Titanic de Volta escrita por bia


Capítulo 3
Capítulo 3




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   - Sorria Rose – sussurrou mamãe no pé do meu ouvido.

   Alarguei mais ainda meus lábios. As covas de minhas bochechas já estavam doloridas, minhas costas estavam desconfortáveis e meu vestido pesava mais a cada minuto.

   Algo me preocupava. Jack lá em baixo, no quente, carregando sacos de carvão nas costas, como se fosse um cavalo, recebendo chicotadas imaginaria nas pernas, ou talvez fosse só exagero. Eu preferia pensar o pior, para depois me surpreender, assim minha vida não ficava tão monótona.

   - Rose, soube que vai estudar artes na América, vai ser um orgulho para a família – disse a embaixadora de não-sei-a-onde. Ela tinha um falso sorriso no rosto, clamando por um sapato mais confortável.

   - Farei o possível para isso acontecer – sorri simpática, quer dizer, sorri mais ainda. – Se me derem licença – Pedi, me levantando.

   Comecei a andar, devagar pode se disser. Meus olhos procuravam algo que não estava ali. Procuravam em minha memória o caminho para voltar lá em baixo, nas maquinas. Eu já estive lá e sabia disso, só não sabia voltar, não me recordava. 

   - Rose, Rose! – chamou uma pessoa, tocando delicadamente meus ombros.

   De súbito me virei, olhando vagarosamente seus olhos tão negros que pareciam duas jabuticabas.

   - Olá Mr. Andrews, como vai o senhor?

   - Muito bem Rose, você está encantadora.

   - Obrigada, em que posso ajudá-lo?

   - Soube de Sr. Dawson, vão matá-lo.

   - Como assim?

   - Ele é um seqüestrador, pena de morte, principalmente por ter te seqüestrado.

   - Eu não sou ninguém.

   - Seu nome é forte.

   - Não interessa! Estamos em pleno século XX, pena de morte? Onde já se viu.

   - Acalme-se Rose, se você der seu testemunho dizendo que foi até Sr. Dawson por vontade própria, então eu serei sua testemunha, pois você me perguntou onde ele estava.

   - E se provarem o contrario?

   - Não há o que se provar.

   Meu corpo se arrepiou em um espasmo. A dor invadiu meu peito ao pensar que Jack morreria. Isso eu já sabia que ia acontecer, afinal, todos morreremos um dia, mas eu desejo morrer antes de Jack, antes de ver seu corpo frio no caixão.

   - Rose, você está bem? Está pálida.

   - Estou ótima Thomas, me diga, quando acontecerá? Vão fazer na América? Forca? Guilhotina?

   - Vão fazer no porão, hoje, com uma bala no peito.

   - Vamos até lá, agora! – dizia alto.

   Ainda me lembro da dor, dor da perda. Minha voz se alterava a cada palavra. Uma dor nunca sentida antes. Meu coração batia alto e rápido. A comida estava parada em minha garganta, esperando uma hora para sair.

   - Olá Thomas, Rose, será um prazer ter suas companhias para o espetáculo – ali estava ele, segurando uma arma nas mãos, apontando para o coração de Jack.

   - Carl, não faça isso amor, podemos resolver isso passivamente.

   - Rose, vá embora – disse Jack, olhando em meus olhos, me poupado de ver uma cena dolorosa.

   - Policiais, soltem esse rapaz, temos provas de que ele é inocente.

   - Thomas, não resta duvidas, ele é um criminoso e precisa pagar.

   Carl estava começando a se descontrolar, suas mãos se agitavam no ar, sendo que uma segurava a arma.

   - Sr. Hockley, solte essa arma – pediu um policial.

   - Você fique calado, ou eu atiro em todos!

   - Acalme-se amor.

   - Você é a próxima a morrer querida, fazer companhia para esse vermezinho.

   Ele apontou para Jack, que estava amarrado contra a parede. Todos temiam aquele pobre coitado, desesperado para se vingar.

   Virei minha cabeça para o lado, não conseguindo ver aquela cena.

   Meus ouvidos captaram um som ensurdecedor, um estrondo, uma arma disparada. Depois um corpo caindo no chão, uma carcaça sem vida. Nesse momento toda a comida que estava acumulada em minha garganta tomou vida e foi para fora, em um vomito de medo. Eu perdi Jack.

   Ajoelhada no chão virei meu rosto devagar, temendo o desconhecido.

   O que eu veria? Jack jogado no chão, sangrando, feito um saco de batata?

   - Meu Deus!

   - Desculpe Rose, eu só... Desculpe!

   Jogado no chão estava Carl, com um tiro no abdômen, o sangue saia feito água, os policiais não sabiam se prendiam Mr. Andrews por ter matado meu futuro marido ou jogavam a carcaça no mar.

   - Rose, me desculpe. – disse, deixando a arma no chão e saindo porta a fora.

   Ainda conseguia sentir o gosto forte de vomito em meus lábios. O chão cheirava cada vez mais.

   - Me soltem! – pediu Jack.

   Um dos policiais pegou a chave da algema e abriu. Ele veio em minha direção e ajoelhou ao meu lado e me abraçou por trás. Encostei minha cabeça em meu peito.

   - Jack... – chamou Carl, que ainda respirava – Eu nunca perco.

   - Mas não sou eu que estou morrendo sem ninguém para chorar sob meu cadáver.

   - Rose... – eu virei e olhei para meu noivo, jogado no chão – Honre seu marido. – pediu.

   - Desculpe Carl, mas acho que honra não vai te salvar do inferno.    

   - Saiam todos daqui! – ordenou um policial.

   Jack me levantou e saímos andando rápido pelo corredor do porão.

   - Sinto muito Rose – sussurrou em meu ouvido.

   Eu não sentia. Perder meu noivo deveria ser muito doloroso, se eu realmente o amasse. Ele nunca foi bom para mim, perdi a conta de quantas vezes apanhei, ou fiquei trancada no quarto, sem poder fazer nada. E eu deveria chorar por ele?

   - Mas eu não sinto.

   Aproximei meus lábios de Jack.

   - Não vou beijar alguém que acabou de vomitar – disse ele, rindo. Eu também ri – Venha cá!

   Ele me puxou e colou nossos corpos, encostou levemente seus lábios contra os meus.

   Eu sorri. Talvez fosse aquele calor e alegria que me fazia falta. As dores nos joelhos ou nos pés não eram mais perceptíveis. 

   “- Carl morreu?

   - Sim.

   - E foi Thomas quem matou?

   - Sim querida.

   - Bem feito, eu não gostava dele.

   - Nem eu querida, mas não deseje a morte pra ninguém.

   - Desculpe vovó.

   - Tudo bem, agora está na hora de dormir.

   - Boa noite vó, boa noite vô.

   - Boa noite querida.

   Levantei-me e fui até a cama. Jack já estava deitado.

   - Eu ouvi o capitulo de hoje – ele disse, rindo.

   - Você vai ouvir a história inteira.

   - É como reviver os velhos tempos – disse, se aproximando de mim – Eu te amo Rose.

   - Oh, Jack, eu te amo querido.

   Ele se aproximou mais de mim e me deu um beijo na bochecha. Eu senti falta do calor de seus lábios.

   Peguei seu rosto em minhas mãos e aproximei nossos lábios, sentindo sua pele áspera.

   Jack está velho, mas continua bonito e amável. Ele ainda é o amor da minha vida. “


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Notas finais do capítulo

XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
Desculpe a demoa, espero que gostem
Comentarios?
Beijinhos Bia