Kate já havia feito aquele tipo de treinamento com seu pai, algo para aprimorar suas habilidades na luta de forma que utilizasse todos os sentidos, exceto a visão. Estava familiarizada com a venda cobrindo seus olhos e tentava se concentrar para poder identificar a posição de seu oponente, mas não estava acostumada a ter mais pessoas na sala, pessoas que nunca haviam tido aquele tipo de treinamento antes e ficavam desesperadas por não conseguirem enxergar.

— Estou começando a ficar muito irritada — Grace bufou. Kate ouviu os passos da menor e soube que ela estava perto. — Quem teve essa ideia mesmo?

— Posso garantir que não vou estar de olhos fechados em uma luta, então por que estamos fazendo isso? — Natasha indagou, também estressada por não conseguir ver nada.

— O buta latihan é um treinamento que aprendi na Malásia — todos ouviram a voz de Damian, que por acaso era quem deveria atacá-los a qualquer momento. — Vocês ficam muito limitados quando só podem lutar se puderem ver, precisam aprender a ouvir e a sentir a presença do inimigo. Assim poderão lutar com mais facilidade em qualquer ambiente.

— Eu parei de ouvir quando disse o nome dessa coisa — Scott deu uma risada. — Buta o quê?

— Buta latihan, significa treino às cegas em malaio — Yuki esclareceu. Ela era uma das heroínas ali que também participava do treinamento.

— Como sua namorada ainda está bolada com você, Dami, sugiro que não tente atacar ela ou vai apanhar muito — Cassy brincou, ficando em posição de defesa.

— Quando quiser, Damian — Apolo girou o bastão em sua mão direita três vezes. Havia optado por não usar sua espada, ao contrário de Natasha, pois não queria machucar alguém por acidente.

Dessa vez, todos na sala ficaram em silêncio e Kate conseguiu finalmente se concentrar. O som de algumas respirações era ouvido, assim como o de passos ao seu redor, porém nenhum deles parecia vir na direção da Queen. Ela manteve sua guarda levantada e se preparou para um golpe vindo de qualquer direção. Ouviu um grito alto e logo em seguida o barulho de um corpo caindo no chão com certa violência.

— Isso não é justo! — Grace reclamou, e Kate soube que Damian havia escolhido a velocista como primeira vítima. — Precisa fazer algum barulho para eu poder “sentir e ouvir” você se aproximando. Nem respirou quando me atacou por trás!

— Tirou a venda, está fora — ele respondeu e a loira saiu do meio da sala, resmungando algo sobre preferir ele como inimigo do que como treinador.

Mais silêncio e Kate sentiu suas costas tocando as de alguém. Era muito alto para ser Damian ou Scott, e como apenas ela, Yuki, Natasha e Cassy ainda estavam no treinamento, só poderia ser Apolo.

— Trabalho em equipe? — a loira perguntou.

— Claro, tem jeito melhor de vencer isso? — ele sorriu e ambos continuaram com suas costas um para o outro.

O som de metal se chocando com madeira foi ouvido, vários golpes sendo desferidos até outro som de corpo caindo ecoar pela sala.

— Isso foi baixo! — Natasha gritou.

— Só porque tem uma espada não quer dizer que é invencível. Te derrubei usando dois bastões de madeira, então se concentre menos em ser agressiva e mais em saber se seu oponente não está atrás de você — Damian girou os bastões duas vezes e ergueu um deles bem a tempo, quando Cassandra tentara desferir um chute circular em seu rosto. — Eu ataco, Cassy, você defende.

— Estou cansada de esperar, maninho — a morena sorriu, tentando mais uma vez acertar um golpe, dessa vez um soco, no mais velho.

Damian se esquivou e mirou um golpe lateral na direção do tronco da heroína, porém Cassy percebeu pouco antes que ele pudesse acertar e deu um mortal para trás. Assim que pisou no chão novamente, ouviu um som atrás de si e acertou um soco no rosto de alguém, tão forte que sua mão doeu muito.

— Aiee, que cara dura! — ela exclamou, massageando o punho dolorido.

— É a minha cara, gênia — ela ouviu a voz de Scott.

