Mika aprumando-se na cama e se inclinando na direção da mãe para segurar seu antebraço. – Ele esteve aqui!?

Hisako piscou, depois voltou a encarar a filha como se a notasse pela primeira vez. Demorou alguns segundos para compreender a pergunta da filha.

— Ah, sim! Pelo que ele disse, e depois foi confirmado por um dos enfermeiros, ele veio na ambulância com você. Ficou com você até que eu chegasse. – Hisako soltou um suspiro, parecendo finalmente soar mais calma. – Que pena! Queria tê-lo conhecido em circunstâncias mais agradáveis! Estava ansiosa para conhece-lo...

Mika sentiu as bochechas doendo. Fez uma careta emburrada para a mãe, mas ela não prestava mais atenção na filha. Tentava recuperar a lembrança do rosto de Mitsui de suas lembranças turvas pelo nervosismo. Quando finalmente conseguiu clareá-las, sorriu e disse:

— Eu o agradeci por cuidar de você.  Além disso... Eeeeh... Agora que paro para pensar, ele até que é bem bonito, Mika!

Nessa última frase, a garota quase conseguiu visualizar as florzinhas saltando ao redor da silhueta da mãe enquanto ela sorria daquele jeito todo sonhador e alegre. Ela tinha as mãos unidas pousadas num dos lados do rosto, e virava levemente o tronco de um lado para o outro.

— Sim, você não tinha me contado que ele era bonito, Mika!

— Mããããeee! – protestou Mika sentindo o rosto esquentar. – Esse não é o ponto aqui!

Hisako tornou a olhar para a filha com um ponto de interrogação em seu rosto, mas o olhar melancólico de Mika a fez cair em si. Seu sorriso desapareceu e seus ombros caíram.

— Aquelas garotas vieram atrás de mim porque acharam que eu estava obrigando o Mitsui-kun a sair comigo. Isso significa que todos acham que uma pessoa como eu não deveria ficar com o Mitsui... – o raciocínio de Mika vagou, e aleatoriamente o rosto de seu pai surgiu em sua mente, fazendo-a puxar o ar com força. A garota voltou a agarrar o braço da mãe, mas dessa vez com força.

— O que nós vamos dizer pro papai!? Ele vai voltar amanhã ou na segunda, e até lá ainda vou estar com bandagens e até saia daqui de muletas! Eu não quero que meu pai saiba do Mitsui-kun desse jeito! Ele vai pensar que eu apanhei por causa dele. E não foi! Eu apanhei por causa da minha reputação...!

Hisako olhou com tristeza e medo para a filha. Sabia que a preocupação de Mika tinha fundamento, pois ela tinha certeza que se Nobuki soubesse da verdadeira história por trás da agressão de Mika, jamais deixaria Mitsui chegar a três metros da filha. Ele com certeza já iria abrir um processo contra a escola, o que poderia ser contornado por Hisako. Criar mais alarde que isso envolvendo Mitsui estragaria toda a felicidade que surgira na vida de Mika nos últimos três meses. De um jeito ou de outro, haveria reunião com os pais dos envolvidos, então Hisako precisava mexer alguns pauzinhos para que a diretora da escola nem ninguém desse com a língua nos dentes na frente de Nobuki... Ou talvez arranjar um modo de suspendê-lo da reunião por comportamento exaltado... Quem sabe... Talvez fosse melhor ela ter a questão como resolvida antes que Nobuki chegasse...

— Mika, - disse Hisako assumindo um tom sério depois de raciocinar. – Eu tenho algumas ideias de como deixar seu pai fora disso, mas para isso vou precisar falar com a diretora da sua escola. Como hoje é sábado, há uma chance de ela estar na escola. Tudo bem por você ficar com um enfermeiro por algumas horas?

Hisako não queria deixar a filha sozinha de jeito nenhum, mas aquela questão era séria e precisava ser resolvida rápido. Mika assentiu sem pestanejar. Nesse instante, alguém bateu na porta.

— Pode entrar. – disse Mika, curiosa.

Uma enfermeira entrou pedindo licença e fez uma leve reverência.

— Miyamoto-san, um garoto chamado Mitsui Hisashi gostaria de lhe fazer uma visita. Posso deixa-lo entrar?

