Sakura era uma ninja médica renomada, o que ele tomara conhecimento ainda na época de seu “aprendizado” com Orochimaru quando este fizera questão de lhe informar por um motivo ou dois. Ela fora a aprendiz da Godaime por anos, o que lhe dava um ar de importância onde quer que andasse na vila ou com quem quer falasse, sendo um civil ou o Kage de Suna.

Além disso, Sasuke também estava dolorosamente ciente de que ela podia transformar árvores e pedras em pó com apenas um soco carregado pela quantidade certa de chakra. E que sua ex companheira de time era, naturalmente, do tipo genjutsu, ainda que ela dedicasse um tempo mínimo e quase inexistente de seu treinamento nessa arte ninja.

E, claro, ele tinha a inquietante impressão de que se ela quisesse, Sakura poderia ser capaz de usar ninjutsu médico como uma arma letal assim como Kabuto – e que apenas não o fazia por princípios.  

Ainda que soubesse de tudo isso e mais um pouco, Sasuke não conseguiu evitar de se surpreender quando ela errou propositalmente por centímetros a cabeça de Hatake Kakashi como forma de distração para que Naruto conseguisse enfim colocar as mãos no par de sinos preso no cós da calça do Hokage.

Talvez Kakashi realmente estivesse ficando velho demais para o trabalho no campo – e seu trabalho sedentário de escritório apenas agravasse isso – mas sua derrota fora sem dúvida mérito de Sakura e sua persistência.

Sasuke podia ter arquitetado a luta do início ao fim, mas, realmente, ele se sentia disposto a colocar tudo nas costas de Sakura – ignorando completamente a pequena participação do seu melhor amigo, claro.

O Uchiha fez uma careta internamente com a direção de seus pensamentos e caminhou sem pressa para onde seu antigo time estava parado no meio da clareira.

— Eu deveria ter previsto isso. — Kakashi falou de forma arrastada e sem se preocupar em esconder o tom de divertimento em sua voz.

— Por que eu sinto que você deixou a gente ganhar, Kakashi-sensei? — Naruto perguntou, suspeitando de algo.

— Porque ele deixou, idiota. — Sasuke interviu quando se viu perto o suficiente dos outros três.

Dando-lhe um de seus clássicos sorrisos, Kakashi balançou a cabeça em falsa reprovação.

— Não fale assim, Sasuke.

Ignorando seu ex professor, Sasuke virou o olhar para Sakura só para perceber que já estava sendo observado pela garota. Estava na ponta de sua língua elogiá-la por sua performance na sessão do dia, mas ele se absteve de comentar qualquer coisa, pensando que ela claramente não precisava da aprovação dele.

Pelo contrário, ela se tornara essa kunoichi competente sem que precisasse de – ou melhor, sem que pudesse ter – qualquer comentário que ele viesse a fazer sobre suas habilidades.

Sakura estava bem sem sua intromissão.

Não que ele estivesse satisfeito com isso.

Sasuke desviou o olhar.

— Tanto faz. Você está velho, Kakashi-sensei, nós teríamos conseguido os sinos de qualquer forma.

— Aa, será? — O copy ninja coçou o queixo como se considerasse a questão seriamente.

— Nem mesmo com os nossos chakras selados você pode contra os três juntos, sensei. — Sakura falou despreocupadamente, um sorriso satisfeito nos lábios.

Ficou óbvio pelo jeito como Kakashi os olhou que ele não achava que seria capaz de vencer qualquer um dos seus ex alunos mesmo que lutasse um por um, o que só confirmava para Sasuke a existência desse exercício como forma de arrastá-lo para fora de suas obrigações por algumas horas.

Claro, também havia o fato de que ele sabia que o Hatake não teria tempo disponível para passar com o seu time de gennin por um bom tempo, considerando a quantidade de pendências deixadas pela Guerra – e nesse ponto o coração de Sasuke se apertava.

Porque ele sabia que a próxima vez que fosse ver Hatake Kakashi, o Rokudaime Hokage, seria para pedir sua dispensa imediata e por tempo indeterminado do serviço de shinobi da Aldeia da Folha.