Mayflies escrita por Jones


Capítulo 1
In another world, away from here...


Notas iniciais do capítulo

Perdi o desafio, mas to aqui né. Humilde. Postando a quarta.

Música da fic é do Benjamin Francis Leftwich - Mayflies ♥
https://www.youtube.com/watch?v=k18pI-dp-D8



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In another life, like mayflies, we'll take over the sky
In another world, away from here

 

Dia 178.

Eu insisti em me machucar mais. Em leva-la ao aeroporto. Em vê-la acenando um adeus de quem nunca mais vai voltar. Em vê-la subir no avião. Em ver o avião subir.

— É assim que nossa história termina. – Os olhos dela se encheram de lágrimas, eu sorri por saber que ela provavelmente estava se odiando por estar chorando de maneira sentimental, quando era a última coisa que ela achava que deveria ser. – Te disse ontem mesmo e nos últimos quase seis meses que detesto despedidas.

— Eu não poderia te deixar ir sem saber o que você está perdendo. – Insisti em gracejar, pois odeio vê-la com lágrimas nos olhos.

— Um egocêntrico narcisista que não tem noção do ridículo. – Ela girou os olhos. – Obrigada por me relembrar.

Última chamada para o voo 9657 com destino a Nova Orleans. Embarque Imediato no portão 17 A.

— Acho que é minha vez. – Sorriu com tristeza e encostou os lábios nos meus.

— Abbie eu...

— Eu sei, James. – Ela deixou que eu curvasse meu corpo sobre o minúsculo dela. – Eu também. Se fosse em uma outra vida. Em outro mundo. Ou daqui a um tempo... Mas já falamos sobre isso.

Tinha um sorriso bonito mesmo que triste.

Por isso, ainda sorrindo, andou de costas até que a distância fosse segura para eu não vê-la chorando. Mas eu via através dos meus olhos embaçados e turvos.

Em outro mundo. Longe daqui.

I'm wide awake
Colours start to run
Giving in, like I'm staring at the sun

Dia 45.

Eu sabia no que estava me metendo quando a conheci. Ela tinha cor de chocolate quente com uma dose extra de cacau e falava apressado quando estava nervosa ou quando consumia uma quantidade exagerada de açúcar. Ela ria de tudo, mas odiava sua risada porque era de fato esquisita.

Quando eu a olhava era como se eu estivesse encarando o sol, eu desistia em algum momento porque era tudo tão claro e colorido que eu me sentia cego enquanto seu corpo sempre quente, quase febril ressonava tranquilamente ao meu lado.

Ela se mexia a noite inteira, mas quando chegava a manhã ela era só paz.

— Esse negócio de encarar dormindo é mais assustador do que você pensa. – Ela falou com a voz sonolenta e rouca. Não de uma maneira sexy, apenas rouca. Pigarreou duas vezes. – E você sabe que me encarar apaixonadamente é contra as regras.

— Quem disse que é apaixonadamente? – Ri de maneira estranha. – Tem meleca no seu nariz.

— Nojento. – Ela me bateu. – Tem remela no seu olho também. E esse hálito de cerveja de ontem à noite. Uau.

— No fim dessa história, Abigail Jones, você estará perdidamente apaixonada por mim. – Sorri convencido e ela cruzou os braços.

— Ainda tem remela no seu olho. Não sei se consigo me apaixonar assim. – Mostrou a língua.

 

You're making me choose, but I can't lie
Maybe we're a love for another time

 

Dia 3.

Me assustei quando a campainha tocou, até porque era antes das dez da manhã em um domingo.

Foi um pouco mais assustador quando vi quem era.

— Supostamente éramos para ser um lance de uma noite e bebidas. – Ela falou, já invadindo meu apartamento. – Mas assim eu gostei do lance e você gostou do lance obviamente.

— Depois eu que sou egocêntrico. – Semicerrei os olhos e ela riu.

— Enfim. – Ela encolheu os ombros. – Você parece ser uma pessoa legal e eu não posso sair com você, porque eu vou embora mais cedo ou mais tarde e você vai ficar aqui. Eu vou chorar e você não vai saber viver sem mim.  

— Você parece ser boa nesse lance de vidência. – Cruzei os braços. – Mas por que você está tagarelando tão rápido e tão alto?

Abigail então jogou-se no sofá e começou a rir. Parecia que estava engasgando ou algo assim, os cachos desarrumados balançavam junto com seus braços e eu realmente achava que ela era a pessoa mais bonita que já tinha visto na vida.

— Você não lembra? – Ela disse entre engasgos. – Você me ligou vinte e sete vezes ontem à noite, da maneira mais clichê comédia romântica existente. Disse pra eu te dar uma chance, errou algumas letras da Aretha Franklin e confessou que é fã da Shakira. Você deveria seguir o conselho do seu irmão e parar de ligar para a garota, porque ela acha que você é louco.

