Darkness escrita por Cárla


Capítulo 1
Capítulo 1 (Dias negros)


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal! Boa leitura *



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Minha família e eu estávamos jantando em uma linda noite de natal. Tudo ocorria bem e todos nós estávamos rindo como se a felicidade escorresse dos lábios de cada um presente. Eu me sentia bem como nunca antes, os dois amores da minha vida estavam em um cômodo só: família e comida, não tinha como ser melhor do que aquilo. A propósito, sou Isabella Swan e tinha oito anos no momento, todos que eu amava estavam se divertindo, estavam ao meu lado, e meu sorriso ia de orelha a orelha.

Papai e Mamãe se sentavam um ao lado do outro no lado direito da grande mesa. Eram meus protetores, meus heróis, aqueles que me davam todo o apoio e carinho que uma criança merecia. Logo ao lado dos dois, havia mais dois lugares, ocupados por tia Victoria e seu marido. Eu adorava a presença da minha tia, muito amável e compreensiva, mas o homem com quem casara me dava arrepios de medo, se alguém perguntasse minha fobia, eu diria o nome dele, Laurent.

Do lado esquerdo estavam apenas mais dois tios com seus respectivos companheiros, não havia muita afinidade entre mim e eles, mas amava estar na presença dos mesmos, de qualquer maneira, uma família sempre deveria estar em harmonia, segundo meus pensamentos. Nas pontas estavam sentados meus avós, por estes eu sentia um amor muito grande, eles foram quem cuidaram de mim quando ainda era uma recém-nascida visto que meus pais eram ocupados demais para isso. Garantiram também que uma pequena parte da minha infância fosse feliz com seus cuidados, pensar que um dia eles poderiam ir embora, ou simplesmente irem para o paraíso do qual meus pais diziam, me deixava triste, mesmo sendo egoísta da minha parte.

Meus primos deveriam estar brincando por algum canto, eu simplesmente não gostava de me misturar, meu corpo era de uma garotinha de oito anos, mas eu já não tinha mais paciência para ficar correndo e me divertindo com outras crianças, mesmo gostando de estar na presença da minha família, eu me considerava uma menina solitária e por isso não possuía amigos.

Eu havia pegado uma pequena cadeirinha e me sentei no meio dos meus pais, por mais que a mesa fosse grande não possuía cadeiras para todos os membros da família, até agradeci por isso, pois assim poderia ficar mais perto de quem amo. Adorava comida, mas me sentia tímida de devorar todas as gostosuras que estavam dispostas na mesa, então em meu prato apenas um pedaço de piru e um pouco de arroz descansavam enquanto eu comia lentamente.

(Tia Victoria)—Querida, venha comigo, tenho um presente para você.

Minha tia estava falando comigo. Senti-me curiosa por um momento, que presente eu ganharia? De qualquer forma, já me sentia feliz e ganhar algo ruim não abalaria meu ânimo, além de que qualquer presente para mim já seria satisfatório, nunca fui exigente.

Tia Victoria se levantou e eu segui seu caminho, levando-me até um dos quartos da casa. A propósito, estávamos no início do século XX e meu lar retratava bem os modelos da época, grande e com uma decoração rústica, que lembrava muito uma casa mal-assombrada dos tempos modernos. Apesar da aparência, tudo que havia lá dentro me causava uma paz, até o relógio velho de corda que ás vezes emitia um barulho estranho.

Desconfiei um pouco ao ser levada para aquele cômodo, pois geralmente só acomodava hospedes, por isso quase sempre estava vazio. Meu receio logo desapareceu quando vi uma caixa enorme de madeira, com alguns furinhos que certamente serviam para que algum ser vivo respirasse. Pensei que poderia ser algum tipo de cão, pois esse tipo de animalzinho era muito presente nas casas de família da época. Senti-me empolgada, nunca tive sequer um pardal para dar água, um novo companheiro iria fazer de meus dias mais agitados e felizes.

(Tia Victoria)—Pode abrir querida.

Victoria não precisou repetir duas vezes. Abri com dificuldades aquela grande estrutura de madeira que estava devidamente lacrada, e ao fitar com curiosidade o conteúdo que estava lá dentro, recebi um olhar assustado de um pequeno cãozinho acastanhado, que aparentava estar com fome e ter passado por uns maus tempos enquanto era carregado naquela caixa.

