All I Want escrita por Laurent


Capítulo 3
Bebida, dança e depressão


Notas iniciais do capítulo

Oi genteee! Esse é o cap de hj! Espero q gostem do rumo q a história vai tomar. Bjs :*



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Pois bem, era a noite da tal festa.

Mesmo não estando com muita vontade de sair, eu caprichei no vestuário. Eu era uma pessoa consideravelmente vaidosa, e odiava sair sem estar com a roupa mais adequada. Depois de tomar banho, coloquei uma camiseta azul clara e uma calça jeans escura, duas das minhas peças favoritas. Penteei o meu cabelo para trás (acho que a coisa que eu mais gostava em mim era o meu cabelo), escovei os dentes e coloquei meus tênis.

Encarei o celular à procura de alguma mensagem de André. No dia anterior, havíamos trocado alguns vídeos sobre música — era o que mais fazíamos. Música era uma das nossas grandes paixões em comum, embora curtíssemos alguns estilos diferentes.

“Hey”, mandou ele no Whatsapp. “Já tô pronto. Eu vou de busão”.

“Eu também”, escrevi.

"Posso dormir na sua casa hj? Depois da festa? Aì voltamos de táxi, q é mais seguro."

Meu coração se acelerou e sorri involuntariamente.

"Pode sim", respondi.

"Já tô saindo de casa então", disse ele. "Flws".

"Flws"

Finalmente, eu estava começando a ficar ansioso por aquela festa.

— Já vou indo pra festa, mãe! — gritei do quarto, amarrando meus cadarços.

— Não vai beber, hein — respondeu ela da sala de estar.

— Nem fumar — complementou meu pai.

— Ok!

Assim que terminei, fui correndo até eles.

— Mãe, pai, o André perguntou se pode dormir aqui hoje.

— Ele também vai nessa festa? — quis saber minha mãe, que estava sentada no sofá bem ao lado do meu pai.

— Vai — respondi.

— Que horas vocês voltam?

Olhei o relógio. Eram oito e dez.

— Meia-noite?

Meu pai franziu o cenho em reprovação.

— É um pouco perigoso... — começou.

— Por favor, pai. A gente volta de táxi.

— E você tá com dinheiro aí?

— Vou pegar agora. É aquele que eu tenho guardado. Mas não vai ficar caro. A gente vai rachar.

Mamãe encarou-me com uma súbita curiosidade.

— Achei que você não gostasse de festas.

— Até que gosto — menti.

*

O trajeto de ônibus foi bem tranquilo. Não havia quase ninguém lá dentro; Sentei-me sozinho, e o ponto no qual parei era bem próximo da casa da Maria, onde seria a festa. Andei duas quadras e cruzei uma esquina. Foi a partir daí que comecei a ouvir o barulho de música. Quanto mais me aproximava do endereço, mais altas ficavam as batidas. Finalmente, parei em frente a um portão preto que dava para uma moderna casa de dois andares. O portão estava apenas encostado, então segui em frente.

Na parte da frente da casa, na varanda, havia apenas um pequeno grupo de pessoas, das quais algumas eu conhecia. Cumprimentei-as ao me aproximar.

— Oi gente — falei, sorrindo displicentemente, com as mãos nos bolsos. — Como vocês tão?

— Nossa — surpreendeu-se Luana, uma de minhas colegas de classe. — Finalmente tô te vendo em uma festa, Gabriel! Oi!

— O mundo dá voltas, Lu — eu disse, ao que ela soltou uma gargalhada. Ela estava com mais quatro garotas, todas com bebidas nas mãos. Todos nos cumprimentamos com um aceno de cabeça um tanto tímido da minha parte. — Eu vou encontrar o resto pessoal. Boa festa pra vocês!

— Obrigada! Eles estão lá no fundo. O André já chegou, aliás, Gabs

Isso me fez sentir um pequeno frio na barriga. Calma, disse a mim mesmo. É só o André. Mas eu sabia que apenas isso já bastava para que eu sentisse uma forte energia pulsando em meu coração, impulsionando-me a encontrá-lo o mais rápido possível.

Andei até uma porta externa que levava até o caminho da piscina. Chegando lá, deparei-me com uma multidão dançante. Alguns já nadavam na piscina, esparramando água em qualquer um que chegasse perto. Todo esse cenário me confundia, porém meus olhos só procuravam por uma pessoa.

— Gabriel — chamou a familiar voz de André atrás de mim. — Até que enfim te achei.

Ele estendeu a mão e nós demos um toque de cumprimento.

— Você chegou faz tempo? — perguntei, tentando disfarçar o deslumbre em minha voz.

Ele estava fantástico. Parecia mais bonito do que de costume. Tinha feito a barba e deixado o maxilar quadrado à mostra; Viera de bermuda, exibindo as canelas fortes; eu me segurava para não ficar olhando apenas para o seu corpo.

— Há uns dez minutos — disse, animado. Em seguida, abriu um sorriso amistoso. — Mas acho que foi culpa do meu ônibus que se adiantou.

André estendeu o olhar pela multidão de pessoas à nossa volta. Praticamente todas bebiam.

— Quer beber? — perguntou.

— O quê? Ah... acho que não. Não curto.

— Bebe, cara — incentivou ele. — Vou pegar uma cerveja pra nós.

— Eu detesto cerveja, André.

— Uma vodka então?

Revirei os olhos.

— Preciso chegar em casa sóbrio — falei. — Meus pais vão me matar se souberem que eu bebi.

— Tudo bem — disse André, mas mesmo assim ele caminhou até uma mesa onde estavam algumas garrafas, deixando-me sozinho no meio da multidão por um instante. Alguns segundos depois, ele voltou segurando um copo de plástico cheio de cerveja.