— Oops, foi mal. Podia jurar que era o Dami — ela deu uma risada e sentiu um braço forte envolver sua cintura, jogando-a por cima de um corpo rapidamente e fazendo-a cair com o traseiro no chão. — Agora sei que foi ele…

Damian não teve tempo de dar uma bronca na irmã, pois precisou se esquivar de dois socos dados por Scott. O Wayne começou a rodeá-lo a uma certa distância, sabendo que, mesmo tendo os sentidos aumentados debaixo d’água, o atlante não se concentrava bem em terra firme. O moreno, então, usou os dois bastões para acertar cada lado no rosto do Curry com força suficiente para deixá-lo desnorteado.

— Qual é o seu problema?! — Scott deu alguns passos para trás e, antes que pudesse tirar a venda, foi empurrado para o chão e sentiu um dos bastões pressionados contra sua garganta.

— Acho que é inútil sem água por perto. Tente provar que estou errado no próximo treinamento — Damian saiu de cima do atlante e se voltou para onde sabia que Yuki estava.

Conforme andava ao redor da oriental, ela o seguia, de forma que sempre ficavam um de frente para o outro. Ele tinha plena consciência de que os dois provavelmente passariam horas lutando um contra o outro, precisava achar uma forma menos demorada de derrubá-la.

O ex-assassino jogou um dos bastões na direção oposta da que ele estava, causando um alto som da madeira fez Yuki se voltar para trás. Quando percebeu o que havia acontecido, já era tarde demais e Damian já estava atrás dela, uma das mãos puxando, sem muita força, seu rabo de cavalo para trás enquanto a outra mantinha o segundo bastão perto de sua garganta.

— Está melhorando — ele comentou, deixando-a ir.

— Não vai me enganar da próxima vez, então pensa em outro truque para tentar vencer — Yuki retirou a venda e ficou ao lado dos outros que haviam saído.

Damian andou na direção de Kate e Apolo, no caminho pegando o bastão que havia jogado e fazendo o possível para não fazer barulho. Tentou desferir um golpe duplo no lado esquerdo do semideus, porém tendo o mesmo bloqueado pelo bastão dele. Se esquivou de um possível golpe e acabou ficando bem na frente da loira.

Kate sentiu que Damian estava na sua frente e rapidamente tentou acertá-lo com um soco, e este foi desviado para o lado pelo antebraço do maior. Quando ele fez isso, a forçou a abrir sua defesa e deixou o rosto da heroína live, mas antes que pudesse acertá-la, ouviu Apolo dizer algo baixo para que apenas ela ouvisse.

— Abaixe!

Kate fez menção de obedecer, e Damian se abaixou também. Para a sua surpresa, ela permaneceu de pé e acertou uma joelhada em seu peito. Com isso ele foi jogado para trás, dando alguns passos antes de parar. Por precaução, o Wayne se inclinou para trás, percebendo ter feito a coisa certa quando a perna dela passou de raspão por seu rosto.

— Esquerda! — ela gritou para Apolo, e quando Damian foi para a direita, precisou dar um salto por cima do semideus, que tentara lhe acertar com o bastão que segurava.

Ele percebeu que os dois faziam sempre o oposto do que falavam e achou isso uma ótima estratégia.

— Acabem com ele! — todos ouviram Grace gritar, animada.

Apolo começou a trocar golpes de bastão com Damian, nenhum deles conseguindo passar pela defesa do outro. Kate aproximou-se por trás e tentou dar um chute nas costas do Wayne, porém ele percebeu antes e deu uma estrela para o lado sem usar as mãos.

— Chute circular na direita — Apolo disse e, por já saber que ela faria o oposto, Damian se preparou para defender seu lado esquerdo.

Percebeu tarde demais que ela o atacaria pelo lado direito mesmo e acabou tento a canela dela acertando a lateral de seu rosto. Apesar de não ter usado tanta força, o golpe fez Damian cair no chão, e antes que pudesse se levantar, Apolo apontava a ponta de seu bastão para o peito do moreno.

— Conseguiram me confundir nessa — Damian admitiu.

— Temos nosso próprio esquema — Kate deu um sorriso vitorioso e retirou sua venda, se virando para onde seus amigos aplaudiam os dois.