— Sou mesmo. – Meu rosto estava queimando, eu podia sentir a vergonha me consumindo.

Foi quando ela parrou de rir e apenas sorriu.

— Talvez possamos ser amigos. – Ela falou depois de algum tempo. – Do tipo que se beija, mas não se apaixona. Não que isso dê certo alguma vez na vida, mas se você estava falando sério sobre seus quadris não mentirem, talvez eu queira saber mais sobre isso. Talvez eu queira correr o risco.

— Sem ofensas, mas apaixonar não é algo que eu faça. – Eu falei, me jogando ao lado dela no sofá. – Você até que é legal, mas...

Ela me interrompeu com um beijo e talvez eu tenha pensado no terceiro dia mesmo que me apaixonar seja algo que eu faça.

I'm burning up, cause you say that you love
Me, but I know there's a life I'm giving up

Dia 97

Ela estava sonolenta e bêbada, eu também, mas eu tenho certeza do que eu ouvi.

Ela me beijou e disse que as vezes tinha vontade de desistir de tudo, mas ela não podia porque se ela não tivesse os sonhos o que mais ela teria? Ela ás vezes era poética e estranha desse jeito.

— Eu te amo. – Ela sussurrou praticamente. – Olha que idiota.

— Eu também, desde sempre talvez. – Murmurei de volta, mas ela parecia já está em outro mundo. Ainda assim, eu senti como se eu estivesse queimando. Como se a luz dela tivesse me invadido. – Vou continuar, mesmo depois que você for embora.

Still awake, nothing seems to shine

For better days

What will we leave behind?

 

Dia 179

Meu irmão ermitão perguntou se eu queria sair de casa, devo ser um caso sério a ser estudado, já que Alvo nem cor tem por rejeição ao sol.

Não era como se eu conseguisse. Eu precisava de um dia ou 178.

Ela me disse que eu me apaixonaria por ela no final.

I don't wanna talk about it, afraid of what I'm gonna do
I don't wanna let your light in, I've got enough to lose
I don't wanna say it's something, afraid I'm gonna make it true
We'll be lying in the pieces, I've got enough to lose

 

Dia 99

As coisas estavam desastrosas após o eu-te-amo-cachaça.

Ela chamava de “o episódio” e eu não queria falar sobre porque era capaz que eu me declarasse e fizesse coisas que até eu considero ridículas, como comprar flores claras e essas coisas que ela odiava. Eu não podia deixar que ela se apaixonasse por mim ou eu por ela, foi nosso único combinado.

Mas agora já era tarde.

— Agora é tarde. – Falei. – Você sabe o que disse e eu sei o que eu ouvi. Vice-versa.

— E o que a gente faz? – Abbie perguntou, com a cabeça nas minhas pernas.

Fiquei em silêncio. Não era algo que eu sabia responder.

— Devemos começar a nos beijar. – Ela disse com um ar pensativo. – Talvez se a gente gastar o sentimento e eu te sufocar de amor, a gente se cansa e vai embora.

— Você vai de qualquer jeito, então talvez valha a pena. – Franzi o cenho e ela riu do meu desconforto. – Já me sinto quase sufocado.

 

In another life, like mayflies, we'll take over the sky

In another world, away from here

Dia 1.

Ela estava bebendo sozinha. Ela era minúscula, devia ter um pouco mais que um metro e meio, com os saltos ela continuava sendo a menor pessoa existente.

Porém ela tinha luz própria. Algo que fazia com que eu nunca conseguisse tirar meus olhos dela.

— Você deveria ir falar com ela. – Minha irmã mais nova me disse.

Um dos milhões de níveis da decadência: estar na sexta feira a noite em um bar com sua irmã mais nova ouvindo conselhos sobre como conquistar garotas no lugar. Lily continuava repetindo que ela era realmente muito bonita e que ela provavelmente ia chamar o segurança se eu continuasse “comendo-a” com os olhos. Que estranho ouvir sua irmãzinha usar “comer” no sentido pejorativo.

— Shh.

Então ela se levantou, com passos cambaleantes de gente desastrada, mas não bêbada o suficiente e minha irmã disse que iria ao banheiro.

— Ou eu tô com a maquiagem estragada ou você gostou do meu rosto. – Ela falou, brincalhona. – E eu não sou legal ou espontânea assim não, só para me justificar. E em outros dias eu não falaria com você se você não falasse comigo primeiro, mas eu não sei o que me deu.

— Talvez tenha sido o álcool ou você gostou do meu rosto.

— Hmm. Provavelmente a primeira opção. – Ela riu e eu achei engraçado.

