Melinyel escrita por Ilisse


Capítulo 10
Capítulo 09




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Elora sabia que ele não viria despedir-se, mas não pode evitar a pontada de decepção que surgiu em seu peito. Imaginara que se não fosse pela boa relação que ela pensava ter construído, que fosse pelo menos para ele ter certeza que ela foi-se para sempre. Podia imaginá-lo agradecendo aos céus por Elrond ter chegado antes do previsto. 

Ela bufou, amarrando sua blusa com força. Achava que estavam em bons termos, mas pelo visto o grande rei élfico ainda nutria um certa relutância por ela. As últimas semanas foram agitadas, por assim dizer, mas no fim tudo correu bem. 

Emel chegou logo em seguida, ajudou-a a terminar de se vestir e lhe entregou uma bolsa pequena com água e um lanche para a viagem. De acordo com a elfa chegariam a Lothlórien no final do dia se não houvessem imprevistos, a floresta dourada - como era conhecida pelos homens - ficava mais ao sudoeste de Mirkwood e permanecia imaculada enquanto sua irmã perecia com os venenos e a magia negra que vinham de Dol Guldur.

Despediram-se rapidamente, Elora colocou as bolsas transpassadas e seguiu sozinha pelo corredor. Preferia desta forma, rápido e indolor; não queria ficar esticando os momentos que já a estavam fazendo tanto mal. Ainda ouvia a elfa resmungando no quarto, Emel ainda não conformara-se por não ser autorizada a enviar todas as roupas de sua senhora para Rivendell. Mas Elora tinha certeza que ela colocara algo a mais em sua bolsa. Um pequeno gesto de rebeldia para demonstrar seu descontentamento. 

Ela aproveitou para observar os corredores e salões, agora vazios e silenciosos - a não ser pelo burburinho das quedas d'água, e os detalhes talhados na madeira dos grandes arcos. Queria absorver o máximo, porque quando fechasse os olhos, queria poder imaginar-se ali. Terminou de descer os degraus deslizando os dedos levemente pelo corrimão, um último carinho da madeira polida em sua pele.

Lord Elrond a esperava no hall de entrada sob o arco em mármore branco, no mesmo local em que se despediram dias antes. Ela correu seus olhos por sua armadura, preocupada. Tentava ver algum ferimento ou sinais de batalha, mas ele - e o resto do grupo - estavam tão bem quanto no dia em que se encontraram. Não parecia que haviam passado as semanas anteriores viajando e acampando sob as estrelas. 

Elora sorriu para ele e caminhou ao seu encontro.

— Êl síla ned lû e-govaded vín.- Elrond a segurou pelos ombros e a puxou para um abraço rápido. Ela sentiu-se envolver pelo seu cheiro refrescante de hortelã. 

— Espero que isso signifique que sentiu saudades. - Elora disse rindo enquanto Elrond afastava-se. 

— Significa 'Uma estrela brilha na hora de nosso encontro'. 

— Também é aceitável.

— Vejo que está muito bem. Sua estadia foi satisfatória? - Ele perguntou baixo. 

— Sim, muito. - Elora não diria mais. Detalhes tendem a atrair perguntas, e ela queria que suas lembranças permanecessem só com ela.  Como um segredo.

Ela desviou o olhar para o grupo de elfos que estavam alguns metros atrás, ainda montados nos cavalos. Estavam tão serenos que ela por um momento duvidou que a missão tenha sido assim tão perigosa quanto lhe fizeram acreditar.

Tauriel apareceu puxando Randír e outro cavalo pelas rédeas. Randír veio para Elora e lhe cutucou com a cabeça.

— Olá amigo. - Ela o acariciou. - Está pronto para a viagem? - Randír relinchou feliz. Saíra apenas quando Elora teve a péssima ideia de fugir, nos outros dias apenas os elfos o levavam para uma pequena caminhada.

— Obrigado, Tauriel. - Elrond disse cumprimentando a elfa. - Por ter cuidado tão bem dela. 

— Foi um prazer. - Tauriel montou em seu cavalo caramelo. - Vou acompanhá-los até o fim da floresta. 

Elrond apenas assentiu e partiu para sua montaria. 

Ele seguiu à frente do grupo, Tauriel e Elora permaneceram na retaguarda. A menina manteve-se firme e não olhou para trás quando saíram dos limites do reino élfico. A floresta tornou-se mais escura a sua volta, lembrava-se do caminho. Foi o mesmo que pegara a início quando fugira dos salões, antes de perder-se. 

Os murmúrios sonolentos a sua volta fizeram com que ela recordasse das aranhas e suas presas enormes. Apertou as mãos nas rédeas até que os nós dos dedos doessem, forçou a imagem sinistra para fora de sua mente e pode perceber que Randír também caminhava cauteloso. Ela estendeu a mão e o acariciou no pescoço mostrando que tudo estava bem. 

Quando alcançaram os limites da floresta Elora olhou para Tauriel, despedindo-se em silêncio. Não eram necessárias palavras, as duas sabiam que se veriam novamente em breve e Tauriel tinha uma imagem implacável demais para arriscar chorar na frente do grupo inteiro. A elfa deu um meio sorriso quando Elora olhou-a uma última vez antes de entrar no clarão da campina à sua frente. 

