I Can't Love You escrita por Mrscaskett


Capítulo 108
Capítulo 108 — Tia, você pode me ajudar?


Notas iniciais do capítulo

Gente, estava ansiosa para chegar nessa parte da história e postar logo.
Espero mesmo que gostem do rumo que a história vai levar.



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KATE.

 

Enquanto coloco a massa no fogo e separo alguns ingredientes para fazer o molho, ouço também as pequenas risadas dos meninos. Sabia que não precisava me preocupar, quando colocava o filme que eles gostavam na TV, eles não davam atenção para mais nada. Ainda fui duas vezes verificar os dois, mas eles estavam realmente concentrados no colorido da TV.

— Pronto, agora eu posso ajudar. – Alexis chega na cozinha com os cabelos molhados vestindo seu pijama. Sorrio. Ela tinha pegado gosto por fazer algumas preparações, especialmente quando eu estava cozinhando. Era mais uma forma de ter um tempo só comigo.

— Ótimo, termina de cortar aqui? – ela concorda e toma meu lugar cortando algumas tomates. Fiquei olhando algum tempo, mas sabia o quanto ela era habilidosa coma faca, sempre tinha cuidado para não cortar os dedos.

— Mãe... – ela começa, mas para. Como se estivesse com vergonha de falar algo.

— O quê? – vejo ela ficar vermelha.

— A senhora acha que... – ela rir sem graça.

— Alexis, o que foi?

— Será que sua mãe ia querer ser minha avó também? – ela dispara rápido sem me olhar.

Meu coração começa a bater mais forte, aquela pergunta já tinha uma resposta óbvia. Me viro para ela, que continuou fazendo seu trabalho.

— Minha mãe se apaixonaria por você antes mesmo de mim. – digo sorrindo, porque era verdade. – e olha que eu me apaixonei rápido por você.

Alexis sorrir e me olha.

— Mesmo?

— Sim. – confirmo e coloco o cabelo ruivo molhado para trás do ombro. – mas por que a pergunta?

Ela joga os ombros e eu insisto.

— É que as vezes eu não sei como chamar ela. Johanna ou vovó... queria ter conhecido ela.

Sorrio e tento disfarçar meus olhos que começavam a encher.

— Você pode chama-la do jeito que quiser... e pode apostar que ela teria amado você. O sonho dela sempre foi ter netos e agora ela tem, mesmo não estando aqui sinto que ela está orgulhosa de nós e da família que somos.

— A tia Thereza falou que me acha parecida com ela. – eu rio, parecia impossível, mas segundo minha tia, Alexis era tão inteligente quanto minha mãe na sua idade e, tirando os cabelos ruivos, elas também se pareciam. Duvidei até ver uma foto antiga da minha mãe e sim, elas se pareciam muito.

— Filha tem coisa que a gente não consegue explicar. Você me escolheu como mãe quando tinha apenas oito anos e eu sempre vi algo em você que era meu também, mesmo não te carregando na minha barriga.

Limpo minhas mãos e aproximo ficando da altura da menina, olhando em seus olhos.

— Nós somos uma família. Você é minha filha, nunca duvide disso. Nós temos esse amor uma pela outra que confirma tudo isso e não precisamos de mais nada. Meus pais são sim seus avós, meu amor. Você pode chamar eles do que quiser, mas saiba que eles estão radiantes com os netos que tem. Vocês três. – aponto na direção da sala também e ela sorrir e balança a cabeça.

— A vovó Martha não vai ficar com ciúmes, não é? – eu rio.

— Não, meu amor. Ela não vai. – Alexis abre ainda mais o sorriso e volta a cortar os ingredientes.

— A vovó era bonita.

— Sim, ela era muito bonita. – sorrio concordando. Não tinha como negar, minha mãe era muito bonita.

Dou mais um beijo e volto para minha função de preparar o jantar.

A massa já estava quase pronta quando Castle desceu para nos acompanhar. Ele serviu uma taça de vinho e me ofereceu um gole, apenas para matar a saudade. E como eu estava com saudade daquele vinho. O meu favorito. Fechei os olhos apreciando aquele gosto já quase desconhecido por mim. Escutei a risada de Castle e não me preocupei, só queria curtir meu momento.

Enquanto Castle foi ficar com os meninos na sala, Alexis e eu terminamos o jantar. Misturei a massa no molho e servi na mesa de jantar, e como os meninos estavam acordados, coloquei as cadeirinhas de alimentação na mesa. Sempre que estava em casa eu gosto de fazer as refeições com eles, então hoje não seria diferente. Coloquei alguns pedaços de frutas para eles comerem também.

