Titanic de Volta escrita por bia


Capítulo 1
Capítulo 1




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/69907/chapter/1

   Ali no convés do navio o ar estava gélido e insuportavelmente frio, mas era naquele sorriso que eu conseguia tirar um punhado de calor para me aquecer. Meu vestido de linho balançava com o vento úmido, que enchia meus pulmões de ar.

   Devo admitir que fugir daquele verme que meu marido mandava me seguir era bem interessante, quando se passa a vida fugindo da própria mente. Os fios loiros e lisos do cabelo de Jack estavam chacoalhando contra o vento, ressaltando seus olhos azuis. Naquela época sua pele era corada e macia como balas de lua, rosas. Os lábios delicadamente arredondados e apetitosos, avermelhados pode se dizer.

   Foi naquele momento que eu vi um objeto incerto, boiando na água. Era alto e um tanto monstruoso, assustava olhar. Era um iceberg. Estava tão próximo que eu podia simplesmente estender minha mão e tocar naquela superfície áspera e cortante. Ele passou normalmente, não tocou no navio, nem nos interferiu. Foi uma paisagem amistosa e bela, já que nossa única vista era o grande e infinito oceano.

   - Sra. Bukater, sua mãe te espera em seus aposentos – anunciou o verme do mordomo de meu marido.

   - Obrigada Lovejoy – respondi friamente.

   Depois que ele se foi, eu virei para Jack.

   - Faça valer a pena – sussurrou ele em ouvido – Amanhã nos vemos aqui.

   Antes de se retirar, Jack segurou cuidadosamente minha cabeça entre suas mãos e delicadamente selou nossos lábios com o ultimo beijo da noite.

   Voltei à postura que toda dama da nobreza tem que ter. Andando devagar e sem muitos movimentos rápidos voltei ao meu quarto. Os cavalheiros estavam tomando o bom e velho brandy. Só o cheiro já me deixava estonteada. A fumaça do charuto se empesteou pelo salão central, e eu ainda podia ouvir as risadas das apostas. 

   Rodei a maçaneta de ouro puro e lentamente adentrei o quarto.

   - Você estava com o Sr. Dawson? – perguntou ela, mostrando aquela face severa e majestosa. Seus olhos estavam brilhando com a iluminação do quarto e dentro daquela boca fechada e mandona, eu podia ver a pessoa que estava prestes a destruir minha vida.

   - Sim mãe. – olhei para baixo, tentando esconder meus olhos marejados.

   - Rose, você não tem a minha permissão para vê-lo – respondeu, impondo meu limite.

   - Não pode fazer isso – naquele ponto eu senti que um pouco de minha dor estava sendo colocada para fora, aos poucos. Foi involuntário que aquelas palavras saíram, parecia que elas já estavam querendo ser libertadas há muito tempo. 

   - Veremos então. Fique em seus aposentos até amanhecer, não quero ver seu rosto hoje no jantar – imediatamente curvei-me em gesto de respeito e retirei-me.

   Quando entrei no meu quarto, vi Cal parado, encostado no robusto criado mudo. Seus olhos explodiam de raiva e seriedade. Com os braços cruzados e os cabelos bagunçados, em forma de preocupação.

   Ele se desencostou, aproximou-se de mim e com um golpe só levantou a mão, me dando uma bofetada no rosto. O estalo de sua pele contra a minha ainda ecoava em minha mente. Ardia como fogo, pequenos espinhos entrando e saindo de minha bochecha. Coloquei a mão no local, pressionando, tentando fazer aquela dor insuportável parar.

   - Quer virar a prostituta dele? – perguntou, jogando meu desenho todo amassado no chão.

   - Não Cal – respondi, olhando para baixo.

   - Me honre então – ele me sacudiu no ar, e me soltou. Cai no chão, sem meus pés para ajudarem.

   Ele saiu do quarto e ali eu fiquei deitada por um bom tempo. Minha cabeça girava de desgosto. Como eu podia continuar vivendo nesse lugar?

   Onde Jack estaria?

   Levantei-me do chão. Fui à frente do espelho e comecei a despir-me. Primeiro tirei os pesado vestido, cuja calda tinha três camadas. Depois as fachas que envolviam minha cintura, sem tirar os olhos do meu reflexo. O sapato. Só fiquei com o necessário. Depois, coloquei um vestido leve de seda, estava gelado, mas muito macio e confortável. Logo após fui até o closet e tirei um casaco comprido e quente de lã.

   Abri vagarosamente a porta do quarto. Estava tudo vazio, inclusive os corredores, todos estavam todos tomando brandy e fumando um charuto.