A luz do sol a cegou momentaneamente. Havia acostumado-se com a escuridão sempre presente da floresta. Elora fechou os olhos e deixou a luz do sol esquentar sua pele, era como tomar um suco energizante. Sentia-se mais desperta. Elrond veio para seu lado, mas permaneceu em silêncio. Ele ainda respeitava sua vontade de permanecer calada. Mas Elora agora queria conversar, saber mais sobre o que a esperava depois do morro que surgira no horizonte.  

— Como foi sua viagem? Pelo visto não encontraram muitos perigos pelo caminho. - Ela disse. 

— Chegamos tarde demais. O grupo já havia partido sem rastros. - Ele deu de ombros. - Os pegaremos em uma próxima oportunidade.

— Sinto muito. Se não tivéssemos nos encontrado teriam chegado a tempo. 

— Prefiro muito mais voltar para casa com uma sobrinha do que com um punhado de cabeças de Orcs.

Ficaram alguns momentos em silêncio. Elora ajeitou-se na cela, desconfortável. Teria que tocar no assunto de alguma maneira então que fosse rapidamente, como retirar um curativo.  

— Você se encontrou com o rei quando chegou? - Ela perguntou sem rodeios.

— Sim. Fui agradecê-lo novamente pelo favor. - Elrond continuou fitando o horizonte a sua frente. 

— O que ele disse? - Elora sentia as mãos suadas. 

— Thranduil não é de muitas palavras. O que exatamente quer saber? - Elrond a encarou desconfiado. 

— Nada em particular. - ela deu de ombros. Tentando parecer o mais desinteressada que podia. - Apenas achei que ele tivesse saído, os salões estavam tão silenciosos. 

— Ele não é muito de sair. E quando o faz, fica apenas poucas noites.

Elora imaginou se algum dia ele iria à Rivendell. Seria interessante vê-lo longe de seu espaço natural. 

— Você chegou a conhecê-lo? - Elrond perguntou um pouco intrigado. Elora via um brilho no olhar do tio, mas não sabia se era curiosidade ou temerosidade. 

— Um pouco, sim. - Ela manteve o rosto impassível. Aprendera com Thranduil. - Foi como você disse que seria.

Elrond franziu a testa mas não comentou mais sobre o assunto. 

A lua já brilhava alta no céu quando chegaram à Lothlórien. A floresta dourada exalava um brilho próprio. As árvores eram altas e possuíam plataformas em suas copas, com escadas espiralando ao redor de seus troncos até o chão. Algumas entreligavam-se por pontes de madeira suspensas e caminhos de pedra polida em cima de galhos tão grossos quanto a própria árvore. Tudo era muito aberto e arejado; cortinas esvoaçantes balançavam para fora das janelas conforme a brisa morna avançava.

Foram recebidos por uma elfa de cabelos negros com os olhos azuis amorosos. Elrond caminhou em sua direção, enquanto a elfa abria os braços. Os dois se abraçaram sorrindo contentes. Devia ser Arwen, o tio já havia lhe falado de sua filha. Elora desmontou, mas permaneceu próxima a Randír. Não queria atrapalhar o reencontro dos dois. 

Elrond olhou para trás, chamando Elora com um aceno de mão. Arwen lhe deu um sorriso caloroso e lhe cumprimentou em Sindarin. 

— Sinto muito, não compreendo Sindarin. - Elora cumprimentou-a, evitando fazer uma careta. Não saber essa linguagem já a estava chateando. Elrond afastou-se, dando privacidade às duas. 

— Disse que é uma honra conhece-la. - Arwen disse sem perder o sorriso. 

— Digo o mesmo. 

— Bem-vinda a Caras Galadhon, a Cidade das Árvores. Venha, ficará no meu quarto. Pedi que ficássemos juntas, espero que não se incomode. - Ela apontou a direção com a cabeça. Elora seguiu-a. 

— Não me incomodo. 

— Ada (papai) me escreveu sobre o que aconteceu com sua mãe. Sinto muito. - Ela disse com os olhos tristes. Subiam os degraus lentamente. - Só quero dizer que compreendo... se quiser conversar. 

Elora assentiu e seguiu-a em silêncio. Elrond e os outros foram se ajustar antes de encontrarem-se com os senhores de Lothlórien. 

O quarto de Arwen era amplo, uma cama extra havia sido colocada em um canto para Elora. Era simples e aconchegante, mas sofisticado ao mesmo tempo. Elora olhou novamente para Arwen que sentava-se elegantemente em sua cama. O lugar era a personificação dela. Elora sorriu, seriam amigas. 

Após banhar-se, Elora sentia-se cansada. Queria apenas dormir e desligar o mundo a sua volta. Pensava no que estaria acontecendo em Mirkwood naquele momento. Arwen ainda estava sentada na cama com um livro nas mãos quando voltou. Usava um vestido emprestado da elfa, ficou um pouco largo nos ombros mas lhe caía bem. 

— Obrigado pelo vestido. - Elora disse sentando-se na cama que dormiria. Era acolchoada, firme. - Voltará para Rivendell conosco?

