De Janeiro a Janeiro escrita por Arii Vitória


Capítulo 7
Capítulo 6 "Cinderela também tem dias difíceis"


Notas iniciais do capítulo

Heeeeeey! Queria me desculpar por ter demorado, a verdade é que em parte eu estava com um pequeno bloqueio criativo, e em parte, eu fiquei sem tempo.
Mas trouxe para vocês -pela primeira vez na história da fanfic- a Vivi narrando.
Espero que gostem, mas logo voltaremos a Bia mesmo, ok?
Nos vemos lá em baixo!



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Narração por Viviane

Era a pior festa do ano, o som estava uma porcaria, o lugar era pequeno e a cada cinco segundos alguém esbarrava em mim, fazendo com que eu derramasse o refrigerante ou trombasse para trás. Na verdade, eu já estive em festa piores, mas eu estava em um dia horrível, porque acabava de saber, um pouco antes de sair de casa, ao escutar uma conversa deles atrás da porta, que meus pais iriam se separar. Eba!

Chamei a Bia para ir embora, só que a mesma só perguntou:

—Por que?

Arranquei os fones de ouvido dela, e só então respondi:

—Olha em volta, isso aqui tá um saco.

—Não posso voltar antes de meia noite, quero fazer minha mãe sentir pelo menos um pouco de preocupação, ok? Só mais um pouco e podemos ir para algum outro lugar.

—Tá, eu vou andar por aí. –eu avisei, e a deixei lá, sentada naquela cadeira no fundo da festa, onde poucas pessoas podiam avista-la, e com os fones de ouvido apesar da música local. 

Em busca de sair da multidão, entrei na casa do dono da festa, que eu não tinha ideia de quem era. Estava um silêncio total lá dentro, a casa era desarrumada, como se morasse um gorila gigante lá dentro. Mas tinha uma coisa diferente, algo que fez com que eu instantaneamente me sentisse em casa também.

Segui pelo corredor, avistei o banheiro, mas o que me interessou de verdade foi a porta fechada. Curiosa, a abri devagar.

—BÚ! –algum idiota gritou, fazendo com que meu coração quase saísse pela boca, dei um pulo e em seguida me virei para ver o rosto do rapaz.

Era o garoto que estava tocando violão perto do trabalho do meu pai. Lembro que o reconheci como um dos nerd’s da escola, e ele estava tocando uma de minhas músicas prediletas, por isso fiquei o olhando por um tempo, e fiquei morrendo de vontade de deixar algum dinheiro, mas estava sem nada naquele momento.

—Você me assustou. –eu sussurrei.

—Me desculpe. –ele sussurrou de volta, só então percebi que ele estava sem camisa, para um nerd seu estado físico era mais que ótimo! 

—Eu estava procurando o banheiro... –menti, ainda falando baixinho.

—Por que estamos sussurrando? –ele perguntou e sorriu. Um sorriso gentil.

—Por que estamos invadindo a casa.

—Ah... fique tranquila. Eu moro aqui! –ele disse, voltando ao tom de voz normal.

—Você? Você deu essa festa?

—Não entendi a surpresa.

—Me desculpa, é que...

—Estou brincando. Eu moro com o Binho e com o Rafa, eles deram a festa, que aliás, eu nem sabia.

—Entendi. –respondi. Então ele morava com aqueles outros rapazes do colégio?!

—Você quer mesmo usar o banheiro? É por ali... –ele apontou o dedo indicador para a direita, onde eu já tinha visto.

—Na verdade, só estava tentando fugir da festa.

—Bem vinda ao clube! –ele disse e eu sorri. –Mas achei que você fosse do tipo que gostasse dessas festas.

—Normalmente eu gosto, mas não é um dia muito bom. –fui sincera, quando ele de repente começou a andar, automaticamente eu o segui.

—O que foi que aconteceu? –ele falou, entrando na sala, se sentando em um sofá, e dando duas batidinhas ao seu lado, convidando-me para me sentar também.

—A história é longa, Samu... -eu ainda não tinha certeza do seu nome. 

—Samuca. -ele respondeu. 

—Eu não contei isso nem para minha melhor amiga ainda, mas... –me sentei ao seu lado. –Meus pais vão se separar, e eu soube ouvindo uma conversa atrás da porta.

Não sei porque eu estava ali, contando da minha vida para um garoto que tocava violão, mas ele fazia com que eu me sentisse rapidamente confortável, assim como seu lar.

—Eu sinto muito, Cinderela. –ele disse.

O olhei quando ouvi a palavra “Cinderela”, a única que me chamava assim era a Bia, o que, desde pequena, fazia com que eu me sentisse uma princesa, e eu adorava.