— Argh — enojei-me. — Cerveja é horrível.

Ele deu de ombros para mim, bebericando um gole da espuma.

Algumas pessoas esbarravam na gente, tamanha era a agitação da festa. Estavam todos dançando à nossa volta, ao som de Cool for the Summer. Comecei a me mover aos poucos, primeiro os ombros, depois os pés, incitando André a dançar também.

— Dança aí — convidei, mas ele continuava parado. Percorria o olhar pela multidão de pessoas, como se estivesse à procura de alguém ou de alguma coisa. Até que, finalmente, seu olhar fixou-se em um ponto distante atrás de mim. Virei o pescoço para ver o que ele estava olhando.

Maria também estava linda, usando um vestidinho preto. Os cabelos negros caíam simetricamente sobre os ombros, mas ela não parecia estar se divertindo. Não estava bebendo nem dançando. Apenas conversava com um bando de amigas que eu não conhecia.

— Vou até lá dar um oi pra Maria — anunciou André. Ele passou por mim rapidamente, indo em direção a elas, e quando vi eu estava sozinho de novo.

Não pude deixar de sentir um misto de desânimo e raiva quando ele foi embora. Tentei ao máximo não olhar para trás. Seria pior. Mas eu não podia negar que obviamente André queria ficar com Maria e eu estava fazendo papel de trouxa no meio daquilo tudo. Subitamente, me senti deslocado em meio a todo mundo. Senti que não devia estar lá.

— Gabriel — chamou André. Relutantemente, eu me virei. — Vem aqui, cara!

Ele estava me chamando pra entrar no grupinho. Definitivamente, aquela noite estava tomando um rumo que eu não gostava nem um pouco. Contra a minha vontade, caminhei até todos eles, cumprimentando as garotas discretamente. Algumas delas lançavam olhares interessados a André. Uma delas olhava até pra mim.

— Oi — disse Maria, parecendo se esforçar para adquirir alguma expressão. — E aí, vocês dois estão gostando da festa?

— Estamos sim — respondeu André prontamente, lançando-lhe um sorriso, o que quase me fez revirar os olhos.

Acabei concordando educadamente, mas a verdade é que até agora eu estava odiando (mais por conta do comportamento de André do que de qualquer outra coisa). Minha companhia não parecia muito necessária a ele.

— É ótimo estar de férias — disse uma das amigas de Maria, uma garota bonita de cabelos curtos. — Odeio ter que levantar cedo pra ir à escola.

— Mas ano que vem será o último — contrapôs outra, ao seu lado. — Pensa nisso.

— Até que enfim — e bebeu de sua caneca dois goles de vodka.

Olhei para André novamente, o que me deixou irritado. Ele não desgrudava os olhos de Maria. O engraçado é que ela não parecia nem estar percebendo toda a atenção que recebia. Isso me fez sentir uma pequena felicidade perversa, como uma vingança.

— Preciso ir ao banheiro — anunciou ela, subitamente. André abriu a boca, mas Maria saiu de nossa frente antes mesmo que ele tivesse tempo de pensar no que dizer.

Ficamos só nós e as amigas desconhecidas, porém o grupo delas se fechou em uma conversa íntima demais para entendermos. Embora algumas delas ainda encarassem André com certo interesse, ele me pegou pelo braço e me levou para outro lado.

— Quero falar com você — disse.

— O que é?

Ele encarou o chão, tímido.

— Você faria um favor pra mim, Gabs?

— Sim... pode falar.

Mesmo assim, ele demorou alguns segundos para contar o que queria.

— Você... poderia falar com a Maria pra mim?

Ai.

— Falar o quê? — Eu já sabia o que era, mas precisava ouvir da boca dele.

— Ajeita ela pra mim cara — respondeu ele. — É que... eu quero ficar com ela.

Acho que se alguém enfiasse a mão no meu peito naquele momento, arrancasse o meu coração do corpo e pisasse em cima, ainda assim iria doer menos do que aquelas palavras. Eu já sabia de tudo, sim, não posso negar. Era óbvio. Era óbvio pelos olhares que André trocava com Maria, pelo jeito como falava dela. Mas isso não me impedia de me sentir um lixo ao saber que de fato eu estava certo.

— Eu... — comecei. Não fazia a mínima ideia de como reagir a tudo aquilo.

— Por favor, Gabs — suplicou ele. — Eu tô querendo isso já faz um tempão, mas não sei como chegar nela.

Minha barriga se revirou. Comecei a sentir que ia chorar.

— Preciso ir ao banheiro também — falei, e saí o mais rápido que pude da frente dele.

Eu não ia no banheiro porra nenhuma. Apenas queria achar um lugar onde não tivesse tanta gente. Ou melhor, onde não tivesse ninguém. Atravessei o lugar pelo qual entrei, indo até a frente da casa de novo. Luana e as garotas não estavam mais lá. Na varanda, havia um banco de quintal ao lado da porta de entrada da casa, sem ninguém por perto.

Sentei-me. Pus as mãos no rosto. O que é que estava acontecendo? Subitamente tive vontade de beber alguma coisa, de me distrair. Também tive vontade de chorar, chorar muito. Ou então de dar um soco em André. Suspirei, tentando ordenar a confusão de sentimentos que passavam por minha mente. Eu me sentia completamente desolado e perdido.

Sem que eu permitisse, as lágrimas fluíram. Escorreram por meu rosto, e eu nada pude fazer a não ser encarar o chão e enxugá-las de vez em quando com meus dedos. Foi quando a porta se abriu ao meu lado.

Maria também não tinha ido ao banheiro, pelo visto.

Maria estava chorando. Como eu.


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