Crônicas das terras arrasadas: O sentimento algoz escrita por Abistrato


Capítulo 9
Capítulo 9 - Jennifer Wagen


Notas iniciais do capítulo

Olá desculpem a demora para postar! A vida de faculdade estava tensa...
Enfim espero que gostem do personagem novo!



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Capítulo 9 – Jennifer Wagen

A noite cai enquanto o diesel, que lentamente acaba em meu tanque,  levava-me para o norte. Meu estômago implorava por atenção e minha bunda já estava pedindo arrego, mas a fome e a dor não tiravam aquela visão que eu tive do Will da minha cabeça. Será que fui eu a responsável pela morte do meu amado? Talvez... Com certeza se eu não tivesse deixado minha faca cair, ele ainda estaria vivo, mas agora não é hora para isso. Droga, eu pretendia virar a noite pilotando, mas vou ter que parar para abastecer.

Às vezes me pego perguntando se Emily está cuidando bem da Rachel. Quantas roupas será que Rachel já fez? Isso não importa agora, eu já deixei as duas para trás, mas é como já dizia aquele antigo ditado militar: “O soldado fraco odeia aquilo à sua frente, mas o forte ama o que está às suas costas”. Bem… Pelo menos foi isso que eu acho que Will quis dizer.

Ao longe eu avisto luzes indicando que havia energia elétrica em algum lugar e provavelmente uma vila. Beleza! Finalmente eu vou poder esticar minhas pernas, abastecer e aliviar o peso sobre minha bunda fora que, com certeza, dormir lá será mais seguro, fora que não vou ter que caçar, gastar minha “ração” ou cagar no meio do nada.

Aproximando-me notando que não há muros ou paredes apenas grades cercando o local. Eu estranho isso, mas acho que já falei com Victor uma vez sobre esses lugares e pelo que lembro a grade apenas serve para manter animais do lado de fora, pois o propósito é apenas abastecer veículos e dar alimento e repouso pra mercadores e viajantes. Quando estou ao portão, um par de homens armados pedem que eu desça da WomanO’War.

― O que você acha que está fazendo com uma caminhonete de combate, senhorita? — um deles pergunta.

― Não se preocupe, eu estou sozinha e só pretendo abastecer, comer e dormir antes de voltar para a estrada.

― Posso saber o que você faz em uma caminhonete como essa sozinha se não é para eu me preocupar? ― Sério? Eu estou cansada, com fome, morrendo de vontade de me aliviar e você vem querer fazer hora.

― Olha aqui!... ― Respiro fundo, não quero ter que cagar no chão de novo. ― Eu me perdi da minha caravana quando fomos atacados por Draugs. Eu tinha mais um companheiro, mas ele morreu.

― É verdade, você já é a quinta essa semana, mas a maioria que reclama vem do outro lado da estrada então cuidado amanhã, esses Draugs tão demais ultimamente, pode entrar. ― Ele sinaliza para o outro abrir o portão, então o atravesso.

― Ei! Você sabe alguma coisa desse pessoal que tá dando um jeito nos Draugs? ― eu pergunto curiosa.

― Existem muitos rumores, mas o que sei é que quando eles aparecem corpos se estendem no chão.

― Da onde eu venho se fala muito deles, parece que eles se vestem de Draugs e pilotam carros iguais aos deles para poder enganá-los.

― É verdade? Eu queria saber mais moça, mas não sei de nada.

―Sem problemas. Bem...eu vou estacionar, vocês cuidam dos carros?

― Pode ir comer sem preocupação, sempre tem um dos nossos olhando e tomando conta.

― Brigada, até mais...

 Eu estacionei onde tinham umas motos na frente. Ao descer da WomanO’War eu lembrei que Gabriel tinha posto umas revistas no porte luvas, então peguei uma aleatoriamente, pus enrolada em um dos bolsos e entrei num restaurante.

Quando eu entrei no lugar percebi que achei que fosse um restaurante na verdade era um bar então fui para o balcão. O lugar estava lotado de homens mal-encarados e muitas mulheres fáceis, principalmente jovens, mas não parecia haver muitas prostitutas.

O lugar era um pouco velho, mas parecia muito bem-cuidado uma vez que todas as luzes funcionavam perfeitamente, o chão estava limpo e o balcão de madeira escura contava com uma estante onde todas as garrafas de bebidas e um grande tonel ficavam dispostos. Várias mesas para oito pessoas com bancos longos feitas de madeiras estavam dispostas no centro do estabelecimento enquanto mesas para jogos de cartas se encontravam no canto direito mais próximo da porta.

Todos olhavam para mim ao passo que eu andava para dentro do bar. Meu ego aumentou até que percebi os carregadores da Esperança no meu peito junto dos cartuchos da BFF e minha faca, basicamente, parecia que eu ia para uma guerra. Então eu de cabeça erguida, mantendo a pose, mas morrendo de vergonha, fui até o barman que era um homem bigodudo com pouco cabelo e uma pança enorme.

― Eu quero uma cerveja e você serve algo pra comer?

― Sim, eu tenho bife com salada e bife com batata-frita ― ele disse enchendo uma caneca no barril logo atrás dele.