— Ainda não. - Ela negou com a cabeça. - Ainda tenho alguns anos restantes aqui. 

— Está presa aqui? - Elora ficou confusa. Ela não podia voltar pra casa?

— Não, não é uma obrigação. - Ela apressou-se em dizer. - Mas sinto que ainda devo permanecer por aqui. 

— Sexto sentido élfico? - Elora ergueu uma sobrancelha. 

— Algo do tipo. 

Elora suspirou, seria bom já ter um rosto conhecido. Elrond certamente não poderia ficar por perto o tempo todo. Ele pode não se denominar rei como Thranduil, mas tem tantas tarefas e responsabilidades quanto. 

Conversam sobre Rivendell. Arwen falava saudosa dos vales cheios de música e das reuniões noturnas. Ela era uma mistura da coragem de Tauriel e meiguice de Emel. Elora identificou-se com ela e acabou lhe confidenciando que estava com medo de conhecer o mago. 

— Sinto que a verdadeira largada será dada quando eu o conhecer. - Elora disse. - Meu futuro incerto com promessas de guerra contra criaturas muito mais mortais que eu, e feitas de pura escuridão, estará logo ali na frente. 

— Já é tudo real. - Arwen a encarou. - A única diferença é que você estará preparada para revidar quando souber melhor do que é capaz. Galadriel a ajudará a compreender seu papel. E Ada e Gandalf a aconselharão. Se sairá bem. 

 

.o0o.

 

Subiram juntas a uma sala no topo de um grande carvalho. 

A sala circular possuía janelas de vitrais desenhados, ilustrando a chegada dos elfos nestas terras; uma grande mesa oval de pedra ficava bem no centro do cômodo. Elrond as chamou e apresentou formalmente Elora à Celeborn e Galadriel, a qual possuía uma aura dourada à sua volta. Não havia mais ninguém na sala, o mago ainda não havia chegado. 

Todos sentaram-se e Elrond contou os últimos acontecimentos aos senhores de Lothlórien, ocasionalmente perguntavam à Elora detalhes sobre sua vida ou algum momento específico. Em seguida Celeborn pediu que ela narrasse o ataque dos espectros. Elora sentiu a garganta fechar, mas contou tudo nos detalhes que conseguiu se lembrar. No fim não havia muito a ser aproveitado, Berenna havia escondido bem qualquer detalhe que pudesse fazer com que Elora se tornasse um alvo também. 

— Alguma das sombras lhe tocou? - Celeborn continuou. - Viu ou sentiu algo estranho nas últimas semanas?

— Não, meu senhor. - Ela negou com a cabeça.  

Havia apenas o sonho, mas o tivera apenas duas vezes e certamente espectros não se manifestariam desta forma. Após alguns minutos seguiram por uma ponte suspensa a outra sala. Havia muitos elfos presentes, todos comiam felizes embalados por uma melodia alegre. 

Elora agradeceu mentalmente por terem parado com as perguntas, focou sua energia em conversar com Arwen. Elrond e os senhores de Lothlórien estavam em sua própria conversa em sindarin, com as testas franzidas. 

 

.o0o.

 

Acordou com um raio de sol brilhando em seus olhos. Porque ali tinha que ser tão brilhante? Ainda era cedo demais para todo aquele brilho. Levantou-se resmungando baixo para não acordar Arwen. Vestiu um longo robe por cima da camisola e saiu de fininho. 

Desceu as longas escadas e vagou pelo terreno sem um destino certo. Haviam apenas poucos elfos no alto das árvores, montando guarda. Desceu mais degraus e chegou a uma fonte quase da sua altura, sentou-se na beirada e fitou os peixes dançando na água. Estaria arrumando-se para o treino se estivesse em Mirkwood.

— É normal sentir saudades. Não sinta vergonha disso. 

Elora virou-se. Galadriel lhe sorria, parada a alguns passos de distância. Questionou lhe perguntar como a elfa sabia o que estava passando em sua mente, mas no fim achou que era tolice. Galadriel era a mais poderosa entre os elfos da terra-média durante aquela era, ouvira o tio comentar na noite anterior. Se alguém teria o poder de espionar mentes, era ela. 

A elfa sinalizou para que Elora a seguisse e a menina o fez sem questionar. 

Chegaram a um jardim em um vale próximo a Cara Galadhon. Galadriel pegou um jarro vazio e o encheu com a água de uma fonte natural que corria através do vale. Ela esvaziou o conteúdo em uma pia prateada em um pedestal de pedra branca. 

— Aproxime-se. - A elfa comandou e Elora obedeceu, olhando a camada tranquila de água a sua frente. - Este é um espelho especial, pode mostrar coisas que foram, coisas que são... e coisas que ainda não aconteceram. Quer se olhar no espelho? Talvez lhe mostre as respostas que procura. 

Elora inclinou-se um pouco para frente mas parou na metade do caminho. 

— Eu tive um sonho estranho algumas vezes, desde que fui para Mirkwood. - Elora contou. - Não contei ontem porque não achei muito relevante, mas... não consigo parar de pensar sobre isto agora.

