Crônicas das terras arrasadas: O sentimento algoz escrita por Abistrato


Capítulo 18
Capítulo 18 - Jennifer Wagen




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Capítulo 18 – Jennifer Wagen

Vidro, plástico e metal estavam espalhados por todos os lados misturados ao cheiro de queimado da estrada me chamaram a atenção enquanto eu tentava descobrir o porquê do asfalto estar acima de mim. Meu corpo, repleto de vergões e ferimentos, doía muito, mas não o suficiente para me impedir de olhar em volta amaldiçoando o Algoz por acabar com a Woman O’War. Depois de alguns minutos tomando coragem para soltar o cinto de segurança reparei que o semi-russo ao meu lado estava inerte com um grande corte na sobrancelha molhando volante com seu sangue. Felizmente ele ainda respirava.

— Ora, ora, parece que eu não sou a única que desmaia por aqui.

Arrastei-me para fora do carro pelo chão lotado de vidro e aço que um dia fizeram parte da minha querida caminhonete. Assim que arrastei Dimitri para fora do carro, tomando o cuidado de retirar os cacos de vidro que poderiam lhe machucar as costas, e o deixei fora da estrada. Pouco depois, Amy apareceu cambaleando com o corpo repleto de arranhões, vergões e um braço inteiro em carne viva, apenas para acenar com seus dedos quebrados e cair sobre Dimitri pateticamente desmaiando na minha frente.

— Mas são dois inúteis... — Ponho a mão na testa decepcionada, contudo um leve sorriso agridoce surgiu em meu rosto — Mas são meus inúteis.

Certificado o aparente bem-estar dos tripulantes, procedi para avaliar os danos. A lataria estava inteira amaçada inclusive o teto, vidros e retrovisores haviam virado história, a barra de sustentação a metralhadora estava completamente deformada e, o mais impressionante uma das nossas rodas, certamente onde o tiro havia acertado, estava quebrada. Depois de alguns segundos boquiabertos, eu iria chutar a lateria, mas com o pé em meio voo me contive deprimida. A Woman O’War era muito importante enquanto estivesse tentando perseguir o Algoz. Agora que arma poderia fazer um estrago desses? Sem dúvidas era para abater algo maior do que nós... Bem maior.

Quando Dimitri acordou em quase vinte minutos enquanto eu tentava inutilmente trocar a roda quebrada, que girava em falso, pelo estepe, ele caçoou:

— Ora, ora, parece que eu não sou mais o burro aqui!

— A quanto tempo você está acordado?!

— A uns cinco minutos...

— E você não diz nada?

— Eu ainda estava me convencendo de que eu ainda estou vivo.

— Não importa... Só não é uma boa hora para fazer piada, eu não estou exatamente com um bom humor.

— Um: O único tipo de humor que você conhece é me humilhar — Seus dedos indicavam os números — e Dois: Eu só estou dizendo que você não vai conseguir trocar enquanto as rodas não estiverem no chão.

— Então, por que você não me ajuda a virar essa caminhonete de duas toneladas pro lado certo, seu inútil?! — esbravejei revoltada.

— Desculpa, eu estava só desmaiado se você não percebeu.

— Dimitri se você não levantar agora pra me ajudar, eu juro que você não vai mais levantar.

— Calma, calma, só tira a Amy de cima de mim, por favor.

Nós usamos minha corda para virar a caminhonete e Dimitri trocou o pneu enquanto eu me preocupei em colocar nossa vampira de estimação de volta em seu caixão na caçamba. O russo comentou sobre como eu estava mais forte e ele tinha razão. Eu carregava Amy em meus braços com bastante esforço, mas estava conseguindo apesar dela não ser muito leve. Parece que o pote do senhor Jonhson estava finalmente tendo algum efeito em mim e meus dias de semi-anoréxica terminavam. Eu deveria estar feliz por deixar de ser uma fraca que foi arremessada na parede pelo golpe de uma só mão de um assaltante gordo ou por ser facilmente derrubada por uma anomalia genética com dupla personalidade, mas a única coisa que me passava pela cabeça era como o meu plano havia falhado tão espetacularmente. Eu não conseguia conceber como eu havia sido tola o suficiente para me por em uma situação em que eu só sobrevivi por que ou Dimitri ou Amy estavam lá. Sem dúvidas foi culpa da minha e, mais especificamente, da inconsequência que Will sempre controlou em mim, mas que terminou por mata-lo.