Chamei meus três meninos para jantar e Castle resolveu fazer daquilo mais uma diversão, ele ficou de joelhos no chão e começou a estimular os meninos a engatinharem mais rápido. Reece gargalhava vendo o pai daquela forma, já Jack tinha o espírito competitivo do pai, sempre querendo chegar primeiro. Quando finalmente chegaram perto da mesa Castle vibrou com eles. Alexis se abaixou para beijar os irmãos dizendo o quanto estava orgulhosa deles.

— Agora o campeão vai voar como um avião e pousar da cadeirinha. – ele pegou Jack nos braços e rodopiou um pouco até coloca-lo em seu lugar. A gargalhada era a melhor parte. Aquilo definidamente era como a mais perfeita das músicas. – Agora é a vez do outro campeão.

Ele fez o mesmo com Reece que parecia ansioso por sua vez. E como se estivesse feliz pelo irmão, Jack comemorou quando Reece pousou na cadeirinha.

— Agora é a hora jantar, por isso estamos todos na mesa. – digo olhando os dois com atenção. Coloco dois pratinhos com pedaços de frutas para eles, que começam logo a comer.

— Não é justo eles comerem só isso. – Castle olha meio que com pena.

— Eles já jantaram, amor. Reece provavelmente nem vai comer tudo. – explico e começo a servir Alexis.

Mama, mama... — Reece chama atenção me oferecendo um pedacinho de fruta e Castle me olha assustado.

— Como... quando... – ele não sabia o que dizer direito. Eu ri.

— Hoje à noite.

— Então isso merece uma comemoração. – ele se anima. – vamos ter sorvete para a sobremesa.

— Ebaaa!

Alexis vibra e como se entendessem o que estava em jogo, os gêmeos comemoram também.

 

***

 

O meu fim de noite sempre é o mesmo. Primeiro eu coloco os meninos para dormir, gosto que eles tenham hora certa para deitar na cama, assim como Alexis, mas como ela está maior, pode ficar até um pouco mais tarde do que costumava dormir.

Jack e Reece nunca deram trabalho quanto a isso. Sempre ficavam quietinhos enquanto eu ou Castle contava uma história. Os olhos atentos a cada frase entregavam que eram mesmo filhos de um escritor. Eu sei que eles gostam mais quando Castle conta as histórias, já que ele faz toda uma atuação e sons diferentes que eu não sou boa. Mas eu amo o momento de ter eles comigo, sentir eles adormecendo e ficar apenas admirando a respiração tranquila enquanto caem num sono profundo.

Com Alexis do mesmo jeito. Sempre a colocava na cama e lhe dava um beijo antes dela dormir. As vezes ficávamos conversando um pouco, outras ela estava com tanto sono que simplesmente dormia. Mas eu ainda gostava de ficar com ela até ter certeza de que ela estava dormindo, de dizer que a amo antes de sair do quarto. Minha mãe fazia isso comigo, e eu sempre sonhei em fazer isso com meus filhos.

Mas hoje foi diferente. Jack estava inquieto por algum motivo. Ele chorou quando tentei colocá-lo para dormir e se negou a largar seus brinquedos. Castle então ficou com a missão colocar Reece para dormir, já que ele estava visivelmente com sono. Alexis veio de pijama até meu quarto antes de ir se deitar e me desejou boa sorte com o irmão, que estava super acordado.

— Oi... – Castle entrou no quarto horas depois. Já passava da meia noite e Jack ainda estava acordado sem nenhum sinal de cansaço. – onde desliga a pilha dele, mesmo?

Eu rio e olho para o menino. Jack estava na nossa cama com alguns brinquedos enquanto eu trabalhava um pouco no computador.

— Ele é a bateria, e pelo visto bateria infinita. – fecho meu computador e peço para Castle guardar na escrivaninha.

— Jack, o papai e a mamãe querem dormir. – o menino olha por um segundo para o pai e depois volta a brincar com seus cubos.

— Eu acho que ele não se importa se estamos cansados ou não. – Castle sento do meu lado e eu me deito bocejando.

— Está cansada, né? Eu vou levar ele lá para baixo e você dorme, ok?

Castle tenta levantar, mas eu o impeço.

— Não... deita aqui comigo. – faço um biquinho que o faz sorrir. – A gente pode colocar um filme e já já ele dorme.

— Filho, vamos assistir um filme? – Castle pergunta e Jack o olha interessado.