— Como era o sonho? - Galadriel a fitava intensamente. 

Elora contou sobre a campina e o passarinho azul, contou tudo o que fizera nas outras vezes que o sonhara. 

— É seu teste. - Galadriel rodeou a pia e parou ao lado de Elora. - O poder foi dado a você, mas deve provar que o merece. Ou nunca o alcançará. 

— Eu nunca o quis. 

— Mas o tem. Deve pensar no que irá fazer com ele no futuro e não lamentar-se pelas escolhas que não pôde fazer no passado. 

— Eu sei... - ela murmurou. 

Galadriel colocou a mão em sua bochecha e olhou fundo em seus olhos. Parecia enxergar a alma de Elora. Após alguns segundos ela afastou-se sorrindo. 

— Está em boas mãos, Elora. 

— Meu patrono? - Ela a olhou confusa.

— Tive a honra de conhecê-la nas terras imortais quando era mais nova. Me ensinou muito. Consegui sentir um pouco da aura dela em você.

Ela. Seu patrono era uma Valier. Elora listou todas as que se lembrava do livro de Emel. 

Olhou para o espelho a sua frente, se ele podia lhe dar respostas. Ela as queria. 

— Ele pode lhe mostrar não o que quer, mas o que precisa. Saiba que pode ver e saber de coisas terríveis, esteja preparada. 

Elora olhou uma última vez para Galadriel assentindo, e inclinou-se sobre a água. Por alguns instantes viu apenas seu rosto refletido e imaginou se o espelho funcionaria com ela. 

A imagem tremeluziu mostrando uma grama verde banhada pelo sol. Elora deitava-se sobre ela com os braços atrás da cabeça, Randír corria feliz a sua volta. Elora reconheceu o lugar, uma colina próxima a Alórien. Viu o rosto de Tauriel lhe sorrindo, assim como Elrond e Arwen. Viu Mirkwood com suas árvores negras, seus galhos e folhas balançando ao vento. Viu um rei, de semblante fechado, sentado em seu trono com um cálice em sua mão. Viu espadas colidirem e sangue espirrando tornando o chão carmesim. Viu o fogo varrer o verde até onde os olhos alcançavam; árvores tornaram-se apenas pedaços de brasas, queimando eternamente. Viu sombras e Wargs atacando aldeias e cidades agora famintas e fracas. Viu uma torre alta e negra com uma montanha cuspindo fogo ao seu lado. Viu o rosto de Tauriel retorcido, sujo de sangue e terra, enquanto lágrimas escorriam pelas suas bochechas; com corpos inertes e mutilados a rodeando. No fim haviam apenas pântanos lamacentos em Mirkwood, enquanto as aranhas saíam de seus ninhos para se alimentarem com os cadáveres. 

Elora afastou o rosto, não percebera que estava chorando. Seus olhos estavam embaçados, suas mãos tremiam e não conseguia respirar direito. Olhou a sua volta mas Galadriel não estava mais lá. Elora deu as costas para a pia, abraçando-se. 

Era um aviso, uma possibilidade. Não queria dizer que realmente fosse acontecer. Ela entendeu o que Galadriel quis dizer, o espelho lhe mostrou o que ela precisa ver para perceber a gravidade do perigo que estava a espreita, perceber que ela era uma parte daquilo e que suas ações poderiam evitar a tragédia ou fazê-la ocorrer mais rapidamente. Não havia mais espaço para dúvidas e questionamentos. 

Ela virou-se para a pia novamente, colocando as mãos em sua borda. Talvez se continuasse olhando e visse o que iria acontecer, ela poderia evitar tudo. Ela inclinou-se meio exitante, o líquido tremeluziu novamente e Elora viu Thranduil. O rosto feroz enquanto atravessava a espada no peito de uma criatura, ele estava estranho... movia-se lentamente e não percebeu a aproximação do Orc às suas costas. Por fim virou-se, mas não a tempo de impedir a lança que vinha em sua direção e atravessou seu coração. Elora cobriu a boca com as mãos em choque, sentiu o estômago revirar sem poder desviar os olhos. O Orc aproximava-se sorridente com um líquido preto escorrendo por sua boca. Ele arrancou a espada da mão de Thranduil e atravessou a lâmina no pescoço do elfo. Sua cabeça rolou e poucos segundos depois o corpo caiu de lado.  

Elora gritou fechando os olhos. Seu peito ardia e parecia que suas entranhas tinham sido mexidas com ferro quente. Não tinha forças para se mexer, então continuou inclinada sobre a pia; suas lágrimas perturbando a tranquilidade do espelho quando caíam. 

— Poucos olhariam duas vezes. Tola ou corajosa? -  Riu. - Curiosa, certamente...

Ela afastou-se em um pulo, seus nervos estavam a flor da pele. Ela viu o velho senhor de chapéu pontiagudo sentado próximo à margem do rio fumando um cachimbo. 

— Você deve ser o mago. - Ela disse com certo desprezo. Estava confusa e seu peito doía, ainda não estava preparada para lidar com o tal mago. Elora só queria deitar novamente em sua cama e repetir, mil vezes se necessário, que o que ela vira não aconteceria de verdade. Que era apenas um aviso, uma possibilidade.  