(Bella)—Um cãozinho! Mas se parece muito com um futuro lobo feroz!

(Tia Victoria)—Gostou querida?

(Bella)—Eu amei! Ele irá se chamar Jacob!

Eu dizia enquanto esmagava o pequeno cãozinho em meu colo. O nome podia ser nada criativo, mas era algo simples que me fazia lembrar de um antigo amigo.

(Mamãe Renée)—Ora, seja mais criativa querida, o cãozinho pareceu não gostar do nome.

Mamãe apareceu na porta do quarto juntamente com papai. Eles olhavam a cena com reprovação, enquanto eu ainda esmagava o pobre animal indefeso, que latia desesperadamente para se livrar de meus braços.

(Bella)—Não ligo se ele não gostou, vou cuidar muito bem dele! Ele é meu único amigo.

Por um momento senti que o coração de minha mãe amoleceu com aquela última frase, mas se conteve em dizer algo, então ela e papai saíram do quarto para continuarem jantando com os outros familiares, mas tia Victoria continuou apenas me fitando com um sorriso... Um tanto quanto cínico?

Sentei-me em uma pequena cama de solteiro do quarto juntamente com o novo animalzinho no colo. Enquanto acariciava sua pequena cabeça, ouvi o cãozinho choramingar, visto que estava gostando do carinho. Não teríamos problemas em sermos amigos, algo me dizia que já éramos muito antes de conhecê-lo.

Mas algo ainda estava me incomodando, a presença da minha tia que parecia estar me impedindo de sair do quarto de alguma maneira. Comprovei isso ao tentar sair com o animal em meu colo, mas fui barrada pela sua presença ágil na porta no quarto.

(Tia Victoria)—Onde pensa que vai, querida?

Sua voz já estava se tornando assustadora. Arregalei os olhos em resposta, e pude sentir o cãozinho querer mordê-la por um momento.

(Bella)—Eu... Estou com fome.

(Tia Victoria)—Não poderá sair agora.

(Bella)—Por quê?

(Tia Victoria)—Eu vi um sujeito tentando entrar pelas grades do jardim, pode ser perigoso se nós duas sairmos daqui.

(Bella)—Como assim? Algum bandido quer entrar aqui? Por que não avisou papai e mamãe? O que está acontecendo?

Tia Victoria falhou em tentar me persuadir, eu sabia que de alguma maneira ela estava planejando algo muito ruim. Seu sorriso gentil não me enganava, nem sua falsa reação de medo com o que estava acontecendo.

(Bella)—Por favor, me deixe avisar papai e mamãe, eles têm que ligar para a polícia!

(Tia Victoria)—É tarde demais Bella.

Notei que ela já não mais tentava fingir ser gentil, seu tom era de quem estava irritada com minha insistência, e se eu continuasse tentando tia Victoria poderia tomar algumas atitudes estranhas. Apenas me afastei daquele ser que eu já não mais reconhecia, deixei Jacob no chão do quarto e deitei naquela cama esperando o pior.

(Bella)—E meus avós? E meus outros tios?

Minha voz já estava saindo em murmúrios. Eu estava confusa, não sabia o tamanho do perigo que minha família estava passando agora, então apenas estava tentando pensar em coisas positivas, apesar de meus olhos já estarem ardendo e lacrimejando.

(Tia Victoria)—Se tiverem sorte conseguirão se defender.

(Bella)—Não fale assim, por favor!

Eu já estava gritando em desespero, aquela não podia ser minha tia, antes tão gentil, tornou-se tão assustadora de um dia para o outro. Por algum extinto, senti medo de olhar para ela e ao redor, então fechei meus olhos fortemente.

O cãozinho subiu na cama e deitou em cima de mim, como quem quisesse me confortar, agradeci mentalmente por isso, mas o desespero ainda não havia passado.

(Tia Victoria)—Silencioso como sempre, como um bom profissional.

Victoria sussurrou para si mesma em um tom quase inaudível, mas eu sempre fui boa em ouvir, apesar de que naquele momento tudo que eu queria era uma paz e silêncio profundo. Não compreendi o porquê de ela ter dito aquilo, e francamente não queria entender, algo me dizia que só me traria sofrimento se assim fizesse.