— Você é um gênio, amor.

Ele me beija rápido e levanta para pegar o controle da tv. Enquanto eu convenço Jack a guardar os brinquedos para assistir, Castle volta com o urso que ele gosta de dormir. Não demorou muito para Jack deitar nos travesseiros em nosso meio e ficar quietinho assistindo o filme.

Não me lembro de muita coisa, apenas de algumas músicas e falas que já estavam decoradas em minha cabeça. Adormeci ainda no começo do filme. Não vi a hora em Jack dormiu também, apenas acordei com Castle pegando o menino em seus braços e indo leva-lo para o quarto. Puxei mais a coberta e virei de lado. A próxima coisa que senti foi Castle deitando ao meu lado, me abraçando e me puxando para perto.

— Ele acordou? – murmuro sonolenta sem ao menos abrir os olhos.

— Não... – ele beija meu pescoço. – amanhã você vai sair cedo?

— Não mais. – suspiro e me viro de frente para ele, abraçando sua cintura. – estou com frito. – resmungo e ele me abraça mais.

— Eu te esquento.

Esse é meu fim de noite perfeito. Todos os meus filhos dormindo em seus quartos. Meu marido aqui comigo, me esquentando. Meu rosto em seu pescoço e minha respiração um pouco abafada. Mas eu não me importo, eu gosto de dormir sentindo seu cheiro.

 

***

 

O som irritante do meu despertador não parava. Eu precisava que ele parasse urgentemente. Tateei a cama procurando Castle, que resmungou quando eu o cutuquei. Abri o olho contrariada e vi o travesseiro no rosto dele. É claro que ele também não queria acordar, nem sei que horas fomos dormir ontem.

Respirei fundo e busquei meu celular em cima da mesa e desliguei. O silencio parecia uma melodia perfeita. Tem como? Sim, quando você tem filhos você descobre que sim. Relaxei minha cabeça e fechei os olhos querendo voltar ao meu sono, mas então me lembrei que não era fim de semana, nós ainda estávamos no meio da semana e eu tinha filhos, trabalho e obrigações.

Olhei a hora no meu celular e saltei da cama. Já era bem tarde, Alexis provavelmente já estava quase saindo para pegar o ônibus, e nós não iriamos ter nos visto pela manhã eu sempre estava com ela pela manhã para conversarmos, quando isso não acontecia, eu fazia questão de leva-la a escola para que tivéssemos um tempo nosso também.

Chequei rapidamente os meninos pela câmera da babá eletrônica e os vi dormindo. Saí do quarto sem fazer barulho para não acordar Castle e fui até o quarto da ruiva, que terminava de colocar os cadernos da mochila.

Alexis tinha decidido a começar a acordar sozinha. Ela disse que queria ser responsável, e se já conseguia fazer seus deveres sem ajuda, ela também pode acordar sozinha. Senti orgulho dela. Alexis sempre foi tão madura para sua idade, mas ao mesmo tempo ainda era criança. Essa atitude dela me fez ver o quanto ela era determinada.

— Oi, meu amor. Bom dia. – me aproximei e beijo seus cabelos.

— Bom dia mãe. – ela sorri e volta a guardar seus livros. – o meu ônibus já vai passar.

— Eu sei. Mas que tal eu ir deixar você? Está quase na minha hora também...

— Sério? – ela abre um sorriso. Concordo com a cabeça. – então eu vou descer e comer mais um pedaço de bolo.

— Isso. Corta um pedaço para mim também. Eu vou me arrumar rapidinho e a gente vai.

— Tá, mas não demora que eu não posso perder a primeira aula.

— Ok, senhorita.

Dou mais um beijo nela e volto para o quarto. eu me arrumo em tempo recorde, e realmente fiquei impressionada. Quando saio do banheiro toda arrumada, vejo Castle me encarar com o olhar sonolento e confuso. Lindo. Me aproximo e me inclino sobre ele roubando um beijo, deixando ele ainda mais desorientado.

— Bom dia também. – ele brinca com sua voz rouca e eu rio.

— Bom dia, meu amor. – dou um selinho. – já estou de saída.

Tento levantar, mas ele segura minha mão e me puxa.

— Pensei que você não ia cedo hoje.

— Eu também. Mas acordei tarde, acabei não vendo a Alexis, então eu vou deixar ela na escola e depois vou para a clínica. Prometo não demorar para voltar.

— Tudo bem, eu vou ficar em casa. Vou tentar escrever um pouco.

— Eu ligo se vier almoçar em casa. – dou um beijo rápido e saio do quarto.

