One last night escrita por FlashFrost


Capítulo 1
One lest night - (único)


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem! Afinal, o primeiro ship a gente nunca esquece!

Boa leitura!



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Wendy entra no seu velho quarto exausta, repleta de decisões para tomar, ela simplesmente não aguenta mais. A jovem se joga na cama e observa como aquele ambiente mudou junto com ela. No lugar casinha de boneca, havia sua escrivaninha cercada de papeis e anotações. O guarda roupa que antes ela dividia com seus irmãos, agora era só dela. Seus livros de contos de fada saíram da estante, que por sua vez, foi preenchida com apostilas de escolas e romances adolescente. Pela parede do lugar, ela encara os pôsters da sua banda favorita. E onde deveria estar sua fantasia de pirata, está seu vestido de formatura, ela começaria sua faculdade na primavera. A única coisa que não havia mudado era a sua cama.

O único lugar onde ela se permitia sonhar, voltar a ser criança novamente e fugir de todas suas responsabilidades. Sua infância foi embora em um piscar de olhos. E crescer, não é exatamente como ela achou que seria. Mas quando ela deu conta já havia crescido. E hoje, é seu último dia, antes de fazer 18 anos, e oficialmente, ser uma adulta.

A garota se senta e encara a cortina branca de sua janela balançando com a brisa da noite. Ela se levanta, tira seu jeans apertado e moletom roxo, e coloca uma camisola longa e de mangas compridas. Logo em seguida faz o mesmo com seu all star preto, ficando descalça. Quase era como se nada tivesse mudado. Quase.

Wendy vai até sua penteadeira, repleta de perfumes, maquiagem e acessórios. Pega uma chave dentro de uma caneca cheia de pincéis. E destranca sua gaveta preferida. Tira de lá, uma caixinha de música, e quando abre a mesma, uma melodia delicada ecoa por todo o ambiente silencioso. Ela se encanta pela mini bailarina redopiando, mas em um segundo seus olhos caem para o que a menina realmente procurava. Seu colar com o “beijo”.

Ela ajeita o mesmo em seu pescoço e sorri olhando seu reflexo no espelho. Agora sim. Era como se nada tivesse mudado.

Mais animada Wendy caminha até sua mini sacada. E lentamente sobe no parapeito da janela. Meio centímetro a mais e ela seria muito alta para conseguir fazer isso sem bater a cabeça. Seu olhos se fecham quando o vento gelado de inverno toca seu rosto. Deus, como ela sente falta poder voar. Então ela se inclina mais um pouco...

—Você vai cair desse jeito!

No mesmo instante que ouve aquela voz ela abre os olhos, e se depara com duas íris esmeraldas a encarando a milimetro de seu rosto. Foi tudo muito rápido, Wendy se assusta, e solta um gritinho quando dá um passo em falso para trás, e vai de encontro com o chão.

—Eu avisei! –ele sorri, se achando, como sempre.

Ainda desnorteada, ela se senta com a mão na cabeça. A garota vê a figura do menino flutuando em sua frente com um sorriso e as mãos na cintura. Ela pisca algumas vezes e demora alguns segundos para acreditar que aquilo é real.

—Peter? –sua voz quase não sai.

—Quantos garotos você conhece entram pela janela do seu quarto voando? –responde e estende a mão para ela levantar. Meio hesitante ela aceita aquela mão tipicamente suja, e fica de pé, ele "aterrissa" também- Você está mais alta... –uns 10 centímetros, mas ainda assim, fazia diferença para ele.

—É... Eu cresci, mas ainda sou mais baixa que minha mãe... –diz sem jeito- E acho que vou ficar assim...

—O que é isso na sua boca? –ele se aproxima outra vez e ela por reflexo ela dá um passo para trás novamente.

Wendy passa os dedos pelos lábios estranhando a pergunta, então se lembra:

—Batom... Isso é batom!

—Por que você está tão quieta? –Peter cruza os braços- E não está sorrindo?

—Onde você estava? –ela finalmente pergunta. Até agora, ainda está processando isso em sua volta.

—Não é obvio?!  -sorri e flutua pelo quarto até parar na cama da garota, que acompanha com o olhar- Na terra do nunca, claro!

Como ele pode agir como se os últimos 5 anos nunca tivessem se passado!?  A garota se pergunta.