O coração de Mika disparou dentro do peito. Mesmo que vagas, as lembranças do que Mitsui fizera por ela haviam voltado gradativamente desde que acordara. Lembrava-se da sua voz enfurecida, e de como ele a segurara em seu colo. Lembrava-se da voz dele chamando-a incontáveis vezes de forma desesperada... E também se lembrava de que, nos poucos flashes de visão que tivera antes de desmaiar, Mitsui estava com ela. No chão do banheiro, enquanto era levada numa maca, enquanto ela era colocada na ambulância... Sim, depois do que sua mãe dissera, tudo agora voltava. Será que ela... merecia tudo aquilo? Será que seria seguro para Mitsui continuar ao lado dela?

Com a mente nublada por esses pensamentos, Mika só conseguiu balançar a cabeça. A enfermeira a olhou, confusa, e Hisako arregalou os olhos. Devagar, Mika tentou pensar rápido numa desculpa:

— Diga para ele que estou dormindo, por favor.

Com um ar ainda confuso, a enfermeira se retirou com uma leve reverência. Quando a porta se fechou, Hisako exclamou:

— Mas o que foi isso, Mika!? Você não quer ver o Mitsui-kun depois de tudo o que ele fez por você?

O rosto da garota doeu ainda mais de vergonha.

—Não é bem isso, mãe... – ela apertou os lábios e fechou os dedos ao redor do lençol puxando-o um pouco. – É uma questão complicada pra mim. Prefiro te explicar quando você voltar da escola. Até lá penso em um jeito de te contar que faça mais sentido.

Hisako entortou as sobrancelhas e analisou o rosto da filha. Depois, soltou um suspiro e acariciou o topo de sua cabeça.

— Tudo bem então, Mika. – disse Hisako se levantando. – Mas a senhorita me deve essa explicação. Eu vou até a escola. Vou tentar voltar o mais rápido possível.

Ela beijou Mika no mesmo lugar que acariciara e saiu apressada do quarto, mas sem perder a postura nem a graça dos movimentos que fora educada a ter. Mika recostou-se na cama quando a mãe saiu e encarou o teto. Sua mente ainda confusa começou a trabalhar para clarear as ideias e montar uma forma de se expressar bem para a mãe. Seus sentimentos estavam misturados e muito amorfos, sendo não mais ainda do que sensações. Jamais sentira nada disso, e colocar coisas novas em palavras era particularmente difícil para Mika. Ela fechou os olhos e deixou sua mente vagar pelas lembranças que tinha acumulado naqueles três meses com Mitsui.

“Eu não quero perder nada disso, mas... As coisas podem piorar pro lado do Mitsui-kun...”

Houve uma batida na porta. Mika abriu os olhos, sobressaltada, mas ao lembrar-se de onde estava, sentou-se e olhou para a porta. Tinha ressonado enquanto pensava, mas não tinha a menor ideia de quanto tempo tinha se passado.

— Pode entrar. – disse baixinho num tom curioso. A mesma enfermeira de antes entrou.

—Com licença, Miyamoto-san. Uma garota chamada Sasaki Noriko quer vir vê-la. Posso deixa-la entrar?

Mika entortou as sobrancelhas para a enfermeira e coçou o queixo com o indicador. Não conhecia ninguém com aquele nome, nem sequer imaginava como aquela desconhecida sabia que ela estava hospitalizada. Seria alguma amiga de sua mãe? Mais por curiosidade do que por qualquer outra coisa, Mika assentiu. A enfermeira pediu licença e saiu, voltando menos de um minuto depois acompanhada de uma garota de cabelos escuros que iam até os ombros. A franja era repartida de lado e as pontas eram todas niveladas. Ela trazia nos braços um enorme buquê de flores roxas que Mika nunca vira na vida. Elas formavam cachos de onde saiam flores pequenas com seis pétalas curvas. A enfermeira fez uma reverência e saiu, fechando a porta. Mika fixou o rosto da menina, que estava parcialmente encoberto pelo buquê. Quando ela o baixou para dizer alguma coisa, uma pontada de reconhecimento clareou a mente de Mika. Já tinha visto aquela garota na escola, e a lembrança era recente. Foram necessários mais alguns segundos para que a reconhecesse por completo.

