“Isso é doentio”. Era o que eu não parava de repetir em pensamento enquanto soluçava chorando deitada em minha cama.

Não era a primeira vez. Ah, não. Isso era recorrente e cada vez se tornava pior. Cada vez machucava mais, destruía mais e magoava. Ah, se magoava. Mas eu o necessitava. Era doentio o que sentia. A necessidade, o desespero, a angústia ao nos afastar após uma discussão como aquela.

E sempre era a mesma história. Meus amigos. Seus amigos. Sempre os de fora pareciam viver dentro do nosso relacionamento. Afinal as brigas nunca eram sobre nós, nunca começavam assim.

Dessa vez tudo começou por causa de um casal e mais uma vez você descontava sua raiva e frustração em mim. E mais uma vez eu não aceitava. Então você disse o que nunca devia ter dito, o que nunca devia ter passado por sua cabeça. A desconfiança. Terrível desconfiança. Era mesmo só um amigo? Até onde sabia ele estava interessado em mim antes da namorada. O que fazíamos quando estávamos os três juntos? Eram só os três mesmo? E agora que morariam todos juntos? Duas mulheres e um homem?

Mas você não deveria desconfiar. Se durante esses dois anos a única coisa que fiz foi mostrar o quanto o amo. Foi me empenhar em ser boa, em ser a namorada perfeita, em te fazer feliz. Mas não está sendo suficiente, não? Já não é mais suficiente.

E essa desconfiança doeu em mim. Como doeu. Se você soubesse a capacidade que tem de me ferir, nunca diria algo assim. Nem ao menos cogitaria tal hipótese. Se ao menos notasse o quanto magoou, o quanto machucou, talvez tivesse dado uma pausa na raiva e revisto o que disse. Mas você não fez e agora não consigo cogitar olhar pra você ou sequer ouvir sua voz.

Só me deixe em paz e saia da minha vida. Só isso que desejo. Deixe-me acabar em lágrimas. No desespero de ver que isso nunca dará certo. Fomos precipitados demais, apaixonados demais. Idealizamos um ao outro e, bem, não está sendo o que imaginamos.

As palavras saem na hora da raiva e mesmo após cada reconciliação aquilo ainda fica guardado. Você não sabe pedir perdão, mas ainda assim aceito e passo por cima quando volta normalmente a falar comigo, quando me sorri e afaga meu rosto. Nessas horas o amor é maior e eu apenas quero que sempre seja assim. Esse carinho, esse olhar em seu rosto, esse amor. Apenas isso.

Mas talvez não tenhamos sido feitos para amar um ao outro. Dizem que os opostos se atraem, mas acho que nossos polos não funcionam bem sim. Estamos sempre afastando um ao outro, sempre forçando, sempre empurrando. Quem sabe o melhor não seja enfim desistir?

— Rose? – ouvir sua voz é ao mesmo tempo amor e rancor. Dói mais uma vez – Rose me ouça, por favor. Olhe pra mim.

Procurei engolir o choro e limpar as lágrimas antes de me virar. Você também estava chorando e isso me assustou, eu nunca o vi chorar. Me levantei da cama e você deu três passos antes de me enlaçar em seus braços e me abraçar com todas as forças.

— Me desculpe, Rosie. Me perdoa. Eu nunca deveria ter dito aquilo, nunca deveria ter desconfiado de você – só ouvi seu sussurro desesperado e chorei mais uma vez – Eu enlouqueci na hora da raiva. Foi um ciúmes idiota, mas não consigo imaginar você longe dos meus olhos com outras pessoas que podem tentar voltá-la contra mim.

— Isso está errado, Scorp. Tudo está errado. É sempre assim, sempre. Eu não aguento mais – me soltei de seus braços e voltei-me de costas – Por favor, vá embora. Não podemos continuar assim. Não desse jeito.

Ouvi seu arquejo assustado e o senti me virar. Seus olhos pareciam grandes lagos nublados, agora avermelhados devido as lágrimas. Me apertava os braços com desespero como se eu fosse desaparecer caso me soltasse.

— Você não entende, Rosie. Não há ninguém que eu ame como você. Eu me sinto inseguro, perdido nesse turbilhão de sentimentos. Eu só quero estar com você, só com você. Me perdoe por tudo que já fiz, por hoje e por tudo que ainda irei fazer. Eu estou aprendendo ainda e sei que irei errar muitas vezes. Apesar de tudo isso, eu a amo e a ideia de te perder é insuportável. Prefiro aceitar que faça o que quiser, desde que não me deixe – seus olhos suplicavam de uma forma que nunca vi.

Chorando eu o abracei e você me esmagou em seus braços. Eu sabia que você não era perfeito. Sabia que isso poderia voltar a acontecer amanhã, daqui dois meses ou em alguns anos, mas como você mesmo havia me dito, eu só queria estar com você e a ideia de te perder era insuportável, não há quem eu ame mais do que você.

— Nunca mais faça isso ou eu prometo matá-lo com um Avada – murmurei o apertando mais forte.

— Nunca, amor. Nunca mais. Eu te amo.

— Eu também te amo – disse antes de beijá-lo.

Eu posso ter agido errado em perdoar, em aceitar. Mas quando você ama dessa forma, pode ser doentio, pode ser difícil e muitos não poderão entender, mas quem disse que o amor pode ser explicado? Bom, eu certamente posso dizer que não há explicação.