A escala de plantão do hospital no ano novo tinha afetado os planos de Nico e Will para a noite daquele dia. Will tinha pedido mil desculpas para o namorado, embora soubesse que Nico sentia mais por sua decepção do que por perder a festa para a qual nunca estivera muito animado.

Eram quase seis da tarde quando um entregador da Cantina Italiana onde Nico gostava de comer chegou com um pedido.

— Que comida é essa? – perguntou Will.

— Cotechino. É um dos pratos típicos da Itália no ano novo.

— Ah, é? Parece bom.

Vendo Nico fechar todas as persianas e acender algumas luzes, mas sem deixar o apartamento muito iluminado, Will quis saber:

— Para quê é isso?

Nico mostrou a ele as horas no visor do celular.

— Faltam quinze minutos para meia-noite. Já escureceu há um bom tempo.

— Esse... é o horário de Veneza?

Nico encolheu os ombros.

— Você não quer comemorar o ano novo? Achei que podíamos deixar de lado as formalidades geográficas...

Nico o encarou com um sorrisinho no canto da boca. Entendendo o que ele tinha planejado, um grande sorriso foi se formando no rosto de Will.

— Quinze para meia-noite então. Temos que preparar tudo.

Eles colocaram a comida em louças de verdade, ajeitando tudo da melhor maneira possível na mesa. Nico pegou o vinho caro que sua madrasta tinha mandado de presente no natal, e Will precisou dizer:

— Ahn, Nico, eu não posso beber álcool antes de ir para o hospital...

— Besteira. A intenção não é ficar bêbado, nem nada...

— É sério. Eu poderia até ser processado.

— Lamento, mas você não pode recusar vinho na Itália. É contra a lei.

Nico estendeu o copo para ele, que acabou sorrindo e aceitando.

— É, acho que se der algum problema, vão aceitar esse argumento com certeza.

Pouco depois o celular de Nico disparou numa contagem regressiva de cinco segundos ao fim da qual Nico ergueu o copo de vinho, dizendo:

— Buon anno!

— ‘Buón áno’ – Will repetiu, arrancando uma risadinha de Nico, que tinha chegado mais perto. - Isso são sinos no seu celular? – Ele passou os braços em volta do namorado.

Nico assentiu.

— Do campanário de San Marco – disse ele, envolvendo os ombros de Will. Os rostos dos dois estavam muito perto e eles falavam num quase sussurro. - É tradição de ano novo que as pessoas na Piazza se beijem à meia-noite... Mas o costume vem sendo deixado de lado ultimamente...

— Hm... Uma coisa terrível que precisamos concertar...

— Agora mesmo – As palavras de Nico se perderam num beijo demorado.

Quando as badaladas no celular cessaram, os dois pararam, sem fôlego, mas também sem vontade de se afastar. Com as mãos no rosto de Nico, Will disse, sorrindo:

— Obrigado.

— Hum – Nico se esticou um pouco para um beijo rápido.

— Você é minha pessoa favorita no mundo todo, sabia?

— Você... não está entre as que eu mais detesto também – disse Nico, com um sorrisinho irônico, porque esse era sempre seu jeito de reagir a esse tipo de elogio, enquanto as bochechas coravam de leve.

Will riu.

— Amo você – ele plantou um beijo na ponta nariz do namorado.

Nico passou uma mão pelo cabelo loiro que caia na testa de Will e disse: - Ti amo – antes de atacá-lo com mais beijos.