Fora infinitamente mais difícil deixar Konohagakure no Sato pela primeira vez, quando ainda era uma criança extremamente manipulável e se deixara levar por todas as escolhas erradas, influenciadas por uma das únicas pessoas que ele nunca deveria ter dado atenção.

Uchiha Sasuke passara muito tempo na prisão após o fim da Quarta Guerra Shinobi. Tempo o suficiente para se deixar levar pelas súbitas vontades de teorizar sobre o que teria acontecido se ele simplesmente tivesse escolhido o Time 7 ao invés de (matar) seu irmão.

Às vezes, ele respondia fisicamente, com tremedeiras e uma transpiração quase febril, ao estresse de relembrar todos os conselhos experientes de Kakashi, as tentativas frustradas de lhe enfiar alguma coisa na cabeça – até mesmo pelo uso da força – de Naruto e...

Sasuke também se lembrava vividamente do dia em que partira, como se tivesse gravado e tatuado cada milésimo de segundo com o seu sharingan – exceto que ele nem chegara a usá-lo.

Mas havia algo de especial naquela memória que fazia com que nem se ele quisesse, pudesse contaminar com sua amargura e angústia.

Possivelmente era a presença de Sakura.

— Pegou tudo?

Sua mão, que trancava a porta da frente pela última vez, vacilou por alguns segundos.

Não era todo dia que alguém conseguia surpreendê-lo com a sua presença.

Sasuke respondeu de forma afirmativa com a cabeça e tomou seu tempo para debater se selava a chave da casa junto com o resto de seus poucos pertences ou se deveria devolver para o Hokage.

Ele tinha a impressão de que o gesto seria mais simbólico do que interpretativo, ao passo em que se ele a levasse, estaria comunicando que desejaria voltar e morar no mesmo lugar. E se a deixasse, talvez Kakashi visse como um ato de distanciamento.

Escolhas.

Sasuke precisava começar a fazer as certas.

Em um movimento lento e propositalmente explícito para não pegar a segunda pessoa presente de surpresa, ele jogou o molho de chaves para trás, olhando discretamente para ver se ela iria pegar.

O ato pareceu pegar Sakura de surpresa, e apenas por seus anos de treinamento shinobi e puro reflexo, ela conseguiu agarrar o objeto antes que ele caísse no chão.

— Sasuke-kun?

O Uchiha fez uma série de selos e em uma pequena explosão de fumaça, um pergaminho como qualquer outro agora continha tudo o que Sasuke gostaria de levar em sua jornada de redenção – que consistia apenas de roupas, armas e duas fotografias.

Ele colocou o cilindro em um dos bolsos de sua vestimenta e virou o torso de modo a encarar completamente sua ex companheira de time.

Sasuke procurou fazer contato visual, mas Sakura se esforçava ao máximo para encarar qualquer ponto que não fosse ele.

Ele suspirou internamente.

— Guarde-as.

— Que?

— As chaves, Sakura.

Sasuke viu os olhos de Sakura se arregalarem aos pontos, sua boca partindo-se, a formar uma adorável ‘o’, e não pôde deixar de mostrar a sua própria versão de um sorriso presunçoso.

Ele sabia que ela tinha entendido a mensagem, mesmo que não pudesse discernir claramente a emoção que dançava em seus olhos claros enquanto Sakura admirava a simples posse em sua mão.

Esse seria o pequeno segrego deles.

Sua pequena oração.

Guarde-as... eu pego quando voltar.

Sasuke passou a andar lenta e calmamente em direção aos portões de acesso da Vila, sabendo que Sakura acompanharia seu ritmo.

Diferentemente da primeira vez, onde ele praticamente rastejara da porta de sua casa até a rua onde seria interceptado por ela, agora Sasuke simplesmente tomava seu tempo para apreciar o caminho.

Apreciar a companhia.

Fazia toda a diferença do mundo não estar sozinho.

Ele não estava esperando que ela aparecesse em sua porta; o combinado havia sido que o Time 7 se encontraria na saída de Konoha – embora Naruto não tivesse dado uma confirmação e ele se encontrava inclinado a achar que seu amigo-rival não daria as caras.

E ele precisava saber o que exatamente tinha mudado.

— Você não precisava ter vindo me buscar. — Embora suas palavras parecessem rudes, seu tom de voz era suave e calmo.

Um sussurro.

Sakura piscou algumas vezes a mais do que o necessário e moveu-se inquietamente.

— Eu sei. Mas...

Ela mordeu o lábio inferior.

— Eu senti que deveria. Acho... que eu precisava sentir que dessa vez é diferente.

Dessa vez você não está indo embora de vez.

Não está deixando todo mundo para trás.

Não está me deixando.

Sasuke optou por não responder, utilizando do silencio confortável para tentar transmitir a única coisa que ele conseguia pensar em falar, mas se sentia travado ao tentar deixar passar.

Eu vou voltar.

Por você.