Problem escrita por LelahBallu


Capítulo 14
Capítulo 13


Notas iniciais do capítulo

Bom dia!!
Então, vindo aqui com mais um capítulo, espero que gostem!!
Eu gostaria inclusive de dedicar esse capítulo a Elly Santos, pela linda recomendação, obriga flor, estava sentindo um pouco de saudades de dedicar um capítulo dessa forma, espero que goste!! Um Xoxo especial para você.
Ps: Um Xoxo especial também para a Cah que fez aniversário semana passada, parabéns atrasado flor!!
Boa leitura a todos!!



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FELICITY SMOAK

Merda.

Roy parecia alguém difícil para apelar no momento.

— Roy, vire-se. – Oliver voltou a ordenar enquanto ele vestia sua camisa. Então seu olhar caiu sobre mim. Seu cenho franzido, parecia um tanto quanto aborrecido. – Você pode se vestir?

Sério? Essa era sua preocupação no momento?

Que Roy me visse de sutiã?

Desculpe, mas minha preocupação no momento era Roy falando para Thea que me viu de sutiã com ninguém menos que seu irmão. Não que ele fosse entender isso.

— Há quanto tempo isso está acontecendo? – Roy perguntou sem se preocupar em obedecer a Oliver. Oliver ainda persistia me encarando duramente, percebendo que sua paciência estava por um fio, eu me apressei em me vestir.

Homens.

— Então? – Roy perguntou ao notar que nenhum de nós dois falava nada.

— Eu disse que queria contar a Thea. – Oliver murmurou aborrecido.

— Eu não preciso do momento “Eu te avisei.”- Retruquei. Meu olhar caiu sobre Roy. Todo o texto já vindo em minha mente. – Roy, por favor, você...

— Eu espero que você não venha me pedir para manter isso da minha namorada, por que eu não vou. – Avisou.

Droga.

— Roy... – Oliver começou.

— Não, nem comece. – Falou rapidamente. – Eu não vou mentir para Thea. Você é o irmão dela, você deve saber que isso não vai terminar bem. – Lançou a Oliver um olhar aborrecido. Em sua mente provavelmente já passava todo o filme do que iria acontecer, enquanto a minha trabalhava em rebobinar o filme para evitar a cena seguinte.

— Eu não ia pedir isso. – Oliver negou.

O encarei com a boca aberta. Eu ia pedir exatamente isso.

Droga, Oliver.

— Oliver... – Comecei mesmo sabendo que a esse ponto, nada faria com que ele mudasse de ideia.

— Não, acabou. – Murmurou sério, por um momento eu pensei seriamente que ele estava falando sobre nós dois, sobre nossos encontros. Eu confesso que por este breve mais intenso momento eu senti uma mão enorme e gélida apertando meu coração. Uma sensação agoniante. Então eu me preocupei, por que se havia algo que eu estava tentando evitar ao fazer as coisas mais impessoais o possível era exatamente isso. Eu não queria aquela sensação. Eu queria as coisas simples também, droga. – Não podemos continuar escondendo isto de Thea, Felicity. Ela é minha irmã, eu não posso fingir mais que somos meros conhecidos, não para ela. – Continuou alheio ao meu breve recuo interior. Ele encarou Roy com firmeza. – Tudo o que eu ia pedir era que você nos deixasse contar sobre isso.

— É claro. Eu não sou uma vizinha fofoqueira, isso é assunto de vocês, e são vocês que tem que contar a ela. – Roy murmurou assentindo. – Eu só não quero que vocês continuem com o quer que seja que está rolando entre vocês dois, por tempo indeterminado, e me forcem a mentir para ela. – Em seu olhar ele quase implorava por isso. Culpa me dominou, por que se Oliver não tivesse sido mais rápido, era isso que eu teria feito.

— Ok. – Oliver assentiu.