Passo no quarto dos meninos rapidinho apenas para sentir o cheirinho do cabelo deles. Faço o possível para não acordar eles e saio. Alexis já tinha terminado seu café da manhã e falava sem parar com a Jenny. Mais uma vez me senti culpada por deixar ela comer sozinha, eu odeio quando isso acontece. Me sinto uma péssima mãe.

— Parece cansada, Kate. – Jenny observa quando eu me sirvo de café.

— Não pareço, eu estou. Ontem Jack decidiu que iria testar o meu cansaço. – ela rir.

— Ficou acordado até tarde?

— Sim.. até Castle colocar um filme e ele dormir. – tomo meu café rapidamente e pego uma fruta. – filha, vamos ou você vai se atrasar.

— Tá bem. Tchau Jenny. – ela se despede e corre para me acompanhar.

— Pegou o lanche? – ela para e volta, encontrando Jenny no meio do caminho com o lanche dela.

O caminho para a escola foi feito com Alexis falando quase o caminho inteiro. Hoje ela estava decidida a falar, e isso me fez. Quando ela estava tagarela assim é porque algo bom ia acontecer hoje, e segundo ela era as aulas de futebol que recomeçariam hoje. Ela estava empolgada e com medo porque iriam escolher a nova capitã do time.

Escutei com atenção toda a sua conversa. Ela estava realmente ansiosa. Tentei alcançar como eu pude, como eu lembrava como minha mãe me acalmava, e eu acho que deu certo. Alexis saiu do carro bem mais calma e confiante. Esperei até ela entrar na escola e saí de lá com a sensação de dever cumprido. Não estava mais me sentindo uma péssima mãe. Às vezes a gente falha, é normal. Mas o importante é sempre tentar acertar da próxima vez.

Paro no estacionamento reservado em frente à clínica e respiro fundo antes de descer e encarar mais um dia. Eu amo meu trabalho, isso aqui nunca foi um sacrifício para mim. Desci e acionei o alarme do carro antes de ir em direção à clínica o hospital já estava funcionando, mas para atendimentos de rotina à clínica ainda estava funcionando, mas não era mais vinte e quatro horas como antes, já que a emergência do hospital veterinário dava conta do serviço.

— Tia. Tia. – escutei os gritos de uma criança. – tia, você pode me ajudar? – me viro e vejo uma menina se aproximar corrente.

Tiro meu óculos para olhá-la melhor. Ela estava um pouco suja e assustada. Seu cabelo curto estava bagunçado e suas roupas eram um pouco velhas.

— Você pode me ajudar? – ela pergunta novamente.

— Claro que sim. – abro a bolsa para dar algum trocado a ela, mas ela me interrompe.

— Não, eu não quero dinheiro. Você é a tia que trabalha ali, não é? – ela aponta para à clínica e eu confirmo.

— Sim, o que aconteceu?

Ela parecia realmente assustada.

— A senhora cuida dos animais doentes? – balanço a cabeça confirmando. – então me ajuda, por favor.

Ela sai correndo na direção que veio antes, mas eu não saio do lugar, entoa ela volta e segura minha mão me puxando em sua direção. A pequena deveria ter seis ou sete anos. Tinha os olhos bonitos, apesar de tristes. Eles eram cor de mel, meio claro e meio escuro. Eram lindos.

— Olha, tia. Ele está doente. – ela me mostra um gatinho de rua ferido. Ele realmente estava muito machucado e não parava de miar. Provavelmente tinha sido atropelado por alguém, mas estava em cima de um pequeno cobertor sujo, que provavelmente tinha sido um cuidado que a pequena tomou para que ele ficasse bem.

Me abaixei e acariciei a cabecinha dele, que estava assustado, mas gostou do carinho.

— Calma amiguinho, eu vou cuidar de você...

— Você pode, tia? – a menina pergunta esperançosa e eu podia jurar que estava se segurando para não chorar.

— Ele é seu? – ela balança a cabeça.

— Não, ele é da rua, mas vivia por aqui... ontem ele estava bem e hoje está doente. – seus olhos marejaram olhando para o felino.

— Eu vou cuidar dele, ok? Não precisa chorar... – acaricio o rosto da menina e sorrio para que ela saiba que tudo vai ficar bem. – mas você precisa me prometer que vai cuidar dele quando ele estiver bem.

— Mas ele não é meu.

— Bom, ele está sozinho na rua, não tem ninguém... eu acho que ele vai gostar de ser cuidado por você.

