Capítulo Sete.

O sol estava alto quando Seth, Leah e eu adentramos a floresta. Ao chegarmos na clareira de sempre – que eu descobri ser o nosso ponto de encontro – Sam, Collin e Brad nos esperavam.

- Hey. Cadê o pessoal? – perguntei olhando ao redor esperando para ver se mais alguém sairia do meio das árvores.

- Hoje vocês estão por conta própria. Dei um descanso para os outros. – Sam disse fazendo pouco caso, sua concentração toda em nós. – Agora, se apressem, e vamos treinar.

Ouvi murmúrios animados vindos de Collin e de Brad, praticamente ecoando os de Seth. Ah, garotos. Olhei Leah e ela praticamente refletia a mesma expressão que a minha. Garotas – irmãs – se entendem, afinal.

Enfim, segui para trás de uma arvore um pouco ansiosa, um pouco nervosa para nosso “treinamento”. Os meninos disseram que o Sam pegava pesado, mas eu esperava que eles só quisessem me assustar. Na hora eu ri, mas fiquei preocupada. Se queriam me assustar, eles conseguiram. Totalmente.

A transformação, como eu esperava, não foi nem de longe um problema. Eu já poderia até me considerar craque nisso. Ha, ha. Sam começou nos dando dicas básicas de como lutar em quatro patas, quais movimentos fazer, etc. Eu estava ficando meio entediada com tudo aquilo. Mas não os meninos, eles só faltavam explodir (de novo) de tanta euforia.

Minha desmotivação não quer dizer que eu seja uma completa perdedora. Eu até consegui me movimentar bem, rápido. Apesar de luta não ser meu forte. Que, se provou ser a corrida. Ganhei fácil de todos ali. Até mesmo de Sam, que acenou sua cabeça de lobo em aprovação para mim depois da minha terceira vitória consecutiva. Agora eu quase me sentia como os meninos, toda euforia. Ri pensando nisso.

Bom, está excelente. Todos voltem aqui. Sam dizia com um ar de professor, e depois que pensei isso, não consegui segurar; logo a imagem do Sam, em forma de lobo, com óculos “escapuliu” da minha cabeça, fazendo todos rirem.

Ele me repreendeu com o olhar, mas percebi que seus olhos também brilharam com divertimento.

Desculpa.

Mas ficou tão parecido com o real. Leah não perdeu a chance de zoar Sam, é claro.

Ok, ok, chega de brincadeiras. Sam usou sua voz de Alpha, super sério e tivemos que nos manter quietos, aguardando. Leah, Clarissa, fiquem ali. Sam apontou com o focinho para sua esquerda e lá fomos nós. Brad e Collin, e novamente apontou, mas dessa vez para a direita dele. Seth aqui comigo.

Depois que todos estavam em suas posições, Sam continuou:

Vamos avaliar o que aprenderam. Quero que lutem entre si, nada sério e por favor, não se matem. Ele disse sério. Seth, você luta comigo. Não se preocupe, vou pegar leve com você. Disse divertido. Seth bufou. E depois, troquem.

Isso vai ser legal. Leah pensou.

Finalmente alguma diversão! Collin latiu.

Shh, vou deixar você no chão Collin! Brad desdenhou e quando Sam deu o sinal a verdadeira diversão do dia começou.

O sol já tinha se posto fazia algum tempo quando Sam finalmente nos liberou. Depois da maratona de lutas, fizemos nossa primeira vigia, com é claro, Sam nos monitorando. Mas ele disse que fomos bem. E finalmente estávamos todos voltando para a reserva, um pouco cansados, mas completamente satisfeitos com nós mesmos.

- Amanhã, no mesmo horário. – avisou Sam antes de se virar e com um aceno, se despedir.

- Que seja. – Leah murmurou.

- Que foi, Leah? Não quer mais ter que perder pra mim? – Seth provocou.

Eu ri, balançando a cabeça. Assim como Brad e Collin, com quem eu vinha conversando sobre “as cidades mais incríveis dos EUA” como ele mesmo dizia.

- Faça-me um favor, você tá se achando só porque eu deixei você ganhar uma vez!

- Hahaha, você me deixou ganhar? Aham, tá bom.

- Deixei, se eu soubesse que você ia ficar assim, nem teria dado a oportunidade.

- Até parece Leah! – Seth falou carrancudo.

- Você é tão crianção! – Leah disse, batendo de leve na cabeça do nosso irmão.

- Ok, vocês se amam. Vamos embora? – me intrometi, senão eles iriam ficar ali discutindo pra sempre.

