F O X escrita por Paulie


Capítulo 1
Capítulo I


Notas iniciais do capítulo

Hey pessoal!

Espero que gostem, estou super feliz em finalmente postar - a ideia vem insistindo a séculos e nunca tive coragem de colocá-la aqui.

Aproveitem a leitura :)



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Capítulo I

 

Astuta, sagaz, esperta e solitária; o rajar vermelho que tremula como fogo segue sua passagem e anuncia sua presença, apesar do instinto de desconfiança. Impossível discernir se trata de uma raposa ou de Rose Weasley.

Talvez seja o fato de serem tão semelhantes que levou este a ser o animal preferido da garota, estampado em todo e qualquer objeto pertencente à ruiva, levando a ser a marca registrada dela. Ou então tenha tido origem em sua primeira pelúcia, Lizzie, ter sido uma raposa vermelha.

Enquanto quartos de garotas comumente exibem borboletas, corujas ou até mesmo gatinhos; o de Rose não: ele estava repleto de raposas. E, verdade seja dita, a imponente raposa que se movia graças a um encantamento na parede de seu quarto era exuberante.

Sua primeira emissão mágica, ainda aos sete anos, havia sido trazer à vida Lizzie, fazendo-a mover e brincar sobre sua barriga, em uma noite que os pesadelos haviam tornado impossível cair no sono novamente. Imaginem qual foi o espanto de Ronald Weasley ao abrir o quarto da filha pela manhã e encontrar uma miniatura de tal animal selvagem a acariciar as bochechas da pequena Rose.

Aos onze anos, após ter recebido a tão sonhada carta de Hogwarts, brigou com a mãe: não queria uma coruja, ou um sapo nojento, ou ainda um gato manhoso para ser sua companhia no castelo. Queria uma raposa. “Querida, você não pode levar uma raposa para Hogwarts”, Hermione lhe respondera. “Por que não?”, ela erguera o nariz, num gesto tão orgulhoso quanto podia ser. “Raposas vivem livre, Rose; se aprisionadas não são mais raposas”. Resignada, não aceitou, apenas se calou; arquitetando um modo de ter o animal.

Por fim, entendeu o que a mãe quis lhe mostrar. Animais como raposas tem de ser livres para simplesmente conseguir existirem. Não é um luxo, é uma necessidade. E ela entendia bem, pois era exatamente assim.

***

—Rose – o primo chamava, seguindo-a de perto após a aula de poções – Rose. Rose Weasley! – por fim gritou, clamando pela atenção da ruiva.

—O que foi Albus? – ela por fim desistiu, abraçando os livros que trazia contra o peito, como se formassem uma barreira entre ela e o outro – Não quero me atrasar para a próxima aula.

—Eu só, hun, você está bem?

—Estou ótima, por que não estaria? – sorriu, voltando novamente a seu caminho original, deixando para trás um Albus cabisbaixo, com os ombros caídos sobre o corpo.

...

—Rose? – Lucy batia na porta do dormitório da prima a incansáveis dez minutos, levando a ocupante a questionar até onde iria a persistência da loira – Rose, eu sei que você ‘tá aí. Tudo bem em não abrir. Só saiba que eu, hun, estou aqui se precisar de algo, tudo bem?

De dentro do dormitório, a ruiva encarava a coloração palha do pergaminho em branco a mais tempo do que a outra batia na porta, mas nenhuma palavra ilustrava o extenso papel, a não ser as quatro únicas, bem no alto da folha: “Queridos mamãe e papai,”.

“’Queridos mamãe e papai,’ o que, Rose?”, ela se questionava. “Queridos mamãe e papai, me desculpem por não ter ido no Natal? Queridos mamãe e papai, me desculpem por não estar apoiando Hugo? Ou queridos mamãe e papai, me desculpem por não ter ido ao seu enterro?”. De supetão, ergueu-se do lugar que ocupava, amassou o longo pergaminho em uma bolinha minúscula.

—Lacarnum Inflammare – praguejou, apontando a varinha para o lixo, e observando o fogo consumir cada parte. – Como se eles fossem ler.