— Acho meu rosto nada mal. – Ergui as sobrancelhas enquanto ela fingiu tossir um “egocêntrico”.

Conversamos sobre tudo, de astrologia a séries de TV e em quarenta minutos eu estava convencido de que ela era a pessoa mais interessante e abobalhada do mundo.

— Eu sou médica. – Ela falou entre goles. – Ninguém acredita em mim quando eu falo, porque eu tenho cara de idiota e ninguém me leva a sério. Eu acabei minha residência e me chamaram para um programa de pediatria maravilhoso, o segundo melhor do mundo, em Nova Orleans.

— Você não tem cara de idiota, tem cara de bonita. – Falei sem nem mesmo entender minhas palavras. – Vai salvar criancinhas nos Estados Unidos!

— E depois na Africa. E Depois na Oceania! – Ela levantou o copo e nós brindamos muitas vezes pela mesma coisa. – Vai ser legal!

— Vai ser legal! – Continuei rindo porque existia uma médica de criancinhas falando que coisas seriam legais, tão empolgada que parecia que em um daqueles pulos cairia do banquinho. – Pode me levar junto! Eu posso ter um food truck! Eu sempre quis um food truck!

— Você nunca nem me beijou e já quer ir embora comigo. O senhor é avançadinho, não é mesmo? Mas hoje eu posso ir embora com você se você quiser.

Não levei nem dois segundos para entender: joguei dinheiro na mesa, esqueci de Lily e agarrei a médica de criancinhas no táxi.

 

I've got enough to lose

I've got enough to lose

Dia 210.

Ouvi o ritmo de passadas frenéticas pelos corredores do local super iluminado com pessoas vestidas de azul, branco e tons claros de basicamente todas as cores. Todos os médicos eram seguidos por outros que usavam um tom abaixo. Era caótico, tinha o som de conversa, bip de aparelhos e telefones tocando o tempo inteiro.

Dra. Dawson, compareça a recepção. Dra. Dawson, a recepção.

Seria mais fácil chamar por Jones na recepção também, mas pensei que talvez precisasse de uma justificativa para isso.

Observei a médica, que talvez fosse a Dra. Dawson assinar milhões de papéis, sorrir estranhamente para três pessoas que apertaram sua mão e quiseram abraça-la, ao que ela andou uns cinco passos para trás. Ela não parecia ser legal de maneira alguma, talvez estranha, por isso achei que aquele seria o tipo de pessoa que se associaria a Abigail.

— Olá, Dra. Dawson, certo? – Disse, para o que ela franziu o cenho sobre os olhos enormes – Meu nome é James e eu procuro pela Dra. Abigail Jones.

— Jones? – Ela falou, levantando os olhos dos papeis. – Você é o Potter? Uhh.

— O que isso quer dizer?

— Quer dizer que você existe e veio atrás dela. Que coisa! – Ela falou de maneira bem humorada. – Ela está na sala dos plantonistas. Terceiro andar, algum dos corredores, siga as placas.

— Er, hmm. Obrigado. – Falei, talvez Dawson fosse uma pessoa legal.

Ela murmurou que tinha perdido o bolão por pouco e talvez eu devesse perguntar sobre, mas fui direto ao terceiro andar com um crachá de visitante que Dra. Dawson pendurou em mim. Mas nem precisei seguir as placas, quando a porta do elevador se abriu, lá estava ela.

— Plantões de trinta e seis horas não são para mim. – Ela murmurou e a porta do elevador voltou a fechar-se.

Eu quis rir, mas ela estava linda com sua cara de cansada e eu estava mais feliz do que eu gostaria de admitir em vê-la. Apertei o botão para as portas se abrirem cerca de mil vezes e o elevador foi para o quarto andar.

— Merda!

Apertei o botão para que ele fosse para o terceiro mais mil vezes.

— Caralho. – Ela falou coçando os olhos. – Eu já to indo cochilar, cérebro.

— Posso ir junto? – Falei, segurando a porta do elevador dessa vez. – Foram umas milhões de horas de voo.

— James?

— Abbie?

Ela ia me perguntar o que eu estava fazendo lá, se eu era louco, o que eu ia fazer da vida e se alguma vez na vida eu penso antes de tomar decisões, mas eu sabia que o que eu tinha a perder. Eu sabia o que eu estava perdendo e eu sabia do que eu precisava.

— Eu te amo. – Disse olhando para o rosto amassado e cheio de olheiras de Abigail.

E por um momento ela se esqueceu de todas as perguntas que iria me fazer e apenas me beijou, com tanta vontade quanto no primeiro dia e um amor bem maior que no último.

— Eu também. E vou continuar, mesmo depois que você for embora. – Ela repetiu minhas palavras bêbadas.

— Que idiota. – Fiz uma careta para o sorriso incrível dela. – Eu não vou embora.


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