20 anos depois - A salvação da Escola Mundial escrita por W P Kiria


Capítulo 18
Capítulo 14




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Na manhã seguinte, o despertador tocou as 6h no apartamento de Paulo e Alicia. A morena apenas bateu e desligou o alarme, enquanto o marido jogava as cobertas longe e se levantava, correndo jogar água no rosto para assim acordar.

“Quer que eu acorde o Lucas?” Perguntou Alicia, se espreguiçando.

“Deixa ele dormir mais um pouco enquanto a gente faz o café. Foi um dia agitado ontem, ele deve estar cansado.” O professor saiu do banheiro secando o rosto com a toalha, ainda sonolento. “Queria poder dormir mais também.”

“Só mais algumas semanas, meu amor. E então, garanto que acordar de manhã vai deixar de ser um martírio.” Ela se apoiou nos joelhos, o abraçando pelos ombros. “Pega pão de queijo na padaria?”

“Pão de queijo, Ali?”

“É, to com muita vontade de comer.” Ela deu de ombros, animada. “Ah, aliás... Bom dia.”

“Bom dia, linda.” Ele deu um selinho, vendo ela fazer careta. “Bafo está bravo?”

“Com gosto de pizza de ontem.”

“Hum, tem pizza fria, não é? Vou ir pra padaria comendo um pedaço.” Paulo riu, indo apanhar suas roupas.

“Ai, Guerra, que nojo.” Se horrorizou Alicia, vendo o marido colocar uma bermuda e uma camiseta e calça os chinelos.

“Odeio você na TPM, gata. Fica tão nojentinha.” Ele riu, saindo do quarto. Alicia esperou ter certeza que ele estava longe para correr para o banheiro e vomitar.

“Ô merda.” Resmungou a morena, deitando a cabeça na parede e suspirando.

~*~

Daniel acordou parecendo um zumbi. Quase não tinha pregado o olho durante a noite, ocupado em consolar Carmen em suas crises de choro e cuidar de Leonardo, que teve febre. Levantou apenas para avisar que não iria trabalhar naquele dia, já que em determinado ponto levou o filho para dormir com ele e a esposa e os dois acalmaram. Mesmo assim, preferiu ficar em casa e cuidar dos dois, além de precisar ir à Escola mais tarde.

Na cozinha, apanhou um copo de suco e uma fatia de pão, faminto após a maratona noturna. Ficou escorado ao balcão, observando o dia bonito que fazia fora da janela, contrastando com a dor que reinava dentro de sua casa.

Se sentiu angustiado e, automaticamente, encarou o bar da casa. Carmen já havia quebrado as garrafas dezenas de vezes, jogado tudo fora, mas ele sempre comprava de novo. Era seu teste diário, seu desafio para se manter sóbrio.

E em um dia como aquele, em que tinha tido uma recaída e um baque tão grande, era como veneno lhe chamando.

Caminhou até o amontoado de garrafas e pegou um copo de cristal, enchendo de uísque e levando até o sofá. Depositou na mesinha de centro e ficou encarando em silêncio, até ouvir passos na escada.

“Dan?” Carmen encarou o marido, que por sua vez encarava o copo. Ela se aproximou devagar, vendo que o líquido estava intacto, sem uma única marca de boca no copo. “Você sabe que não deveria ficar fazendo isso.”

“E você deveria estar de cama.” Ele avisou, enquanto ela sentava ao seu lado. “Se eu não tivesse bebido no sábado, tudo seria diferente.”

“Do que você está falando?”

“Se eu não tivesse bebido ontem de manhã, você não teria se irritado. Nós teríamos ido ao parque com o Leo, vocês teriam me contado da gravidez e nós estaríamos bem longe da escola na hora do incêndio. Mas eu bebi, você se irritou, se machucou, nós fomos encontrar o Jaime por ser meu padrinho do AA e estávamos perto da escola na hora do incêndio. E tudo aquilo aconteceu.” Ele explicou seu pensamento, os olhos ainda cravados no copo. “Tudo porque eu não consigo controlar meu vício.”

“Amor, você sabe que faz mal ficar se culpando.” Carmen puxou o rosto do marido, que a encarou penalizado. “Se você fizer isso, vai ficar mais suscetível a se render à tentação.”

“É que eu me sinto tão culpado por tudo o que aconteceu, amor.” Ele segurou a mão dela, beijando o local que havia se cortado com o copo no dia anterior.

“Vou repetir o que você me disse a noite inteira: não é sua culpa, nem minha e nem de ninguém. Foi uma fatalidade, ninguém poderia ter previsto o que aconteceria.”

“Mas nós vamos pegar quem incendiou a escola, Carmen, eu te prometo.” Daniel tinha os olhos cheios de lágrimas. “E essa pessoa vai se arrepender do dia em que cruzou o nosso caminho.”