— Certo. – Roy assentiu e olhou de um para o outro, seu olhar preocupado caindo em mim. Movi-me inquieta. Ele percebia meu silêncio, e minha expressão temerosa. – Eu preciso dizer, vocês dois... É algo que eu não esperava. – Confessou. Nada novo aqui, quem imaginaria? Eu não. Foi a vez de Oliver mover-se inquieto. Não estava confortável em ter qualquer conversa sobre isso com seu cunhando, a quem geralmente apenas dispensava algumas palavras educadas. Thea falou mais de uma vez que seu namorado e Oliver não eram próximos, e se irritava por que em algumas vezes eles até mesmo se evitavam. Ela tentava deixar tudo quieto, o máximo que Thea Queen conseguia, pelo menos, mas isso por que ela sabia que pressionar os dois daria em um resultado pior. Agora eu estava aqui muda, com os dois se encarando, sem jeito, o silêncio dominando. Roy não sabia o que dizer, Oliver como agir, eu não sabia para onde fugir. – Eu acho que agora você na verdade não vai precisar daquela carona. – Murmurou me encarando com dúvida. Balancei a cabeça exageradamente.

— Sim.

— Não.

As respostas dadas por nós dois ao mesmo tempo se mesclaram e confundiram Roy. Eu encarei Oliver que havia dispensado a carona de Roy para mim com extrema facilidade. Ele me encarou com o cenho franzido, não entendia por que eu havia dito sim, se agora as coisas estavam as claras, pelo menos com relação a Roy. Minhas razões eram as mesmas que havíamos discutido antes, mas eu não iria repeti-las aqui e agora, justo na frente de Roy que ainda nos encarava com confusão.

Eu tinha certeza que ele não hesitaria em vir ao meu socorro ao perceber que algo não estava bem entre Oliver e eu.

— Eu a levo. – Oliver repetiu. Seu tom firme não deixando espaço para argumentos, ainda sim Roy não se intimidou, como eu suspeitava ele me encarou. Deixava claro que seria eu quem decidiria isso. Eu encarei Oliver que parecia extremamente chateado com aquilo tudo, mas que apesar de tudo estava controlando o que pensava e como sentia. Ao seu jeito, ele também estava me dando a escolha.  Lembrei-me daquela sensação esmagadora que havia me acometido quando ele murmurou um simples “acabou.” Então eu assenti para Roy.

— Eu vou com ele. – Murmurei. Fingi que não havia percebido os ombros de Oliver relaxarem ao escutar o que eu disse.  Eu não queria, nem podia analisar o que isso significava agora. – Nos vemos amanhã Roy. – Roy assentiu ainda nos encarando como se analisasse o que estava acontecendo aqui. Ele não era bobo, certamente havia percebido que nenhum de nós dois havíamos nos aproximado desde que ele havia entrado. Não havia troca de sorrisos, ou qualquer atitude comum entre um casal.

Não somos um casal, Felicity.

Eu precisava me corrigir, e não podia me deixar esquecer, ou confundir as coisas.

— Nos vemos amanhã então. – Roy concordou. – Por favor, não deixem de contarem a Thea ainda nos próximos dias. Eu odeio a ideia de saber algo relacionado a alguém de sua família e ela não. – Pediu. Isso pareceu afetar Oliver.

— Nós vamos falar amanhã mesmo. – Oliver murmurou assentindo. Eu não sei se Roy havia pegado a picada de impaciência que havia em seu tom, mas eu havia. Roy apenas acenou um adeus para mim, e fechou a porta atrás de si. Deixando-me novamente no mais puro silêncio.

Com Oliver Queen.

— Você está pronta para ir? – Perguntou voltando a pegar seu jaleco que estava no chão. A forma metódica que ele dobrou e ajustou em seu braço me lembrou do quão certinho ele era para mim. Eu provavelmente teria feito um bolo e colocado em meu braço de qualquer jeito. – Felicity?

— Sim. – Murmurei por fim.

— Ok, eu só preciso me trocar e podem...

— Eu vou esperar você na entrada. – O cortei rapidamente. Ele ergueu uma sobrancelha ao perceber meu tom irritado. Eu o confundi e surpreendi.