Seth suspirou, olhando com o cenho franzido para Leah e fazendo biquinho.

- Awwww, que fofo Lee! Ele tá com raiva! – falei apontado para Seth e Leah riu.

- Já chega vocês duas! Tchau Brad, tchau Collin. – e dizendo isso, entrou em casa.

Nós rimos mais um pouco e nos despedimos dos meninos.

- Ei Seth, desculpa por aquilo mas você não faz idéia de quão fofinho estava fazendo aquele bico!

- Humpf. – resmungou – Eu tenho 15 anos e sou um lobo! Não posso ser fofinho.

- Ué, quem disse? Eu sou uma loba também! E sou muito fofa.

- É diferente, ok?

- Por quê? Só porque ela é mulher? – Leah levantou uma sobrancelha, desafiadora.

Seth baixou a cabeça, envergonhado. O abracei.

- Tudo bem, maninho. – eu disse dando um beijo na testa dele. Mas pisquei para Leah.

Levantei com um “vou tomar banho” e segui até o banheiro. Já tão familiarizada com tudo. Parecia que eu sempre tinha estado lá. Que sempre tinha sido a irmã deles e para ser honesta, eu gostava de pensar que sim. O que não queria dizer que eu havia esquecido a minha vida antes deles, eu só tentava não pensar muito nela. Com um suspiro, entrei debaixo do chuveiro de olhos fechados, apenas aproveitando a água que caia em cascatas no meu corpo.

No meio tempo que fiquei no chuveiro lembrei-me de Jessica e que tinha esquecido completamente de ligar para ela desmarcando nossa saída. Me xinguei mentalmente e terminei rapidamente meu banho. Ao abrir a porta dou de cara com Leah, que pela cara, estava me esperando sair para poder ter seu banho. Mas ao ver minha cara perguntou:

- Onde é o incêndio?

- Engraçadinha. Viu meu celular?

- Eu tenho lá cara de achados e perdidos? Obviamente, não.

- Tanto faz. – não sei o que eu esperava da Leah, mas enfim, segui para o quarto de Seth onde ficavam minhas coisas e resolvi ver se não estava lá em algum canto.

- Ah há! Aqui está você! – falei vitoriosa depois de revirar todo o quarto apenas de toalha, para no final, achar meu celular de baixo da cama. Como ele foi parar lá é uma questão para depois.

Na minha ida com Leah até Forks, eu tinha parado numa drogaria e comprado um chip local para colocar no meu celular, assim, facilitaria muito as coisas para mim para quando eu precisasse, como agora, me comunicar com meus novos colegas e pessoas daqui. Abri a agenda, deparando no meio de tantos números familiares da minha vida no Brasil, o de Jess. Apertei no botão verde e me joguei na cama enquanto chamava.

Ela atendeu no terceiro toque.

- Alô?

- Ei, Jess. É a Clary.

- Ah, e aí? Te vejo mais tarde no Twist? – perguntou animada. Twist, fiquei sabendo pelo Seth, é uma espécie de lugar com três ambientes: boate, lanchonete e boliche aonde os adolescentes de Seattle frequentam. É, tipo, o point deles. E ao que parece, o point dos garotos de Forks, também. Pedi por mais informações, mas Seth não pode me dar, pois disse que nunca entrou lá. E ficou todo animado quando eu disse que ia, isso, é claro, foi antes de saber que eu teria treino e estaria cansada demais.

- Pois é... Sobre isso... – comecei meio incerta.

- Ah, não! Não ouse furar! Estão todos animados e eu até consegui um par para você não se sentir sozinha! – ela disse com a voz animada.

- WTF? Eu não quero um encontro, Jessica.

- Por favor, você nem conhece o garoto! Dê uma chance para ele. E trate de se arrumar rápido, te encontro lá às 8PM! Não se atrase! – e sem chance me dar chance de recrutar, desligou o telefone.

- Argh!

Ouvi batidas na porta e murmurei um “entra”. Era Seth.

- Hm? – resmunguei ainda deitada na cama de toalha.

- Er, Clary, que foi?

- Nada é só que... – então uma idéia surgiu na minha cabeça. – Ei, Seth, quer sair?

Ele sorriu, mas olhou meio desconfiado para minha mudança repentina de humor.

- Para onde?

- Twist! – soltei um gritinho e Seth riu alto.

- Opa! É claro!

- Bom, então vai se arrumar, garoto!