— Concentração, Jenny — repetia para mim mesma ao por Amy dentro do baú tomando cuidado especial com sua mão desfigurada. — Cada segundo que passa o Algoz está mais longe.

— Nós não vamos atrás deles de novo, né? — Dimitri perguntou sentado no asfalto.

— Vamos, mas para onde eles foram é a questão.

— O que? Você enlouqueceu?! Nenhum de nós está em condições de lutar e olha o estado da caminhonete!

— Verdade... — Eu olhei para o chão submissiva — eu julguei mal o tamanho do caminhão de guerra e o número de pessoas nele, nunca havia visto nada daquele tamanho... — Eu queria pedir desculpas... Na verdade eu queria chorar na beira daquela estrada rachada e poeirenta, mas meu orgulho e meu ódio não me permitiam.

— Bem se eles planejavam atacar uma cidade, já podem tirar o cavalinho da chuva.

— Tudo graças à Amy... — estava pensativa — Mas eu duvido que eles vão perder a viagem, mesmo atacando algo menor e mais... — Dimitri olhou para mim estalando os olhos — próximo...

— Entra no carro agora! — Ele saltou correndo para dentro da Woman O’War.

Eu teria ficado nervosa com o jeito que ele falou, mas eu só obedeci a urgência de sua fala cujo recado rapidamente captei me jogando dentro da caçamba logo antes de uma forte arrancada nos jogar a todo o vapor na estrada de volta para a parada de Caminhão.

Dimitri não se preocupava em desviar de nenhum buraco ou rachadura no caminho me forçando a segurar na caçamba e eventualmente perder algumas munições enquanto recarregava minhas armas o que, obviamente, estava me deixando muito irritada, mas não o suficiente para repreendê-lo. Eu faria a mesma coisa... Aliás, estou fazendo muito pior. Por todo o caminho o rosto dele estava vermelho, com veias saltadas e as arfadas esporádicas entregavam seu choro contido.

Uma extensa cortina de poeira se levantava atrás de nós enfraquecendo o brilho solar até que uma grande e negra nuvem o apagou do céu. Eu me levantei e olhando por cima do teto amassado eu podia ver um incêndio ao longe, e com a ajuda da mira de Herrenvolk, eu reconheci o desenho de Amy entre as chamas. Lá estavam as duas cruzes e entre elas o Algoz com seus braços abertos intimidando pessoas enquanto seus homens as acorrentavam.

— Dimitri, para! — Ele me ignorou — Para agora, seu imbecil! Você quer matar a gente? — e assim ele fez — Esse lugar é péssimo, eu não consigo ver nada.

Com certa dificuldade a caminhonete deu a volta em uma pequena colina a oeste da parada de caminhão garantindo que não fossemos vistos e, a pé, fomos até o topo da colina onde nos escondemos atrás da uma grande pedra e arbusto. Pela mira telescópica de Herrenvolk eu podia ver não mais de quarenta pessoas ajoelhadas em várias fileiras acorrentadas umas as outras. Elas estavam cercadas pelos soldados e encaravam as duas cruzes onde os corpos se voltavam para eles. O Algoz supervisionava tudo sobre o segundo container do caminhão de guerra ao lado da sua enorme arma enquanto seus homens dirigiam os prisioneiros para dentro do mesmo.

— Eles estão fazendo prisioneiros e já estão os levando para dentro do caminhão — informei Dimitri.

— Você consegue ver minha irmã? — Ele disse com seu rosto preocupado e avermelhado.

— Sim, ela é a última da última fileira junto daquela loirinha, o namorado dela, o rapaz do Dragão e a namorada do Frenzy, os outros já devem ter entrado... — “na melhor das hipóteses” eu quis dizer, mas não falei.

