Superheroes escrita por gwmezacoustic


Capítulo 11
Capítulo 10


Notas iniciais do capítulo

Hey, voltei.
Eu amei escrever esse capítulo e amei sofrer por ele.
Boa leitura, seus lindos.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/699224/chapter/11

. . .

“Quando você encontrar a outra metade da sua alma, você vai entender porque todos os outros amores deixaram você ir. Quando você encontrar a pessoa que realmente merece o seu coração, você vai entender porque as coisas não funcionaram com todos os outros.”

— Rubem Alves.

. . .

“(…) Mas: a parte que eu mais gosto não é fazer, e sim notar. Notar que ela cheira a café muito doce, e a diferença do sorriso dela e o sorriso das fotos, e a forma como ela morde o lábio inferior, e a pele pálida de suas costas. Eu só quero ter o prazer de notar essas coisas a uma distância segura - não quero ter de reconhecer que estou notando. Não quero ter de falar nisso ou fazer alguma coisa em relação a isso.”

— Will & Will.

. . .

“Sem memórias, sem problemas.”

— Procurando Dory.

  

. . .

“Querido Simon;

Escrevo para deixar claras as minhas intenções, sei que não venho sendo tão presente quanto deveria e gostaria, mas recentemente as coisas andam muito competitivas por aqui. Você mais do que ninguém sabe disso, não é? Lembro do verão que compartilhamos durante seu treinamento de bases militares, não se preocupe, eu sei que você só veio daquela vez porque sua mãe lhe pediu, e eu sei que você tentou, George também tentou e te apoiou nessa época. Aliás, soube que ele está pensando em se alistar, falou comigo recentemente sobre isso, e é bom saber que aquele verão serviu para algo positivo.

Sei que você tem todo esse ano planejado, provavelmente inúmeros planos com a sua garota. Isabelle, não é? Espero que tenham se resolvido, da ultima vez que nos vimos você estava mais desiludido do que o normal e foram há, pelo menos, uns 2 anos. Então espero que já estejam noivos, me envie o convite de casamento, será um prazer atravessar o atlântico para ver a consumação de um relacionamento tão bonito.

Te envio essa carta porque a nossa conexão com a internet foi cortado por um grupo de jovens rebeldes, e você sabe que não sou bom com ligações, então essa é a minha única opção de comunicação. Sua mãe menciona sempre que você está crescendo e me envia algumas fotos, você ainda é o primeiro da classe, não é? Tenho certeza que se ainda estivesse aqui teria resolvido esse problema com a conexão em poucos minutos, mas não temos tanto tempo nessa área como você.

Indo direto ao ponto. Eu sei que você provavelmente continua chateado por todos os acontecimentos que nos envolvem, sei que você ainda não superou e continua mantendo certa raiva em seu peito, mas você poderia me oferecer uma última chance? Não te peço que largue todos os seus planos para o ano, só quero alguns poucos meses para que voltemos a conviver juntos, você pode conseguir créditos extras para a faculdade graças a nossa parceria com o governo, não quero te chantagear, sei que isso não funciona com você, mas só te peço uma chance, então poderia repensar essa questão?

Eu entenderei se não estiver disposto, tem a escola, a família, os amigos e Isabelle. Mas se estiver, podemos fazer desses meses algo mais positivo do que o nosso último verão. Não peço que desista da sua vida, só peço que tente uni-la a minha.

— Atenciosamente, General Walter Lewis.”

. . .

— Tudo bem? Você está pálido, deveria se sentar. - o George animado de alguns segundos atrás havia sumido em um passe de mágica, dando lugar ao irmão mais velho protetor.

— Ele... Ele... - encarou a carta e não conseguiu formar um pensamento coerente.

— Seu pai te enviou uma carta? - ele finalmente começou a entender.

— Ele me pediu para visitá-lo de novo.

— Isso é bom, não é? Ele está disposto a tentar de novo depois daquele desastre. - George caminhou até o frigobar e estendeu uma garrafa de água ao irmão.

— Não, não agora. As coisas com Isabelle estão indo bem, eu não posso sumir de uma hora para a outra para passar alguns meses com o meu pai que decidiu que agora estava disponível para passar um tempo com o filho que ele abandonou para ir para o outro lado do mundo. - o tom de voz de Simon era irônico e carregado de sarcasmo, o tom que só usava quando falava do pai.

— Você sabe que não foi exatamente assim. - tentou argumentar, recebendo uma careta de Simon.

— Esse é o meu telefone, ligue para Isabelle e diga que não posso sair com ela hoje porque eu não sei, crie um motivo, eu preciso espairecer. - jogou o telefone no irmão, descendo as escadas e entrando no carro.