— Diz isso como se fosse uma acusação. - Ele riu rouco e baforou mais uma vez o cachimbo. - Mas sim; sou Gandalf, o cinzento. 

Ele encarava a água calmo, o que deixou Elora com ainda mais raiva. Quando ela não respondeu ele a olhou pelo canto do olho. 

— Ouvi sobre seu teste. Sua mãe também teve um... Todos sempre tem. - Dizia com o olhar distante. - Se quer um conselho é melhor voltar a dormir e tratar logo de passar nele. O tempo é precioso e já está escorrendo pelos nossos dedos. 

— Não é muito educado ouvir a conversa dos outros. - Elora secou o rosto com a manga do robe. - E você por algum acaso não deveria me dar instruções e conselhos mais específicos?

— Por que? - Ele a olhou confuso.

— É um mentor. Um sábio. Não é para isso que está aqui? - Elora odiava estar na defensiva e tão irritada. Mas o que ela vira mexera com ela de uma forma que não sabia explicar. No momento estava com raiva do mundo. 

— Certamente que não. - Ele disse pensativo. - Bem, talvez... mas cá entre nós, - ele inclinou-se. - não seria muito justo se eu lhe desse o caminho das pedras. 

— Como minha mãe passou? - Ela tentou fazê-lo falar por outro caminho. 

— Ora, ela nunca me disse. - Ele baforou novamente. - Menina irritadiça e cabeça dura... igual a você pelo visto. - ele virou-se para Elora medindo-a de cima a baixo. 

Ele levantou-se, batendo as mãos pela túnica cinzenta que vestia. 

— Bem, já vou indo então. - Ele espreguiçou-se. 

— O que? Vai embora... Assim? 

— Acalme-se e descanse. Conversaremos depois. 

Ele já se afastava quando Elora deu um passo a frente e gritou:

— Espere! - Ela aproximou-se mais. - Como saberei que o que eu vi não será desencadeado por... esses poderes? - ela encarou as mãos. 

— Esta é uma excelente pergunta. - Ele assentiu pensativo e voltou a andar com o cachimbo na boca, sem dizer mais nada.

Mago inútil, Elora pensava no caminho de seu quarto. 

Arwen lhe esperava abaixo de seu quarto com uma espada nas mãos. Elora sorriu, agradecendo a prima. Poderia aliviar-se de toda aquela raiva se pudesse bater em alguma coisa. Nunca fora tão selvagem desta forma, mas estava mudando. Após trocar-se, Elora seguiu-a a um terreno plano e começaram a lutar. Arwen com a espada e Elora com suas adagas. 

O dia passou veloz, Elora não vira Gandalf ou Galadriel novamente. Nem Elrond fora lhe ver. Arwen passou o dia a seu lado, não conseguia esconder a alegria de ter uma nova irmã. Depois de vencer Elora no combate, lhe ensinou algumas frases em sindarin. Era uma excelente professora, calma e tranquila. Nem franzia a testa quando a menina arruinava a pronuncia do dialeto. Elora estava tão cansada que fora para cama sem jantar, não estava com tanta fome assim e não queria encontrar com Gandalf novamente depois de ter se comportado tão mal naquela manhã. O procuraria no dia seguinte e lhe pediria desculpas.

Antes de fechar os olhos ela visualizou o cenário de seu sonho. Resolveria isto nessa noite. 

Sentiu a grama sob os pés antes mesmo de ver o local a sua volta. Sorriu, estava na campina. Ela abriu os olhos e encarou o passarinho azul. Tentara ignorá-lo e pegá-lo a força, mas nada adiantou muito. Ela sentou-se no chão e observou-o, sentindo pela primeira vez sua felicidade em voar e cantar. A personificação da liberdade pura e intocada. Ela queria aquilo também. 

Levantou-se, abrindo os braços e fechando os olhos. Rodopiou com ele no ritmo de sua melodia. Não soube por quanto tempo ficou rindo e dançando com o vento, mas parou quando não ouviu mais a música. Ele batia as asas silenciosamente, parado a sua frente. Era agora, tentaria alcançá-lo novamente. Ela começou a estender a mão mas parou. Deveria esperar o movimento dele, a escolha era dele.

Então ela apenas levantou a mão direita, com a palma esticada virada para cima, e aguardou. Ele a olhava curioso enquanto a sobrevoava. Então pousou em sua mão e dispôs-se a limpar as asas com o bico. Estava confortável e seguro. Ela sentia as pequenas garras arranharem de leve sua mão conforme ele se movimentava. Ela aproximou a mão esquerda e acariciou-o, cuidadosa. O mesmo deu um pio longo e saiu voando para a floresta. Elora sorriu, passara na primeira parte. 

Um arco de pedras encontrava-se às suas costas, o qual certamente não estava ali alguns segundos antes. Elora o atravessou, entrando em um bosque denso. Não via mais a luz brilhante do sol. Andou mais um pouco mas nada acontecia. O que ela deveria fazer ali? 