— Você... Você era uma daquelas garotas que me encurralaram no banheiro. – disse num tom confuso. Depois, sentiu raiva. – O que está fazendo aqui? Veio me ameaçar?

Noriko balançou efusivamente a cabeça, os olhos escuros ainda baixos fitando as flores, incapazes de encarar Mika. Sabia que seria vergonhoso demais encará-la depois do que aconteceu, mas precisava fazer aquilo. Num surto de coragem, deu um passo para frente e estendeu o buquê num gesto exagerado, curvando-se para frente e baixando a cabeça.

— Eu vim aqui para pedir desculpas! Eu sei que o que fizemos com você é imperdoável, mas desde o começo eu senti que havia algo errado. Por isso não tive coragem de encostar em você lá no banheiro... Mas ainda assim, eu continuo sendo culpada. Devia ter parado a Yumi e as outras antes que tudo virasse aquele pesadelo. Por favor, pelo menos aceite esse buquê!

Noriko apertou os olhos com os braços ainda estendidos e o tronco todo curvado. Alguns longos segundos tensos se passaram, até que ela sentiu o peso do buquê desaparecer de suas mãos. Ela se endireitou lentamente e enfim, olhou diretamente para Mika. A garota analisava o buquê, cheirando as flores e sentindo a textura das pétalas. De forma gradual, seus olhos passaram do buquê para o rosto de Noriko.

— Me lembrei bem agora que você falou. Foi você que gritou antes que o Mitsui entrasse no banheiro. Você gritou bem na hora que achei que aquela menina fosse pisar na minha mão...

Noriko baixou os olhos e segurou o braço esquerdo com o direito, esfregando-o.

— Eu não aguentei mais ver aquilo e pulei em cima dela. Foi só naquele momento que eu pareci acordar, sabe? Eu estava muito assustada com tudo. Não imaginava que a Yumi-chan fosse chegar tão longe... Foi por reflexo. Eu não pensei. Mas isso não diminui minha culpa.

Ela arriscou uma olhadela para Mika, e o que viu a fez erguer as sobrancelhas. A raiva do rosto de Mika tinha se esvaído e fora substituída por algo que lembrava alívio. Ela olhava para sua mão direita, que tinha alguns esparadrapos, testando a flexão dos dedos. Depois, ela ergueu o rosto e sorriu, um sorriso que Noriko jamais tinha a visto dar na escola.

— Agora eu entendi o que aconteceu! – ela ergueu a mão e mostrou-a para Noriko, a palma virada para fora. – Obrigada, Sasaki-san. Graças a você, vou poder continuar jogando basquete com o Mitsui-kun!  

Noriko encarou Mika, em choque. Naquele instante, uma parte do discurso que Mitsui cuspira para elas no banheiro voltou a soar em sua cabeça:

“Já pararam para conversar por cinco minutos com ela? Já perguntaram algo para ela? Pelo menos já deram bom dia para ela? Se tivessem feito qualquer uma dessas coisas pelo menos uma vez, iam perceber logo de cara que a Mika é a última pessoa que merece ser chamada de demônio!”

A garota baixou a cabeça e sentiu nojo de si mesma. Até que ponto os boatos podiam se tornar tão errados? Até que ponto aquelas mentiras poderiam estragar a imagem e a vida de uma pessoa? E até que ponto todos eram levados a alimentar aquilo para simplesmente não se tornarem vítimas? Ela sabia que Mika já entrara em diversas brigas, mas do que via agora naquela atitude tão tranquila, só podia imaginar que entrara por não ter escolha. O apelido de mau gosto que Mika recebera nunca lhe parecera tão inadequado. 

— Não me agradeça, Miyamoto-san. Eu que deveria agradecer por ter sido compreensiva... – “eu sou a última pessoa que merece um agradecimento”, acrescentou Noriko mentalmente. Ela fez uma profunda reverência e continuou:

— Desculpe por ter te incomodado no sábado de manhã, principalmente você estando no hospital. Mas eu precisava vir. Agora vou te deixar descansar Miyamoto-san. Espero que melhore logo. Cuide-se bem.

Mika piscou diante da despedida da colega. Ajeitou-se na cama e assentiu.