—Quero dizer, todo esse tempo! –de repente uma onda de raiva começa a lhe invadir- Você prometeu que nunca ia me esquecer! E não cumpriu sua promessa! Durante meses, todas as noites eu ficava na janela te esperando e você nunca aparecia! –lágrimas silenciosas começaram descer por sua bochecha- Então por que hoje? Por que agora?

—Wendy... –o menino chega mais perto e seca uma de suas bochechas molhada- Eu nunca te esqueci! Nem mesmo por um segundo... –instantaneamente ela se acalma.

—Então por que você não voltou? –diz tristemente, mas o choro já havia parado.

—É muito doloroso para mim te ver crescer... E não poder fazer nada... Mas todos os anos, uma noite antes do seu aniversário, eu venho e assisto você dormir!

—Oh Peter! –se derrete por dentro- Eu senti tanta sua falta! –lhe dá um abraço que é muito bem retribuído.

—Eu também senti sua falta, Wendy! –sorri pressionando o rosto contra o cabelo da garota.

Quando eles se separam, ela estava sorrindo como uma criança também.

—Tenho tanta coisa para te contar! –fica animada, pega na mão dele e o leva até uma prateleira onde havia alguns livros e um troféu - Olha só! –ela pega o objeto dourado- Eu ganhei isso em um concurso de redação na 7ª série! E a única coisa que eu fiz, foi contar nossa história! Minha professora disse que eu sou muito criativa!

—Legal! –comemora- Mas o que é uma redação?

—Ah, é como contar uma história, só que com palavras escritas em um papel! –explica da forma mais simples possível.

—Bom, você é mesmo muito boa com histórias!

—Obrigada! –Wendy olha em volta e sente falta de algo, ou melhor, de alguém- Cadê a Sininho?

—Eu não avisei para ela que estava vindo... –Pan voava pelo quarto xeretando as fotos e objetos, enquanto a garota tentava acompanha-lo - Ia ficar muito ciumenta!

—O que você está procurando? –pergunta curiosa com o maior sorriso no rosto.

—Seu quarto está muito diferente! Cadê os brinquedos, as fantasias? –ele flutua até a estante- E esses livros... –pega um qualquer- Não tem figuras! –ele mostra a página- Tem números!

—Isso é porque esse é meu livro de matemática do ano passado! –ela ri, pega o objeto das mãos dele e bota de volta no lugar- Eu não tenho mais tempo para brincar ou me fantasiar! Mas eu ainda leio romances!

—Oh... –Peter ainda estava meio confuso- Tipo Cinderella?

—Não! –ri novamente- Tipo Romeu e Julieta! –Wendy mostra outro livro.

—Uau! É realmente muito grosso! Como você conta toda essa história para os seus irmãos?

—Os meninos não gosta de ouvir mais histórias, quer dizer, as vezes eu ainda conto algumas para o Miguel... Mas o João só quer ouvir histórias da namorada dele e...

—Namorada?! –ele se senta na cama- O que é isso?

—Ah... –ela vai se sentar ao seu lado- Bom, uma namorada ou um namorado, é uma pessoa que gosta de ficar junto com você o tempo todo, que segura sua mão quando vocês vão passear, faz você sorrir e... Te dá vários... “Dedais”... –quando Wendy diz isso, Peter arregala os olhos.

—E você?! Você tem um... Namorado? –de repente um sentimento no aflora dentro do menino. Ciúmes. Wendy sempre trazia sensações novas para ele.

—Ainda não, mas eu vou ter um dia! –ela dá ombros e Pan faz uma carranca.

—Pra quê você precisa de um namorado?! –cruza os braços.

—Para me casar um dia! –responde e ele voa para longe com as mãos no ouvido.

—Chega! –balança a cabeça- Eu não quero ouvir, nem falar sobre isso! –imaginar Wendy com outro era horrivelmente um pesadelo para ele.

—Tudo bem! –ela fica de pé em cima da cama rapidamente- Não falo mais sobre isso!

Se aproxima novamente do seu rosto, e dessa vez ela não recua, apenas fica admirando os traços tão delicados do menino. Era como ele tivesse um encanto, que a deixa hipnotizada.