— Alô? Isabelle, é o George... Sim, eu sei que ele deveria sair com você, mas ele teve que resolver alguns problemas de última hora... Eu sei que você entende, eu vou dizer isso a ele... Sim, boa noite... Olha, posso fazer uma pergunta hipotética? Se seu irmão sumisse dizendo que precisa espairecer depois de falar com o pai o que você faria? Isabelle, pare de gritar, eu não tenho culpa... Eu sei que deveria ter impedido que ele saísse... Não, eu não sei pra onde ele foi... Certo, se achá-lo poderia me mandar notícias? Eu que agradeço, Isabelle. - George deixou seu corpo cair de costas na cama, como as coisas poderiam desmoronar tão rápido?

. . .

As ruas estavam lotadas, pessoas iam e viam em todas as direções. Seria possível se sentir sozinho em meio a uma multidão? Simon se sentia particularmente baqueado, petrificado, deslocado. Essa é a palavra. Ele se sentia preso ao passado, eterno refém do que já deveria ter sido superado. Sentia como se ainda fosse o garotinho com medo de tudo, que tinha como único abrigo algo destroçado. Era como se o peso do mundo tivesse voltado a habitar suas costas, talvez fosse isso, talvez ele nunca tivesse realmente o esquecido. Sentia-se como um pássaro engaiolado em seus próprios pesares, era agora companheiro de seus dramas e incertezas. Era como se o tempo não tivesse passado e ele ainda estivesse repetindo a cena repetidas vezes enquanto chorava, era como se cada dia que passou desde aquele final tivesse o atingido como balas, ele se sentia sufocado mesmo sabendo que o ar estava presente em seus pulmões. Era como estar em queda livre e não ter nenhum amparo.

Caminhou pela Times Square em passos rápidos e desgovernados, esbarrando em pessoas aleatórias, senhores, mulheres, jovens, todos visivelmente atrasados para chegar a algum lugar, exceto Simon, ele não tinha ideia de que rumo deveria seguir, se pegou inúmeras vezes se perguntando qual a história por trás dos sorrisos que lhe eram lançados, era tudo real? Ou todos apenas tentavam esconder a sua dor? Ele não se sentia bem ali, na verdade ele não se sentia bem em lugar algum, ao mesmo tempo que queria desnudar a alma de todos e fazê-los enxergar as suas vidas sistemáticas e medíocres, ele queria bater com a sua cabeça na parede por também querer algo assim, ele tinha toda a sua vida planejada, todo o seu ano milimetricamente acertado, nisso seu pai tinha razão. Ele queria mudar e largar todos os padrões e sabia que para conseguir isso precisava lançar-se no desconhecido.

Voltou ao carro, ainda sem rumo, permitindo que sua mente divagasse livre sendo embalada apenas pelo som de uma neblina fraca que batia contra os vidros e o CD do The Script que Isabelle sempre deixava largado por lá. E sem se dar conta, o carro fazia a curva e entrava na estrada de terra do seu antigo condomínio, era quase como voltar para casa depois de um dia cansativo, ele sentiu falta daquele lugar, sentiu falta da sensação que lhe causava, a sensação de encontrar o seu lugar no mundo, mas cada milímetro da floresta que rodeava as casas estava cheio de lembranças, lembranças que ele não sabia se poderia carregar.

Parou o carro a frente da casa de campo, aquela área possuía poucos moradores, as casas mais próximas eram dos Lightwoods e Fairchild, ele sabia que as casas não haviam sido vendidas, eles mantinham as propriedades para feriados ou férias, mesmo que há anos não fossem juntos para lá. Avistou a placa de identificação quase vencida pelo tempo, naquela época eles eram só os Lewis, seus olhos se demoraram sobre as letras tortas que formavam a palavra, as letras tão semelhantes as da caligrafia da carta que carregava no bolso do sobretudo, ele havia ajudado seu pai a pintar aquela placa e ali, em frente a ela, se permitiu pela primeira vez na noite, desabar.

. . .

Isabelle andava a passos largos pela rua, se amaldiçoando mentalmente por não ter aprendido a dirigir quando teve a oportunidade, estava frustrada consigo mesma, e ter o melhor amigo sumido não era algo que ajudasse o seu humor. Ela já havia falado com todos e ninguém fazia ideia de onde ele poderia ter ido, afundou as mãos nos bolsos tentando se esconder da chuva sob o tecido de seu sobretudo, forçou sua mão para sinalizar a um motorista de táxi, e entrou dando as instruções para a casa dos Lewis, ninguém o conhecia melhor que ela, ela deveria ser capaz de saber até o que ele pensava, e se deu conta quase tardiamente que ele não poderia estar em outro lugar do que a casa dos Lewis, a casa original.

