Who I Am? escrita por StrangeDemigod


Capítulo 6
Number Six




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Seus soluços eram quase inaudíveis.

Dentro daquele box, debaixo da água do chuveiro, Helena chorava. Suas lágrimas se misturavam com a água do chuveiro. Mas porque ela chorava? Era porque ela havia perdido aqueles que cuidaram dela, que a amavam, que ela amava? Não. Ela poderia até chorar por isso, mas o motivo de lágrimas escorrerem por seus olhos naquele momento era outro.

Olhou as próprias mãos. Num momento elas estavam limpas, no outro, ela as enxergava cheias de sangue. Ela gritou baixo, começando a esfregar as mãos freneticamente debaixo da água, mas parecia que quanto mais ela esfregava, mais sangue se alastrava por suas mãos. Ela continuava a esfregar, até que percebeu que não havia sangue algum em suas mãos. Foi tudo uma ilusão, uma peça pregada por sua cabeça.

Ela suspirou baixo. Encostou a cabeça na parede e apertou os olhos. Mais lágrimas escorriam por seu rosto.  Ela continuava a apertar os olhos, gemendo de dor, pois sua cabeça já estava começando a doer. Quando ela sentiu a dor se esvair, mesmo que só um pouco, desligou o chuveiro e saiu do box se enrolando numa toalha.

Abriu a porta do banheiro e se dirigiu ao quarto. Pegou a mochila e a abriu, vasculhando-a. Decidiu colocar um conjunto simples, nada fora do que ela costumava usar. Colocou as roupas íntimas primeiro e logo após as roupas que havia escolhido, que eram uma calça jeans preta, uma regata igualmente preta, uma blusa de mangas verde musgo, juntamente com botas na canela verdes como a blusa. Sentou-se na cama, secando os cabelos. Nomes rodeavam sua mente, não só nomes como imagens. Ela queria que aquilo simplesmente parasse. Ela abriu o diário na página marcada. “Περσεφόνη*”. Esse nome a intrigava. Não era a primeira vez que ela o escrevia.

Suspirando, seguiu para o banheiro novamente. Olhou-se no espelho e viu que não havia resquício algum de maquiagem. Inspirou e respirou. Batidas na porta a despertaram de seus devaneios.

Ela seguiu até a porta e abriu-a. Era uma garota. Cabelos ruivos, olhos verdes e sardas. A garota usava uma camiseta roxa com alguns respingos de tinta de diversas cores, uma calça jeans meio rasgada e que era dobrada na barra e um All Star roxo surrado.

—Oi!- ela falou animada. -Rachel Elizabeth Dare, o Oráculo.- ela estendeu uma mão para Helena, que a observava. Helena, hesitante, aceitou o cumprimento. -Deve de estar se perguntando o que eu estou fazendo aqui, não é?- ela perguntou e Helena assentiu. -Bem... Quíron me pediu para te levar ao Pavilhão para jantar.

—Oh... Ah, sim... Jantar...- Helena falou baixo. -Só deixe-me pegar meu diário.- se virou e foi até a cama, pegando o diário e o fechando. -Pronto.- ela sorriu fraco para a garota que a observava e fechou a porta.

Helena a seguiu a garota pelas escadas e logo as duas estavam fora da Casa Grande.

—Então...- Rachel começou, quebrando o silêncio -Você não me falou seu nome.

—Desculpe-me. Sou Helena.- ela respondeu.

—Só Helena? Sem sobrenome?- Rachel perguntou. Helena assentiu. -E esse diário? O que tem nele?- Helena abraçou o diário, apertando-o e baixando o olhar para os pés.

—Bem...- começou baixo. -São desenhos... E nomes...- ela apertou-o mais contra si. -Ganhei ele a três anos, da mãe das gêmeas, Ally...- ela pronunciou o nome da mulher baixo. Ainda era difícil encarar que Ally morrera, assim como Joseph e Kevin. E as gêmeas nem se quer sabiam disso. Helena sentia o peso da morte dos três em suas costas.