Depois de alguns minutos torturantes, ouvi um barulho de porta batendo, era ela, havia saído do quarto. Senti medo de fazer o mesmo, não queria ver o que havia acontecido, mas não ouvi barulho de armas, nem de desespero, então esperava esperançosamente que nada ruim tivesse acontecido. Então me lembrei do “silencioso” que minha tia havia deixado escapar, por um momento pensei no pior, então desabei em lágrimas.

(Tia Victoria)—Querida! Algo aconteceu, não acredito, não acredito, não acredito nisso!

Ouvi os gritos de tia Victoria que vinha em passos pesados para o quarto, apertei ainda mais meus olhos, não queria ver, não queria ouvir, não queria sentir, seja lá o que havia acontecido, só queria sumir por um momento, só queria que fosse um sonho.

(Bella)—Deixe-me em paz!

Tomei coragem para retrucar, após isso, não ouvi mais barulho algum, talvez Victoria se cansou de ser cínica e fingir que nada daquilo era culpa dela, seja lá o que havia acontecido. Senti ser tocada por algo peludo em meu braço, era apenas Jacob, que por algum motivo parecia estar querendo que eu me levantasse para acompanhar o teatro da tia Victoria. Não estava pronta, primeiro queria tentar convencer a mim mesma que meus parentes estavam apenas jantando e algum deles escorregou no chão, do que acreditar que todos eles estavam mortos, vitimas de algum assassino misterioso que pelo que percebi era companheiro da tia Victoria.

Meus olhos estavam pesando, eu iria adormecer a qualquer momento, ou talvez acordar, já que estava orando para que tudo aquilo fosse apenas um pesadelo ruim. Quando a escuridão tomou conta de mim, a inconsciência chegou, bela e suave, esta que tomava todas as dores dos vivos, para dar-lhes um profundo coma, que apesar de tudo, era melhor que qualquer sofrimento que eu estava tendo que aguentar naquela noite.

Algo que temia aconteceu, tive um pesadelo.

Eu estava na sala de jantar da minha casa, todos estavam aproveitando em uma ceia do natal, mas algo estava muito errado, não conseguia me mexer, e nas faces de cada um havia um sorriso macabro, e sangue saia dos orbes de todos. No cômodo havia quatro janelas grandes e cobertas por uma fina camada de poeira, deu a impressão que a casa estava abandonada por um bom tempo, e que, para o meu desespero, todos que estavam presentes eram mortos com vida própria. Eu queria gritar, mas não conseguia, queria fechar meus olhos, mas todas as tentativas eram inúteis. Pude ver de camarote quatro espectros negros saírem de cada uma das janelas, para meu alívio, não vieram em minha direção, mas para meu pesadelo, cada criatura cuidou para que todos meus familiares presentes naquela mesa tivessem suas cabeças decepadas e seus corpos estripados, o cômodo se tornou uma piscina de sangue e tripas, e tudo o que eu podia fazer era apenas assistir, sem poder ter a mínima reação vendo aquilo. Mas, em algum momento daquela carnificina, ouvi alguém sussurrar ao vento, não reconheci a voz, mas tudo que dizia era algo macabro mas ao mesmo tempo reconfortante: “coragem, pois os dias serão negros”.

Eu havia acordado, mas minha mente ainda parecia estar desligada, não conseguia mexer meu corpo, e meus olhos não se abriam por mais que eu os forçasse. Senti uma dor me atingir de repente, ela passava em todo meu corpo, mas uma região especifica doía mais do que o normal, tentei pensar em algo, mas falhei, meu corpo pesava, minha cabeça em particular não conseguia raciocinar, tudo que eu via era escuridão, por mais que estivesse viva. Apesar disso, ainda conseguia sentir, e podia jurar que algo estava em cima de mim, forçando para que a dor apenas se agravasse.

—Pedófilo nojento.

        Aquela voz... Tia Victoria...

—Quer participar também querida?

        Aquele era... Não podia ser... Todos os anos que senti arrepios de medo em relação a ele... Era um aviso...

        Eu podia ouvir gemidos da parte dele, e alguns comentários maldosos da parte dela, mas eu não queria acreditar no que estava acontecendo, não queria entender. Como uma criança, eu apenas pensava que meu tio estava me agredindo, mas, era muito pior que isso. Em meio ao desespero, pensei naquela voz... Realmente, os dias seriam negros, e eu teria que ser forte para aguentar.


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Notas finais do capítulo

Por favor comentem para eu saber o que acham e me inspirar em continuar! Obrigada por lerem até aqui, até o proximo capitulo!



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