Enfiando todos os livros que podia carregar em sua bolsa, parou em frente ao espelho, analisando os longos cabelos que não mais eram belas ondas como um dia foram, estavam agora presos em uma trança firme. Ajeitou a gravata vermelha e dourada que por muito tempo fora o maior orgulho que podia ostentar – “Vermelho, mamãe, como uma raposa” – e abriu a porta, onde a prima ainda se encontrava.

—Ah, oi Rose! – ela se recompôs, erguendo em um pulo de onde estivera sentada. – Tá tudo ok com você?

—Preciso ir à biblioteca – disse somente, fechando a porta atrás de si e com a cabeça erguida enfrentando o corredor até as escadas que levavam ao Salão Comunal, deixando outro primo às suas costas.

...

Desceu as escadas apressada, rumo ao Salão Principal. Não estava com fome, não realmente, mas precisava ver o irmão. Mesmo que não estivesse entrado em contato com ele – ou com alguém – ela precisava sentir que ele estava bem, que estava se recuperando. E ali, durante o café da manhã, era o melhor horário para tal.

Sentada na mesa dos leões, em uma das pontas da grande mesa, fingia ler o livro de poções enquanto observava a mesa azul e prata.        A seleção do irmão mais novo para Ravenclaw foi certamente uma surpresa para a família – mas nem por isso menos orgulho para os pais.

Se lembrava como se fosse hoje da carta que ele recebera no dia seguinte dos pais – e de como ele se recusara a sair de frente do retrato da Mulher Gorda até que ela descesse para que pudesse mostrar – e de como ele ganhou o suéter azul e prateado no natal daquele ano da avó Molly, que insistia ainda em usar mesmo depois de cinco anos.

Os óculos de grau escondiam parte do seu rosto, mas podia facilmente ver que a presença de Lily ao seu lado – contrariando todas as regras de que não se pode sentar em outra mesa a não ser a de sua casa – com seu uniforme amarelo brilhando sobre a luz que entrava pelas janelas, o alegrava. E enquanto Hugo estivesse bem, ela estaria bem. Porque agora, mesmo que ele não soubesse disso, ele era seu maior, e talvez único, bem.

Satisfeita, ergueu-se do local mesmo sem ter colocado nenhuma migalha na boca, e seguiu para a sala de aula.

...

A carta endereçada para Rose que encontrara sobre sua escrivaninha foi queimada, e ela estava começando a considerar a opinião que se viciara pelo fogo, já que de tantos papeis que foram cremados até restarem pó, o dormitório já possuía o cheiro característico.

Não era a primeira – e com certeza não seria a última – carta que Scorpius Malfoy lhe mandava, mas ela estava determinada a não se dar nem o direito de ficar curiosa quanto ao conteúdo. Havia feito uma promessa, e iria cumpri-la.

Mais uma vez, tomou o caminho que seus pés já haviam decorado até a última mesa da biblioteca, onde não podia ser vista até o momento em que já estivessem quase lá. E ninguém ia até quase lá.

Talvez seja por isso o espanto que sentiu no momento em que, já desatenta por acreditar estar em sua zona de conforto, percebeu que uma cabeleira loira clara também se encontrava ali.

Os olhos praticamente cinzas de Scorpius a encaravam intensamente, como se a desafiassem a desviar o olhar. Mas ele sabia que ela não desviaria, sabia bem demais que ela era muito orgulhosa para tal.

—Rose – ele começou, em um sussurro – Você não respondeu minhas cartas.

—Se não as respondi, devia ter compreendido que não quero conversas, Malfoy. – ela murmurou, alcançando os pergaminhos que havia retirado da bolsa e enfiando-lhes lá novamente, tentando sair dali o mais rápido que pudesse.

—Precisamos conversar.

—Não, não precisamos. Achei que tivesse deixado claro isso. – virou-se, buscando a saída.

—Você não pode se culpar por isso, Rose, porque não foi sua culpa. Você não pode ignorar todos ao seu redor, você não pode se fechar desse modo. Você não pode fingir que não me conhece. Você não pode fazer isso com Hugo.

—E desde quando, Malfoy, você decide o que eu posso ou não fazer? – respondeu, o mais frio que podia, marchando através das portas da biblioteca. 