— Tudo bem. Você não incomodou, Sasaki-san. Muito obrigada por ter vindo, e pelas flores também. – Mika ensaiou uma leve reverência desajeitada por estar sentada e com dores. – Volte com cuidado.

Noriko foi até a porta e abriu, mas antes de fechá-la novamente, acrescentou:

— Até segunda, no colégio! – e acenou, fechando a porta em seguida.

— Até... – respondeu Mika baixinho, já sozinha no quarto. Ficou olhando para a porta, a mão erguida pelo reflexo de acenar de volta, mas fora muito lenta.

“Ela disse... Até segunda. Será que...”, Mika digeriu a ideia por alguns instantes e depois arregalou os olhos. “A Sasaki-san vai falar comigo no colégio!?”

Nesse instante a porta se abriu, e sua mãe entrou com um olhar curioso e um pouco confuso.

— Quem era aquela garota, Mika? Ela saiu daqui, não foi? – perguntou sua mãe ainda olhando para a porta que acabara de fechar. Assim que terminou a segunda pergunta, virou-se para encarar a filha.

— Ah... – Mika hesitou em explicar. Se entrasse no assunto, teria que retomar o espancamento que sofrera, o que era a última coisa que ela queria naquele momento. – Não é nada não, mãe.

Hisako entortou as sobrancelhas.

— Você não anda querendo explicar muita coisa... – sua voz foi morrendo a medida que ela reparou no buquê que estava no colo da filha. Ela o analisou por um momento, aproximando-se com passos longos. Segurou o buquê com delicadeza e o cheirou. – Foi aquela menina que trouxe?

Mika acenou com a cabeça positivamente.

— Precisamos colocar num vaso. Estão muito bonitos. – Hisako o colocou numa mesinha de canto com cuidado e sentou-se do lado da cama de Mika. – Aquela era... uma das garotas envolvidas na confusão?

Mika arregalou os olhos para a mãe.

— C-Como você sabe?

Hisako sorriu de leve, apreciando o quão fácil a filha se entregava.

— Porque eu imaginei que elas eram as únicas pessoas que te devem um pedido de desculpas no momento. – Mika tornou a ficar perplexa com a adivinhação da mãe que, ainda sorrindo, acariciou as flores. – Seja quem for, está mesmo arrependida ou sabe muito bem bajular alguém.

— Como assim?

— Essas flores são jacintos, Mika. E jacintos roxos significam “perdoe-me”.

A garota tornou a erguer as sobrancelhas e fitou longamente o buquê de flores.

— Acho que se ela se deu o trabalho de vir aqui... – disse Mika com os olhos desfocados enquanto visualizava a imagem cabisbaixa de Noriko entrando no quarto – Com esses jacintos roxos... Acho que ela não devia estar mentindo, mãe.

Hisako suspirou.

— Pelo menos isso...

*

— Eu conversei com a diretora, e ela me disse que irá cuidar de tudo. Independente do que aconteça, eles estão cientes que vão possivelmente encarar seu pai. Mas combinamos de tentar de tudo para não envolvê-lo muito. Vou até fazer uma oração essa noite para que ele chegue na segunda, e não amanhã. Se ele chegar depois de amanhã, tudo estará resolvido até a hora do almoço. Só precisaremos acalmá-lo.

Mika assentiu e suspirou. Infelizmente, não tinha muito o que fazer. Era fim de semana, e era impossível fazer a reunião para resolver o problema num sábado ou num domingo. Iria rezar para que o mansidão de sua mãe fizesse um milagre mais uma vez.

— Agora... Nós temos uma questão importante para tratar, mocinha. – disse Hisako fazendo cara de desconfiada para Mika. – Pode tratar de me explicar porque enxotou o Mitsui-kun daqui hoje mais cedo.

A garota se encolheu na cama e fez um biquinho.

— Não fala assim, mãe... Eu não enxotei.

Sua mãe suavizou a expressão, mas falou com franqueza:

— Mas foi feio, Mika. Ele estava preocupado. E além de ter sido a pessoa que te socorreu, ele é seu amigo.

“Amigo”, a palavra fez eco na mente e no coração de Mika.