― Eu quero com salada.

― Ok, pode se sentar em uma mesa eu a chamo quando ficar pronto. Serão 25 centavos. ― Eu dei o dinheiro e ele me entregou a caneca.

Fui para minha mesa e olhei em volta, ninguém mais olhava para mim, eis que eu acho meu salvador, a luz no fim do túnel, aquele iria me livrar do sofrimento na terra e me trazer prazer novamente a vida. Eu achei o banheiro!

Uma vez lá dentro eu estrategicamente chequei, como todo guerreiro de elite faz, a presença de papel higiênico. Inexistente. Estando num bar no meio do nada eu ficaria impressionada se tivesse. Como se não bastasse esse inconveniente, a minha tão esperada leitura de banheiro não passava de uma revista masculina com modelos que me faziam parecer gorda e partes íntimas de cores utópicas que me faziam duvidar da minha saúde. Não vou me esquecer de agradecer ao Gabriel pelo papel higiênico.

...__________...

Eu quase fiquei feliz com aquela sensação de dever cumprido ao passo que joguei minha revista junto de minha caneca e fui buscar meu prato de comida, mas assim que volto noto uma menina bem ruiva sentada na minha mesa folhando minha revista.

— Você gosta desse tipo de leitura? E por que estão faltando tantas páginas? — a enxerida perguntou.

― Esse é o meu papel higiênico! — digo envergonhada tirando da mão dela. — E quem é você? ― eu pergunto mal-humorada ao sentar.

― Oi! ― Ela sorriu simpática. O tipo de gente que eu mais detesto... ― Eu sou Patricia, mas pode me chamar de Paty. O que você faz da vida?

― Eu sou uma pilota, por quê? ― Eu não vejo muita ameaça nela, mas continuo desconfiada.

― Você carrega armas demais para ser uma pilota... ― Ela não é burra, interessante.

― Ok, eu estou caçando um grupo de homens, que tal? Gostou mais agora? ― eu disse irônica.

―Vamos lá, eu to tentando ser legal com você, eu acho que você tá brava com alguma coisa e tá descontando em mim. Tô certa ou não tô?

― Pode ter certeza.― Eu fico surpresa. — É tão óbvio assim?

― Tá bom, se você quiser me conta o que aconteceu.

― Nada, só um dia de trabalho.

― E o que aconteceu no trampo?

― Desde quando isso virou um interrogatório? ― Irrito-me.

― Sabe o que eu acho? Você tá cansada por que algo ruim aconteceu no seu trampo e devia relaxar, por que você não vai falar com o Dimitri. Ele é aquele gato ali na mesa. Eu nunca vi nenhuma mulher inteligente resistir ao papo dele e ele tá afim de você. ― Apelando pro meu orgulho feminino? Isso é golpe baixo, sorte que eu já o perdi há muito tempo. Ela nota que minha cerveja acabou.― Ei, Carlos, trás mais uma caneca pra minha amiga aqui.

― Ei! Eu não vou pagar essas.

― Relaxa, eu sou a filha do dono do bar. – Ela faz uma cara maliciosa de diversão.

― Bem... Tá bom... Se fosse tão bom assim ele não teria te mandado e já que ele é tão bom por que você mesma não fica com ele? — digo com a boca cheia tentando espanta-la.

― Eu já tô ocupada com outro gatinho.

― Olha aqui... Paty, eu entendo que você tá querendo ser legal, mas eu não tô afim. Eu não vejo a hora de voltar pra estrada.

― Você tem alguém te esperando em algum lugar, né?

― Tenho.

―Olha, eu sei que você o ama, mas… Eu não quero ser dura, mas se ele gostasse tanto assim de você ele estaria com você agora…

― Você, não sabe nada sobre amor, pirralha! — explodo. Ela havia tocado na minha ferida e eu não iria deixar barato.

― Eu posso ser jovem, eu não tenho medo de falar a minha idade, eu tenho dezesseis, mas as marcas no seu rosto, as feridas em suas mãos, dizem que você também não sabe muito, eu acho que você conhece um tipo de amor que não te faz feliz. Eu tô te dando a chance de fazer o que é certo e ser feliz, fora que amanhã você volta pra estrada do mesmo jeito.

― Saia da minha mesa agora! ― Eu ponho a Valquíria com força na mesa.

― UOUOUO calma... Carlos, mais uma caneca aqui. Façamos assim eu e você vamos para minha mesa se você não gostar do pessoal você fala que vai ao banheiro e vaza. Claro que as bebidas estão na minha conta.

― NÃO! Eu já falei pra sair da minha mesa.

― Tá bom! ― Ela sai ofendida.

Eu volto a comer minha comida agora em paz, até que de repente minha mesa está cheia de gente. Todos os moleques da mesa da Patrícia vieram pra minha e ela sentou do meu lado junto do tal Dimitri.

― Deus... Vocês tão querendo morrer tanto assim? ― A determinação deles era irritante, mas infelizmente todos eram simpáticos e risonhos demais pra meter bala neles. Malditos adolescentes.

― Se o profeta não vai até a montanha, a montanha vai até o profeta ― Paty responde com um sorriso.