~*~

Mário abriu os olhos e acreditou que ainda estivesse sonhando. Porque aquilo que via à sua frente só poderia ser um sonho, e dos mais lindos.

Marcelina estava deitada de lado, com Olívia bem agarradinha em seus braços, a pequena segurando os dedos da mãe com as duas mãozinhas. A expressão de ambas era serena, descansada, tranquila, e ali era possível ver como eram parecidas fisicamente.

Acariciou a bochecha da filha com as costas da mão, logo repetindo o gesto com a esposa. Sabia que o mal ainda não havia ido embora, mas em um dia ela havia feito mais progresso do que nos últimos onze meses.

Havia sido a primeira noite que Olívia tinha dormido direto também. Já havia perguntado para o pediatra se era normal que a filha chorasse tanto, e conhecendo a situação familiar, o médico explicou que era um reflexo da falta de atenção materna, mesmo que o pai se desdobrasse em mil para compensar a situação.

Agora, tendo recebido o carinho de Marcelina, a menina não viu necessidade de chorar, e pela primeira vez em quase um ano, todos na casa dormiram em paz.

“Bom dia, anjo.” Não percebeu quando Marcelina acordou até que ela o chamou. Sorriu para ela, se adiantando e lhe dando um selinho. “Ela dormiu direto, a noite toda?”

“Vocês duas não se mexeram desde que pegaram no sono.” Ele garantiu, vendo-a rir e encarar a filha. “Como você está?”

“Bem, eu to bem. Acho que nunca me senti tão em paz.” A mulher sorriu, beijando a cabeça da filha. “Mas eu tenho medo de quando ela começar a chorar.”

“Você não vai conseguir resolver tudo em um dia, Marce. Você já fez um avanço gigante desde ontem, e tenho certeza que seu terapeuta vai ficar tão orgulhoso quanto eu e a Oli estamos de você. Não precisa se cobrar demais.” Pediu Mário, ainda acariciando o rosto dela. “Aliás, você tem consulta hoje, não é?”

“É... Preciso deixar ela na minha mãe.” Lembrou Marcelina, encarando o relógio. “Será que ela vai demorar para acordar?”

“Provavelmente vai acordar assim que nós dois sairmos da cama.” Previu o pai, conhecendo bem as manhas da filha. “Nós estamos bem adiantados, acordamos cedo. Quer fazer uma coisa?”

“Mário, a Olívia está aqui, nem vem com ideias erradas.” Marcelina riu baixo, e o marido corou.

“Não estava falando disso, vida, que pervertida você.” Os dois riram, descontraídos. “Ela gosta de brincar na banheira do nosso quarto, e é bom dar um banho nela antes de levar para a sua mãe. Que tal irmos os três?”

“Acho que seria mais uma ótima conquista para o tratamento.”

~*~

Valéria acordou mais cedo naquela segunda-feira, querendo chegar antes do horário na redação para assim poder sair mais cedo e ir à reunião na Escola. Preparou a mochila de Sara e colocou a filha ainda adormecida no carro, dirigindo para a casa de Maria Joaquina.

Como a pequena ainda não ia para a escola, a madrinha e a avó materna se revezavam em cuidar dela para Valéria poder trabalhar. Tinha um bom emprego como redatora em um jornal online, e conseguiu negociar um bom horário de trabalho com seu chefe para poder cuidar da filha.

“Obrigada por ficar com ela hoje, Majo.” Agradeceu a mãe, passando Sara ainda adormecida para o colo da madrinha. “Eu falei com o meu editor ontem, ele estudou na Mundial também, algum tempo antes da gente. Vamos fazer uma campanha maciça no jornal contra o fechamento da escola.”

“Já publicaram algo sobre o incêndio?”

“Só uma nota, para não ficar atrás dos outros sites. Mas hoje vou escrever um artigo sobre o assunto, como uma pessoa que viveu a situação. Queremos tentar mobilizar o maior número possível de ex-alunos para nos ajudar, seja lá qual for o nosso plano.”

“Será que podíamos fazer um desfile?” Valéria riu da ideia da amiga, dando um beijo na filha e comadre. “Eu to falando sério, Val.”

“Eu sei, Majo, por isso estou rindo. É bom saber que você ainda continua a mesma.”

~*~

Assim que Jorge abriu os olhos, viu um par de fubecas azuis o encarando de volta. Jack sorriu para o pai, mostrando sua covinha.

“Bom dia, papai.” Sussurrou baixinho.

“Bom dia, Jack. Por que estamos sussurrando?” Perguntou o homem, confuso.

“Porque a mamãe ainda tá dormindo. Eu não quero acordar ela.” Explicou o menininho, indicando Margarida, que ressonava tranquila às suas costas, um braço envolvendo seu corpinho.