— Só você pra derrubar o Dami nos treinos — Cassy andou até eles, vendo Apolo ajudar seu irmão a se levantar.

— Minha pergunta é como esse humano consegue nos atacar, se defender e ainda saber o que estamos fazendo de errado vendado — Natasha disse, apontando para Damian.

O Wayne retirou sua venda.

— Tive anos de treinamento, não esperem aprender isso em alguns dias.

— Apolo e eu também treinamos muito, e se não trabalhássemos em equipe teríamos perdido — Kate afirmou. — É sempre bom ter um parceiro para confundir o adversário e para perceber coisas que você não percebeu.

— Não tenho paciência para isso... — Grace murmurou. — Como a Nat disse, não vamos estar de olhos fechados em uma luta.

— Nunca se sabe — Yuki aproximou-se do namorado para checar a lateral do rosto dele onde Kate havia dado o golpe. — Vamos para a enfermaria, isso vai ficar inchado.

— Também preciso, acho que o rosto do Scott tirou alguns ossos do lugar — Cassy deu uma leve cotovelada no atlante, saindo da sala de treinamento com os outros.

A enfermaria ficava do mesmo andar, já que muitas vezes os heróis deixavam a sala bem machucados por conta de treinos muito pesados. Eles entraram no local espaçoso, que comportaria facilmente vinte pessoas que precisassem de ajuda, e Cassy pegou duas bolsas de gelo, uma para ela e outra para seu irmão.

— O próximo buta latihan vai ser com mais barulho ao redor e eu não vou estar vendado — Damian aceitou o saco de gelo e sentou-se em uma das macas.

Grace correu e ficou na frente do moreno em menos de um segundo.

— O quê?! Vai nos matar se isso acontecer, e eu quero viver mais do que só dezesseis anos! Além do mais, já fomos péssimos nesse que, de acordo com os dois ninjas cegos ali, — ela apontou para Kate e Apolo. — Foi moleza. Como espera que derrubemos você no hardcore?

— Ela está meio certa — Scott disse.

— Sugiro que treinem mais se não quiserem apanhar, então — ele respondeu.

— Esse aqui não consegue nem praticar em treinos básicos de luta corpo-a-corpo, imagina luta às cegas — Natasha olhou para Scott.

— Aposto como não consegue passar nem um dia totalmente vendada sem dar de cara num vidro, passarinha — ele provocou, um sorriso se formando nos lábios dele conforme a raiva da thanagariana aumentava.

— Posso ficar um dia inteiro vendada e ainda lutar contra bandidos melhor do que você já lutou a sua vida toda — Natasha retrucou, seu tom sério.

— Que ótima ideia, Nat — Cassy falou e todos se viraram para a Wayne mais nova. — Podemos fazer um desafio para ajudar no treino às cegas do Dami. Passar um dia inteiro vendado e ainda lutar contra bandidos assim, quem tirar a venda antes perde.

— Isso não vai dar nem um pouco certo, é suicídio! — Kate se pronunciou. — Não podemos sair por aí completamente vendados e esperar que os bandidos com quem lutamos sejam legais o suficiente para não atirarem na gente enquanto estivermos distraídos.

— Falou a super mestra na luta cega — Scott zombou.

— O buta latihan é para ser usado somente para lutas corpo-a-corpo ou com armas brancas, não armas de fogo — Damian explicou.

— Tive uma ideia — Yuki disse e todos voltaram as atenções para a oriental. — Sempre saímos em duplas, podemos fazer o desafio em que apenas um use a venda e o outro, o mais experiente, fique de olho para o parceiro não ser atacado por armas de fogo.

— Gostei disso — todos ouviram a voz de Melissa e se assustaram com a súbita aparição da heroína. — Damian, geralmente manda oito pessoas irem para a enfermaria depois de seus treinamentos. Hoje só mandou dois, está perdendo o jeito.

— Seu comentário é apreciado, irmã — ele ironizou.

— Para de andar com o Scott, já tá falando igual a ele — Mel olhou para Cassy. — Vão mesmo fazer esse desafio?

— Sim! — Yuki, Scott, Natasha e Cassy responderam.