― Fora que todo mundo tá querendo conhecer a fuzileira... ―Um jovem magricelo com cabelos que mais pareciam tentáculos negros mostrava um desenho que ele tinha feito de mim.

O desenho de fato era impressionante. Tratava-se de eu posando com a BFF encostada no meu ombro e Valquíria na minha outra mão olhando para a esquerda com uma chama saindo do meu olho direito. A riqueza de detalhes que ele pôs no desenho era incrível e chama azul era simplesmente sensacional, bem... Foi um desenho feito à caneta então é claro que a chama seria azul, tudo era azul.

― Nossa, como você fez tão rápido?!

― Ele é o melhor tatuador do mundo, por isso ele desenha rápido e bem, não é amor? ― disse uma menina grudada no braço tatuado do rapaz.

― É... – Ele estava um pouco perdido.

―Foi ele que fez minha tatoo ― disse Paty mostrando uma borboleta que tinha no pescoço.

― Ele fez o meu também ― disse uma menina loira na outra ponta da mesa mostrando um símbolo musical em sua nuca.

― E o meu.― Mostrou o rapaz que acompanhava Patrícia um dragão chinês que ficava no braço.

― Ele também fez o meu. ― Dimitri mostrou as costas onde havia um urso pardo bebendo vodca da qual eu ri um pouco, claramente um sintoma do início da minha embriagues.

A conversa fortemente regada à cerveja com os adolescentes continuou e a cada nova caneca de cerveja eu me tornava cada vez mais simpática, pelo menos me sentia assim.. Paty e o rapaz do dragão chinês me contaram como começaram a namorar e o tatuador descreveu toda história de sua vida desde que foi expulso de casa por se dedicar ao desenho até criar seu estúdio de tatuagem, entretanto não foi ele que mais falou comigo, e sim, Dimitri.

Ele era aquilo que todas as meninas do acampamento desejavam: um homem grande, forte, belo, sedutor e totalmente fútil. Ele tinha a habilidade conversar sobre todos os assuntos imagináveis parecendo interessado, mas o jeito como se portava e como me olhava deixavam claro que ele não estava lá em nome da amizade. Apesar disso, Dimitri não era atirado e sabia que não havia me conquistado não ousando nada além de indiretas criativas em tom de brincadeira para saber o quão perto ele estava de me seduzir. Ele estava infinitamente longe. Eu normalmente ficaria ofendida com as intenções dele e liberaria minha fúria, mas o álcool apenas me fazia rir de suas tentativas como se fosse algum tipo de piada, o que me passava a impressão de que o rapaz achasse que eu estava cada vez mais suscetível aos seus encantos .

Todo o bate-papo foi interrompido por uma discussão que surgiu em uma das mesas, onde homens jogavam cartas. Todos na minha mesa ficaram desconfortáveis e discretamente pararam de falar para reclamar do barulho. Ao olhar para trás vi dois homens completamente bêbados brigando já de pé. Ambos estavam armados, mas não pareciam se preocupar em usar suas armas nem em sair na porrada para resolver a questão. Pareciam mais dois cachorros rosnando e latindo um para o outro sem se morder de fato ao passo que acordando a vizinhança toda. Por mais que não gostasse de um grupo de adolescentes irritantemente simpáticos eu ainda conseguia aguentar, agora dois filhos da puta metidos a macho que não saem de cima do muro, isso eu nunca aguentei! Então eu decidi dar um basta na situação.

― Ei! Seus dois bostas! Dá pra calar a boca?! Tem gente tentando conversar aqui ― Todos na minha mesa emudeceram e desviaram o olhar quando os dois olharam para mim enraivecidos. Eram homens nojentos, claramente alcoólatras que não tinham a menor noção de higiene, nem de respeito.

― O que você disse? ― Os dois se aproximaram assustando todos da minha mesa que desviaram o olhar enquanto apenas eu, mesmo em perigo, ria do quão rápido eles tinham virado amigos para vir em cima de mim enquanto cutucava o rapaz ao meu lado com o cotovelo que, por sua vez, tentava se esconder.

― Tá achando que é quem? Tá querendo levar uma na cara, puta? ― Ele levantou a mão aberta.

― Aí! Se vocês botarem a mão nela eu quebro os dois. ― Dimitri se pôs entre mim e os dois homens. Temos um cavalheiro entre nós!

― Vai querer levar chumbo no lugar da sua namoradinha é, moleque? ― Ele tinha a mão na coronha da arma. Repentinamente toda a graça acabou para mim e minha face jocosa se fechou.

―Dimitri, senta, eu sei me cuidar ―eu disse séria, mas ele insistiu.―Agora! ― Ele sentou à contravontade.

― É senta, bichinha ― disse um dos homens deixando Dimitri ainda mais mordido assim como eu. A última gota já tinha sido dada a muito tempo, mas vermezinhos de estradas como esses não mereciam levar o melhor de mim, então eu respirei fundo, lentamente eu terminei minha caneca, limpei minha boca, virei em direção ao homem, cruzei as pernas, pus a mão direita na cintura e disse.