— Tudo bem. – ela abre um sorriso tímido e eu vejo que ele é bonito.

Ela tinha aparecia de uma menina carente, mas ainda assim era linda. Olhos cor de mel com cílios longos que deixa seu olhar mais expressivo. Pego o gatinho com cuidado enrolado no cobertor, fiz uma nota mental de lavar e depois devolver a menina. Disse mais uma vez que cuidaria dele e que ela podia me procurar na recepção do Hospital Veterinário.

Assim que cheguei no hospital pedi para um dos estagiários levar o gatinho para uma sala de avaliação e começar o procedimento. Troquei de roupa rápido e fui continuar o trabalho. Ele não tinha nada grave, mas precisava de cuidados por um longo tempo. Demos um remédio para dor que fez o gatinho dormir e ficar algumas horas em observação.

— Bom dia. – Lanie abre a porta da minha sala e entra empurrando um carrinho.

Sorri e levantei rápido.

— Bom dia, sumida. – abraço minha amiga e olho Joe dormindo tranquilamente no carrinho. – o que está fazendo aqui?

— Hoje era dia de vacina, então aproveitei para fazer uma visita.

— E eu amei. – abraço mais uma vez. – estava com saudade de você. E desse bebê também. Nossa como ele tá grande.

— E cada dia mais esperto. – ela sorrir babando pelo filho. – está com muitas consultas hoje?

— Não sei. – sorrio culpada. – tive um paciente especial pela amanhã, ainda vou começar meus atendimentos.

— Que paciente especial?

— Ah, um gatinho de rua. Estava chegando quando uma menina me pediu para ajudar e me levou até um gatinho machucado, nada demais.

— Kate, você sabe que não podemos ajudar todos os animais de rua. É lindo, é nobre, eu também sofro com isso, mas pensando no lado financeiro...

— Eu sei disso tudo Lanie, e o tratamento dele vai custar uma boa grana. Remédios caros e vários dias de tratamento internado até ele está inteiramente bom já que é de rua e não terá tratamento em casa... – respiro fundo. – mas eu vou pagar por fora, não se preocupe.

— Kate...

— Lanie, eu já decidi. – afirmo séria. Tinha tomado essa decisão no momento que peguei aquele animal, e não só porque custaria ao hospital.

— Bom, eu vim apenas dar um oi.

— Prometo que vou te fazer uma visita, ok? – sorriso recebendo seu abraço. – temos muito para conversar.

— Vou cobrar Katherine Beckett Castle.

Nos despedimos e meu telefone tocou para avisar que já tinha paciente me esperando. Peguei o jaleco na minha cadeira e, como quem não quer nada, resolvi olhar pela janela. Minha vista nova era linda, mostrava todo o parque da cidade. Era ótimo ver todo aquele verde, as pessoas se exercitando, as crianças brincando... passo meu olhar pela vista até que meus olhos se prendem em uma pessoa, ou melhor, uma criança.

A menina que me pediu ajuda estava lá, sentada em um banco olhando o movimento da rua enquanto brincada com uma bolinha improvisada de papel. Ela parecia distraída, mas ao mesmo tempo em alerta. Fiquei olhando para ela alguns minutos até ser chamada de volta para a realidade pelo meu telefone, estava na hora de voltar ao trabalho de verdade.

E mesmo o dia sendo cheio e eu não parando nem ao menos para almoçar, eu não conseguia parar de pensar na menina de mais cedo. Eu não sabia nem o seu nome, mas tinha curiosidade para saber mais sobre ela.

— Doutora, seu marido está na linha. – Maggie avisa quando eu acabo minhas consultas.

— Obrigada, Maggie. Passe para minha sala, vou atender lá.

Ando com uma certa pressa até minha sala onde o telefone já tocava. Me sento na cadeira e finalmente consigo respirar.

— Oi, amor. – atendo a ligação e encosto minha cabeça na cadeira, fechando os olhos momentaneamente.

Oi, não tive notícias suas o dia inteiro. Dia corrido?

Só em ouvir sua voz um sorriso surge em meu rosto e esqueço por um instante que estou cansada.

— Foi corrido. – suspiro. – incrivelmente bom. Como estão as coisas em casa?

Alexis está assistindo TV com os meninos, e eles estão chamando mama sem parar. Ainda vai demorar?

— Não, estou saindo daqui a pouco. – olho o relógio rápido e pela primeira vez cai a ficha de que já era noite. – daqui a trinta minutos eu estou em casa, ok?

Tudo bem.— ficamos em silencio alguns segundos. – está cansada não é?