—Promete? –pergunta devagar. Sem forças pra responder ela balança a cabeça. Peter a encara, e sente seu coração batendo mais rápido quando percebe que a garota usava o colar com uma semente pendurada- Você guardou meu beijo...

—Eu uso quando sinto muita saudades dos dias em que ficamos juntos! –admite. Ali, ele vê uma oportunidade de ter sua velha amiga de volta.

—Vamos! –sorri e começa a puxa-la pelo braço.

—Espera! –ela tenta parar mais ele é até bem forte para um menino- Para onde?

—Voar por aí! –diz obvio.

—Peter! –ela consegue pará-lo já quase caindo no chão- Eu não sei mais fazer isso! –fala envergonhada.

—Mas é claro que você sabe! Ninguém se esquece como voar! É como...

—Andar de bicicleta? –completa.

—O que? –faz uma cara de dúvida engraçada.

—Deixa pra lá! –ela ri- De qualquer forma, como você vai conseguir pozinho mágico, sem a sininho?

—Eu sempre carrego um pouco comigo! –diz tirando um saquinho marrom que estava amarrado em sua cintura ao lado de sua faca. Ele chega perto do ouvido dela e sussurra- Está com pensamento felizes?

Incrivelmente, mesmo depois de tantos anos, ela sente um arrepio percorrer todo seu corpo, assim como na noite em que ela saiu para a maior aventura de sua vida. Sem conseguir falar algo, Wendy apenas balança a cabeça positivamente e fecha os olhos já sabendo o que vinha a seguir. 

Peter coloca um pouco do pozinho em suas mãos e assopra os pontinhos dourados no rosto da garota. Que sente seu corpo subindo lentamente pelo ar, ela abre os olhos e Pan a encarava -ele realmente fazia muito isso- com um sorriso enorme, ela retribui.

—Vamos! –Peter pega na mão dela e a puxa para fora do quarto.

Nem o frio de Londres incomodava Wendy agora. Eles deslizavam pelo céu da cidade, sem nenhuma preocupação, era o que ela desejava há muito tempo. Os dois conversavam e riam, enquanto Wendy contava sobre as várias maluquices que João e Miguel aprontaram. O mundo lá de cima parecia tão pequeno e insignificante.

—Viu! Impossível esquecer! –o menino vira de barriga para cima.

—Eu senti tanta falta disso, Peter! –diz e imita ele. Então os dois apenas ficam flutuando sobre uma nuvem e olhando para as estrelas.

Peter Pan não poderia estar mais satisfeito. Era como se os anos nunca tivessem passado. O que ele mais queria agora, era poder parar o tempo, exatamente nesse momento.

“Segunda a direita, até o amanhecer!” A garota se lembra do que ele disse ao ser perguntado onde morava. Ela também sentia saudades da Terra do Nunca.

—Queria poder ficar aqui poder ficar assim para sempre! –deixa escapar e no mesmo instante Peter olha para ela.

—E você pode! –ele sorri- Volta comigo para Neverland?! –então Wendy se arrepende do que disse, quando vê o sorriso esperançoso no rosto do menino.

—Eu não posso Peter...

—Claro que pode! Vamos ter várias aventuras juntos de novo! -Pan fica “de pé” animado- Vai ser como antigamente!

—Peter... –ela se junta próximo dele ficando na mesma altura de seus olhos- É claro que eu adoraria voltar com você e esquecer todos meus problemas e responsabilidades, mas é tarde demais...

—Não é não! –ele retruca.

—Amanhã eu completo 18 anos...

—E daí?

—É quando as pessoas se tornam oficialmente adultas... –diz com cuidado.

—Não... –ele nega e segura sua mão- Wendy, isso são só números! Não significam nada para mim! Vamos... –Peter se aproxima mais- Podemos ser felizes para sempre, como nas suas histórias! –sussurra. Aquilo era tão, tão tentador, ficar com ele seria como um sonho, mas também seria o único sonho que ela poderia ter.

—Para sempre é muito tempo... –responde e Peter solta a mão dela- Peter, por mais que seja um caminho de difícil até lá, eu quero ter um futuro!

—Por que? Se ser criança é muito mais divertido! –se afasta- E existe coisa mais maravilhosa que poder voar? –ele dá piruetas no ar com a maior facilidade, a fazendo rir.