— Anda, você não ia me dar um tapa? Eu quero ver se você é macho o suficiente pra me dar um tapa — incitei-o apontando paro o meu próprio com o indicador esquerdo. Ele levantou a mão novamente então disparei Come Quieta sem tirá-lado coldre. O infeliz caiu urrando e xingando. Ninguém entendeu nada por alguns segundos me dando tempo de suficiente para pegar Valquíria e apontar para o outro homem antes que ele sacasse a arma. — Dimitri tira as armas dos dois.— Eu me curvo para ficar mais perto do homem caído.― Eu não estou de saia para cruzar as pernas e... Acho que agora você não é tão macho assim, né? — Aproximo-me ainda mais e sussurro. — Não se preocupe, a primeira menstruação é sempre a pior.

― Sem tiros dentro do bar ― disse o barman empunhando uma espingarda. Lentamente eu desengatilhei Valquíria e a pus no coldre novamente. O outro homem tentou sair de fininho.

― Ei! ―Ele olhou temeroso para mim. ― Tira o lixo ― e ele obedeceu arrastando outro para fora do bar.

— Nossa você nem levantou da mesa — disse o Dimitri impressionado como todos na mesa.

― Não é a primeira vez que um par de bostas se que se acham machos vem querer arrumar briga comigo. — Meu sorriso alcoólatra voltou, me fazendo ficar orgulhosamente sem jeito. — vocês jovens se impressionam fácil.

― Bem... Na verdade, você arrumou briga com eles ― disse Paty me corrigindo.

―Magina, eles só me irritaram um pouco. — Eu estava orgulhosa de mim mesma. — Não se ameaça bater na cara de ninguém e se o fizer... Bem... Quem tá na chuva é pra se molhar, né?

― O quê?! Você não tinha que fazer aquilo... Foi crueldade! – disse a loira, que irritaria a Jennifer sóbria, mas não a embriagada.

― Pode até ser, mas ele nunca mais vai levantar a mão pra ninguém. Sabem o que dizem, bom ou mal, o homem armado é quem faz as regras. Por acaso eu era o homem dessa vez. Ei, desenhista, eu aceito uma tatuagem sua!

― Beleza!... ―Ele pensou um pouco.― E o que você vai querer?

― Eu quero a chama azul no olho! Falando nisso qual seu nome?

― Legal... Frenzy― Estranho...

..._________...

Depois de muita conversa, papo jogado fora e canecas viradas nós decidimos ir para o estúdio de tatuagem do Frenzy. Normalmente eu não gostaria de fazer uma tatuagem principalmente na cara, mas o desenho me cativou muito (é claro que três das canecas tem alguma coisa haver com isso). Todos, tirando a loira que saiu por motivos mais... Prazerosos, foram me ver ser tatuada.

Chegando ao local tudo era escuro então Frenzy pediu para a menina que o acompanhava ligar a chave geral nos fundos que toda feliz e, saltitante,obedeceu-lhe. Quando a luz ligou uma parede repleta de desenhos de pessoas apareceu. Todos eram incríveis, coloridos, com detalhes impressionantemente minúsculos e todos eram de lendas das terras arrasadas.

― Cara... ― Eu peguei o trejeito dele. ― Isso é demais, tem todo mundo aqui! Katsushiro Kambei. ― Eu apontava enquanto reconhecia, apesar dos nomes estarem escrito logo abaixo de cada um Carl “DeadEye” McCoin, Amy “A Açogueira” Sawyer, Kimber “Furiosa”, Mark “O Incendiário” Miller, Nathan “O Imortal” Moore, Maximilian “O Louco”, tem todo mundo! Você conheceu todos?

― Não, a maioria foram só como eu imaginei a partir de descrições que eu ouvi... ― disse Frenzy enquanto eu apreciava ver meus heróis de infância, eis que acho duas figuras estranhas entre os desenhos.

― Quem são esses dois? — Apontei.

― A da trança é a Stella “A caçadora” Clark. Uma das militares de elite mais consagradas do Império, uma mestra com um arco. Reza a lenda que uma vez, antes dela ir pro alto escalão, o pelotão dela foi mandado em uma missão suicida contra uma vila rebelde, o pelotão inteiro morreu, menos ela que com um arco roubado matou todos na vila um a um, às vezes até três de uma vez. Ela é a defensora da justiça e da ordem. É o júri, a juíza e a executora. Ela foi uma das cabeças da caça às lendas. ― disse Dimitri, com efeito.

― Essa aí passou aqui... Gente boa, mas muito quieta, de poucas palavras e um ar de superioridade ―relatou Frenzy enquanto arrumava seus equipamentos. Dentre as imagens havia outra que se sobressaía. Era uma pessoa grande que vestia uma armadura de aço negro parecida com aquelas que eu tinha visto em um livro de história medieval, porém maior.

― E quem é esse outro? ― Volto à questão inicial apontando para a imagem.

― Esse filho da puta é o Golem! ― explica Dimitri irritado.

― Calma! — assusto-me — precisa disso?

― Sim, na verdade ele é o maldito Draug que matou minha mãe.

— Mas o que aconteceu? Foi um assalto? — Fiquei curiosa.