— Você consegue ver o meu pai? E a mãe da Paty? —

— Não... — Na verdade, todos conseguiam.

— O que vamos fazer? — Ele disse já se levantado.

— Enfrentá-los seria burrice, principalmente sem a Amy, aliás, não sei se com ela seria pior, mas, de qualquer modo, seria arriscar vidas inocentes.

— Você pode atirar na corrente dela? Para ela fugir? — Ele disse esperançoso.

— A chance de feri-la é muito grande. — Eu disse já preparando minha respiração para o disparo.

— Pelo amor de Deus, Jenny! — a voz dele já estava alterada — Você precisa fazer alguma coisa! Você precisa salvar minha irmã!

— Eu vou fazer alguma coisa, Dimitri! Eu só não sei o que! Essa não é uma boa hora para ser inconsequente! Seja lá o que fizermos aqui terá consequências irreversíveis. — Ele se calou, mas continuava aflito.

Eu tentava imaginar tudo que poderia acontecer, mas essa era uma situação diferente do embate com Amy ou com os assaltantes, dessa vez havia reféns. Minha experiência com os Caçadores e com os Exploradores não havia me ensinado como lidar com isso, se ao menos Will estivesse aqui para surgir com alguma daquelas ideias milagrosas que ele sempre tinha na última hora e que nos salvavam das roubadas que eu nos colocava. Não adianta chorar sobre o leite derramado, agora eu teria que limpar minhas próprias cagadas e Dimitri dependia disso. Eu não tinha muito tempo agora, todo o meu conhecimento de caçadora seria posto a prova para acertar esse tiro dificílimo. quando a última fileira começou a se mover em direção ao caminhão e o Algoz se levantava para voltar ao interior da cabine. Se eu iria disparar o momento era esse, mas onde era a grande questão.

Eu tinha a distância, uma estimativa da velocidade de movimento de ambas, uma pedra onde apoiar meu fuzil e o Sol estava atrás de mim: seria um tiro perfeito. Se eu atirasse no Algoz seria mais fácil chegar ao Jack Boss com a ajuda da Açougueira, mas eu estaria condenando a Paty a uma vida de escravidão se eu não conseguisse libertá-la antes deles a venderem. Se eu de fato conseguir acertar a corrente que garantia eu tenho de que ela conseguirá fugir, claro que estão pensando nela como uma mercadoria, mas duvido que depois de ouvir o meu tiro em sua direção eles vão se preocupar em recuperá-la. Isso, na realidade, poderia abrir uma possibilidade de fuga para Paty se o Algoz não estivesse tão preocupado com a ausência de testemunhas.

A primeira integrante da fileira de Paty já havia entrado na caçamba eu tinha que decidir no mesmo instante, nem um segundo a mais então prendi minha respiração e lentamente deslizei o gatilho. Depois do estrondo e do tranco, eu e Dimitri, ele mais do que eu, seguimos o pequeno rastro de luz amarela que cruzava o ar em uma trajetória curva. Dimitri segurou a respiração pelos próximos segundos até que a sombra escura do meu alvo se tornou vermelha. Nesse instante, três suspiros foram soltos, um deles pela última vez.

O corpo tentou resistir dando alguns passos em falso para manter seu equilíbrio sem saber o que havia acontecido consigo mesmo, mas eu sabia o que tinha feito e não tardou para que Paty cedesse atingindo o solo. Os soldados de Algoz a chutaram para dentro da caçamba e se refugiaram dentro dela. Dimitri urrou chorando pela perda da sua irmã querendo ir socorrê-la, mas eu o segurei o mais firme que pude sendo quase arrastada e implorando para que ele ficasse até que o caminhão fosse embora, mas foi em vão e ele logo passou por cima de mim e da pedra que nos protegia em direção dela em meio a chuva de balas que vinham em nossa direção. Por mais que eu odiasse a desobediência suicida do pseudo-russo, eu não podia me dar ao luxo de perdê-lo, então rapidamente levantei meu fuzil para proteger Dimitri.

