Sentiu os dedos dele alisarem seu rosto em uma carícia pouco usual, doce demais para ele.

— Você é tão bonita.... Eu poderia te matar.

A voz dele soava estranha. Quase um chiado. Ameaçadora.

E ela tremia.

Ela tremeu quando os dedos dele desceram até seu pescoço, apertando-o com força.

— Eu irei mesmo te matar.

E ela sorriu, apesar do desconforto. Ele não a mataria. Ele era dela, assim como ela era dele.

E ele a beijou, daquela maneira desconfortável e dolorida. E ela gostou.

Abriu os olhos devagar, ciente do caos que a cercava. Explosões, sangue, destruição. Aquilo tudo era um bom resumo do que realmente significava uma missão do Esquadrão Suicida.

O taco de baseball personalizado jazia em sua mão, sujo de sangue. O objeto era normalmente pesado, mas agora parecia ter o dobro do peso que realmente tinha.

“Louca. ”

Sorriu de leve ao ouvir a voz chiada tomar conta de seus pensamentos. Mesmo ali, quando ela não sabia onde ele se encontrava, o Coringa estava com ela.

E ele sempre estaria.

“Mostre a todos porque você é a rainha. ”

E ela sorriu ainda mais. Agora, um sorriso insano. Levou um dos dedos pálidos ao sangue que escorria do bastão e observou, deliciada, como o carmim combinava com a sua pele.

— É hora de brincar, Pudinzinho.

Saindo da inércia que se encontrava há minutos, desde que a estranha lembrança tomara conta de sua mente, correu em direção ao Capitão Bumerangue, que tinha dificuldades de se livrar dos três soldados que o cercaram.

Em um só golpe, amassou o crânio de um deles. O barulho do osso ecoando como música para os seus ouvidos, o corpo caindo em um baque surdo. E aquele fora só a primeiro.

Nos minutos que correram, Harley só conseguia sentir a adrenalina tomando conta de si. O sangue que sujava ainda mais seu bastão e agora manchava também sua roupa fazia com que se sentisse viva.

Ela ria e, internamente, conseguia ouvir a risada dele também.

Ela riu ainda mais ao ouvir o som característico de tiros. À sua direita, alguns metros à frente, o Pistoleiro acabava com uma dúzia de soldados com uma facilidade que sempre a assombrava.

Harley passou a observá-lo até que percebeu que, mesmo tendo exterminado todos, ele continuava parado sobre o carro e de costas para si.

Saltitou em sua direção, pronta para caçoar e perguntar se ele já tinha se cansado, mas quando se aproximou o suficiente, viu o que acontecia e isso a fez estacar no mesmo lugar.

Ele não olhava para o nada. Floyd olhava para uma mulher caída muito próxima aos pneus do carro. Estava fardada e ferida, porém viva e desarmada.

— Não consigo fazer isso.

Harley demorou para perceber que ele percebera sua presença e falava com ela.

— Ela é uma inimiga.

O silêncio perdurou por alguns segundos que pareceram longos demais.

— Isso é o que Amanda diz para nós. Eles não atiraram até começarmos a atirar... E não vou matar uma mulher desarmada.

Harley ensaiou um sorriso zombeteiro, mas ele não saiu. Sua mente estava vazia. Não havia nenhuma risada.

Após mais alguns minutos incômodos, ela finalmente conseguiu forçar um sorriso e dirigiu-se à mulher:

— O que está esperando para dar o fora daqui?

A mulher pareceu finalmente perceber que não seria morta e levantou-se com dificuldade devido ao ferimento em seu abdômen, afastando-se o mais depressa que conseguia. Harley parou ao lado do companheiro de equipe, apoiando o braço em seu ombro e assistindo ela se afastar o quanto podia e provavelmente indo contar tudo o que acontecera ali à algum superior seu.

Quando ela desapareceu de suas vistas, Harley percebeu pelo canto do olho que Floyd olhava para ela. Virou o rosto, sorridente, percebendo a proximidade em que se encontravam.

— O que foi?

Ele nada disse por um tempo, apenas continuou olhando no fundo de seus olhos. Aquilo a desarmou. Ela não estava acostumada a receber olhares tão profundos e sem qualquer tipo de ódio ou insanidade neles.

Ela não estava acostumada a ver aquele tipo de beleza nos olhos de outra pessoa.

“O que é isso, Harley? ”

A voz chiada voltou com força em sua cabeça, quase em um grito, mas ela não queria ouvir. Ela queria ouvir àquele que se encontrava à sua frente.

— Eu pensei que você fosse zombar sobre o que viu, doidinha.

Ela sorriu um dos sorrisos que menos estava acostumada a dar.

— Eu também pensei.

Ele riu de leve, perdendo toda aquela postura tensa que mantinha desde que avistara a mulher. Seu hálito bateu contra o rosto dela, fazendo com que desviasse o olhar para seus lábios.

Ela queria beijá-lo. Ela queria ele por perto e constatar aquilo a assustava.

Era um querer puro. Era algo que ela não sentia há anos, desde que seus cabelos deixaram de ser apenas loiros.

Era algo que ela só sentira quando ainda era a doutora Harleen.

Foi retirada de seus devaneios quando sentiu uma carícia em seu braço, antes de Floyd tirá-lo de seu ombro.

— Vamos acabar logo com isso.

E ele se afastou.

Harley ficou olhando-o enquanto se distanciava, querendo que ele permanecesse ao seu lado. E era sempre assim, desde que passaram a fazer parte daquele esquadrão.

Ele era o único que a fazia se sentir humana. Ela era quase a Harleen de novo.

Ele calava a voz na sua cabeça.

I have to make an end, so we begin

To save my soul at any cost