—Sabe, eu saí de casa ano retrasado porque meus pais são, digamos, difíceis de lidar, lembro que tinha vezes que eu queria que eles se separassem, mas depois eu retirava meu desejo porque eles eram um casal, eu não podia desejar mal á eles. –ele contou, enquanto eu ainda estava paralisada por ouvir o nome da minha princesa favorita.

—Você saiu de casa? –era tudo que eu tinha ouvido.

—É difícil de acreditar né?! Mas acontece bastante, o Rafa e o Binho, por exemplo, resolveram morar juntos para não ouvir as reclamações das mães.

—Quem dera eu pudesse sair só um pouquinho, sabe?! Só pular essa parte da minha vida.

—Aqui até que tem espaço, mas acho que você prefere ver a briga dos seus pais á morar com três meninos completamente bagunceiros.

—Na verdade, só acho que não dá pra fugir disso. –afirmei com sinceridade.

—VIVI, CADÊ VOCÊ? –era a voz da Bia, que abriu a porta, de repente, e nos pegou conversando. –Ah, você está aqui... acho que já podemos ir embora. Se você ainda quiser, é claro. –ela disse, eu corei enquanto Samuca deu um sorriso para ela, em forma de cumprimento.

Em seguida, ela fechou a porta, voltando para a festa e nos deixando ali.

—É melhor eu ir. –eu disse, me levantando.  

—Vai lá... Cinderela! –ele falou, colocando os pés no sofá, na parte onde eu estava sentada.

Mas uma vez, paralisei.

—Eu vou matar a Bia... –eu disse, por fim, e enquanto ele gargalhava, eu saí.

(...)

—Você pode dormir aqui! –Bia afirmou depois que eu acabei de contar toda a novidade para ela.

—Sim. Mas ainda tá doendo tanto. Quer dizer, eles eram meu porto seguro do amor. O único casal que me fazia acreditar que talvez eu também pudesse ser feliz pra sempre.

—Eles viviam brigando... –ela respondeu e eu revirei os olhos. –Mas, eu sinto muito por você... e por eles! –ela continuou.

Por um momento, fui até a janela do quarto dela. Pensei no Samuca e das poucas vezes em que o notei na escola, na verdade, eu nunca o via. Onde é que ele estava sempre? Interrompendo meus pensamentos, pela janela avistei um garoto de capuz preambulando pela rua. O reconheci.

—Ei, aquele ali não é o Duda? –eu perguntei a Bia, que se levantou rapidamente e logo já estava do meu lado, olhando fixamente para o garoto.

—Que outro idiota rodearia a porta de alguém e não bateria? –dizendo isso, ela simplesmente pegou seu casaco e saiu pela porta.

Observei a cena pela janela por um tempo, mas era impossível ouvir qualquer coisa, ela chegou lá, ele parecia estar extremamente bêbado, eles discutiram por um tempo, como se Duda estivesse culpando-a de alguma coisa, mas estava claro que ele nem sabia o que estava fazendo ali. Desistir de observar e me joguei na cama de Bia, liguei o celular, e a primeira notificação já explicava claramente o motivo de Duda estar ali: Janu havia mudado seu status de namorando para solteira no facebook.

Alguns minutos depois, Bia chegou e se trancou no banheiro, batendo a porta com força. É, ninguém conseguiria entender aqueles dois...

(...)

Eu fiquei o final de semana inteiro na casa dela, mas ela simplesmente bloqueou qualquer coisa relacionada ao Eduardo da memória, porque por mais que eu tentasse usar todos os meus métodos para fazê-la falar, nada adiantava.

 Até mesmo na segunda-feira, quando acordei o mais cedo possível, me despedi dela, que nem se mexeu na cama, respirei fundo e me dirigi até a minha casa.

Quando entrei, tudo estava em silêncio, mas devia ser apenas porque estavam todos dormindo, para conferir minha suspeita, abri devagar a porta do quarto dos meus pais, parte de mim esperava vê-los deitados juntos, esperava que tudo aquilo de separação não passasse de um pesadelo.

Mas eu pisquei duas vezes para ter certeza do que via. Minha mãe estava acordada, cercada por fotos e mais fotos, ela chorava baixinho, e me viu ao mesmo tempo em que eu percebi que as coisas do papai não estavam mais ali.

—Agora somos só nós duas, minha filha. –ela disse, secando as lagrimas com a palma da mão, me aproximei e sentei ao seu lado.