— Você quer me dizer algo, Felicity? – Sondou.

— Eu não acho que você escutaria. – Murmurei indo até a porta e a abrindo. Estúpido Queen.

— Isso é sobre Thea? – Indagou tentando me compreender. Isso devia ser tão cansativo para ele. Certamente era para mim, até quando eu empurraria seus limites? Por que não podia simplesmente parar de leva-lo até a borda?

— É claro que é sobre Thea. – Respondi meneando a cabeça. A verdade era que várias coisas me chateavam agora, mas a principal certamente era toda a situação com Thea.

— Felicity... – Eu não podia fazer isso agora, me envolver em uma discussão com ele. Eu ainda estava tentando me recuperar daquela gélida sensação.

— Eu estou te esperando. – Murmurei antes de fechar a porta deixando o sua expressão perplexa para trás. Eu sabia que ele estava tentando me acompanhar e estava falhando terrivelmente, nem eu no momento conseguia acompanhar meu humor. Ele estava tentando ser paciente, e eu estava tornando as coisas mais difíceis para ele. Eu queria voltar e tirar aquele olhar de seu rosto, mas eu ainda estava presa naquela sensação desagradável, e agora junto a ela havia o medo de como as coisas se desenrolariam quando Thea descobrisse.

Eu estava tão perdida no momento, confusa e preocupada.

Oh Deus, eu precisava conversar com alguém, e não podia ser Thea. Não agora, eu devia ter pego aquela maldita carona com Roy. Ele ao menos seria forçado a me escutar.

— Vamos. – Oliver murmurou parando ao meu lado. Eu nem havia percebido que havia ficado tanto tempo encarando as portas automáticas do hospital, nem havia percebido que havia chegado a entrada. Não sabia há quanto tempo eu o estava esperando enquanto ficava presa em meus próprios pensamentos. Oliver estava tenso novamente, ou ainda estava seria uma descrição mais correta. Andamos lado a lado em silêncio, a tensão crescendo e crescendo tornando-se palpável. Ele adiantou-se em abrir a porta do carro para mim, e eu apenas segurei um comentário que tenho certeza o irritaria. – Para onde?  - O encarei confusa. – Minha casa ou a sua? – Perguntou casualmente.

— Para minha. – Falei encostando minha cabeça no assento. – Não estou a fim de sexo agora. – Ele meneou a cabeça não gostando de minha resposta. Apensas quando sentou-se ao meu lado trouxe seus pensamentos para serem ouvidos.

— Certo, havia esquecido que meu apartamento era para sexo, e que o máximo que posso chegar perto da sua casa é da porta. – Resmungou enquanto dava a partida.

— Você quer brigar. – Falei resistindo a vontade de levar meus dedos para minha têmpora e massageá-la, já podia sentir uma dor de cabeça forte se aproximando.

— Eu quero conversar. – Retrucou. – E para conversarmos não precisamos terminar em uma briga, você transforma tudo em uma briga. Por que as coisas para você tem que ocorrer do jeito que você quer. Ou não acontece.

— Isso é por causa de Thea? – Perguntei repetindo sua frase. Vi uma pequena e rápida careta se formar em seu rosto, sua atenção não estava totalmente voltada para mim por que dirigia, e eu tinha certeza que essa era a minha sorte ou essa conversa seria bem mais longa e intensa.

— Você está irritada por que vamos contar a ela. – Murmurou simplesmente. É claro que eu estava. Eu não podia deixar de considerar sua reação. Como as coisas seriam daqui por diante. Imaginar um cenário em que tudo estava bem para todo mundo, parecia surreal para mim, por que as coisas tendiam a não ficar bem para mim. Fora isso ainda havia o fato de que ele simplesmente falou com Roy como se eu não tivesse ali ao seu lado, como se eu não fizesse parte dessa decisão.