— Vamos acabar nos matando, ainda acho uma péssima ideia — Kate falou.

— Medrosa demais para tentar? — a insinuação da Wayne fez o clima ficar tenso entre os heróis. Grace deu vários passos para longe da loira e ficou atrás de Natasha, caso houvesse uma briga.

— Melissa... — Apolo tentou repreender a namorada, mas Kate o interrompeu.

— Eu poderia fazer isso a hora que quisesse. Adoraria ver você tentar, traidora — a Queen ficou perigosamente perto demais da outra.

— Até poderia ver, mas vai estar com os olhos fechados — Mel rebateu e antes que Kate falasse mais, Apolo separou as duas.

— Já chega, vocês duas! — o semideus ficou entre elas.

— Então o desafio está de pé? — Yuki perguntou.

— Claro, agora é pessoal — Cassy sussurrou, referindo-se à sua irmã e Kate. — Só espero que não acabe com alguém sangrando...

§

— Eth, chame a polícia para o prédio número 21 em Bowery, Gotham. Apolo e eu acabamos de cuidar de alguns membros da gangue do Duas-Caras, mas infelizmente ele não estava aqui — Canário disse pelo comunicador enquanto Apolo colocava os homens inconscientes em uma pilha.

— Ok, eles logo vão chegar!

— Fez um ótimo trabalho vendada, nem precisei te ajudar — Apolo comentou, aproximando-se da amiga.

— Nunca tinha lutado pra valer sem ver nada, foi bem emocionante — ela sorriu. — Precisa tentar algum hora.

— Eu vou, pode ter certeza! — ele cruzou os braços e olhou para o grupo de criminosos que haviam acabado de derrotar. — Me pergunto como a Batgirl se saiu, ela já deve ter tirado a venda por impaciência.

— Não começa, Apolo — a loira se afastou dele e andou até o corredor do prédio em que estavam.

— O quê? — ele a seguiu.

— Sempre tenta falar da Melissa nas nossas conversas, e esse assunto sempre termina com você tentando me convencer a perdoar ela.

— Vocês duas são amigas, só estou tentando ajudá-las a acabarem com essa rixa, mas isso só vai acontecer quando deixarem de serem tão orgulhosas — Apolo já havia tentado isso diversas vezes, mas nenhuma das duas estava muito afim de colaborar.

Kate sabia que as intenções do amigo eram boas, porém não conseguia se forçar a tentar reatar sua amizade com a Wayne.

— Sinto muito, Apolo… Nada seria como antes se voltássemos a sermos amigas, eu não sei se conseguiria confiar nela de novo. Mesmo que tudo aquilo sendo uma encenação, consegui ver nos olhos dela que ela gostou de nos atacar.

— Ela estava com raiva.

— Eu também estou — Kate suspirou, apertando mais a venda ao redor de seu rosto e já podendo ouvir as sirenes de polícia se aproximando. — Vamos embora.

Apolo ainda não havia desistido, só esperaria para falar com Kevin para que os dois criassem um plano para que as duas pelo menos conversassem.

Eles deixaram o prédio pelos fundos e voltaram para o beco escuro em que Canário havia estacionado sua moto. Antes que saíssem da calçada da rua deserta para entrarem no mesmo, ambos ouviram algo e, apesar de vendada, Kate foi a primeira a se abaixar quando sua moto passou de raspão por cima dos heróis.

— Agora isso é algo que não se vê todos os dias… — os dois se levantaram imediatamente, virando-se na direção do beco escuro. — Chuva de motos é um caso perigoso, essa cidade é mesmo um lixo.

Kate identificou a voz como sendo masculina e ela nunca a ouvira antes.

— Warrior, quem é esse?

— Amigo dos Luthor — Apolo já estava desembainhando sua espada e logo a apontou na direção do semideus que andava na direção deles com um sorriso de canto nos lábios. — Sabia que havia algo de estranho sobre você. Quem te mandou?

— Vai descobrir logo, prometo. Enquanto isso, estou extremamente entediado e preciso de entretenimento urgentemente! — Rick deu uma risada sombria. — Preciso mencionar aquele discurso que semideuses costumavam fazer há séculos atrás antes de iniciarem uma luta ou podemos ir direto para a diversão?