***

“19 de Dezembro,

Querida Rose,

Sei que provavelmente não virá para casa no Natal – com os NIEM’s se aproximando, fica cada vez mais complicado, eu sei, meu amor – mas gostaria que estivesse com o seu presente em mãos no dia vinte e cinco. Por isso, estamos o enviando agora, mas pedimos que só abra no Natal, tudo bem?

Como estão as coisas por aí? Hugo quase nunca escreve, e quando o faz são míseras linhas que nunca dizem praticamente nada. Espero que os estudos estejam indo bem – e que tenha conseguido decidir-se qual profissão buscará.

Dizer que estamos orgulhosos por te ter, minha rosa, seria nada menos que a verdade. Sei que soa até mesmo repetitivo – toda carta escrevemos isso – mas estamos com saudades.

Escreva, tudo bem? Nos mantenha informados.

Amamos você.

Com amor,

Mamãe e papai”

***

—Srta. Weasley – McGonagall cumprimentou assim que ela adentrou a sala da diretora – Sente-se. – ela apontou sorridente a cadeira a sua frente.

Na cadeira ao lado, já se encontrava sentado seu irmão, que a encarava como se não a visse a dias – o que realmente era verdade.

—Tem algum problema, diretora? – ela franzia as sobrancelhas.

—Está tudo bem com a senhorita? – a mais velha perguntou, estendendo o pote de balas assim como o antigo diretor Dumbledore certamente faria.

—Algumas dificuldades em decidir para o que exatamente prestar os NIEM’s, mas nada com o que se preocupar. Por que a pergunta, senhora? – astutamente desviou-se do que seria certamente mais uma das conversas sobre o luto, buscando em seguida o apoio para os braços, tentando já se erguer e dar a conversa como finalizada.

—Weasley, você sabe que seus pais foram perdas enormes para o mundo bruxo como um  todo, mas, apesar de todas as encrencas que, acredite, eles trouxeram para a escola, eles foram exemplos. Espero que entenda que estamos aqui, Rose e Hugo, para apoiar vocês em qualquer momento.

—Obrigada, diretora. – ela ergueu-se do lugar onde estava, mostrando que a conversa estava encerrada – Com licença, mas tenho de entregar um pergaminho de história da magia amanhã.

Deu as costas para a mulher e seu irmão, dirigindo-se à escada em espiral e descendo até a gárgula. Apoiou as costas nas pedras frias que compunham as paredes do castelo, e suspirou.

—Rose? – ouviu uma voz, uma voz que a tanto ocupava seus pensamentos. – Rosie? – mais uma vez chamou, e agora os cabelos ruivos que estavam sempre bagunçados apareciam já em sua visão, saindo da estátua.

—Hugo. – ela respondeu, simplesmente, recuperando a postura.

—Eu estive em casa esses dias, você sabe, pra arrumar umas coisas. Encontrei o anel de família da mamãe, aquele que a vovó Granger deu pra ela. Acho que, bem, ela iria querer que você ficasse com ele – ele estendeu o anel para Rose, ainda sem olhar para o rosto da irmã.

—Mamãe não gosta que mexamos nas coisas dela sem permissão.

—Como eu iria escolher a roupa do seu enterro se não mexesse, Rose? – ele agora a olhou, e o único sentimento que pode captar foi frustação – Sabe, aquele enterro que você não foi? Que eu tive de providenciar sozinho?

—Não quero falar sobre isso – ela disse somente, estendendo a mão para pegar o anel – Obrigada por se lembrar de mim.

—E quando você vai querer falar, Rose? Você não pode fingir que nada aconteceu, não pode simplesmente se trancar nesse seu mundinho e esquecer das responsabilidades. Rose, você é a irmã mais velha. O que vai ser da nossa família, de nós, agora?

—Já estou providenciando isso, Hugo. Sou maior de idade, vou cuidar de tudo.

—Grande coisa arrumar os papeis sendo que nem mesmo olha para mim. Somos irmãos, Rose. Pare de ser tão egoísta. Não é só você quem perdeu pessoas que ama.

Dito isso, ele tomou o caminho rumo à torre da Ravenclaw, deixando a irmã sozinha, envolta em arrependimentos.