— Um pouco...

Bom, então quando você chegar vai ter uma massagem te esperando. Aposto que você vai se sentir melhor rapidinho.— sorrio já ansiosa para minha massagem.

— Chego em quinze minutos.

Ouço sua risada gostosa e nós nos despedimos. Troco de roupa rápido, mas não com pressa e saio distraída. Já eram sete horas da noite, um pouco mais tarde do que costumo sair, mas hoje o dia estava realmente cheio, e ainda tive que cuida de um paciente não programado. Ao lembrar do gatinho eu me dirijo ao veterinário de plantão e peço que ele fique de olho no animal, e só assim eu saio do trabalho em direção ao meu carro.

Numa mão estava com a chave do carro, na outra o meu celular. Mando uma mensagem rápida para Castle avisando que estava saindo e o jogo dentro da bolsa quase no mesmo instante em que destravo o carro, fazendo ele piscar duas vezes seguidas.

— Tia. – ouço seu grito e reconheço sua voz quase que de imediato. Me viro e a vejo correr na minha direção. Os carros passavam a todo segundo pela rua, me fazendo entrar em alerta para a menina que corria sem ao menos olhar os dois lados da rua.

— Ei, ei, ei, ei... – falo alto estendendo o braço pedindo para ela esperar no outro lado da rua e ela para na mesma hora. – espere ai que eu já vou.

Deixo duas motos passarem e então atravesso.

— Você não pode atravessar a rua sem olhar para os dois lados mocinha. – a menina me olha com seus dois olhos escuro que tinham alguma coisa especial. Não sei porque, mas o olhar dela era marcante e com certeza eu nunca esqueceria. – o que você está fazendo essa hora aqui na rua? Já está tarde.

— Eu estava esperando a senhora. Como o gatinho está?

— Você passou o dia aqui? – olho para o lado e vejo o parque ainda movimentado, e o banco onde eu a vi de manhã estava lá, o que me fez imaginar ela sentada o dia inteiro me esperando. – você não foi a escola?

— Hoje eu não tinha aula. – ela diz desconfiada, mas ao mesmo tempo era como se ela tivesse aquela resposta treinada. – como o gatinho está? – repete e eu sorrio, mesmo desconfiada.

— Ele está bem, mas precisará passar uns dias internado para que se recupere totalmente. – sorriso dela se abre totalmente tomando conta do seu rostinho lindo e delicado, me fazendo sorrir da mesma forma.

— Obrigada, tia. – ela abraça a minha cintura e eu fico sem graça com seu ato inesperado, mas logo retribuo.

— Mas você não precisa ficar o dia inteiro aqui para saber notícias dele, você pode vê-lo.

— Posso? – ela se afasta me olhando.

— Mas eu preciso saber seu nome para deixar na portaria...

— É Lily. – ela me estende a mão e eu forço para não rir.

— Prazer, Lily. Eu sou a Kate. – aperto sua mãozinha de volta. – bom, eu vou indo para casa... e você deveria fazer o mesmo, está tarde. Seus pais podem estar preocupados.

— Eu vou, mas... – ela para e vejo seu rosto ficar vermelho.

— O que foi Lily? Pode falar...

— Sabe o trocado que a senhora ia me dar de manhã? Eu queria saber se...

— Está com fome? – eu a interrompo e ela balança a cabeça várias vezes afirmando.

— Então vamos até ali que eu vou te pagar um lanche.

Ela sorrir e nós caminhamos até uma barraquinha de cachorro quente. Pergunto se ela queria um ou dois e ela timidamente responde dois, então eu falo nosso pedido e acabo pedindo um para mim também. Enquanto o nosso pedido não ficava pronto eu a chamei para sentar em uma das mesas que ficavam em frente ao local.

Lily estava tímida, mas ansiosa para o que eu acho que vai ser sua primeira refeição do dia. Desde que sentamos ela não parava de olhar para saber se o nosso pedido estava vindo, então resolvi distraí-la com uma conversa.

— Quantos anos você tem Lily?

— Seis. Vou fazer sete em duas semanas. – ela sorrir brevemente.

— Você mora por aqui? Nós nunca nos vimos antes, não é?

— Eu me mudei a pouco tempo. Eu via a senhora entrando e saindo daquele lugar grandão... – ela aponta o hospital e eu sorrio.