— Sua aura exala destruição, discórdia e morte, não sei como não percebi de cara que era filho de Ares — Apolo se colocou a frente de Kate, aproximando-se de Rick.

— Bingo! Pelo visto vamos direto para a diversão — Rick puxou uma submetralhadora MP5 que estava presa em suas costas e começou a disparar contra Apolo à queima roupa.

O herói ergueu seus braceletes e os colocou na frente de seu corpo, deixando-os absorverem o impacto das balas e fazendo o possível para impedir que as mesmas atingissem sua parceira. Ele começou a andar para frente, ainda com os braceletes erguidos, até ficar perto o bastante de Rick para lhe desferir um chute. Ficou surpreso ao ver o vilão bloquear o golpe usando o cotovelo, sem parar de atirar.

Quando as balas acabaram, Rick jogou a arma para longe e sacou duas pistolas, apontando-as para ambas as pernas de Apolo. O herói deu um salto por cima do oponente, escapando por pouco de levar dois tiros nos joelhos, e parou atrás dele. Quando tentou acertar o pomo de suas espada na nuca do outro semideus, o viu abaixar o corpo a uma velocidade absurda, em seguida desferindo uma cotovelada no peito do Prince.

Apolo sentiu uma leve falta de ar, o golpe fora dado com precisão e força de semideus, então havia doído bastante. Ignorando seu corpo, ele bloqueou um soco do oponente e acabou recebendo uma cabeçada no rosto, que o fez dar alguns passos para trás.

— Isso é tudo o que as amazonas te ensinam? Já vi que minha irmã deve ser tão fraca quanto você — Rick andou até Apolo, que pareceu surpreso com a afirmação do vilão. — Acho que quando resgatar o amor da minha vida na prisão, vou fazer uma visitinha para a Lyta naquela Ilha.

Aquele comentário pareceu deixar Warrior com raiva, pois ele apertou o cabo de sua espada com mais força, porém apenas levantou voo e saiu do caminho de Rick. Só então o filho de Ares ouviu uma voz em seu ouvido.

— Quer ouvir um segredo? — Canário perguntou e nem esperou uma resposta, já soltando um grito extremamente alto, fazendo o semideus voar contra a parede do beco.

Apolo pousou bem ao lado da parceira, percebendo que ela ainda estava vendada.

— Vai mesmo continuar com isso? — ele questionou.

— Não vou perder depois de chegar tão longe — ela deu um sorriso. — Quem é essa Lyta?

— Uma amiga amazona que cresceu comigo. Ela é filha de Circe, mas não sabia que era de Ares também — ele guardou sua espada, olhando para Rick, que estava rolando no chão com a orelha sangrando. — Vamos levá-lo para a minha mãe, ela vai cuidar para que ele não…

Apolo não precisava estar vendado para seus outros sentidos ficarem mais aguçados, então empurrou Kate para trás e uma lâmina laranja, que parecia feita de energia, passou bem no local em que antes a loira estava. Uma segunda lâmina passou ao lado do rosto do herói e ele impediu que a mesma atingisse seu ombro esquivando-se para trás.

— Você é rápido — ele viu a jovem trajando uma malha preta com linhas nas laterais que emitiam um brilho laranja, sua máscara cobrindo a metade inferior de seu rosto e seu cabelo preso. — Sempre quis ver se minhas lâminas conseguiam cortar um semideus, acho que vou descobrir hoje.

Aura avançou contra Apolo, que habilmente desviou dos golpes da vilã. Ele conseguiu segurar ambos os braços dela, mas antes que pudesse fazer algo, foi violentamente empurrado contra o chão e recebeu dois socos no rosto.

Rick se levantou e acertou um chute no herói antes de olhar para Janessa.

— Não deveria estar aqui — ele disse, sério.

— Nem ligo.

— Nem liga?! Meu trabalho é proteger você, criatura, se for presa seu irmão não vai me ajudar a salvar minha Duelinha!

— Não sou uma garotinha indefesa. Vou cortar um semideus e não me importo qual deles — ela ameaçou.