“O que estou fazendo? Que merda estou fazendo com a minha vida?”, pensou enquanto mais uma vez recostava-se nas paredes úmidas do castelo, abraçada ao anel de família.

...

Sentada no topo da torre de astronomia, Rose estava pouco importando com o fato de estar fora da cama após o toque de recolher, ou com o que um monitor poderia chegar a qualquer instante.

Ela apenas observava as estrelas.

—Achei que te encontraria aqui – a voz grave de Scorpius ecoou pelo ambiente solitário da torre.

—Achei que tinha compreendido que não temos nada a conversar.

—Não foi sua culpa, você sabe.

—O que veio fazer aqui, Malfoy?

—Estamos todos preocupados, Rose. Eu estou preocupado.

—Odeio ser alvo de pena, e não serei alvo de pena. – ela ergueu o corpo da beirada da torre, balançando a saia e tirando qualquer sujo que ali pudesse ter ficado – Se era só isso, boa noite.

—Não Rose, não é só isso.

—O que foi então, Malfoy? – ela voltou-se para ele, parando em frente ao garoto e, mesmo que ele fosse uns bons centímetros mais alto, o olhar que a ruiva lhe lançou foi suficiente para igualá-los.

—Você não está sozinha, Rose. Você tem responsabilidades agora. Você é a única que restou ao seu irmão agora. Sua família está preocupada, eu estou preocupado. E você não nos dá um sinal. Você não parece sentir a perda deles, você parece, eu não sei.

—Eu estou bem. Estou bem e quero continuar sozinha. Estou resolvendo tudo.

—Você não é o centro do mundo, Rose. Nem tudo é sobre você.

—Agora não posso nem mais ser livre para decidir o que é melhor para mim?

—Você é livre, Rose.

—Não, eu não sou. Estou presa de tantas formas, por tantas coisas, que nem ao menos posso explicar.

—Tente. – ele segurou em seu braço, tentando lhe passar confiança.

—Você não tem de estar aqui, Malfoy. Não tem de se preocupar comigo.

—Não tenho, mas me preocupo. É difícil demais entender isso?

—Só deixa pra lá – ela respondeu, marchando rumo às escadas procurando voltar para o salão comunal.

—Seu orgulho às vezes te cega, Rose. – ele ainda gritou – Tudo que eu disse no Natal, é verdade. Acredite em mim.

Sentindo uma das primeiras lágrimas descer pelo rosto desde a notícia da morte dos pais, ela correu. Pois sabia que, assim que começasse a chorar, não pararia.

...

Deitada na cama, abraçava o embrulho de presente como se a vida dependesse disso. Era o presente que os pais mandaram junto à carta. O presente que, no momento que ia abrir, recebeu a notícia do desastre. O presente que nunca tivera coragem de abrir.

E agora, um mês depois, ela encarava-o como se fosse um E.T., o E.T. responsável por tirar seus pais dela. Precisava abri-lo, ela sabia. Mas lhe faltava coragem. “Irônico, hun? Uma grifinória sem coragem. Grande maravilha”, pensava.

Rose não era assim. Não sabia o que tinha lhe dado. Rose era forte, era corajosa, era sobretudo astuta. “Onde está a astúcia que tanto se vangloria, hun?”, se questionou a cada momento do último mês.

Resignada, levantou-se da cama. Vestiu a capa, agarrou o embrulho e caminhou até a escada paralela a que conduzia ao seu dormitório. Bateu à porta e esperou. Esperou.

—Rose? – a voz arrastada de Scorpius indicava que ele fora acordado.

Com um nó na garganta, a cabeça apertada e o coração saltitando, disse o que devia ter dito desde o início.

—Eu... Eu preciso de ajuda, Scorpius.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, em breve retorno com o próximo.

O projeto é ser uma shortfic - de 3 a 5 capítulos.

Nesse primeiro capítulo, temos uma Rose que não sabe lidar com o luto, que não sabe sentir e que, em sua solidão, é egoísta. Espero que ela perceba que não é o centro do mundo, hun?

Mais coisas serão esclarecidas no próximo.

Aguardo vocês nos comentários.

Beijinhos ♥

Paulie.