Senti uma coisa enroscar nas minhas pernas e olhei para baixo. Era Lyanna.

— Mama. – Ela disse e seus braços estavam pra cima pedindo colo.

A peguei e voltei meu olhar para minha mãe. Como ela pode trazer ele aqui? E se Lissa e Dimitri soubessem onde eu estava?

Dei passagem para os dois entrarem e claro que não pude de deixar de ouvir o comentário idiota de Christian.

— Você foi rápida ein Rose. – O garoto tocha disse sarcástico e eu só não o soquei porque estava com Lya nos braços. Todos olhavam para nós e eu rezava que Abe viesse e desse um soco nesse idiota.

— Lya meu amor, a vovó chegou. Por que você não vai brincar um pouco ela? – Lya sorriu com a expectativa de brincar com a avó e começou a bater as palminhas dela. Entreguei a minha filha a minha mãe, que antes de sair para o lado de Abe me lançou um olhar de desculpas. Depois me resolvo com ela.

Quando vi que minha filha estava longe de mim e entretida com a avó, eu soquei a cara do Ozera.

Ele gemeu de dor e alguns guardiões do meu pai se aproximaram mais, mas eu dei um sinal para que ficassem onde estavam. Lya estava tão entretida com Janine quem nem percebeu nada. Abe me olhou tentando saber o que eu pretendia com aquilo. Mas eu voltei a minha atenção para o Ozera.

— Respeito seu idiota. – Eu disse e vi que o Ozera me olhava sarcástico. Como sempre.

O agarrei pela camisa e o arrastei até a cozinha. Mais uma vez os guardiões de Abe fizeram questão de me seguir, mas eu esbravejei para que eles ficassem onde estavam.

Quando entrei na cozinha o soltei e passei pelo balcão passando as mãos no cabelo tentando manter a calma.

— O que você está fazendo aqui Ozera?  - Perguntei sem rodeios, tentando ao máximo não enfiar uma estaca no coração dele.

— Não sei se sabe Hathaway, mas a sua mãe é a minha guardiã. – O idiota riu se encostando a pia.

— Eu sei disso idiota. Eu quero saber o que está fazendo aqui. Na minha casa. – Eu estava perdendo a paciência que eu já não tinha.

— Vim fazer uma visitinha Hathaway. Você foi embora e nem se despediu. Fiquei magoado. – Ele colocou a mão no coração fazendo uma cara de ofendido.

— Pare de gracinhas Ozera. Eles sabem que você está aqui? Sabem que eu estou aqui? – Me virei de costas para ele, pensando na possibilidade de ver Dimitri e Lissa de novo.

— Não Rose. Eu vim sozinho. – Eu suspirei ainda não aliviada com tudo isso. Passamos um tempo em silêncio. – Por que foi embora Rose?

Eu não sabia se deveria o responder. Eu deveria expulsa-lo da minha casa e fazê-lo prometer não contar a ninguém o paradeiro de Rose Hathaway. Mas eu não podia deixa-lo sem explicações.

— Eu estava sufocada. Me sentia traída pelas pessoa que eu mais amava. – Respirei fundo tomando coragem para continuar. – Lissa me disse que eu não seria mais a guardiã dela e sim Dimitri. Dimitri me ignorando como se eu não existisse. Tudo aquilo que aconteceu depois do tiro de Natasha mexeu muito comigo Ozera. – Me virei novamente para olhar para Christian, que tentava entender o que eu dizia. - A inabalável Rose Hathaway estava quebrada.

Caminhei até as caixas de salgados que Abe encomendou e retirei alguns os colocando em uma bandeja prateada.

— Desde criancinhas eu e Lissa sonhávamos no dia em que nos formaríamos e eu me tornaria a guardiã dela. Eu arriscando a minha vida pela dela. Esse era o plano. – Fui até a outra caixa de docinhos e coloquei em outra bandeja. – Mas muita coisa aconteceu com a gente. A vida nos deu uma rasteira de surpresas. Mas eu ainda seria a guardiã dela. Sendo rainha ou não Lissa era a minha Moroi. E eu a protegeria. Era o meu dever. Conhecer Dimitri foi só uma consequência do meu trabalho para protegê-la. E depois que tudo acabou, mesmo que eu não tivesse mais esperanças com Dimitri eu sabia que Lissa estaria ali para mim. Assim como eu sempre estive para ela. Mas eu me enganei. Na primeira oportunidade Lissa se deixou manipular pela coroa e colocou alguém no meu lugar. E o pior é que ela colocou a pessoa que mais amava depois dela no meu lugar. Ela colocou Dimitri como seu guardião.

— Rose eu...

— Me deixe terminar de falar Ozera. – Em outra bandeja coloquei copos de refrigerante. – Depois disso eu já estava quebrada totalmente. Mas depois Adrian veio falar comigo. Na realidade veio gritar comigo. Me acusou de coisas que não eram totalmente mentiras. Mas o pior foi quando ele disse que eu machucava as pessoas. Ele saiu do quarto e Lissa entrou novamente. Foi quando ela me ofereceu o cargo de sua guardiã. Não me leve a mal Christian, mas ser sua guardiã só demonstraria o quanto estavam sentindo pena de mim e eu não podia viver com os olhares de pena de todos e ainda conviver com Lissa e Dimitri ao mesmo tempo. – Ouvi a gargalhada de Lya na sala e sorri. – Quando vim morar com Abe era a minha chance de recomeçar. A minha chance de deixar todo o meu passado para trás. Seis meses depois de eu vim pra cá eu achei uma moça grávida que foi atacada por Strigois me um beco, eu a ajudei, mas ela morreu no parto. Eu nunca fui muito devota a Deus, mas todos os dias agradeço a Ele por me dar a chance de recomeçar com Lyanna ao meu lado. Ela pode não ter saído do meu ventre, mas é criada como se fosse.

