20 anos depois - A salvação da Escola Mundial escrita por W P Kiria


Capítulo 15
Capítulo 12




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No início da noite, Carmen recebeu alta, e apesar dos amigos dizerem que iriam embora, ela pediu que não os deixassem sozinhos. E naquele momento, o que qualquer um menos queria era discutir com ela.

E se na noite anterior a casa do casal Zapata parecia uma festa, o clima naquele dia era semelhante a um velório. Davi chegou com Cirilo e Sara, a pequena já ciente do que havia acontecido. Ela abraçou Carmen e lhe deu muitos beijos, falando que aquilo ajudaria a sarar logo.

“Eu liguei para o Koki e o Adriano, e eles vão nos encontrar amanhã na escola.” Explicou Cirilo, abraçando a namorada. “Eles estavam com a Bibi e a Laura em uma lanchonete, então já avisaram para elas também.”

“O que todo mundo estava fazendo na escola hoje, afinal?” Perguntou Daniel, que estava no sofá com Carmen e Leo deitados em seu colo.

“Nós combinamos de almoçar com a Marce e o Mário naquele restaurante italiano que abriu ali perto, para falar sobre o que estava acontecendo com a escola. Hora que descemos do carro, vimos a confusão e corremos para lá.” Explicou Paulo.

“A gente estava no apartamento do Davi quando a... Noiva dele, entrou e disse que havia visto um incêndio na escola.” Contou Valéria, engasgando no meio da frase.

“Capaz que a gente ia almoçar junto então, porque nós três também íamos ao restaurante.” Jaime indicou o casal anfitrião. “O Leo queria almoçar com o padrinho, não é?”

“É.” Respondeu o menino, amuado.

“Não fica assim, meu amor.” Pediu Carmen, abraçando mais o filho. Talvez o que mais lhe doía naquele momento era ver como Leonardo havia se sensibilizado com a perda do irmãozinho, o qual ele havia descoberto naquele dia mesmo.

Pelo menos, pela boca dela.

“Agora é que a escola está perdida de vez.” Suspirou Mário, cansado. “Os investidores não vão querer arcar com o prejuízo do incêndio.”

“Isso é com o seguro, cara. Mas é, eles vão usar essa carta.” Concordou Jorge, bagunçando os cabelos.

“E é por isso que nós vamos agir.” Avisou Paulo, surpreendendo a todos.

“Mas ontem você disse...”

“Ontem é ontem, Majo. O que importa é hoje.” Avisou o ex-professor, sorrindo. “Eu to largando meu emprego como professor.”

“Como?” Marcelina guinchou, e todos os amigos pareceram surpresos. “Ali, o que...”

“Fui que sugeri isso, Marce. Eu não aguento mais ver o seu irmão infeliz em um emprego só para nos sustentar. Nós vamos reabrir a loja de traquinagens, e vamos fazer ela dar certo.” A convicção na voz de Alicia surpreendeu a todos, e ela e Paulo trocaram um sorriso. “Afinal, casamento é para isso. Construir uma vida, juntos, com esforços e sacrifícios dos dois.”

Com aquela afirmação, todos os casais se abraçaram, emocionados. Daniel escondeu o rosto no cabelo da esposa, enquanto Mário beijava com carinho a testa de Marcelina. Cirilo deixou Maria Joaquina se aconchegar em seus braços, enquanto Margarida puxava as duas mãos de Jorge para as suas, recebendo um sorriso fraco em resposta.

“A pessoa que provocou o incêndio, seja lá quem ela for, mexeu com o que existe de mais sagrado: um filho. Meus filhos são a coisa mais importante do mundo para mim, e por isso eu imagino o que a Carmen e o Dani estão sentindo. A atitude bárbara desse infeliz acabou atingindo o filho deles, e todos sabem quais foram as consequências disso. E para mim, mexeu com o filho dos meus amigos, mexeu com os meus próprios filhos. Essa pessoa vai ter o que merece.” Decretou Paulo, sério.

“Nunca achei que viveria para ver o Paulo se tornando o sábio e líder da turma.” Admitiu Daniel, soltando um riso baixo. “Só me prometa que eu vou poder acertar as contas com o infeliz quando descobrirmos quem é.”

“Além de não atrapalhar, vou balançar uma bandeirinha escrito TEAM DANIEL.” Prometeu o Guerra, um sorriso gelado no rosto. “Quem está nessa?”

“Acho que nem precisamos responder para saber que estamos todos juntos nisso.” Comentou Davi, encarando os amigos. “Até mesmo aqueles que não estão aqui.”