Ao olhar para o Algoz notei que ele me encarava de volta e podia sentir seu sorriso cruel atrás daquela máscara de aço. Ele bateu com seu fuzil no teto do caminhão e este começou a se mover me fazendo errar o segundo tiro e ele logo se refugiou dentro da cabine. O caminhão correu atropelando novamente as grades onde outrora fui parada por um segurança quando ejetou algo de si. Minha respiração estava tão pesada quanto meu coração e minha consciência. Minhas mãos avermelhadas se encontravam molhadas com o meu frio suor. Com minha caminhonete fui até Dimitri que chorava aos berros repetindo “por que?” enquanto repousava o cadáver de Paty em seu colo. Ele olhou para mim com seus olhos vermelhos e encharcados e repetiu a pergunta uma última espera de uma resposta:

— Seria muita crueldade deixá-la virar uma escrava. — eu respondi com toda a convicção e seriedade que tinha no momento. Minha resposta foi seguida de um breve silêncio enquanto eu torcia para que Dimitri se contentasse com a minha resposta. Infelizmente ele não se contentou:

— Então foi de propósito... — ele disse baixo, mas logo subiu sua voz — Você matou a minha irmã! Você...

— Eu salvei sua irmã, Dimitri! — brutalmente o interrompi segurando minhas próprias lágrimas, pois se alguém ousasse me confrontar naquele momento eu choraria e diria a verdade — Eu salvei a Paty de uma vida de trabalhos forçados, humilhação, tortura e sabe lá mais o que! Você gostaria de saber que sua irmã está apanhando, sendo estuprada e tratada como uma coisa todo dia sem poder fazer nada além de abaixar a cabeça e engolir o choro?! Existem coisas muito piores do que a morte, Dimitri! — Então um silêncio pairou.

— Nós podíamos salvá-la depois, podíamos resgatá-la... Ela ainda poderia estar viva... Ainda poderia ser minha irmãzinha... — ele disse com a garganta presa e lágrima já sumindo dos olhos.

— Você viu o quão difícil foi tentar assaltar um caminhão de guerra, mesmo com uma das lendas mais fortes ao nosso lado... você quer mesmo comprar uma briga com o Império, Dimitri?

— Você tem razão... mas eu ainda não acho que ela merecia isso. Ela sempre foi tão boa, tão carinhosa, gentil e sensível até com quem não conhecia — Era verdade — ela não deveria ter ido desse jeito tão cruel. — Ele tentou se recompor. — Podemos pelo menos fazer um enterro decente para ela?

— Temo que vamos fazer dois hoje. Meus pêsames.

Quando eu o acompanhei até o meio da parada de caminhão foi quando ele realmente perdeu seu rumo. O pai de Dimitri estava crucificado ao lado de outro homem que me era estranho. Ele não repetiu aquilo que havia feito com a irmã, na realidade, apenas encarou em silêncio a grande estrutura madeira que um dia fizera parte da entrada do bar, mas que agora sustentava o peso do corpo desfigurado de seu pai. Uma poça lentamente se formava pelo sangue que escorria através das laterais da coluna da fachada do bar que, agora, não passava de cinzas. Ele engoliu suas lágrimas e disse:

— Jenny, você promete que nós vamos acha-los?

— Eu prometo. Agora, vamos enterrá-los.

...________...

Assim que terminou de enterrar seus familiares, Dimitri improvisou uma lápide de madeira onde gravou com meu canivete o nome dos dois e as datas tradicionais. Ele ficou em silêncio perante os dois, mas um leve ruído atrás de mim preveniu que eu fizesse o mesmo. Ao olhar atrás de mim encontrei Amy que se arrastava no chão aparentemente fugindo enquanto encarava a outra cruz assustada tal como fez no metrô. Ela fez isso até que se chocou contra a parede queimada do antigo atelier de tatuagem onde pôs as mãos sobre a cabeça enquanto chorava aos gemidos de sua horrível voz. Dimitri logo foi até ela enquanto eu continuei vasculhando os escombros do bar. Amy ainda apresentava os ferimentos de antes. Dimitri se pôs na frente dela e logo começou a falar com ela que aos poucos foi parando de chorar até o silêncio completo.