Lily me olha curiosa e de repente eu sei o que seus olhos tem de especial. Eles tinham uma sede de curiosidade e encantamentos, o mesmo olhar que eu muitas vezes vejo em Castle. Mas ele é escritor, tinha necessidade de saber de tudo e se encantar por tudo, e Lily não, era apenas uma criança. Bom, ela podia ser apenas uma sonhadora por enquanto.

Sorrio para a ajudante que veio servir nossos pedidos.

— Eu não me lembro de ter te visto antes...

Puxei na minha memória a visão da menina antes dessa manhã e não consegui.

— Ninguém me nota mesmo. – ela joga os ombros e ataca o seu cachorro quente. Vejo a forma quase desesperada que ela come e tenho certeza que ela não tinha comido nada o dia inteiro.

— Você mora aqui perto? – ela balança a cabeça. – seus pais sabem que você está aqui? Porque você já deveria estar em casa, não é?

— Meus pais morrem. – ela diz de boca cheia. Não sei bem o que falar, então espero que ela continue. – eu moro com uma tia ali... – ela aponta atrás de mim e eu me viro, vendo uma rua quase escuro e imagino que seja por aquele caminho sua casa. – mas ela trabalha o dia inteiro e só chega tarde em casa.

Antes que eu possa dizer alguma coisa ela acaba de comer seu primeiro cachorro quente e bebe seu suco, e então começa a embalar o outro.

— Não vai comer, Lily? Pensei que estivesse com fome.

— Vou guardar para amanhã. – seu olhar e sorriso eram simples, e me fez aquecer o coração. O que ela tinha que chamava tanto a minha atenção?

— Não precisa, coma o seu outro cachorro quente se estive com fome. Eu vou pedir outro e você pode guardar, ok? – ela balança a cabeça sorridente e começa a desembalar sua comida. – fique aqui, não saia.

Me levanto e vou até a barraquinha novamente, faço um novo pedido e peço a conta. Enquanto esperava, eu observava a menina. Ela era visivelmente uma pessoa carente, mas ao mesmo tempo forte e se importava com as coisas. Ela ficou o dia aqui esperando notícias, mas não foi me incomodar na clínica. Ela recusou meus trocados de manhã, mas confessou que estava com fome a noite. Me pego imaginando o que ela já passou na vida. Seus pais morrem e de repente ela está morando com uma tia que talvez não cuide direito dela, já que pelas roupas e seu estado físico eram de uma criança de rua.

— Obrigada, Mike. – sorrio para o dono da barraquinha e pego o dinheiro em minha bolsa.

— Muito nobre o que você está fazendo, Kate. Essa menina passa o dia por aqui e sempre me pede para comer as sobras da mesa quase alguém deixa. – sinto meu coração se apertar. – vez ou outra eu dou alguma coisa para ela, mas você sabe, não posso fazer isso todos os dias.

— Eu entendo. – sorrir fraco olhando a menina terminar seu segundo cachorro quente. – Mike, posso confiar em você para uma coisa?

— Claro que sim.

— Quero que todos os dias você dê um cachorro quente a ela. Vou deixar pago até o final da semana. – abro minha carteira novamente e deixo o dinheiro. – diga que ela pode voltar todos os dias para comer, ok? Não precisa dizer que fui eu. Isso vai ser temporário, até eu conseguir pensar em algo para fazer.

— E o que você pretende fazer?

— Não sei. – suspiro. – quero ver onde ela mora, quais as condições. Quem sabe dar uma ajuda mensal para que a tia possa fazer comida em casa para elas comerem...

— Bom, pode contar comigo para isso. – sorrio agradecida e pego o pacote que pedi para viagem. Volto para a mesa e ela me encara.

— Isso é seu. – entrego a sacola para ela.

— Obrigada, tia. Nunca comi tanto... – ela solta uma risadinha e eu sorrio também.

— De nada. – a vejo guardar seu cachorro quente dentro de uma bolsinha surrada que ela carregava. – eu posso te levar em casa se você quiser.

Lily arregala um pouco os olhos.

— Não precisa, é pertinho. – ela se levanta com um pouco de pressa. – obrigada mais uma vez, tia.

E então eu a vejo sair correndo. Dessa vez ela para e olha os dois lados da rua antes de atravessar e voltar a correr novamente. Eu acompanho seus passos até ela dobrar na esquina e suspiro. Hoje o dia foi intenso para mim. Me levanto e vou em direção ao carro.

 

***

 

A casa estava silenciosa. Sem barulho de crianças brincando, mas eu podia escutar a televisão da sala, mesmo baixa. Abro a porta devagar e vejo meus três filhos deitados no tapete da sala. Bom, quase. Alexis estava deitada no meio. Jack estava com a cabeça apoiada na barriga dela, e Reece com a cabeça em seu braço enquanto mexia na orelha dela. Ele tinha essa mania fofa de mexer na orelha de alguém.