—Entendi...- Rachel falou. Percebendo que a garota estava meio triste, ela mudou de assunto. -Chegamos. Bem vinda ao Pavilhão do Refeitório. O lugar onde todos comemos e... Acho que mais nada.- Rachel falou, fazendo piada. Helena riu baixo, com a ponta dos dedos sobre a boca. -Vem. Você vai se sentar ao meu lado.- a ruiva puxou a mão de Helena.

Quando as duas entraram, todos os olhares se direcionaram a elas, o que fez Helena corar e Rachel revirar os olhos.

—Não ligue para esses desocupados.- Rachel continuou puxando Helena até a mesa dos diretores.

—Finalmente chegaram! Raquel! Se a salvação do mundo dependesse de você chegar aqui mais cedo, estaríamos mortos.- Sr. D falou assim que as duas pararam perto da mesa.

—Sr.D é RACHEL. R-A-C-H-E-L! Não Raquel. Eu sei que significam a mesma coisa, mas tem o “che” não o “que”.- Rachel tentou explicar, mas até ela havia se confundido. -Enfim... Eu trouxe a Helena.- ela apontou para a garota atrás de si que observava tudo. Helena deu um leve aceno. Sr. D bufou em reprovação.

—Olá, minha jovem.- Quíron se pronunciou. -Vejo que parece melhor. Sente-se.- e Helena o fez. -Todos já estão jantando. Só faltam vocês.

—Ótimo! Eu estou morrendo de fome...- Rachel falou. Um prato com dois pedaços de pizza e uma latinha de Diet Coke apareceram na mesa, o que assustou Helena, que deu um leve pulo e arregalou os olhos. Rachel percebeu o olhar espantado da garota ao seu lado e soltou uma risada. -Legal, não é? Por que não tenta? É só imaginar o que quer comer e voilà! A comida aparece.- Rachel explicou.

Helena fechou os olhos e imaginou algo que ela gostava muito. Quando abriu os olhos, encontrou seu prato favorito, dividido em dois pequenos pedaços. A torta que Ally costumava fazer. Ela deu um leve sorriso.

—Eu vou fazer a oferenda.- Rachel se levantou. -Helena voc...- a ruiva foi cortada.

—Eu preciso conversar com ela. Pode ir, Rachel.- Quíron falou. A ruiva olhou desconfiada para Quíron, mas não falou nada. Apenas deu ombros, virou-se e seguiu em direção à fogueira, que ficava no centro.

Helena voltou-se ao seu prato, pegando o garfo e espetando a torta e arrancando um pouco. Levava o garfo à boca quando Quíron perguntou.

—O que é isso?- ele apontou para o diário que estava ao lado do prato. Ela parou o garfo no meio do caminho e olhou para o diário. Devolveu o garfo com a pequena quantia de torta ao prato.

—É... Um diário.- ela falou meio baixo. -Não é nada... São só desenhos bobos...- ela começou a mexer na torta.

—Posso?- ele perguntou, já com as mãos perto do diário. Helena, receosa, assentiu, olhando para o prato.

Quíron pegou o diário em mãos, observando-o. Era de um tom amarronzado, como se fosse antigo, e tinha um pequeno fecho, que apenas era necessário puxar para abri-lo. O diário abriu-se em uma página marcada com um lápis. Quíron observou bem a página. Na folha à esquerda tinha um nome escrito em grego. “Περσεφόνη” Perséfone*. Ele olhou para cima, na direção de Helena. Ela olhava para a torta no prato, desinteressada. Quíron voltou seu olhar para o diário. Abriu-o na primeira folha. Mais nomes escritos ali. Mas não havia só nomes, havia alguns desenhos. O primeiro: “Ζεύς” Zeus. E ao lado havia o desenho de um raio. O raio mestre de Zeus. Depois havia: “Άρης” Ares. “Ήφαιστος” Hefesto. E por último havia “Ποσειδώνας” Poseidon. Todos com seus respectivos símbolos. De início, Quíron pensou que fosse uma lista com os nomes dos Deuses Homens. Mas nem todos os nomes estavam ali. Foi ai que ele percebeu.

—Deuses...- ele falou baixo, porém Helena escutou-o. Ela dirigiu seu olhar a ele, que ainda estava com os olhos fixos no diário, e franziu o cenho.

—Voltei.- Rachel chegou à mesa. -Então Helena, eu gostaria muito de ver esses seus desenhos...- a ruiva falou, se dirigindo a Helena, que balançou de leve a cabeça, acordando de seus devaneios.