Rick não conseguiu responder, pois levou uma rasteira e caiu no chão. Apolo o segurou pelo colarinho da blusa e o jogou para fora do beco, onde teria mais espaço para  dar uma bela surra nele.

Janessa levou um chute nas costas e deu vários passos para frente, só então vendo que Canário ainda estava ali.

— É cega ou alguma coisa, princesa? — Jane perguntou, erguendo seus braços em posição de defesa.

— Enxergo muito bem, obrigada — Kate avançou contra a vilã, parando seu soco no meio do ar ao sentir algo quente próximo dele. Precisou abaixar seu braço rapidamente e ainda sentiu algo queimar sua pele de raspão.

Ela tinha armas, a Queen percebeu. Tirar a venda começou a parecer uma ótima ideia agora.

Janessa começou a girar seus braços aleatoriamente, algo que a heroína reconheceu como sendo zin quan, ou drunken boxing, uma luta violenta, sem padrões exatos e um dos estilos mais difíceis do kung-fu. Ela nunca havia aprendido aquele tipo de luta por ser baixo e sem sentido, mas por sorte conseguia defendê-lo sem muita dificuldade.

Sempre que o calor chegava perto demais, era fácil para Kate identificar a proximidade da lâmina, e então desviar o golpe. Conforme lutavam, a loira começou a dar vários passos para trás até estar fora do beco, podendo ouvir Apolo e Rick lutando do outro lado da rua deserta.

O filho de Ares conseguiu derrubar o herói e segurou o cabelo dele com força, batendo seu rosto na parede várias vezes. Apolo conseguiu acertar um soco forte na perna do outro, tanto que ouviu o som de um osso se quebrando e Rick foi obrigado a se afastar.

— Seu filho da puta! Bastardo de merda! — o vilão berrou, pulando para trás, porém não caindo no chão.

Apolo conseguiu se levantar.

— Você me obrigou a fazer isso. Agora se renda e eu te levo para o hospital para depois ir para a cadeia — Warrior o viu dar uma risada.

— Uma perna quebrada não vai me parar, idiota! Sou filho de Ares, não sou fraco como você, seu verme patét... — ele foi cortado quando um carro surgiu do nada e acertou a lateral de seu corpo, fazendo-o ser lançado para longe e atravessar a vitrine de uma loja.

— Minha Nossa, quem você matou?! — Apolo ouviu a voz de Yuki e olhou para dentro do carro, vendo que ela estava vendada no banco do carona e Tony dirigia.

— Semideuses se curam rápido, ele vai ficar bem, infelizmente — o detetive respondeu.

— Depois não quer que eu dirija porque estou vendada...

— Não tenho problema com você dirigir vendada, o problema é que não tem habilitação ainda — mesmo sem ver os olhos da oriental, ele sabia que ela tinha revirado os olhos e deu uma risada. — Estávamos de passagem quando ouvimos o som de uma luta bem agressiva, estão bem?

Antes que Apolo respondesse, Kate foi jogada com força em cima do capô do carro. Kodachi rapidamente saiu do carro ao ouvir o barulho e retirou sua venda, indo na direção de onde ela havia sido jogada.

Tony saiu do carro e viu o amassado no capô, inclinando levemente a cabeça para o lado.

— Você engordou bastante pra fazer esse estrago — ele comentou e ela se levantou.

— Não é hora de piadas, Questão! — ela estalou as costas.

Apolo se aproximou para ver se ela estava bem, quando foi puxado para trás e bateu com as costas na parede de um prédio, conseguindo se esquivar a tempo para que o soco de Rick não acertasse seu rosto.

— Você não desiste mesmo, não é? — o herói já estava ficando irritado.

— Viu, eu disse que ele estava bem — Tony falou, logo virando-se para Kate e deixando que os dois semideuses continuassem sua briga. — Então, quem te deu uma surra?

— Uma garota com lâminas que queimam, não consegui ver o rosto dela como pode notar — ela apontou para a venda.

— Lâminas? Duas? — ele parou de observar a briga que acontecia não muito longe deles e, apesar de estar de máscara, ela sentiu a seriedade na voz do maior.

— Sim.

— E elas mudam de cor? Laranja, vermelha, azul?

— Não vi nenhuma cor, gênio!