— Então... É mais ou menos sobre isso que eu vou falar. – a garota começou a torcer a ponta do seu cobertor. – Eu já venho pensando nisso há um tempo, e minhas suspeitas meio que se confirmaram depois... do que aconteceu.

Hisako ajeitou-se no banco, cruzou os pulsos sobre o joelho e fixou o olhar em sua filha, absorta.

— Você sabe, mãe... Que eu não tenho uma reputação muito boa lá na escola. Eu já te expliquei porque isso acontece, então não vou entrar nesses detalhes. Mas o fato é que todos tem medo de mim e não se aproximam. – a expressão de Hisako ficou pesarosa. – O Mitsui-kun foi o único que fez isso.

De repente, Mika sentiu a garganta e os olhos começarem a pinicar. Ignorou a sensação e continuou.

— Nesses meses que eu fiquei com o Mitsui-kun, eu me senti realmente feliz. Eu não imaginei que poderia fazer com ele o que eu fiz ainda estando na Takeishi. Imaginei... que ia ficar sozinha até o final do ginasial. Mas graças ao Mitsui-kun... Eu não me sinto mais sozinha. E o que ele fez por mim, eu não poderia pagar nem em mil anos...

A voz de Mika começou a falhar, a ardência dos olhos se intensificando e passando a borrar sua visão. O que... O que estava acontecendo?

— Ele... foi a primeira pessoa que me convidou a se aproximar. Ele... me chamou pra aprender basquete e pra tomar raspadinha, como você faz de vez em quando, mãe. Eu nunca pensei... que ia tomar raspadinha com alguém além de você e o papai. E ele disse... Disse que não é qualquer um, que ele é... Meu amigo...

Nesse momento, as lágrimas já escorriam livremente pelo rosto de Mika. Hisako ergueu o corpo e prendeu a respiração tentando conter as lágrimas. Precisava escutar a filha até o final sem fraquejar.

— Só que... Como eu sou quem sou, a minha reputação tá começando a afetar o Mitsui-kun. A maioria dos amigos dele o evitam quando ele tá comigo. E já ouvi várias vezes, depois do treino, eles o advertindo pra se afastar de mim... Que eu ia acabar ferrando a vida dele ou algo do tipo. E aí agora... Ele me socorreu na frente da escola inteira, e eu tenho muito medo que isso faça com que o Mitsui-kun passe a ter uma má reputação por minha causa. Eu não quero prejudicar a única pessoa que foi boa comigo!...

Mika parou um pouco para tomar fôlego, soluçando e chorando ininterruptamente. Limpou os olhos de forma desajeitada com as mãos cheias de esparadrapos e continuou com a voz trêmula:

— A única solução pra isso... seria eu me afastar dele... Mas...

Ela tornou a soluçar com força, puxando o ar. Sem se importar em soar clara, ela tropeçou nas próprias lágrimas para colocar o resto para fora:

Eu não quero! Eu não quero me afastar do Mitsui-kun! Ele é meu melhor amigo! Ele é... muito especial pra mim...

E depois de terminar a frase, Mika chorou alto, sem se importar se alguém a ouviria no corredor. Hisako sentou-se na cama ao lado da filha e a puxou para um abraço. Mika agarrou-se ao kimono da mãe e enfiou a cara no tecido, permitindo-se colocar toda a tristeza, a dúvida e o medo para fora. Até aquele momento, jamais tinha colocado em palavras aquele receio grotesco que tinha em relação à sua amizade com Mitsui. E falar em voz alta tornou-o ainda mais assustador. Estava morta de medo de perder a única luz que aparecera em sua vida. Estava com medo de não enxergar mais onde pisava... Ela precisava de Mitsui. Muito. E só naquele momento percebera o quanto... O quanto ele era especial.

— O que eu faço, mãe? – perguntou Mika entre soluços. – Eu não sei o que fazer!

Hisako permaneceu acariciando as costas da filha, esperando que ela se acalmasse. Algumas lágrimas silenciosas escorreram pelo seu rosto. Partia-lhe o coração ver Mika naquele estado, e principalmente por saber que pessoas mal-intencionadas e mesquinhas eram os culpados daquilo. Se não tivessem escolhido Mika como bode expiatório, ela jamais teria medo de criar laços. Depois de longos minutos, os soluços da garota finalmente diminuíram e, por fim, cessaram. Levantou levemente a cabeça, para pousa-la com mais delicadeza no peito da mãe e tornou a perguntar:

— O que eu faço? Qual é o mais certo a se fazer?