— Mais do que isso. – Falei dando vazão a minha raiva. – Eu estou irritada por que você disse que contaríamos sem sequer me consultar, você sabe que sou contra isso e ainda assim tomou uma decisão por nós dois. Por mim. Eu podia ter convencido Roy a manter segredo, por um tempo, pelo menos até que... – Cortei-me e aquela última frase chamou sua atenção, ele me encarou dura e brevemente.

— Até o quê anjo? – Indagou voltando sua atenção para as ruas. – Até que acabe?  - Mantive a confirmação de sua suspeita para mim. – Você não quer contar a Thea. - Deduziu. Seu rosto deixando-me saber que isso o irritava. - Você quer fingir que nada aconteceu e quando isso acabar, você quer olhar brevemente para mim e dizer “Olá Oliver.” Como se nunca tivéssemos ficado juntos. Você quer isso. Você quer curtir o que dá para curtir e então deletar, fingir que nunca aconteceu, e se Thea souber, isso não será possível. Ela jamais deixaria isso por menos.

— Oliver. – Comecei ainda que não soubesse o que iria dizer. Negar não era uma opção, não dizer nada além não era uma opção. E essa era a verdade.

— Não. – Negou. – Nenhuma palavra a mais, eu estou bem com levar isso adiante sem esperar nada em troca, nada a sério, em deixar levar. Mas eu não estou bem em ser usado como a porra de um batom que você gostou e depois de um mês se cansou da cor.

Com a seriedade de seu tom, com a raiva impregnada nele. Com todo o medo que eu sentia por saber como essa conversa ia terminar, eu não devia estar pensando em como eu estava surpresa em um homem usando batom como comparação. Eu acho que ele não levaria isso com muito humor também, então eu fiquei em silêncio. Mantive-me assim até que paramos em frente a minha casa e desligou o motor. Todo o cenário era tão familiar que eu segurei um riso irônico, uma vez mais Oliver me levava para casa, irritado, com silêncio nos envolvendo. Sempre seria assim? Quanto nosso sempre iria durar?

Para ser honesta eu acho que já havia acabado.

— Está na hora de pararmos com isso. – Oliver murmurou por fim. Dessa vez eu sabia de imediato que não estava enganada, e mão gelada não me pegou de surpresa. Eu já esperava, eu sabia que seria assim no momento em que ele disse sem mais conversa. Eu sabia. Eu estava decepcionada, não com ele, mas comigo mesma. Eu pensei que poderia lidar com isso, mas obviamente eu não sabia, eu não conseguia “deixar levar”, tentando simplificar tudo, eu apenas compliquei. – Eu não posso mais continuar assim. – Completou me encarando. Assenti. Eu não podia fazer outra coisa se não isso. O que mais eu poderia fazer?

Eu era orgulhosa demais para mais do que concordar e seguir em frente.

— Justo. – Murmurei por fim. – Como eu disse antes, no momento em que um de nós dois julgasse ser hora de parar, simplesmente fazemos isso. – Forcei um sorriso. Cada músculo do meu rosto protestando contra a ação, mas eu venci. – Eu te disse que não duraríamos mais que duas semanas.

— Você disse. – Assentiu seu semblante me mostrava estar decepcionado também. Eu só não sabia com quem ele estava. Acenei mais uma vez antes de colocar minha mão no trinco da porta. Diggle devia estar lá dentro, esperando que eu entrasse, planejando pedir algo, talvez uma pizza, eu não me sentia animada para isso no momento. Eu não sentia nada. Respirei fundo e abri a porta, mas antes de completar a ação eu voltei a encara-lo, ele me encarava com atenção, analisando cada gesto meu. Antes de ir, eu precisava perguntar algo. Algo que havia ficado em minha mente quando ele tão rapidamente descartou a ideia de esconder isso para Thea.

— Só me diga algo Oliver. – Pedi. Ele franziu o cenho, mas assentiu concordando. – Como você me apresentaria a Thea? – Logo notei que minha pergunta o surpreendeu.

— Como? – Perguntou confuso.