As árvores saudáveis deram lugar a troncos cinzentos, a lua brilhava forte acima de sua cabeça, mas mesmo assim a luz parecia não chegar até ela. Tudo a sua frente estava um breu. Elora aproximou-se da árvore,  levantou a mão e tocou-a. Quando afastou-se, a marca de seus dedos permaneceu na fuligem. Respirou fundo sentindo um calafrio, tinha medo de que a cena que vira mais cedo fosse se repetir ali. 

Uma lufada de ar frio a atingiu com força, Elora sentia os pelos dos braços eriçarem. Tentava aquecê-los com as mãos mas não adiantava muito, o frio entrava também pelos seus pés descalços. Ela até conseguia ver sua respiração condensando-se no ar. 

Ela chegou a uma bifurcação, ouvia um bando de morcegos zunindo não muito longe dali. Olhou para suas opções: o lado direito era mais claro, certamente uma saída do bosque; no esquerdo a escuridão continuava, embrenhando-se ainda mais na mata fechada. Um som agudo e doloroso chegou aos seus ouvidos, vinha do lado esquerdo. O som continuou, agonizando-a. A decisão que tinha que tomar era clara: escolheria o jeito fácil ou o correto? Poderia muito bem tomar o lado direito e escapar de toda esta loucura. Voltaria para casa e viveria sua vida humana patética. 

Mas Thranduil morreria. Tauriel sofreria e Mirkwood... seria varrida da terra por um mar de chamas. Não poderia se perdoar se causasse dor à eles, ou ao tio e Arwen. Respirando fundo, ela caminhou para a esquerda. Apressou o passo quando o choro tornou-se mais alto, estava próxima agora. Corria tentando ignorar o chão congelante aos seus pés. 

Parou quando viu uma corça deitada em uma poça de sangue. Não era muito maior que um filhote, devia estar nos seus primeiros anos de vida. Ela chorava tentando levantar-se, mas duas flechas estavam presas à sua carne: uma em seu flanco direito e outra em sua barriga. Elora agachou-se ao seu lado olhando ao redor, o caçador não deveria estar longe. Ela segurou o pequeno corpo que tremia e tentou arrancar uma das flechas, parou quando a corça contorceu-se. Elora falou com o pequeno animal, pedindo que se acalmasse. Um estalo ao seu lado chamou sua atenção, o caçador estava se aproximando.

Ela pegou o pequeno corpo nos braços e correu. Correr com uma corça ferida nos braços era difícil, ainda mais quando seus pés afundaram até as panturrilhas em uma lama fria e fétida. Quem quer que a estivesse caçando se aproximava e ela só podia debater-se na lama tentando sair enquanto segurava fortemente o corpo machucado em seus braços. Como era patética, nem fugir ela sabia fazer direito. Foi pega em Mirkwood, e seria pega ali novamente. 

Uma risada ecoou ao seu redor, ele estava próximo. 

Elora ainda estava presa na lama mas lutaria contra quem quer que fosse. Sabia defender-se melhor agora. 

Ela virou para tentar encará-lo, mas uma dor aguda a fez curvar-se para frente. A pequena corça não estava mais em seus braços, as flechas estavam nela. Tão fundas, que atravessaram sua carne até que as pontas saíssem em suas costas. Sua barriga e seu ombro estavam ensopados de sangue morno que escorria em seu vestido. Ela caiu sentada quando tentou mexer as pernas. Estavam presas, como se tivesse mergulhado-as em solo rígido. 

A figura encapuzada surgiu caminhando facilmente sobre a imundice com o arco em riste. Elora respirava com dificuldade, buscando alguma coisa que pudesse lhe ajudar à sua volta. Não havia faca ou qualquer outra coisa com o que pudesse se defender. Não conseguiria arrancar as flechas de seu corpo, mal conseguia mover o braço sem que uma dor excruciante a atingisse. 

— Por favor... - ela disse em um fio de voz, balançando a cabeça. - Não faça isso... Pare.

Mas o encapuzado não parou. Elora viu o sorriso dele aumentar conforme se aproximava e falava com alguém atrás dele. Antes que ela pudesse reagir ele disparou. Elora gritou quando a flecha atingiu sua coxa, o que fez com que o encapuzado risse ainda mais. Divertia-se com sua agonia. Não era uma caçada, ele fazia aquilo por prazer. 

Prazer em matar algo indefeso lentamente, apenas para provar seu poder e superioridade. 

Ela controlou sua dor, mordendo o lábio inferior quando sentia outra onda de choque. Não deixaria que ele a matasse, não mesmo. 

Ela lembrou-se da aranha que a encurralara em Mirkwood, morrera quando uma raiz projetara-se para fora da terra como uma lança. Sabia agora que tinha sido ela, mas não sabia como fazer de novo. Não sabia nem como tinha feito da primeira vez. 

Encarou a mão direita arranhada e imunda e a ergueu para frente, estendendo-a para a lama a sua frente. 

Concentrou-se, reunindo todo o seu desejo de escapar e pedindo a terra que a ajudasse. Sabia a quem recorrer agora, era estúpida por não ter visto antes. Estava tão claro. 