Eu abri minha mala enorme e procurei por peças legais para montar meu look, enfim, encontrei um look perfeito para essa noite. E de quebra, ainda usaria minha nova bolsa, recém comprada na minha “pequena” passagem por LA.

Me vesti e fui cuidar do meu cabelo. Decidi deixá-lo natural mas com aparência meio bagunçada, e com poucas ondas. Já a maquiagem, dei destaque aos olhos e só gloss na boca. Eu estava um arraso!

Sorri ao meu reflexo no espelho, num dos meus momentos mais narcisistas bem na hora que batem na porta.

- Clary, tá pronta?

- Yeah, entra Seth. – e virei para ele ainda sorrindo, logo perguntei – Como estou?

- Ta gata, mana! – ele sorriu, mas então seu olhar caiu para minha blusa. – Mas não acha que isso aí ‘ta meio curto? Digo, dá pra ver um palmo da sua barriga!

Eu ri balançando a cabeça; - E daí? Ninguém vai reparar.

- Te garanto que vão! – ele insistiu.

- Eu sei me cuidar, e além do mais, vou ter um guarda-costas que vai me ajudar a dar conta nesses adolescentes cheios de hormônios com pensamentos nojentos. – me dispersei, e fiz careta assim como Seth.

- Ok, informação demais. Não se preocupa, vou ficar de olho neles pra você! – ele piscou maroto e eu sorri bagunçando o cabelo dele.

- Ei! – reclamou, me fazendo sorrir mais.

- Vamos logo, chatinho. Temos uma missão impossível antes de sair de casa.

- É? Qual? – perguntou Seth confuso.

- Pedir o carro da Leah emprestado.

- Realmente. – disse, mordendo a parte de dentro da bochecha.

- Não mesmo! De jeito nenhum eu empresto meu carro pra vocês! – Leah exclamou.

- Anda, Lee, por favor! – Seth pediu todo manhoso.

- Nem vem, Seth Clearwater! Acha que eu sou louca? Não vou deixar meu bebê nas mãos de vocês dois, irresponsáveis!

- Qual é, Leah, você sabe que eu vou cuidar bem dele! Eu gosto de carros tanto quanto você!

- Fácil falar, o carro é meu e não seu! – ela continuava inabalável. Ô garota difícil!

- Okay, por que você não nos leva, então? Aí não iria precisar se preocupar com o carro, e na volta, eu arranjaria carona. – disse e ela não pareceu totalmente convencida, - Ou então, você vai conosco!

- Claro que não! Por favor, eu não quero morrer entediada. – fechou os olhos e suspirou derrotada, - Ta certo, eu levo vocês dois.

- Yay! – eu e Seth exclamamos como duas criancinhas que acabaram de ganhar uma montanha de doces. E era quase isso, mesmo.

- Eu mereço, viu... – resmungou minha irmã, enquanto entrava em casa para pegar as chaves do seu carro.

Eu e Seth fizemos um high-5¹ e dissemos juntos: - Missão cumprida!

Leah nos deixou bem em frente ao tal Twist, que por ser um domingo no meio das férias escolares, estava cheio.

- Obrigada pela carona. Tem certeza que não quer ficar?

- Absoluta. Prefiro ficar em casa assistindo American Idol e rir da cara do pessoal quando o Simon Cowell xingá-los. – isso era tão típico dela! Mas mesmo assim, rimos e nos despedimos dela. 

- Let’s go! – exclamei e Seth disse um “yeah” então seguimos para a bilheteria.

Ao entrarmos, o primeiro ambiente estava cheio, abafado e com música alta estourando meus ouvidos. Corpos de garotas e garotos se balançavam no ritmo da batida que o DJ fazia numa cabine elevada. Ia ser praticamente impossível encontrar Jessica e os outros ali, mas eu iria tentar.

- Seth, vou procurar pelo pessoal. Você vem comigo?

- Não, tudo bem. Estou ótimo aqui – notei que ele já tava de olho numa garota, e somente balancei a minha cabeça antes de dizer:

- Okay, mas, qualquer coisa, você vai saber me achar – dei de ombros, porque ele realmente conseguiria. Assim como eu também o encontraria, mesmo no meio de toda aquela muvuca.  O lado bom de sermos lobos.

- Certo. Até depois. – ele mal tirava os olhos da garota, que conversava com um grupo de amigas num canto.

- Até... – eu disse, mas ele já tinha ido embora. – Hormônios! – murmurei baixo, soltando uma risada nasalada e logo fui atrás dos meus amigos.

Não foi tão difícil achá-los como eu pensei que seria. E, com aquele vestido sinalizador que a Jess usava, facilitou muito as coisas. É claro que eu não comentei isso com ela.