— Foi uma emboscada. Quando eu tinha dois anos meu pai e minha mãe, que eram mercadores, decidiram buscar uma vida mais calma, um lugar para se assentar, criar raízes e poder me criar, mas ai esse puto apareceu. — Eu podia ver a raiva dentro dele. Era uma raiva contida, bem diferente da minha, mas muito profunda. — Mas isso não importa agora. — Ele abriu seu sorriso que mesmo visivelmente forçado ainda era bonito —, é uma história muito triste prum momento muito feliz.

― Mas ele ainda está à solta? Por que eu posso mandar suas condolências pra ele ― eu pergunto.

— Felizmente não, ele morreu durante a caça às lendas, a própria caçadora o matou.

— Então ela é uma mocinha! Ainda bem que tem alguém que tire essa corja da face da Terra — concordo com ele.

— Aparentemente teremos duas agora! — Dimitri me elogiou me deixando lisonjeada. Parece que o álcool me deixa boba! Eu jamais aceitaria um elogio dele.

— Imagina, eu só gosto de ser respeitada, não saio caçando ninguém — minto. — Mas que história é essa de caça às lendas que você nunca falou antes?

— Já faz um bom tempo que o Império decidiu que eles iriam acabar com as lendas e fizeram uma proposta ou as lendas iriam virar servas do império, levando uma vida razoavelmente boa sob as ordens deste ou seriam caçados e executados.

— Por que eu nunca ouvi isso no Sul?

— Por que lá quase não tem lendas e as poucas que tem são perigosas demais como a Açougueira ou o DeadEye. Fora que a caça ainda não terminou para se vangloriarem ainda falta a Leoa que comete seus crimes e some como poeira. Fora que aqui, apesar de ser quase norte, ainda é sul, o norte de fato só começa depois da cidade destruída que vai da costa pra dentro das Terras Arrasadas.

— Eu, outro dia, ouvi falar de uma tal de Algoz você sabe quem ele é?

— A Algoz é meio que uma versão nortista da Açougueira. Ninguém nunca viu, e quando ouve falar é uma história do amigo do amigo. Falam até que foi uma história criada pelos Draugs do Norte para assustar as vítimas e facilitar a rendição. Eu acho que nenhuma das duas existe, não são pessoas que ouvimos no rádio como a Leoa ou o DeadEye.

— Tem razão, Dimitri... Obrigado pela aula. — Ri, simpática.

Existe eu sóbria e eu simpática.

― Tá tudo pronto aqui... Pode vir... ―Frenzy me esperava sentado em um banquinho atrás de uma poltrona vermelha muito parecida com que Samuel usava na para os casos dentários só que muito menos bem cuidada e higiênica. Um tatuador que estava na lua, uma poltrona suja, numa parada de caminhão no meio do nada o que pode dar errado? ― Olha, isso pode doer um pouco... ― Ele não sabe mentir.― Então... Fecha o olho e não se mexa por nada.

Ele começou pela minha pálpebra e Deus... Dói pra caralho, mas eu me preocupava mais em rezar para maluco-beleza não furar nada e acertar meu olho favorito. Dizem que aquilo que é bom, dura pouco, mas essa tortura chinesa veio em pacote família para que eu saboreasse sozinha. Depois de uma hora ele saiu de cima do meu olho e então eu pude relaxar. Agora ele passou para o lado da minha cabeça e a minha agora raspada sobrancelha. Claro que a dor não me abandonou fácil, mas uma vez fora daquela situação no mínimo incomoda diminuiu-se a... Emoção.

Se passando três horas, muitas trocas de tinta, muitos paninhos para tirar o excesso, uma sobrancelha e parte do meu cabelo raspado a tatuagem estava finalmente pronta.

― Eu vou por esse plástico no seu rosto e no seu olho pra você não borrar nada. Tira só amanhã... ― A acompanhante dele deu um gentil empurrão na cabeça dele.

― Ele travou ― ela explicou.

― Mas antes ― Ele puxou um espelho de mão.― O que você acha?

Ele podia ter o cérebro mais estragado que já vi, mas possuía um dom inegável, conforme eu mexia minha recém-inexistente sobrancelha surgia a sensação de que a chama dançava lentamente. Diferentes tons de azul-claro quase fosforescente davam a impressão de que a chama estava na temperatura de um maçarico, mas do tamanho de uma tocha sendo levemente lambida pelo vento.

― Está lindo demais. — Admirei por alguns instantes. — Mas doeu pra caralho!

― Doeu nada! Você até dormiu! — disse Paty.

― Sério?

―Sério, e você resmunga...

Enquanto Frenzy guardava seus materiais já bocejando uma leva de despedidas começou, mas eu não tirava meu único olho disponível da parede cheia de desenhos.

― Tem alguém faltando ― eu digo.

― Eu vou fazer seu desenho amanhã.

― Não, eu não sou nenhuma lenda.

― Então quem? — o tatuador olhou confuso.

― Rachel “Libre”.

...__________...