Era um filme infantil demais para Alexis assistir, mas eu sei o quanto ela gosta de ficar com os irmãos e faz de tudo por eles. Entro devagar, tudo estava meio escuro para o cinema improvisado parecer real. Coloco a bolsa de lado e me aproximo mais, então eles notam minha presença.

— Oi, meus amores. – me ajoelho no chão e abro os braços.

Jack é o primeiro a chegar, seguido por um preguiçosos Reece com a chupeta na boca.

Mama, mama, mama, mama...

Desde que eles aprenderam a me chamar assim, não falam outra coisa. Mas isso enche meu coração de orgulho e amor. Encho os dois de beijos até eles rirem e depois os coloco no chão e me levanto, trazendo Alexis para um beijo também.

— Reece praticamente me esmagou quando a senhora chegou. – ela reclama de dor, mas depois pega o irmão nos braços.

— Tem que ter cuidado com sua irmã, filho... – passo a mão em seus cabelos. – o que vocês estão assistindo?

— Adivinha? – Castle entra na sala e me abraça. – eles não enjoam dessas músicas não?

— Não. – eu e Alexis falamos ao mesmo tempo. – amor, melhor eles quietinhos do que elétricos igual seu filho ontem. – concluo.

— Nosso filho, meu amor. – ele vai até os meninos e senta no tapete com os dois. – mas na verdade devo agradecer à esse desenho sem graça. Foi ele quem fez Jack dormir ontem.

Eu sorrio concordando.

— Mãe, você vem ficar com a gente? – Alexis me encara.

— Sim, eu só preciso de um banho. Pode ser? – ela sorrir concordando e eu subo para meu quarto. eu realmente estava precisando de um banho demorado e relaxante, mas não tinha tempo para os dois, então optei por um banho rápido, mas que tirasse todo o cansaço do meu dia.

Quando eu saí do banho encontrei Alexis deitada na minha cama, aparentemente me esperando. Sorri e vi em seu rosto que ela queria me contar algo. Não forcei, apenas esperei. Estava terminando de trocar de roupa quando ela me chamou.

— Posso contar uma coisa?

— Claro que sim, filha. – continuei passando meu creme. Sabia que Alexis tinha vergonha de falar certas coisas, apesar de eu sempre querer saber sobre seus interesses. – sobre o que é?

— O futebol.

— Foi bom o treino?

— Sim. – ela sentou e cruzou as pernas. – o treinador disse que eu vou ser na nova capitã do time, mas ele só vai falar no sábado quando a gente receber os uniformes.

Eu a encaro surpresa.

— Isso é maravilhoso. – digo animada e me aproximo e lhe abraço. – você gosta tanto do time, e essa é uma responsabilidade e tanto.

Ela dá um sorriso tímido.

— O que houve? Não está animada?

— Estou, mas estou com medo também. E se eu não for boa como capitã? Eu nem sou a melhor do time.

Respirei fundo e sentei ao se lado.

— Ser capitã não é ser a melhor jogadora, e sim ser melhor com todos os jogadores. Você é esperta, inteligente, seus colegas te adoram, você é responsável com o time e dá o seu melhor. É isso que é ser capitã. Dar o melhor pelo time e fazer com todos fiquem bem. É saber comemorar nas vitorias e fazer o time saber que perder não é o fim do mundo, e eu já vi você fazendo isso.

E era verdade. Quando o time perdia uma partida Alexis sempre estava lá para dizer que tudo bem perder, e na próxima eles ganhariam. Foi incrível ver o quanto ela pode ser madura mesmo em competições que eu sabia que ela queria tanto ganhar.

— A senhora vai estar lá no sábado?

— Claro que eu vou. Todos nós, inclusive aqueles dois pestinhas lá embaixo. – ela rir e me abraça, dessa vez com mais vontade. – eu quero que você fique feliz com essa notícia, você trabalhou duro para chegar até aqui.

— Eu estou. Mas não conta nada para o meu pai, eu quero que seja surpresa.

Concordo sorrindo.

— E olha só, no final da partida eu e seu pai vamos levar todos do time para comer pizza, ok? Vai ser a comemoração para essa nova temporada.

Seu sorriso abriu ainda mais animada com a notícia.


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Notas finais do capítulo

Então? gostaram? Odiaram?

Me deixem saber de tudo...



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