“Menos a Carmen por alguns dias.” Lembrou Alicia e a outra fez careta. “Cara feia para mim é fome, amiga.”

“Carmen, experiência própria: cumpre as recomendações do médico. Esse repouso não é frescura, você realmente vai precisar dele.” Maria Joaquina aconselhou, sorrindo compreensiva. “Se você quiser, eu te faço companhia.”

“Mas eu acho que tem algo importante que precisamos resolver antes.” Jaime se manifestou, sério. “Não podem haver segredos.”

“Como assim, Jaime?” Perguntou Cirilo, confuso.

“Segredos criam lacunas, espaços vazios para interpretações errôneas e deduções precipitadas.” Concordou Jorge, observando o amigo. “E nós já vimos, por experiências passadas, que segredos nos afastam.”

“E precisamos estar mais juntos do que nunca agora.” Endossou Davi, encarando os amigos. “Pois bem, eu começo. Eu... Eu estou pensando em abdicar das tradições judaicas.”

“Como?” Valéria pensou não ter escutado direito.

“Isso é possível?” Perguntou Paulo, e Davi deu de ombros.

“Você nasce judeu e morre judeu. O que pode acontecer é você se converter ao Cristianismo, o que não está nos meus planos, ou se tornar um judeu ‘afastado’. É complicado explicar, mas eu posso sim me afastar da minha religião se quiser.”

“E por que você iria querer isso, Davi?” Questionou Carmen, e ele encarou Valéria e Sara. “Ah, sim.”

“E seus pais?” Perguntou a jornalista, abraçando mais a filha.

“Vou me entender com eles. Eu já sou adulto, não podem mais me obrigar a fazer o que quiserem. Se preciso for, saio de casa e abro mão de todos os meus direitos como filho deles. Mas não aguento mais ter minha vida e decisões controladas por eles.” Confessou o rapaz, com um suspiro no final. “Então, talvez, pelas próximas semanas, eu esteja passando por uma loucura pessoal, mas vou estar totalmente focado em salvar a escola.”

“Se vamos ser honestos, eu preciso ser também.” Começou Daniel, mas Carmen agarrou seu braço.

“Dani, não precisa.”

“Eu preciso, amor.” Ele suspirou, encarando os amigos com vergonha. “Eu... Eu sou alcoólatra.”

“Você, Dani?” A boca de Margarida foi parar no chão.

“Por isso a Carmen estrilou com a ideia do happy hour ontem, não é?” Perguntou Valéria, ligando os pontos.

“Mas como isso aconteceu? Digo, você era tão ajuizado.” Comentou Marcelina, surpresa.

“A ONG me suga muito, mais do que eu jamais imaginei. São tantas crianças que...” Ele tentou explicar, mas seu olhar ficou vago e vazio, nublado por lágrimas.

“As histórias das crianças são terríveis, pior do que imaginam. E tudo isso começou a afetar o Dani, quando nós ainda namorávamos, e ele começou a beber. O Jaime estranhou, antes de mim, que ele andasse bebendo tanto. Logo que nos casamos o Daniel começou a frequentar o AA.” Contou Carmen, colando o corpo ao do marido o máximo que conseguia. Em seu colo, Leonardo encarava o pai, curioso.

“O papai bebeu muito refi?” Perguntou o pequeno, confuso com o que a mãe tinha dito. “Refi faz mal, né?”

“A gente devia ter tirado as crianças da sala antes de conversar.” Resmungou Alicia, vendo que Lucas estava muito interessado.

“É, baixinho, o papai bebeu muito refrigerante. E lembra o que a mamãe falou? Muito refrigerante faz mal para o estômago.” Concordou Jaime, sorrindo amarelo.

“Mas vocês já casaram há tempos.” Lembrou Maria Joaquina.

“Sim, e ele melhorou depois disso. Mais de um ano se passou sem ele beber ‘refrigerante’, e quando...” Carmen apontou o filho em seu colo. “Nasceu, o Dan começou a ser cada vez mais afetado pelas histórias das crianças. Mas a essa altura ele já estava... Louco por refrigerante, e mesmo sem esse fator não conseguiria parar.”

“Mas o fator estressante agrava tudo.” Comentou Margarida, recebendo olhares surpresos. “Eu fiz dois anos e meio de psicologia antes de ir para os Estados Unidos.”

“Você bebeu ontem com a gente.” Lembrou Cirilo. “Há quanto tempo você estava limpo?”

“67 dias.” Sussurrou Daniel, envergonhado. “Agora vai começar tudo de novo.”

“Mas você não vai estar sozinho.” Prometeu Paulo, dando um sorriso encorajador. “Nunca esteve, mas agora vai ter bem mais gente no seu pé.”