Apesar do sono Frenzy pegou lápis, papel, se sentou num banquinho e fez questão de que eu contasse a história de Rachel e a descrevesse física e mentalmente enquanto ele fazia rascunhos. Mesmo com o incomodo do meu olho eu contei tudo que sabia, adicionando algumas cenas inventadas dignas de uma lenda, da forma mais detalhada possível. A história levou ambas as meninas aos prantos e deixou os rapazes abismados. E assim Rachel se tornou, pelo menos para aqueles adolescentes, a lenda mais jovem das Terras Arrasadas.

― Como você sabe tanto dela? ― perguntou Dimitri.

― Eu meio que a adotei quando ela apareceu no acampamento ― respondi.

Logo ele terminou e nos acompanhou para a saída onde mais uma vez a leva de despedidas começou. Paty e o rapaz do dragão chinês foram para o bar onde suponho que ela more no segundo andar. Frenzy e sua menina também moravam em cima dos negócios da “família” então voltaram para o estúdio. A situação começou a ficar estranha uma vez que Dimitri não ia embora então me dirigi para a WomanO’War. Eu tenho que admitir que ele era bonito com aquele tipão russo, formato de armário e fala envolvente que muito me lembrava o Will no início do namoro, mas eu tinha que fazer esse puto entender que eu não estou afim, sem, claro, dizer que eu estava planejando fazer a maior carnificina do século.

― Você não quer dormir lá em casa hoje? Vai ser melhor do que dentro da sua caminhonete, pelo menos, mais confortável ― ele sugeriu.

― O conforto nos deixa mole, fora que eu tenho que acordar cedo pra não chegar atrasada ― disse enquanto reabastecia o tanque com o diesel guardado em um dos meus galões 4 galões.

― Tem certeza? Eu durmo no sofá se você quiser.

― Ah, por quê? Era eu que ia dormir lá antes? Ou era não bem essa sua ideia? Você não acha que é novo demais pra mim, não? Tanta menina nova disposta a fazer tudo por aí.

― Mas uma coisa é ter uma menina, qualquer um tem... Mas eu achei A mulher e não pretendo deixá-la partir tão fácil.― Ele se aproximou de mim, deixando-me entre ele e a caminhonete.

―Pifff... você não sabe onde tá se metendo, moleque... Aproveita que eu gostei do pessoal e cai fora antes que... ― ele se curvou para me beijar, mas “algo” grande e cilíndrico o impediu.

― Você não vai atirar em mim, vai?

― Vai pagar pra ver?  Ele recuou. Menino esperto, covarde, mas esperto – Boa noite, então.

― Boa noite.

Depois de guardar o galão de diesel de volta no baú, eu deitei no banco interesso da cabine. Por mais que a WomanO’War fosse larga ainda era difícil para eu achar uma posição boa para dormir. Ser alta não é um mar de rosas. Com certeza o sofá do Dimitri deve ser mais confortável do que essa bosta de caminhonete. Fica confortável, porra! A medida que eu chuto a porta da caminhonete, minha cabeça bate na outra. Ai! Deus... que raiva. Eu devia ter aceitado o convite dele. Bem... que se foda, agora vai ter que ser essa merda mesmo.

― Ai! ―O retrovisor central caiu na minha perna encolhida para fora do banco. Estranho... ― Eu sou sua mestra... ― Eu tento hipnotizar a bicheira sentimental.― Agora fica, quieta, eu quero dormir.― Eu chuto a porta mais uma vez pondo a cabeça para frente evitando o que já ocorreu, mas o porta-luvas abre ― Ai! ― as revistas sensuais do Gabriel aparecem ― Hum... Boa ideia! ― Ponho uma aberta na minha cara tampando a luz dos arredores e durmo.

...__________...

Eu acordo em um lugar completamente diferente. Quando saio da caminhonete estou novamente na frente do galpão Draug. Will! Eu corro para dentro apenas para levar um tiro do franco-atirador que já me esperava camuflado entre os cadáveres. Minha perna é atingida me fazendo cair no chão. Ele se aproxima de mim lentamente, aponta rifle para meu rosto e tira o pano que envolve seu rosto.

― Carl, seu filho da puta!

― Parece que você ficou mole, Jenny.

Ele lentamente puxa o gatilho me dando tempo o suficiente para empurrar o cano para o lado o fazendo disparar ao chão. O estampido me deixa uma pouco desorientada e com o ouvido apitando, mas rapidamente puxo o cano da arma na intenção que ele cai também. Infelizmente isso não acontece mais eu sou erguida podendo fincar minha faca em seu peito. Ele desmontar cuspindo sangue e com dificuldade de respirar em meu ombro.

― Quem está mole agora? ― sussurro em seu ouvido.

Mancando o mais rápido que podia eu desci o alçapão. A cada passo no escuro minha perna doía mais. Aquela puta do Carl, só pra me foder! Eu me apoio na grossa porta de chumbo e aço da entrada. Respiro fundo. Manco mais lentamente agora. Então que ouço um grito masculino vindo de dentro do bunker.

― Will!