— Você disse que conversaríamos com ela. – Falei. – Disse isso a Roy, e eu me pergunto como seria. – Confessei. - Chamaríamos em um canto, e você diria como? – Perguntei. – “Hey Thea, eu só queria dizer que Felicity e eu estamos...” - Parei dando de ombros. – Como terminaria a frase? Juntos? Namorando? Transando como dois coelhos sempre que estamos a quatro paredes? – Ele me encarou incerto de como responder. E com uma leve reprimenda relacionada a minha última frase. – Como você explicaria? O que há para explicar? Você não gosta de esconder as coisas de sua irmã, Oliver. – Falei meneando a cabeça. – Mas você nem sabe o que exatamente está escondendo. – Observei seu queixo inclinar para baixo, por um momento evitou meus olhos. Talvez tivesse pensando no que eu havia dito.

— Bem, eu acho que agora não precisamos nos preocupar com isso. – Falou simplesmente. Seu olhar encontrando o meu com desafio. – Eu acho que você nunca vai descobrir.

— Não. – Concordei. - Não vamos. – Corrigi. Sem sequer entender por que eu estava fazendo isso eu me inclinei me aproximando dele, deixei em seu rosto um último beijo, fechei meus olhos apenas brevemente enquanto absorvia o seu cheiro. Ele ficou imóvel, eu não tinha certeza se era devido a surpresa, ou se era o seu jeito de deixar as coisas como estavam, quando me afastei o encarei lhe dando um sorriso pequeno. Mesmo perto de seu calor, tudo o que eu conseguia sentir no momento era frio. – Boa noite Dr. Delícia. – Falei antes de me afastar e fechar a porta com um pequeno baque. Entrei em casa ciente de que ele me observava até o momento em que a porta se fechou atrás de mim. Diggle estava esparramado sobre o sofá, se eu não o conhecesse tão bem provavelmente acreditaria que fazia minutos e não apenas segundos que ele estava ali. Que ele não tinha estado observando as câmeras com atenção e então se apressado a se jogar no sofá quando entrei. – Bisbilhotar é feio. – Murmurei passando por ele.  Não que desse para ele ver tanto.

— Eu sou pago para isso. – Lembrou-me. Sua voz hesitou quando continuou. – Acabou? – Veio a pergunta.  Virei-me já com um pé na escada, ele estava sentado, sua atenção toda em mim. Assenti conformando.

— Acabou. – Murmurei. Nada em minha voz revelando como eu realmente me sentia. Ele estreitou os olhos me observando, eu sabia que ele estava entre perguntar se eu estava bem e se devia perseguir o doutor, ou se apenas fingia que estávamos tendo outra conversa qualquer e mudava de tópico. Diggle me conhecia bem demais para errar na escolha.

— Pizza ou comida chinesa? – Perguntou voltando a se deitar.

— Peça o que quiser, eu não estou com fome. – Murmurei voltando a subir a escada, ele não tentou me parar, nem argumentar, ele me deixou ir. E era nessas horas que eu agradecia está vivendo com esse enorme homem de coração igualmente grande que me conhecia tão bem.

Entrei em meu quarto deixando minha bolsa sobre a cama. Sentei na beirada desta e encarei o vazio, eu não sabia o que pensar, como reagir. Eu queria ser madura suficiente para dar de ombros e dizer “não deu certo, fazer o quê?” Então era isso que eu estava fazendo, eu não tinha razões para chorar, não estávamos namorando, durou apenas duas semanas, ele nunca me traiu, não foi desonesto. Eu não podia agir toda magoada, então eu não faria isso. Então ignorando aquela pressão no peito, ignorando a vontade de ser irracional, eu me apeguei a mulher que era Felicity Smoak, não a garota.

Definitivamente não seria a garota problema.

Então dando de ombros para tudo aquilo tudo e dizendo internamente que não deu certo, que eu não tinha nada para fazer. Eu caminhei até o banheiro e me preparei para dormir. Antes de deitar em minha cama e encarei meu celular. O gesto automático de checar se havia alguma mensagem. Havia apenas uma, de Thea. Perguntava como foi meu dia e me desejava boa noite. Eu não me preocupei em responder, eu não queria. Bloquei a tela do celular, deitei e após um longo tempo encarando o teto, eu dormi.