— Essa garota tem 1,74, cabelo castanho, olhos verdes, rosto e nariz finos?

— Não sei como deixar mais claro o fato de eu não ter visto ela! Se está tão curioso, pode ir dar um "oi", a Kodachi deve estar lutando contra ela no beco porque estou ouvindo o som de espadas se chocando.

Ela só sentiu o vento quando ele correu para onde ela falara. Agora seria uma boa hora parar tirar a venda, mas ela preferiu não, já que queria vencer Batgirl naquele desafio.

Kodachi havia começado a lutar contra Aura e ficara impressionada com aquele estilo de luta que nunca vira antes, precisando se defender mais do que realmente atacar. Ela girou uma de suas espadas uma vez e conseguiu fazer um corte em um dos braceletes da vilã, danificando uma das lâminas.

Janessa ficou com raiva e sua outra lâmina se tornou vermelha, agora sendo capaz de cortar qualquer coisa. Ela desferiu outro golpe na direção da heroína, porém, dessa vez, as kodachis de Yuki foram cortadas facilmente e ela precisou saltar para trás para não ser atingida.

A oriental viu Jane continuar com os golpes até que derrubou a heroína e tentou baixar a lâmina vermelha no rosto dela. Yuki conseguiu segurar o braço da Crane antes que ela o fizesse, esforçando-se para empurrar a vilã para longe de si, e falhando.

Jane se preparou para jogar todo o peso de seu corpo em cima de Kodachi e conseguir cravar a lâmina na cabeça dela, mas foi impedida quando uma mão segurou firmemente seu pulso e a puxou para cima. Antes que soubesse o que estava acontecendo, foi empurrada com certa violência contra a parede de tijolos do beco e sentiu outra mão empurrar seu peito para que ela ficasse parada.

Ela parou de lutar para sair daquela posição ao ver a máscara sem face bem na sua frente.

— Tem muito tempo que não vejo essa máscara, mas parece que foi ontem — ela comentou, dando uma risada.

Ele soltou o braço da morena e arrancou a máscara de seu rosto sem nenhuma delicadeza, ficando congelado ao perceber que era mesmo quem ele pensava.

— Surpresa — ela sorriu abertamente.

— Questão! — Yuki gritou, não entendendo o motivo para ele estar parado encarando Janessa. A voz dela pareceu extremamente distante para o detetive enquanto ele tentava sair do choque inicial.

Ele segurou o rosto da vilã e o virou para o lado, parecendo achar o que procurava quando viu o comunicador articular no ouvido dela. Ele se inclinou para perto o suficiente, aproximando sua boca coberta do aparelho.

— Espero que esteja ouvindo, seu desgraçado, e é melhor rezar para eu não te encontrar! — ele disse, seu tom baixo, porém carregado de ódio.

Janessa o empurrou para longe.

— Isso não é jeito de falar com seu melhor amigo, Tony — ela piscou para ele antes de correr até uma escada de incêndio que havia na lateral de um prédio.

— Como ela...? — Yuki não conseguiu perguntar, pois ele foi atrás da Crane.

Janessa pulou e conseguiu alcançar a escada, logo percebendo que Tony faria o mesmo e acertando um chute no rosto dele, fazendo-o cair de costas no chão.

— Diz pra Cassy que mandei um beijo pra ela, não nos vemos há alguns dias — ela disse antes de subir rapidamente as escadas e invadir um dos apartamentos pela janela.

— Questão, o que foi isso? — Kodachi correu até o amigo. — Como ela sabe o seu nome e o que você falou pra ela?

— Não falei nada pra ela — ele disse, sério, se levantando e andando a passos pesados para fora do beco.

— Isso não explica nada! — a oriental o seguiu. — O que há com você?

Ele simplesmente entrou no carro e acelerou, deixando seus colegas de equipe sem entenderem nada.

— Rick fugiu — Apolo disse. — Acho que alguém mandou ele fazer isso, porque o cara não desiste fácil.

— E a garota? — Kate perguntou para Yuki.

— Também fugiu.

— Por que o Questão saiu daquela forma? — o semideus questionou e Yuki negou com a cabeça.

— Também queria saber...