A dor simplesmente desaparece rechaçada pelo meu desespero, pelo desespero do meu Will. Eu matar quem encostar nele! Eu chego ao salão de onde os gritos emanavam. Ele estava preso seminu por correntes em seus braços e pernas. Um homem sem face cortava um bife de seu braço com um bisturi enquanto vários soldados com rostos cobertos por máscaras mantinham guarda com as costas nas paredes do salão. Eu engatilho e empunho Esperança com mira no Sem-face, mas ao passar pela por recebo um tiro na outra perna de um dos soldados, me levando novamente ao chão. O pé de alguém em minha coluna me prende ao chão e minhas armas são tiradas de mim.

― Ainda bem que decidiu se juntar a nós, senhorita Wagen. Achei que ele não tava gritando o suficiente ― disse o Sem-face enquanto sangue escorria pelo corpo de Will.

― Eu vou te matar, filho da PUTA!

― Você terá sua chance... ― Um soldado entregou Valquíria a ele ― Mas por enquanto as regras são simples ou você assiste seu querido William morrer, ou você tenta me impedir... e você sabe como isso vai acabar... aí eu liberto o Will ― Ele tira todas as balas de Valquíria e me mostra a única bala que ele devolve ao tambor ― E aí o que será?

Eu tento levantar, mas minhas pernas doem muito, acho que o segundo tiro pegou no osso. O filho da puta já sabia que eu não ia conseguir me levantar, mas se eu não conseguir... Ele lentamente puxa o cão engatilhando a arma. Uma menina surge por trás de Will, com se estivesse se escondendo. Rachel? O que ela faz aqui?

― Seja forte...

Eu serei, Rachel, eu te prometo. EU VOU MATAR AQUELE MERDA! QUEM ELE PENSA QUE É PRA TOCAR NO MEU WILL!

― Então ele será?  Lentamente aponta para a cabeça de Will.

Aos berros eu levanto sem tirar os olhos do meu alvo. Depois de duas quedas consigo ficar ereta, cada passo era um grito mais alto que o anterior.

― Você decidiu mudar de ideia? Que bom... ― Ele sorriu.― Meninos...

O cano de uma arma encosta nas minhas costas. Com o estampido eu volto ao chão. Levanto minha cabeça enquanto minha boca se enche de sangue. Respirar estava difícil agora, todas as minhas inspirações eram como a primeira sugada de ar de alguém que foi estrangulado. Olho para onde Rachel estava na tentativa de pedir perdão pela minha falha. Eis que com ela há outra menina segurando sua mão. Ela está cheia de vergões roxos em seu olho esquerdo, braços e pernas. Ela é muito parecida comigo...

― Você já foi forte antes, poderá ser agora... Você me salvou, lembra? ― A jovem disse baixo e distante, mas eu a escutava claramente.

― Eu lembro... ― disse cuspindo sangue.

Levanto-me novamente respirando assustadoramente com os olhos cerrados de ódio. Outro cano encosta em mim, mas o homem Sem-face levanta a mão e o soldado volta para seu posto. Ao chegar perto ele aponta Valquíria para mim, preciso estar mais perto. Eu abro minha boa e sangue embebe o cano do anjo da morte deslizando pela minha boca. Ele sorriu. Eu sorrio. O sorriso dele sumiu quando minha faca atravessou sua papada.

Tossindo eu tirei arma da minha boca enquanto o corpo caía no chão. Quatro disparos foram ouvidos Will caiu no chão também. Todos os soldados saíram marchando da sala. Will se levantou, meio sem direção, mas a tempo de me pegar enquanto desabava.

― Amor, você vai ficar bem... ― Ele estava desesperado. ― Eu vou te levar pro hospital e vão dar um jeito em você. ― A preocupação dele era tão linda...

― Eu vou ficar... ―Tossi sangue.― Chame-a ― Apontei para a menina nova.

― Venha aqui ― ele chamou.

― Agora você pode ir... ― Eu o surpreendo.

― Mas você vai morrer se ficar aqui... eu não posso te deixar sozinha...

― Você já perdeu muito sangue... Tente se salvar... eu já morri, se me carregar ou me esperar vai morrer também. Vá!

― Eu te amo ― ele me diz.

― Eu também te amo ― ele me deita no chão e parte enquanto a mais nova segura minha mais velha mão ― Papai e mamãe estão bem?

― Sim, sempre perguntam de você... se lamentam muito de tê-la criado. ― Eu solto um único riso.― Mas agradecem por você estar lá na hora certa.

― Logo, logo eu estarei com vocês... ― Cuspo mais sangue. ― Agora volte para eles... Já irei.

― Até mais

― Até.― ela se vira quando a chamo novamente.

― Se você segurar o meu gatilho de novo, eu te mato!

― Eu não posso... Eu morri, lembra? Eu só existo na sua mente, maninha... ― Ela me deu as costas e começou a caminhar.

― Eu tive dó?

― Você não é tão diferente de mim, né? ― E ela sumiu a sair da sala.

Sozinhas, Valquíria e eu, nos olhamos até que a ausência de palavras nos despede uma da outra. Não tendo vocação para o masoquismo eu ponho minha cavaleira dos mortos contra o céu da boca. Solto lágrimas... não de tristeza ou sofrimento, mas de alegria. Finalmente verei meu pai, minha mãe e Dakota novamente. O gatilho desliza suavemente, até o tranco.