. . .

Simon estava sentado sobre os degraus da frente, seus cabelos já estavam quase inteiramente molhados e sua respiração descompassada pelo choro que vez ou outra voltava, ainda sem conseguir afastar a imagem da placa de sua mente, que batia internamente com a carta em seu bolso, como poderiam ser a mesma pessoa? De um lado estava o seu pai presente e amoroso que o ajudava a enfrentar o mundo, do outro o senhor que mal sabia qual faculdade o filho gostaria de cursar, seus olhos zapearam pela grama alta do jardim, parando a frente de um grande tronco de árvore, se forçou a levantar o olhar e enxergar a casa da árvore que seu pai havia construído, ela era menor do que a que tinham em sua casa atual, mas parecia mais imponente e grandiosa, as lembranças do seu eu mais novo correndo pelo jardim enquanto o mais velho a construía era difícil de esquecer. Levantou e caminhou lentamente até ela, tomando atenção redobrada para subir a escada, em parte porque ainda garoava e em parte porque ele não queria pensar em qualquer outra coisa, tanto que nem notou quando um táxi parou a frente da propriedade.

. . .

Isabelle caminhou diretamente até a casa na árvore, viu o vulto do seu melhor amigo subir logo depois de avistar seu carro e dispensar o táxi, parte de seu problema havia sido resolvido, a maior parte, porém, ainda era inconclusiva.

Aquele lugar lhe trazia lembranças de quando era apenas uma menininha que tinha como maior preocupação correr de mãos dadas pelo jardim com seus melhores amigos, a infância é uma época mágica, por que não poderia ser eterna? “Você tinha meio metro, não deveria querer passar a eternidade assim.” Riu de seu subconsciente, talvez, somente talvez, crescer fosse mais divertido afinal.

Ao entrar na pequena casa da árvore viu Simon apoiado sobre a grade de segurança olhando o topo das árvores, seus cabelos molhados, o mesmo Simon de anos atrás, o garotinho machucado que abraçava a si mesmo em busca de consolo. Ambos estavam conscientes da presença um do outro, sempre foi assim, onde um estava o outro acompanhava.

— Como chegou até aqui? - o tom de voz de Simon poderia partir vidro, ele havia voltado a ser o garoto triste que se escondia atrás das grosserias.

— Você veio pra cá quando soube que seus pais iam se separar e também depois que seu pai embarcou para a base. - era tudo óbvio demais, Isabelle era a pessoa que mais conhecia Simon no mundo e vice-versa.

— Você deveria ter me deixado sozinho. - todos se ofenderiam com o tom de voz ácido de Simon, exceto Isabelle que sabia que naquele grito estava contido o mais profundo pedido de socorro.

— Pode gritar quantas grosserias quiser, eu não vou a lugar algum. - os olhos de Isabelle brilhavam como quando ela era criança.

Os olhos de Simon desviaram das árvores e focaram na morena, ela era boa demais para ser real, a doce e imponente Isabelle estava a sua frente dizendo que não desistiria, ele se aproximou dela a passos lentos, deixando que a luz finalmente banhasse suas feições, o caminho de lágrimas agora era visível em seu rosto, e então ele a abraçou, como se sua vida dependesse daquilo. Depois de absorver o choque inicial ela o envolveu entre seus braços calorosos, suas mãos passeavam pelas roupas molhadas, tentando confortar o rapaz que chorava compulsivamente e encharcava a curva de seu pescoço.

— Obrigado. - conseguiu sussurrar em meio ao choro.

— Shiii. - murmurou enquanto acariciava as costas dele — Eu sempre vou estar aqui pra você. — ambos sabiam a importância daquela promessa.

. . .

“Amar também é ter que deixar a pessoa seguir em frente, é ter que viver longe. Amor não é só grude, carinho, prazer. Amor também é sentir saudade, mas ter de acostumar com a ausência de quem deveria estar presente.”

— Outono.

. . .


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Não sei o que dizer, só que tenha paciência com o tio Walter.
Minha mente tá toda bagunçada e a culpa é dessa fanfic. (talvez ela sempre tenha sido assim, talvez eu esteja atribuindo a culpa a isso, mas a culpa é minha, coloco ela no que eu quiser, né?)
Fiquem com Deus e até o próximo. E beijão.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Superheroes" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.