- Oi, oi gente! – dei um aceno geral, sorrindo animada para todos. Inclusive para o loirinho bonitinho desconhecido.

- Finalmente! Eu disse às 8PM e você chega quase as 9PM! – Jess reclamou. Encolhi os ombros como se me desculpasse:

- Problemas para conseguir uma carona. – mordi o lábio – Mas, pelo menos eu vim! – disse com um sorriso.

- É claro! Você não poderia deixar meu priminho sozinho, certo? – Mike se intrometeu, passando o braço pelos ombros do loirinho e com o outro, fez o mesmo em mim.

- Ah, então ele é seu primo? – perguntei.

- Sim, o nome dele é...

- Adrian. É um prazer conhecê-la, - ele interrompeu seu primo com um sorriso brincando em seus lábios. Adrian tinha uma aparência desencanada, com um pouco de barba para fazer, e rebeldes fios loiros caiam em seus olhos profundamente azuis. Ele vestia um jeans e camiseta simples, branca, com uma jaqueta preta de couro e tênis. Nesse meio tempo que eu parei para analisá-lo, ele pegou minha mão e beijou-a de leve, todo galanteador. Reprimi um sorriso, que o fez  levantar as sobrancelhas, e finalmente disse: - Clary.

- Uau. Onde você aprendeu a ser tão sedutor, Adrian? – Eric perguntou e todos os outros riram. Mas não Adrian. Nem eu.

- Quando você estiver crescido, eu prometo te ensinar. – devolveu o loiro se achando. Ok, ele tinha motivos para se achar; mas eu não ia deixá-lo saber. Não mesmo.

- Outch. Essa doeu, hein? – Tyler fez brincadeira enquanto Eric bufava.

- Então, vamos ficar aqui mesmo? – Angela mudou de assunto, para ajudar seu amigo.

- Yeah, eu tava pensando... Nós poderíamos jogar um pouco de boliche. – Ben sugeriu.

- Pode ser... Vamos, então? – Mike chama, olhando para Jessica como se esperasse a confirmação. Ok, acho que perdi alguma coisa... Mas depois eu pergunto.

- Claro. – ela sorriu para ele, e pegou em sua mão. Ah tá, entendi.

Todos foram na frente e eu atrás porque não fazia idéia para onde ir, mal reparei que Adrian tinha ficado para trás, também. Bom, não tinha reparado até sentir sua mão gelada repousar na base da minha costa, bem onde estava descoberto. Arrepiei-me, mas não de propósito, e sim pela diferença de temperatura. Ele percebeu e murmurou no meu ouvido.

- Desculpe. Você está bem? Está tão quente. – e eu notei o duplo sentido explícito no seu comentário, mas ignorei.

- Estou ótima. – sorri meio forçada,  envergonhada. Esse garoto é incrivelmente inconveniente e não parece se importar nem um pouco com isso. Apressei um pouco o passo com Adrian na minha cola.

Pegamos nossa própria pista e nos divertíamos jogando e errando. Bom, eu na verdade, errava algumas vezes de propósito, afinal seria um pouco estranho se eles notassem minha boa mira. Assim como também fingia levantar a bola com um pouco de dificuldade, como as meninas faziam, mas na verdade aquele peso não era quase nada para mim. E em cada jogada, era continuadamente observada e eu não precisava virar para saber quem me olhava sem nenhuma discrição.

Então, decidi parar de ignorá-lo, já meio incômoda com aquelas olhadelas e caminhei até ele.

- Adrian, será que você... – mas minha frase morreu, o vi tirando uma caixa do bolso interno e tirou um maço de cigarro de lá junto com um isqueiro. Ele acendeu e deu uma tragada. Cheirava forte a cravo das índias. Era um daqueles cigarros bem finos, que riquinhos usavam; e eu realmente não queria saber como ele tinha arranjado aquilo.

- Quer? – ofereceu, e moveu suas mãos como se fosse pegar um para mim também. E bem na hora que eu ia negar, uma voz grossa respondeu por mim:

- Não, ela não quer.

Virei meio surpresa ao reconhecer a voz. O que diabos Jacob Black estava fazendo aqui?

¹ high-5: um “toca aí”, no literal, cinco acima.

**

Foto do Adrian:

http://i916.photobucket.com/albums/ad2/busybeelaurenblog/Sterling-Knight-sterling-knight-867.jpg

Roupa da Clary:

http://www.polyvore.com/night_out/set?id=21529978