—O quê...? Desenhos...? Ah, sim... Claro.- ela passou uma das mãos por entre os cabelos e soltou um suspiro.

Quíron fechou o diário num baque. Colocou-o em cima da mesa, ao lado do prato de Helena. Quíron começou a coçar seu queixo.

—Legal! Eu adoro desenhar e pintar.- Rachel falava animada. Helena sorriu de leve.  

A ruiva começou a falar sobre sua vida até a chegada ao acampamento. Helena ouvia tudo atentamente. A garota até soltava algumas risadas baixas quando a ruiva se empolgava.

—Confesso que eu me assusto com esse negócio de ser o Oráculo, mas é até legal!- ela sorriu. Pegou a pizza e mordeu. -Mas e você Helena? Qual a sua história?- perguntou assim que terminou de mastigar.

—A minha?- Helena olhou confusa à ruiva, que apenas assentiu. -Bem... Acho que não há muito a dizer... Eu só me lembro dos meus últimos três anos de vida.- ela mexia na torta, ainda intocada, no prato.

—Nossa! Isso é estranho.- ela falou e logo bebeu um gole de Diet Coke da latinha. -E como foi isso?

—Tudo começou quando eu...- Helena foi interrompida.

—Quíron?- uma voz ao fundo chamou a atenção de todos da mesa. Quíron, que conversava com Dionísio, virou-se.

—Pois não, Harry?- Quíron parou a conversa e olhou para o rapaz. Harry nem teve tempo para começar a falar, pois Sr. D falou primeiro.

—Sr. Henry Campwell... Nos atrapalhando mais uma vez.- ele falou o nome do rapaz errado.

—É Harry Campbell, senhor.- o rapaz corrigiu-o.

—Tanto faz!- bufou.

Helena soltou uma risada baixa, o que chamou a atenção e de Harry. A garota ria de Rachel, que olhava com cara de boba para Harry.

—Bem... Se eu não consegui com o mais velho... Posso tentar a sorte com esse aí.- a ruiva cochichou no ouvido de Helena, que soltou uma risada baixa.

—É ela...?- Harry perguntou à Quíron.

—Sim... Helena?- Quíron a chamou e ela se virou para ele. -Esse é Harry Campbell. Ele foi quem a trouxe para o acampamento.- ele apontou para trás dela. Ela se virou e encontrou um rapaz. O porte físico e o bronzeado, sem dúvida, chamariam a atenção de qualquer uma. Mas o que mais chamou a atenção de Helena foram seus olhos. Verdes intensos. O rapaz entendeu uma mão para cumprimentá-la e ela fez o mesmo. Só que ele não apertou a sua mão. Ele pegou-a e beijou-a.

—Prazer em conhecê-la.- ele sorriu. Ela corou. Eles continuavam a se encarar. Helena observava bem os olhos dele. Eram tão parecidos com...

Ela arregalou os olhos e quebrou o contato visual, abaixando a cabeça. Começou a tremer e fechou as duas mãos em punhos.

—Helena... ‘tá tudo bem?- Rachel colocou uma das mãos no ombro de Helena. A ruiva percebeu que ela tremia.

—Sim... Estou... Estou bem.- Helena falava baixo. Ela levantou-se e pegou o diário em cima da mesa. -Agora, me deem licença, vou retirar-me para descansar. - ela continuava a falar no mesmo tom, baixo.

Helena começou a caminhar em direção à saída. Quem observasse com cuidado, veria que uma nuvem negra cobria seus olhos. Ela, então, parou e virou-se de lado, ainda de cabeça baixa. E pronunciou-se alto o suficiente.

—Prazer em conhecê – lo, Sr. Harry Campbell.- ela falou em tom arrogante, com um sorriso de lado. Ela levantou a cabeça o suficiente para que ele pudesse ver seus olhos. Eles estavam negros... Totalmente negros. A garota virou-se novamente e continuou a caminhar calmamente até à saída.

Harry olhava espantado para ela. A garota mudou de doce e inocente para fria e maliciosa em menos de um segundo.

Definitivamente, ele queria, a qualquer custo, descobrir quem era ela.


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