Hisako esfregou os braços de Mika, para depois segurá-los com carinho e afastá-la. A garota piscou e, confusa, encarou a mãe com os olhos vermelhos e inchados.

— Muito bem, vamos lá. – a mulher empurrou a franja de Mika com os dedos e acariciou seu rosto. – Para responder a essa pergunta, primeiro: o Mitsui-kun disse que é seu amigo, não disse?

Mika assentiu franzindo um pouco a testa.

— Então... Você sente que ele é seu amigo de verdade, não é?

A garota tornou a confirmar.

— Então imagine a situação inversa. Imagine que você está no lugar do Mitsui-kun e ele no seu. Você gostaria que o Mitsui-kun se afastasse por causa dessas coisas que você disse?

Mika começou a negar com a cabeça efusivamente antes mesmo de sua mãe terminar a frase.

— Não. Eu não ia querer. – respondeu para reforçar seu gesto. – Mas... Ainda não consigo parar de pensar no que pode acontecer com ele se continuarmos amigos.

Hisako ficou em silêncio, olhando para o teto de um jeito pensativo. Depois, seu rosto se iluminou com uma ideia.

— Você já perguntou sobre isso para o Mitsui-kun? Sabe como ele se sente diante dessa situação?

Mika negou com a cabeça, mas com menos energia e de um jeito acanhado.

— Então por que não pergunta para ele? Vocês não são amigos? É isso que os amigos fazem: eles dividem os problemas e pedem ajuda.

A garota baixou a cabeça e olhou para o cobertor preso entre seus dedos. Sua boca estava franzida num bico torto e pensativo. Sempre fora tão fácil dizer as coisas para o Mitsui. E ele sempre dizia as coisas para ela. Nada mais justo do que fazer o mesmo. Além disso, o problema o envolvia diretamente, então era até lógico pedir a opinião dele. Mika esboçou um sorriso com a solução simples que sua mãe lhe oferecera. Direta e sincera como ela gostava. Sua mente montou o cenário em que ela se encontrava com Mitsui para conversar. Em sua visão, ela se aproximou para começar a falar, mas assim que abriu a boca, sentiu um desconforto no peito. Seu coração acelerava. Batia furioso contra suas costelas. Sua respiração ficou pesada e entrecortada.

O que era aquilo? Por que... Por que estava tão nervosa? Jamais se sentira nervosa perto de Mitsui. Então por que a ideia de conversar sobre aquilo com ele lhe embrulhava o estômago?

Mika engoliu em seco. A resposta estava ali, escondida por trás de seus pensamentos mais superficiais. Pequenina e sorrateira, contaminando todas as suas esperanças.

O medo de perder Mitsui.

E se ele concordasse? Se ele preferisse manter a sua reputação a ficar com ela? E se o que ela dissesse abrisse os olhos para o que a presença dela estava fazendo em sua vida?

Mika apertou mais ainda seu cobertor, tanto q sentiu suas unhas em suas palmas através do tecido. Tentando controlar a respiração e o fio de seus pensamentos, Mika fechou os olhos.

Não.

Ela tinha que confiar em Mitsui.

Tinha confiar no que eles tinham.

Tinha que confiar... no seu melhor amigo.

A garota ergueu os olhos e fitou a mãe, que a observava com pesar e expectativa. Curvando-se pra frente, ela tornou a abraçá-la, recostando a cabeça em seu peito.

— Obrigada, mãe. Muito obrigada mesmo. Eu vou fazer isso. Vou conversar... com o Mitsui-kun.


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Notas finais do capítulo

O que acharam!? Ansiosos para o derradeiro encontro de Mika e Mitsui depois da confusão? PREPARADOS PARA MORRER DE FLUFFY?? ♥ Espero que tenham gostado do capítulo e se emocionado como me emocionei. Escrever essa fanfic é uma fuga maravilhosa, como a daph-chin sabiamente me ensinou e me relaxa horrores! Obrigada à todos que apreciam esse meu trabalho com carinho! Obrigada do fundo do coração *u* Beijos da Nana-chan!



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