Ele tinha nos abandonado. Bia cresceu sem o pai, e ela não era a única, no mundo de hoje, é raro um adolescente ter os pais casados e realmente felizes, então por um segundo eu imaginei que eu estava sendo dramática e mimada por sofrer por aquilo. Mas logo percebi, nunca é fácil ser deixada por alguém, e então deixei as lágrimas saírem enquanto eu abraçava minha mãe.

(...)

Eu estava meia hora atrasada para a aula quando passei pelo portão da escola. Tinha ficado muito tempo vendo fotos com minha mãe e repetindo para ela que iria ficar tudo bem, diferente da tia Carla (a mãe de Bia), com quem eu tinha convivido por muito tempo ao ponto de perceber o quanto ela era forte, minha mãe era sensível, e eu tinha puxado isso dela, mas depois que ela praticamente me obrigou á vir para o colégio, pedindo para ficar sozinha, eu não tinha outra alternativa.

Comecei a andar mais rápido, mal prestava atenção, pois já sabia o caminho da sala de cor ao ponto de poder ir até ela com os olhos fechados.

Virei o corredor, e depois disso tudo aconteceu muito rápido: Eu havia esbarrado em uma pessoa e todos os meus livros estavam caídos no chão.

—Cinderela! –espiei e só então vi que era o Samuca, ele tentava olhar em meus olhos, mas eu apenas me abaixei para pegar meus livros, com certeza ele iria perceber que eu tinha chorado.

Ele se abaixou também.

—Me desculpa. –eu disse.

—Tudo bem. Você está meio atrasada né? Sua aula não era ás sete? –ele perguntou, me entregando os livros que havia pegado.

—Eu tive imprevistos, e deixa eu adivinhar, você também? –eu perguntei, ainda não tinha conseguido olhar em seus olhos, mas me levantei.

—Na verdade minha aula é as sete e quarenta e cinco. –ele respondeu e eu assenti com a cabeça.

—Aconteceu alguma coisa? –ele perguntou.

 De longe, observei uma garota com a roupa de líder de torcida, na mesma hora me lembrei que nem tinha colocado a minha e estava exatamente como tinha saído da casa de Bia de manhã, pelo menos não era tão ruim...

Só então consegui olhar em seus olhos. E, obviamente, ele percebeu que eu havia chorado, mas continuou calado, esperando pela minha resposta.

—A Cinderela se divorcia do príncipe, não existe final feliz?! –falei, mas acabou saindo em tom de pergunta.

—Sinceramente, final feliz é muito profundo, talvez um feliz até domingo, e no domingo, um feliz até sexta-feira, a gente precisa ir levando aos pouquinhos. –ele respondeu, pegou os livros da minha mão, carregando-os para mim, enquanto começávamos a andar para minha sala.

—Eu cheguei em casa e ele não estava mais lá. –contei e olhei para cima, poucas vezes me esforçava tanto para não chorar, na verdade, a última vez que havia chorado tinha sido alguns meses atrás, quando terminei com meu namorado.

—Teu pai?

—É.

—Ele vai voltar. –ele respondeu, seu tom de voz demonstrava a certeza absoluta. –Eles sempre voltam para deixar um dinheiro, se despedir, dizer que vai ligar e na verdade, nunca ligam.

—Eu não quero que ele volte se for desse jeito.

—E ele não quer se sentir culpado, então vai fazer. –ele disse.

—Como você sabe? Seus pais estão juntos desde que você nasceu.

—Você não conhece meus pais, eles são perfeitos um para o outro, e acredite, não é do jeito bom. Mas eu sei porque moro com dois garotos com pais divorciados e já cuidei de muitas crianças de sete anos para conseguir uma grana.

Eu ri, mas por dentro eu ainda me sentia mal.

—Poderia ser pior, você poderia ser aquela garota ali por exemplo. –ele falou e apontou para uma garota que usava a saia tão curta que eu podia ver sua calcinha. –Aposto que os pais dela são divorciados.

Gargalhei. Logo mais já estávamos ao lado da minha sala de aula.

Eu me virei para ele, que soltou um sorriso de repente.

—Eu preciso entrar. –eu disse e ele me entregou meus livros.

—Não posso te deixar enquanto você não disser que vai ficar bem.

—Eu vou ficar bem. –afirmei, dando de ombros.

—Vai sim. –disse ele, deu uma piscadela, e virou-se para trás. -A Cinderela também tem dias difíceis... –murmurou, por fim, enquanto ia para seu lugar.

Sorri por ele ainda me considerar a Cinderela e entrei na sala de aula.


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Notas finais do capítulo

E então? Gostaram?
Espero que sim, contem tudinho nos comentários!



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