...___________...

Acordo num pulo metendo a cabeça na maçaneta da porta que a joga novamente para o assento da caminhonete. Ai! Minha coluna dói pra caralho e agora minha cabeça também, fora a ressaca e que estou com o nariz na vagina de alguém. Ao levantar eu dou de cara com dois homens armados que apontam fuzis para mim. Então desabafo:

― Uma bosta de começo para um dia de bosta...

― O senhor Taylor quer te ver, agora. ― Um dos homens diz, ou seja, deu ruim pra mim.

― Ok, ok, tô indo... ― Guardo a revista e desço.

Depois de ser “gentilmente” acompanhada até o segundo andar do bar eu sou “instruída” a entrar numa sala onde um Velho gordo com um penteado malfeito estava sentado em uma grande cadeira atrás de uma mesa de escritório suja do lado da porta estava Dimitri com a cara de bosta.

― Você é a moça que esteve ontem no meu bar com ele, certo?

― Sim, e você deve ser o dono do bar... O pai da Patrícia.

― Sim, e, infelizmente, desse vagabundo também – Ele muda o tom.

― Calma, você é irmão da... Mas como?

― Mães diferentes ―Dimitri responde.

― Ah... Mas o que me trás aqui, senhor Taylor?

― Eu quero saber que merda foi aquela que vocês fizeram no meu bar ontem? ― Ele engrossou o tom comigo.

― Calma, pai, eles a ameaçaram!

― O Caralho! Ela torturou um deles, como que alguém vai aparecer no meu bar depois do que ela fez?

― Eu não o torturei... Eu só dei um susto nele.

― Desculpa senhorita, mas qual seu nome mesmo? ―O tom mudou repentinamente.

― Jennifer. – Eu cruzei os braços.

―Jennifer, você sabe como eu ganho o dinheiro que sustenta essa espelunca? Eu ganho quando pessoas vêm aqui e consomem até ficarem bêbados. Você viria num bar onde os bêbados tomam tiro no pau ou ganham uma sessão de terrorismo psicológico? Nem eu. Então como eu vou sustentar uma família assim? Como eu vou fazer os clientes voltarem? Eu tenho que mostrar pras pessoas que eu fiz algo sobre o assunto, então como eu vou fazer isso? Pode me dizer?

― Vai ter que punir os envolvidos... ― Eu suponho.― Expulsão do bar é a melhor forma.

― Sim, é.― Ele olha para o filho.

― O quê? Você não pode expulsar seu filho de casa! ― Dimitri diz.

― Eu não tô expulsando meu filho, eu tô expulsando um marmanjo encostado.

― Eu trabalho o dobro, eu... eu...

― Vê se vira homem, moleque, e não chore, você não tem direito nenhum de chorar ― Eu digo antes que ele passe mais vergonha.

― O quê?!

― Ela tem razão, você vai embora com ela ― o pai determina.

― Ei! Eu não tenho nada a ver com ele ser um bosta! ― Eu me indigno.

― Ei! ―Dimitri se ofende.

―Viu, filho... Você vivia em função dos seus amigos... Cadê eles agora? Sabe na minha época quando tua mãe era viva.― Piff... Começou a briga de família ― Eu trabalhava noite e dia pra erguer esse bar e você? Não faz nada, né? Agora pede ajuda pros seus amigos, vai!

― Bem... ― Eu respiro fundo... Vô me arrepender... Ai, ai, ai... ― Tá, Eu te ajudo. Junta uma mala. Eu saio em 10 minutos, não vou te esperar.

..._________...

Faltando 30 segundos para o tempo limite o tal vagabundo apareceu carregando uma mochila cheia com uma ruivinha implorando, berrando e chorando pra que ele ficasse ou que fosse junto do irmão, mas o rapaz do dragão chinês a segurava.

― Me solta! Dimi! O pai não tava falando sério, fica! Pelo amor de Deus.

― Me desculpa, Paty, mas ele já tomou a decisão – Macho agora, Hein?... ― Até mais ― Ele abre os braços, o moço do dragão a solta e ambos se abraçam.― Eu volto pra te visitar.

― 10 segundos!!! ―eu grito.

― Promete? ― Patrícia diz.

― Prometo ― Ele olha para o moço do dragão.― Cuida bem dela, tá? ― Ele faz sinal de positivo com a cabeça.

Ele bota a mochila na caçamba enquanto eu vou para a cabine, ele olha para o pai que estava olhando pela janela e abre a porta da WomanO’War

― Está achando que é quem? Primeira classe? ― Ele olhou dentro do silenciador da Come Quieta ― Vai pra caçamba, escudeiro! ― Ele, com cara de bosta, fecha a porta com um tranco. ― Ei?! Você bate na tua irmã assim? ― Dimitri senta na caçamba e partimos.

Ele acena para a irmã que chorava no ombro do namorado até que a perdeu de vista. Eu posso ouvir os soluços de choro dele conforme acelero na estrada. Não se preocupe Dimitri... Eu vou fazer uma pessoa decente, nem que seja na marra.


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Notas finais do capítulo

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