O garoto tocha ouvia atentamente tudo o que eu dizia e um brilho de compreensão passou por seus olhos. Me virei de costas para ele novamente, esperando uma resposta a tudo o que eu disse, mas nada veio.

— Lyanna é minha filha e nada vai mudar isso. Eu estava lá todas as noites quando ela acordava com fome ou dor. Eu estava com ela quando ela deu os primeiros passos e disse as primeiras palavras. Eu sou a mãe dela e nada vai mudar isso. – Me virei para ele novamente. – Não sei se entende o que isso significa...

— Eu entendo. – Ele me interrompeu e eu não entendi.

— O que?

— Você disse que não entendia sobre essa coisa de filhos, mas eu entendo. Lissa e eu tivemos um bebê cinco meses atrás. – Lacrimejei quando eu ouvi aquilo. Lissa deveria ter ficado linda com um barrigão. E ainda mais linda com um bebê nos braços.

— Eu... Fico feliz Christian. De verdade. - Eu poderia ter estado lá quando ela descobriu a gravidez. Poderia ter estado lá quando ela entrou em trabalho de parto. Eu poderia ter estado presente em todos esses momentos. Pare de pensar assim Rose. Se você estivesse lá não teria Lya.— E espero que entenda que como mãe eu amo a minha filha e não deixarei nada acontecer a ela. Por isso não posso deixar que me encontrem Christian. Eu estou feliz aqui. Estou vivendo bem. Lutei muito pra deixar as coisas do passado no passado. Não posso andar para trás agora. Voltar para a Corte ou deixar que me encontrem é a mesma coisa que voltar ao passado. E eu não quero isso.

Peguei as duas bandejas de salgados e docinhos e saí da cozinha deixando Christian sozinho. Não tinha ninguém na sala quando eu voltei. Deviam estar lá no jardim. Abe excêntrico como sempre, montou uma enorme tenda para que pudéssemos comemorar no jardim. Quando cheguei ao jardim, Lya dançava desajeitadamente com Abe que tentava fazer com que minha mãe dançasse também.

Christian veio atrás de mim com a bandeja com os copos de refrigerante, eu acenei para a mesa onde deveria colocar a bandeja e assim ele fez. Fiz o mesmo e logo voltei à atenção para a minha filha. Andei até ela e quando a mesma me viu se jogou nos meus braços.

Ela se mexia com o ritmo da música que tocava ao fundo e eu tentava acompanhar a animação dela. Eu a girava e rodopiávamos por todo o jardim, com todos olhando pra gente. No fim ela se cansou e se aninhou nos meus braços. Eu a abracei e senti o aroma de seus cabelos. Camomila silvestre.

Ali. Com a minha filha nos meus braços eu não me arrependi de nada que fiz até hoje. Talvez no passado eu tivesse sonhado com uma vida ao lado de Dimitri, mas estava no passado. Eu tinha Lya, e eu era feliz. Sozinha.

Lya logo voltou com a sua energia e saiu pelo jardim divertindo os convidados. Não percebi a aproximação de Christian.

— Ela se parece com você. – Ele me disse bebendo um copo de cerveja. Aonde é que ele arranjou aquela droga? – Mas tem os olhos dele.

— Parece até que um castigo. Em outra realidade ela poderia ser filha minha e de Dimitri. – Ele bebeu outro gole da cerveja. - Onde arranjou isso?

— Um dos caras do seu pai me ofereceu.

— Aquele imbecis estão bebendo na festa da minha filha? O que eles têm na cabeça? – Disse irritada e o garoto tocha riu.

— Nunca pensei em ouvir Rose Hathaway falando uma frase responsável. – Soquei de leve o ombro dele. – Lissa sente sua falta.

— Christian... Não.

— É verdade Rose. Lissa teve um parto difícil e chegou a delirar de dor em alguns momentos. Ela chamava seu nome Rose. Lissa sofreu muito com o seu sumiço. – Respirei fundo. Não queria voltar a falar sobre aquilo novamente. – Mas eu entendo o seu lado. Não se preocupe não vou falar nada a ninguém.

— Obrigada garoto tocha. - Christian sorriu com o antigo apelido - Como é o bebê?

— É a cara de Lissa. Um menino forte e saudável. – Disse somente e eu me contentei com o que ele dissera.

As horas se arrastaram e chegou a hora de cantar os parabéns. Eu, Lya, meu pai e Janine nos reunimos em volta da mesa do bolo, com todos os convidados em volta de nós.

Depois dos parabéns Lya estava tão cansada que nem abriu os presentes. Ela dormiu nos braços de Christian, que tinha sido um dos mais novos conquistados por minha filha. Pedi que Pavel a levasse até o seu quarto e logo as pessoas iam embora dizendo o quanto minha filha era encantadora.

No fim só ficou minha mãe, meu pai, Christian e eu na sala de estar. Estava tão cansada que nem me importei em deixar minha mãe na sala com  meu pai e Christian e fui até o quarto de Lya, lhe dei um beijo na testa e fui direto para o meu quarto e assim que deitei na minha cama adormeci.