Raízes contorceram-se para fora, agarrando o homem pelas pernas e subindo até enrolar-se em seu pescoço. Elora encarou-o, agora imóvel e com os olhos arregalados de medo. Quem era a caça agora?

Iria matá-lo. Ele havia feito aquilo com ela, caçado-a, ferido-a sem remorso. Se ela fechasse a mão, ele seria quebrado como um maço de galhos secos. 

Mas algo a impediu, não seria melhor do que ele se o matasse. Vingança não era justiça. Deixaria-o ali, ele poderia se soltar e ganhar sua liberdade ou a floresta tomaria conta de seu fim.  

Ela deixou o corpo cair na lama, estava cansada. Atacá-lo acabou com o resto de energia que tinha. Sentia a vida escorrendo pelos seus dedos. Se morresse ali, morreria em Lothlórien? Elora não sabia. Não haviam lhe explicado as regras deste jogo. 

Sentiu a claridade incomodar seus olhos. Levantou um braço, colocando-o sobre o rosto. Não estava dolorido ou sujo. Ela sentou-se rapidamente apalpando a barriga, não havia mais sangue. Olhou confusa ao redor e se viu no meio de um campo de margaridas. Viu uma mulher em pé a alguns metros de distância e Elora soube quem era. 

Yavanna lhe sorria, era exatamente como Elora a tinha imaginado quando lera o livro de Emel. Tinha o rosto em formato de coração, doce e calmo. Os cabelos castanhos amarronzados quase ruivos iam longos até o chão, balançando leves conforme o vento soprava. Seus olhos verdes tão intensos quanto o tom de seu vestido, no qual brotavam e desabrochavam flores de várias cores e formatos. Ela era linda. 

Elora fez menção de levantar-se mas Yavanna a parou com um olhar, colheu um flor entre as mãos e a assoprou para Elora. A flor brilhava enquanto flutuava calmamente ao sol; quando a menina a pegou um clarão encheu-lhe os olhos. Sentiu a pele quente, suas veias formigavam. Ela respirava, mas era como se não houvesse ar suficiente no mundo. 

Acordou com Arwen a olhando preocupada. Sentou-se sobressaltada com a camisola grudada em seu corpo suado. Sentiu o coração palpitar quando olhou suas mãos: estavam arranhadas. Um lembrete pelo que ela passara no bosque enegrecido. Mas... como? Fora apenas um sonho. Não?

Elora chorou enquanto Arwen a abraçava. Fosse pela quase morte no sonho ou pela visão de Yavanna; Elora não sabia, apenas deixou-se chorar até não haver mais nenhuma lágrima dentro dela. Não contou a Arwen o que sonhara, não contaria a ninguém. Não imaginava o que a mãe teria visto mas entendia porque ela escolhera guardar aquilo para si. Fora tão real. A dor o desespero...

 

.o0o.

 

Galadriel a aguardava ao pé da escada.

— Eu passei. - Elora disse e a elfa abriu um pequeno sorriso. 

— Você tem perguntas. 

— Foi realmente só um sonho? 

— Cada experiência é diferente. Além de você, conheci apenas mais um homem nesta condição. Sumiu por alguns dias e foi encontrado vagando em uma velha estrada com algas nos cabelos. 

— Não conheceu minha mãe?

— Não. - ela disse simplesmente. 

Um elfo se aproxima das duas, fazendo uma reverência à elfa dourada. 

— Minha senhora, encontramos um corpo humano não muito longe dos campos oeste.

— Ataque de Orcs?

— Não, minha senhora. Estava preso, parece que foi mutilado por lobos. 

O sangue de Elora gelou. Não poderia ser coincidência.

 

.o0o.

 

Encontrou Elrond sentado em um dos bancos na varanda principal, tinha uma xícara fumegante pousada no colo e o olhar distante encarando o horizonte. Elora se aproximou, sentando-se ao seu lado. Ele a olhou pelo canto do olho e sorriu com os lábios fechados. 

— É Yavanna. - Ela disse. Elrond assentiu. 

— Gandalf me disse que suspeitava disto ontem. 

Elora bufou. 

— Parece que todos já sabiam, mas ninguém me contou. 

— Você deveria ver sozinha. 

— Olhando agora me sinto estúpida, era bem óbvio na verdade. Não me surpreende que Thranduil tenha descoberto tão rapidamente. 

— Ele lhe disse isso? - Elrond franziu a testa; Ela assentiu. - Vocês conversaram mais do que eu esperava então.

— Tivemos alguns momentos no mesmo cômodo. - Ela deu de ombros, sem muita importância. 

— Bom, agora já temos nossa direção. Já tentou fazer alguma coisa? - Elora negou. - Procure Gandalf, ele saberá por onde começar. 

Elora encontrou-o no mesmo local do dia anterior. Estava sentado da mesma forma, fumando o cachimbo. 

— Me desculpe. - Ela disse sem se aproximar. - Não era eu mesma ontem e fui rude com você. 

— Outros já agiram bem pior pelas tristes visões que o espelho Lhes deu. Não há nada que desculpar. - Ele apontou para que ela se sentasse ao seu lado. Elora levantou o vestido e mergulhou os pés na água. - É determinada, menina. Olhou duas vezes e mesmo assim demonstrou controle e força de vontade. O que viu?