“Sério mesmo, cara, quando a gente trocou de lugar?” Daniel riu sem humor, encarando o amigo.

“Você sempre esteve lá por mim, e por todos nós quando precisamos. Agora é nossa vez de estarmos aqui por você.” Jaime apertou o ombro do amigo, que deu um sorriso amarelado. “Mais alguém tem uma revelação bombástica?”

“Eu e a Ali já tivemos nossa roupa suja lavada aqui ontem.” Paulo ergueu as mãos em redenção, enquanto a esposa revirava os olhos.

“O mesmo para nós dois.” Maria indicou ela e Cirilo.

“Eu sofro de depressão pós-parto.” Anunciou Marcelina, sem prévio aviso. “Eu só consigo ficar perto da minha filha quando estou medicada.”

“Por isso ela está sempre com o Mário?” Perguntou Carmen, vendo que novamente Olívia estava com o pai. Marcelina havia dito, no dia anterior, que era porque Mário era um pai babão. Pelo visto, não era bem assim.

“Eu não aguento ficar tomando os remédios o tempo todo, fico aflita.” Confessou a baixinha, encarando a filha com lágrimas nos olhos. “Já faz quase um ano, e eu não melhorei nada.”

“Aconteceu algum agravante?” Perguntou Margarida, curiosa.

“A Olívia estava sentada, o parto foi bastante difícil.” Contou Mário, penalizado pelas lembranças. “Elas duas quase morreram.”

“E nenhum de nós ficou sabendo de nada.” Valéria pensou alto, sentindo os olhos úmidos. “Sempre fomos amigos, desde o terceiro ano, estivemos juntos para nos ajudar em tudo. E nos momentos mais difíceis e dolorosos de nossas vidas... Nenhum de nós soube. Ou pelo menos, a vasta maioria não. O que aconteceu?”

“Nós crescemos, Val, e nos tornamos independentes. Até mesmo dos amigos.” Concluiu Carmen, sofrida.

“Essa pode ser a chance que procurávamos.” Sugeriu Cirilo, atraindo a atenção de todos. “Não veem? Sempre soubemos disso. Separados, sozinhos, somos fracos. Juntos, somos fortes. Essa maldição contra a escola, para nós, é uma benção. Podermos nos unir novamente, nos apoiarmos... E quem sabe sair dos atoleiros em que enfiamos nossas vidas.”

“Não teria encontrado mais sábias palavras, meu amigo chocolate.” Paulo sorriu, dando um ‘toca-aqui’ com Cirilo. “Juntos somos fortes.”

Contra essa amizade não tem para ninguém.” Cantou Jaime, fazendo os amigos rirem. “Nós vamos salvar, a escola e todos nós.”

“Eu quero ajudar.” Lucas pulou da cadeira de repente, assustando os presentes. “Sou bom detetive, posso ajudar a descobrir quem está atrás da escola.”

“Você ainda vai precisar comer bastante feijão com arroz antes disso, rapazinho.” Riu seu pai, bagunçando seu cabelo.

“É realmente filho seu, Paulo, sempre querendo se meter em encrencas.” Suspirou Alicia, revirando os olhos.

“Agora me preocupei. Algum dia você teve dúvidas?” A brincadeira dos dois causou risos e trouxe de volta um pouco da alegria para o local.

Aos poucos, as conversas voltaram. Houve algumas perguntas sobre o alcoolismo e a depressão, mas agora Marcelina e Daniel se sentiam menos pressionados enquanto respondiam.

Depois de um tempo, o celular de Jorge tocou e ele se afastou para atender. Voltou com a expressão séria, chamando Margarida para ir embora. Ela estranhou, mas concordou e se levantou.

Quando já estavam na porta, Jorge se voltou para os amigos.

“Não deu tempo de contarmos nosso segredo, porque ele é bem menor do que o dos outros, mas é bom que todos saibam. Eu e a Margarida temos um filho, um pouco maior que a Isis. Não é um grande segredo, mas achei que todos deveriam saber.”

E com isso, saiu, deixando para trás um grupo de pessoas com expressões surpresas, incluindo a própria Margarida.


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Notas finais do capítulo

Então que trouxe a panela de pressão para vocês. E ela estoura no capítulo que vem!
O que acharam dessa revelação do Jorge? O que será que está acontecendo? Façam suas teorias, vou adorar ler!
Obrigada, de coração, a todos que estão acompanhando e comentando. Se vocês soubessem o quão importante isso é! Acho que imaginam!
Até o próximo capítulo (que sim, está sensacional, não paro de reler ele).
Abraços!



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