Após a visita do médico, Edward e Dakota permaneceram no quarto, de vigília, enquanto o rapaz ainda se encontrava adormecido.

___Você acha que ele vai se curar logo?___Edward perguntou a irmã um tanto aflito.Estava mergulhado na cadeira próxima a janela a observar o estranho que ocupava sua cama.

___Creio que sim.___Dakota respondeu de pé a um canto, olhando de soslaio a expressão de encanto do irmão para o garoto.

___Está curioso sobre ele?

___Sim...A família inteira me despertou curiosidade.A você não?

___Sim, muito.Mas...me parece que os cuidados que está tendo com ele, só se tem quando se trata de alguém muito especial.Estou certa?

Edward baixou a cabeça envergonhado, mas nunca tivera muitos segredos com a irmã, prova da profunda amizade que devotavam um ao outro.Sempre partilhavam as confidências mais íntimas.

___Eu o conhecí na última noite em Gimmerton...No bordel...

Dakota tinha agora um olhar rizonho para ele.Conhecia aquele comportamento empolgado de Edward quando algo especial estava lhe acontecendo.

___Mas não te esqueças que mamãe não suporta saber que você vai a esses lugares.E se esse rapaz estava lá, quer dizer que não é um amigo adequado para você.

___Talvez você tenha razão...Talvez ele nem queira ser meu amigo...

___Isso é difícil.Não há como alguém não querer sua amizade...___e Dakota aproximou-se para dar-lhe um beijo no rosto, concluindo___Vou aprontar-me para o jantar.

Logo em seguida saiu do quarto.

Edward continuou alí em sua cadeira, e se voltou para o rapaz, como se fosse capaz de ficar eternamente observando aquele corpo perfeito como uma escultura de mármore deitado em sua cama, sobre seus lençóis.Os momentos ardentes  na escuridão daquela rua de Gimmerton lhe vieram ao pensamento.As carícias delirantes, a voz sedutora sussurrando frases maliciosas que ele jamais ousaria repetir.

Mas nesse instante se viu obrigado a interromper seu doce enlevo porque o hóspede abria os olhos.

O rapaz virou a cabeça, certamente tentando lembrar-se onde estava.Parecia, contudo, sem forças para mover-se direito e só aos poucos deu sinais de recobrar a consciência.Olhou fixamente para Edward e ele concluiu que com certeza o estava reconhecendo.

Edward aproximou-se da cama, esperando para ver se ele ia dizer algo.Percebeu que ele parou o olhar em seu rosto com uma expressão que parecia ser de encanto.Mas quando falou foi num tom sério e frio.

___Que lugar é esse?___perguntou numa voz rouca.

___Minha casa.

Imediatamente fez força para erguer-se, como se desejasse se levantar.

___Seu corpo está debilitado.O médico disse que se fizer esforços, custará a se recuperar.

___Preciso ir para minha casa.___sentou-se na cama.

___A sua família já foi avisada do ocorrido, não se preocupe.Ele voltou a olhar para Edward fixamente.Então obrigou-se a se deixar cair na cama novamente, cedendo á fraqueza de suas forças.

___Quem é você?___Você me disse para nunca dizer meu nome.Lembra-se?

Ele não pareceu gostar nada do comentário de Edward, pois uma expressão gravemente séria se estampou em seu rosto, enquanto ele baixava a cabeça.Edward estava certo de que ele lembrava, mas que essa lembrança não lhe era agradável.Sentiu-se magoado com essa conclusão.

___Meu nome é Edward Earnshaw.

Uma cara de extremo espanto o fitou dessa vez.Os belos olhos castanhos do rapaz pareciam estar prestes a saltar do rosto.

___Você...___mas em seguida baixou a cabeça outra vez como se quisesse disfarçar algo.___Você é o filho da família Earnshaw,claro.

___Sim.

Depois disso siplesmente não dirigiu mais sequer um olhar para Edward.

___Obrigado por salvar a minha vida.

Edward refletia sobre o comportamento estranho dele, que não lembrava em nada o homem de modos sedutores que havia visto no bordel.Havia certamente algo errado.Sua total indiferença era intrigante.A não ser que tudo que havia acontecido naquela noite fizesse parte de um hábito que ele reservava apenas para a discrição de um canto escuro.Já conhecera muitos assim.Edward sentiu-se magoado com essa possibilidade.Instintivamente começou a adotar um comportamento semelhante.Afinal, independente do que acontecera entre ele e esse rapaz e o fato de ele ser o filho do novo inquilino de seu pai, não o conhecia, não sabia nada mais sobre ele.

___Não precisa me agradecer.Fiz o que deveria.

___Bem, meu nome é Jacob Swan.Acho que isso foi uma grande coincidência...___o rapaz falava sem levantar o olhar para Edward e como se estivesse escolhendo palavras.

Edward resolveu interromper a situação, anunciando num tom indiferente:

___Eu vou pedir para a criada trazer alguma coisa para você comer.

Lançou um último olhar para ele, que dessa vez o olhou também e um tanto interrogativo.Esse olhar deixaria Edward intrigado porque parecia conter um tipo de encantamento, como a primeira vez que ele havia lhe olhado quando acordou.