— Não importa. Não deixarei aquilo acontecer. - Ele levantou uma sobrancelha e Elora suspirou. - Destruição, fogo e sangue. 

Ele baforou novamente, antes de pigarrear e voltar a falar. 

— Dentre os valar, oito se destacam como os de maior prestígio e poder. São chamados de Aratas, os Enaltecidos. Yavanna está entre eles. O que sabe sobre ela? - Ele perguntou.

— É a deusa da fauna e da flora. Criou todas as árvores e todos os animais. 

— Sim. É a provedora de frutos. Ama incondicionalmente todas as coisas que crescem na terra, tem também uma excelente memória. Guarda na mente todas as incontáveis cores e formas da natureza; de antigas árvores, tão altas quanto torres, e do musgo sobre as pedras ao menor dos seres que vivem no solo. 

— A conheceu pessoalmente como a senhora Galadriel? 

— Pareço tão velho assim? - Ele riu quando ela assentiu. - Sim, mas Radagast, o castanho, que era seu fiel aliado. Precisa conhecê-lo um dia, ele tem conhecimentos sobre o poder de Yavanna que eu jamais sonharia. Seria bom ter um pouco de companhia em minhas viagens, mas você precisa ficar em Rivendell. Lhe visitarei de tempos em tempos para verificar sua ascensão. 

— Todos dizem isso, até minha mãe. Mas... Porque? - Não queria ficar presa em Rivendell até dominar suas habilidades, poderia levar anos!

— Suas raízes devem estar bem firmes no chão se quiser compreender como controlar os dons da terra. Com Berenna, era diferente. Irmo era seu patrono, um valar menor, senhor dos sonhos e das visões. Ela também era boa com poções de cura, então sempre desconfiamos que talvez Estë, esposa de Irmo, também lhe concedera um pouco de seu poder. 

— Se ela tinha visões porque não percebeu antes que estávamos em perigo?

Gandalf a olhara com pena. 

— Quando ela decidiu fugir com Elros, seu poder diminuiu consideravelmente. Elrond me contou sobre o feitiço que você descreveu ontem, ele pode ter sido o último suspiro de poder que Berenna guardara durante os anos para utilizar somente em algum momento de necessidade extrema.

Elora encarou a água a sua frente. 

— O que aprendeu com seus testes? - O mago falou. 

— Devo respeitar a liberdade da natureza, pedir para que me empreste sua força e não obrigá-la a simplesmente fazer o que desejo. Devo cuidar e proteger, mesmo que me coloque em risco.

— Você é mais poderosa que sua mãe, e com isso possui mais responsabilidades. Um valar apadrinha alguém em um momento de necessidade. Mas nunca houve um caso de dois escolhidos em linhagens diretas. Yavanna viu algo em você, Elora. Para ter-lhe escolhido mesmo após Berenna abandonar sua missão. 

— Não se preocupe, não amo ninguém o bastante para abandonar tudo igual a mamãe. 

— O futuro ainda virá, mas... assim está bom. - Ele franziu o cenho. 

— Como ela era? - Elora perguntou após alguns minutos. 

Gandalf sorriu. 

— Incontrolável. Um espirito rebelde, sim. - Ele abriu mais o sorriso. - Foram bons anos. Ela iluminava o dia e certamente os tornava menos entediantes. Certa vez ficou irritada com um jovem cavalariço em Rohan e soltou todos os cavalos do rei apenas para que o pobre tivesse que pegá-los um a um. Levou alguns meses, mas acho que ele conseguiu. - Disse pensativo. 

— Como meus pais se conheceram? 

— Fomos para um festival na cidade, Berenna andava triste e distante. Achei que um pouco de festa a animaria. Deixei-a na praça principal e fui ao palácio cumprimentar Elros, há muitos anos não nos víamos. Mas ele não estava lá, tinha a mania de vestir-se como um cidadão comum e perambular pelas ruas. Encontrei-me com seus filhos, os quais tentaram persuadir-me a convencê-lo a passar o trono adiante. Ele já governava há muito tempo e seus herdeiros estavam impacientes. - Ele parou por um instante. - Elros e Berenna se encontraram, é claro. Ela sempre teve certa facilidade para encontrar problemas. - Galdalf bufou. - Apaixonaram-se instantaneamente e no dia seguinte fugiram. Berenna me deixou uma carta explicando que não conseguia mais vagar sem rumo, queria viver em paz. Criar uma família. E se tivesse que escolher entre sua missão e o amor, escolheria Elros. Sempre. 

— Por que ela não podia ficar com os dois?

— Por que há sempre um sacrifício a ser feito. 

Elora desviou o olhar para a água, imaginando qual sacrifício teria que fazer se se desviasse de seu caminho..


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Notas finais do capítulo

Capítulo finalizado antes do prazo, yay!
Sim, Elora partiu da Floresta das Trevas. Maaas ela retornará, não temam.

Alguém já desconfiava que o poder de Elora vinha de Yavanna?

Espero que curtam a leitura e que comam muito panetone hoje. Feliz Natal! :D



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