— Agora eu sei como você se sente e prometo que não acontecerá de novo. — Foi a única coisa que ouvi dele quando voltei com os espólios subtraídos de um corpo carbonizado.

— Ei, Dimitri, pronto para voltar para a estrada? — O entreguei uma velha espingarda.

— Estou, mas acho que ela não está. — Ele se preocupava com Amy.

— Ok, então me ajude reabastecer a caminhonete e me diga onde os guardas armazenavam a munição.

Ele me mostrou onde ficavam as bombas de combustível que apesar de ter sido assaltada pelos escravistas tinha mais do que o suficiente para reenchemos todos os meus tanques. Depois disso, nós fomos até o arsenal que estava intocado, protegido no subsolo por uma grande porta de metal cuja chave estava entre as cinzas da superfície, com munição suficiente para encher meu baú até a boca algo que a Açougueira não gostou nada. Falando na nossa pequena canibal favorita, ela não tardou a achar corpos frescos para satisfazer sua voracidade insaciável.

Assim que Dimitri e eu terminamos de carregar tudo na Woman O’War e já tínhamos aliviado nossas necessidades fisiológicas em lugares sem privacidade garantida eu anunciei a nossa partida junto do pôr-do-sol:

— Ok, todo mundo pronto?

— Eu to pronto — disse Dimitri abrindo a porta quando se deparou com o meu silenciador.

— Eu dirijo dessa vez.

— Meu Deus, você podia ter pedido — Ele deu a volta apenas encontrar Valquíria ocupando o lugar do passageiro e me olhar com uma cara de bosta — Deixa eu adivinhar: eu vou na caçamba.

— Tá aprendendo rápido, hein? — ironizei.

— Me diz por que você me odeia tanto? — Ele respondeu ríspido e irritado com minha atitude sem noção.

— Magina, eu? Apesar de você ter me embriagado até me fazerem uma merda na minha cara, quase ter me pego à força, me jogado no meio de um tiroteio sem necessidade, quase destruir minha caminhonete, a deixar ser roubada, quase me feito morrer no metrô, eu não tenho nenhum ressentimento. — ironizei novamente.

— Mas não teríamos chegado tão longe sem a Amy, na verdade provavelmente teríamos morrido ou pior. — ele respondeu ainda irritado e com muita razão.

— Bem, já que você gosta tanto dela pode ficar aí atrás, assim se ela ficar com fome talvez ela come você ao invés de mim. Sem resposta eu continuei com minha brincadeira fora de hora — Olha ela vindo ai!

Estava quase escuro quando a Açougueira veio até nós ensopada em sangue de terceiros toda alegre e saltitante sorrindo com seus dentes pontiagudos e sua boca larga o que me deixou desconfiada de início, mas, assim que vi as mãos dela, fiquei confusa. A mão dela estava perfeita, o braço estava coberto de pele e não havia um só vergão em sua pele. Tanto eu quanto Dimitri ainda tínhamos os roxos e as feridas da nossa batalha, mas Amy parecia tão ter feito nada. Aliás, eu poderia dizer que eu não via nela nenhuma cicatriz do nosso duelo no metrô. Sem dúvidas ela tinha mais mistérios do que eu ou Dimitri poderíamos descobrir, mas pelas falas durante a batalha eu tenho certeza que a maioria deles te alguma relação com o Algoz.

Amy agora estava sentada na caçamba ouvindo atentamente às histórias da adolescência do pseudo-russo que chorava pela irmã enquanto cruzávamos a escuridão das terras arrasadas. O silêncio reconfortante de Amy seria melhor que qualquer atitude que alguém como eu poderia ter tomado a respeito do sofrimento do meu escudeiro. Na cabine eu olhava para ela pelo retrovisor remendado no teto torto. Ela abraçou carinhosamente Dimitri e o deixou chorar em seu ombro até que dormisse então ela sumiu apenas para aparecer do meu lado me olhando curiosa enquanto molhava as costas do seu dedo indicador em minha bochecha.

— Parece que eu estou ficando mole mesmo, Amy. — Foi a única coisa que eu consegui responder antes da minha garganta travar.


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