—Bom, se eu só ficar voando, eu nunca vou saber se existe algo melhor! Eu quero experimentar coisas novas, viajar o mundo, conhecer pessoas, viver ao máximo da vida, porque afinal ela não é para sempre, e essa é a graça! –responde com todo seu coração.

—Se pudéssemos viajar no tempo, para a noite que você decidiu voltar para casa, você ainda voltaria? –pergunta com medo da resposta. Sem pensar duas vezes, responde:

—Sim... –o menino desvia o olhar triste, até ela completar- Para se despedir dos meus pais e ir para Terra do Nunca com você!  -segura novamente na mão dele.

—Qual é a diferença de agora?

—5 anos... –diz e caricia o rosto de Peter, que fecha os olhos com seu toque- Não poderíamos mais ficar juntos do jeito que eu gostaria... Você entende?

Ele apenas balança a cabeça indicando que entendeu e eles começam o caminho de volta para o quarto em silêncio, ela odiava aquilo, mas não há o que fazer. Durante o trajeto, Peter olha para a garota, a mais linda que ele já havia visto em toda sua vida, e sente seu coração se partindo.

Ao chegar na sua casa e colocar os pés no chão, Wendy já sente saudades de estar no ar, talvez ele tenha razão, voar é mesmo a melhor coisa do mundo—se contra diz.

—Então... Até o ano que vem... –diz triste e saindo.

—Peter espera! –ela o para- Talvez... Seja melhor... Você não... Voltar...

—O que?! –Pan entra no quarto- Como pode me pedir isso?!

—Eu vou crescer Peter, e cada ano vou estar mais velha e mais ocupada! Eu quero que você me guarde na sua memória desse jeito...

—Mas Wendy, eu vou sentir muita a sua falta! –cruza os braços.

—Eu também vou sentir a sua, mas está na hora de seguirmos em frente... Existe muita meninas da sua idade esperando por uma aventura! É só você procurar... –ele suspira, mas sabe que no fundo ela está certa- Por favor, vai ser o melhor para nós dois...

—Queria ter sido corajoso o suficiente, para ficar no mundo real, com você! –choraminga se aproximando.

—Mas aí você não seria você, e todo o encanto acabaria! –no fundo, ela só diz isso para que ele se sentisse melhor, pois na verdade, o que a garota passa mais tempo sonhando e imaginando, é como teria sido as coisas se ele decidisse crescer junto com ela.  

—Eu vou lembrar de você para sempre, Wendy! –o menino se aproxima mais, ainda flutuando, para ficar da altura certa- E para sempre é muito tempo! –diz e ela ri- Você sempre vai se lembrar de mim? Mesmo quando tiver um namorado e casar?

—É claro que vou! Você ainda tem uma coisa minha, lembra? –pergunta e ele junta as sobrancelhas confuso- Meu primeiro beijo... quero dizer, dedal... Para sempre será seu! Só seu e de mais ninguém, Peter Pan!

Ela coloca uma mão em sua bochecha, e sela seus lábios por uma última vez. Simples. Delicado. E rápido. Mas único e muito especial.

—E você sempre será meu primeiro amor Wendy... –deixa escapar em um sussurro, ele não queria que ela tivesse escutado, mas já era tarde demais.

—Amor? –sussurra de volta surpresa. Peter nunca havia dito essa palavra- Eu também te..

—Shhh! –acaricia sua boca com o polegar, talvez ele não fosse mais tão menino assim- Eu sei, mas não precisa dizer... –falar só tornaria mais real e doloroso, então ele se afasta indo em direção a janela- Boa noite, Wendy... E feliz aniversário!

Ela se vira e olha no relógio. 00:04h. A nova adulta volta com o olhar, e o sorriso que estampava seu rosto vai embora, ele já tinha desaparecido. Wendy corre para janela, olha para o céu e vê um rastro brilhante desaparecer em uma estrela especifica.

Então, encarando aquele pondo de luz na imensidão do céu, achando que aquela seria a última vez, ela segura seu colar de beijo na mão e finalmente diz:

—Adeus, Peter!


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Notas finais do capítulo

Se gostaram, comentem, favoritem e se merecer recomendem! Indico o livro do Peter Pan para todos,não é apenas um livro infantil, tem muitas mensagens boas para qualquer idade!

Beijos! Ou melhor, "dedais" para vocês! kkkk



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