   Sai andando, torcendo para que Mr. Andrews estivesse a minha disposição. Não, eu não iria seduzi-lo, ou lançar olhares intuitivos.

  Andei até o salão principal. Era longo e espaçoso. As realezas que ali desfilavam não eram dignas das jóias que carregavam, nos braços os caros relógios de ouro, nos pulsos as correntes delicadas, mas a verdadeira jóia estava como uma pedra bruta*.

   Passando ali eu pude ver Cal, ele andava com passos largos e ansiosos. Tive que me esconder atrás de um pilar para que ele não me visse. Parou tão perto que eu podia ouvir seu cochicho com aquele verme.

   - Lovejoy, certifique-se de que ela não sairá do quarto hoje – e logo após de falar isso, retirou uma nota de cinqüenta dólares e colocou no bolso do terno de seu criado.

   O velho coveiro saiu andando para os aposentos e Cal voltou para o “magnífico” jantar. Pode se dizer que o que Cal fazia era escravidão, mas na verdade eu entendo, afinal, o que o medo faz algumas pessoas?

   Para mim era até um absurdo o que eu estava sentindo, já que naquela época, o amor não existia, e se existisse era ignorado. Porem, alguma força maior me puxava feito imã para perto de Jack.

   - Thomas... Mr. Andrews! – tive aumentar minha voz, para que ele ouvisse. Estava parado do grande salão central.

   - Oh, Rose, pode me chamar de Thomas. Mas está frio! Não gostaria de um casaco?

   - Oh, não Thomas, é muito gentileza, mas só estou procurando Mr. Dawson, sabe de seu paradeiro?

   - Rose, ele está na terceira classe, creio que não queira ir lá.

   - Thomas, como eu chego à terceira classe? - Mr. Andrews se assustou um pouco com minha pergunta.

   - Pegue o elevador, desça até o ultimo andar e lá estará a terceira classe. Sabe qual é o quarto?

   - Não Thomas.

   - G 60.

   - Oh, estou muito grata Mr. Andrews, conte comigo para o que precisar.

   - Disponha Rose.

   Eu o abracei, ele pegou minha mãe e a beijou.

   Retirei-me correndo, pode se dizer até voando. Peguei o elevador e desci até o ultimo andar possível. O chão e as paredes de um carpete limpo, e nunca lavado. As pessoas olhavam aquela moça de primeira classe que provavelmente tenha se perdido no porão do grande Titanic.

   Segurei o passo, para conseguir ler os números nas portas.

   - G 60, aqui!

   Parei em frente, meu coração palpitava. Eu podia até ouvir minha respiração acelerada, sentir o suor de nervosismo descendo pelas minhas costas.

   Dei dois toques na porta, e ela se abriu.

   O quarto era incrivelmente pequeno, mal dava duas beliches. As paredes brancas, da primeira pintura. A pia do banheiro ficava do lado da cama mesmo. Era apertado e incomodo.

   - Rose, o que faz aqui? – perguntou Jack, passando uma toalha de rosto nas mãos úmidas. O quarto estava vazio.

   - Vim visitar um escravo da terceira classe.

   Sua face se esticou em um sorriso.

   - Madame – disse, abrindo a porta o máximo que podia e se curvando.

   - Obrigada – me curvei também, entrando na brincadeira.

   Sentei-me na cama, e saiu uma fumaça de poeira.

   - Você dorme sozinho aqui?

   - Não, durmo com Fabrizio e mais dois caras, mas eles vão ter que trabalhar no turno da noite hoje.

   Aquilo era bom, já que eu queria ficar com Jack aqui. Mas ao mesmo tempo era impossível. Para uma mulher e um homem dormirem juntos, teriam de ser casados

   - O que aconteceu Rose? – perguntou, percebendo minha face ainda avermelhada.

   Ele chegou mais e passou o dedo levemente por cima da maça de meu rosto.

   - Nada.

   - Ele te bateu?

   - Essa pergunta não é adequada.

   Eu não queria responder por vergonha. O que ele pensaria de mim? Que eu sou masoquista ou estúpida?

   - Também não é adequado apanhar toda vez que sumir por uns tempos.

   - Eu não apanhei!

   Mas não adiantava, ele já sabia da verdade.

   Jack chegou mais perto, e me abraçou. Seus braços quentes repousaram nas minhas costas, e seu lábio estava perto o bastante de maus ouvido para ouvir:

   - Suba Joseph, para o céu ela vai...

--------

 

*São os sentimentos como o ciúme, perfídia, a vingança, os vícios, e outros mais, pecados da moral e dos bons costumes.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Gente, espero que gostem.
A linguagem e os pensamentos podem estar um pouco diferente ao do filme, desculpem
Comentem se estiverem gostando
Beijinhos Bia