“Então vamos para a cozinha, se não ela vai acabar acordando.” Sugeriu Jorge, sentando na cama com cuidado. Sabia que o sono da namorada era pesado, mas não sabia dizer se continuava assim com Jack por perto.

O pequeno se desvencilhou dos braços da mãe com rapidez e agilidade, já craque em fazer isso nas visitas dela. Pulou direto no colo do pai, que vacilou ao pegá-lo, surpreso com sua confiança nele. Sempre havia sido uma pessoa desconfiança, até com quem já conhecia, e se surpreendia com a confiança cega que seu filho depositava nele em tão poucas horas o conhecendo.

“Eu pedi para a Gabriela comprar sucrilhos, bolacha, leite, achocolatado, bisnaguinha, Nutella... Não sei o que você gosta de comer.” Explicou Jorge, sentando o filho na bancada.

“Pode ser leite com achocolatado. O que é bisnaguinha?”

“Ah, bisnaguinha é isso. É um pãozinho.” Explicou Jorge, mostrando o pacote. “Tem requeijão e cream cheese também.”

“Pode ser pãozinho com cream cheese.” Ele indicou, e Jorge ficou perdido. “O que foi, papai?”

“Normalmente é a empregada que prepara as coisas. Mas, como nós acabamos de nos mudar, ainda estamos acertando os horários da Gabriela.” Ele explicou, mesmo que Jack não entendesse. “Eu não sou muito bom com isso de cozinhar.”

“Mas é só leite e pãozinho, papai.” Jack riu. “Quer ajuda?”

“Você sabe fazer alguma coisa?”

“Sei cortar o pãozinho e colocar o cream cheese. Só não consigo esquentar o leite, porque o micro-ondas é muito alto.”

“Tudo bem, eu acho que consigo preparar seu leite.” Riu Jorge, colocando tudo na bancada. “Mas você vai usar faca sem corte, está bem?”

“Tá bem, papai.” Concordou o garotinho, recebendo uma faquinha e começando a cortar as bisnaguinhas. “Papai?”

“Fala, Jack.”

“Por que eu só te conheci agora?” Perguntou o menino, o encarando. Jorge ficou imóvel, sem saber o que responder. “Você morava aqui?”

“Não, eu morava em Nova York, que nem a mamãe.”

“E por que eu morava em Boston com a tia Di?”

Jorge ficou em silêncio por um momento, colocando a xícara no micro-ondas e ligando. O homem encarou o filho, que ainda estava imóvel.

“Eu e a mamãe trabalhávamos muito, Jack, e a tia Di não, certo?” Ele concordou. “Então, por isso a tia Di cuidava de você. Agora, que nós voltamos aqui para o Brasil, as coisas vão ser menos corridas do que eram em Nova York. E agora, vamos conseguir cuidar muito melhor de você.”

“E você me ama, papai?” Perguntou Jack, ansioso. “Porque você nunca foi me visitar, então eu achei que você não gostava de mim.”

Jorge caminhou até o filho, o pegando no colo. Abraçou o menino com força, beijando seu rosto e suspirando.

“Eu te amo demais, filho. Se eu não fui te ver antes, é porque eu não consegui mesmo. Mas eu te amo, tanto quanto eu amo a sua mãe. Você é a melhor parte do papai, ok?” Ele se declarou, se sentindo ficar emocionado.

“Eu também te amo, papai. Muitão.” Jack o abraçou com força, sorrindo.

“Que cena bonita para começar a manhã.” Margarida apareceu na porta da cozinha. Na realidade, estava atrás da porta fazia alguns minutos, escutando a conversa dos dois e tentando não chorar. “Meus dois amores juntinhos.”

“Estamos fazendo bisnaguinha. É isso, papai?”

“É sim, Jack, bisnaguinha.” Jorge sorriu, recolocando o filho no balcão. “Tem mais coisas na dispensa.”

“Pode ser bisnaguinha.” Concordou Margarida, parando atrás do filho e começando a ajudá-lo no seu trabalho de preparar os lanchinhos.

Jorge ficou os observando por alguns segundos, antes de se aproximar e envolver Margarida com os braços, apoiando a cabeça no ombro dela, observando o que ela e o filho faziam. A morena não conseguiu evitar o sorrisinho que surgiu, pensando que as coisas podiam estar começando a se ajeitar.


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Notas finais do capítulo

Olá! Tudo bem?
Ameeeei as reações de vocês ao bônus Jorgerida! Eles eram para ser só um casal secundário, mas acabaram ganhando uma storyline que conquistou geral HAHAHAHAHA Que bom que vocês gostaram disso!
Mais um capítulo para vocês, porque essa semana vai ser punk e eu não sei como vai ser a frequência de postagem! Espero que gostem.
E aí? O que acharam da segunda de manhã deles? Melhor do que a nossa, sim ou claro? No próximo capítulo teremos uma cena Paulo/Jorge que vocês vão adorar!
Até lá!



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