Acordei com mau humor.

Jamais associaria isso ao que aconteceu na noite anterior. A culpa sempre seria atribuída ao fato de que havia demorado a me acordar, me arrumei nas pressas. Havia perdido minha corrida, meu café da manhã e se a porra do trânsito não colaborasse, a primeira aula.

Quando entrei na sala ganhei um olhar carrancudo do Sr, Palmer. E eu devolvi, primeiro por esse homem nunca havia me mandado um olhar carrancudo, e segundo por que eu estava com mau humor o suficiente para ser insolente. Thea me encarou com um misto de curiosidade e preocupação, quando tentou me perguntar o que havia acontecido para eu perder a hora eu apenas dei de ombros. Menti. Disse que a cama confortável havia sido a razão. Ela apenas deu de ombros, mas eu duvidava que havia acreditado. Quando estávamos no intervalo entre uma aula e outra ela quis saber o que tanto aconteceu no dia anterior, Roy me encarou como se esperasse que eu dissesse ali e naquele momento que eu havia desviado meu caminho até um quarto de plantão e quase transado com seu irmão, eu meneei a cabeça em negativa, ele entendeu.

Entendeu. Mas também fez uma piada ridícula quanto a rotina de hospital não ser parecida em nada com séries de TV, exceto o sexo em quartos de plantão. Que parecia ter de monte. O fuzilei com os olhos e Thea o encarou confusa. Ele falou para ela que encontrou uma enfermeira e um médico em plena ação ao entrar sem querer no lugar. Eu quis o matar por dois motivos, a) ele não devia está fazendo piadas sobre isso, b) poderia pelo menos ter me colocado como médica também.

Thea amou a fofoca é claro.

Isso a manteve falando por um bom tempo, enquanto eu voltava para o meu estado taciturno. Eu nem sabia que eu podia ser assim. Mas novamente, a culpa foi do atraso, repeti para mim mesma.

Eu já estava sonhando com chegar em casa e devorar um pote de sorvete quando ela me chamou do lado do seu carro. Considerei se deveria me aproximar, mas me limitei a encara-la do outro lado do meu, estávamos próximas de qualquer jeito.

— O quê? – Perguntei quando notei que ela apenas me encarava com um sorriso. Eu conhecia esse sorriso, é o mesmo que vinha antes de uma pergunta que geralmente minha resposta era não. – Esqueça. – Falei. – Eu não estou com humor.

— Você nem sabe o que ia dizer. – Protestou.

— Você vai me pedir algo que eu não quero fazer. – Falei azeda. – Maioria das vezes você consegue me convencer mesmo assim, mas hoje não. Hoje você pode engolir todas essas palavras antes mesmo de chegar a sua língua, por que a resposta é não. – Ela me encarou com choque. – Nem me lance esse olhar magoado.

— Que bicho te mordeu afinal? – Perguntou séria. – Felicity o que aconteceu?

— Nada. – Murmurei simplesmente.

— Sério, fale comigo. – Pediu. – Você sabe que eu estou aqui para te escutar, seja o que for. – Completou brandamente. Ergui meus olhos encontrando os seus, mais uma vez a culpa me dominou, e pela primeira vez eu desejei despejar isso sobre ela. Então deixei isso para lá, por que agora não fazia qualquer sentido mesmo.

— O que você quer Thea? – Perguntei cedendo, a culpa sendo o motivo. Ela pareceu que ia protestar sobre a mudança de assunto, mas temendo perder a oportunidade, focou no queria agora.

— Preciso que você vá a um encontro. – Murmurou me surpreendendo.

— O quê? – Eu não podia ter escutado direito. – Eu estou bem, obrigada. Eu não quero, nem vou sair com nenhum cara agora. Estou cheia deles.

— Ei, não é assim.  Não é bem um encontro. – Argumentou. – Eu tenho esse amigo que é novo na cidade, ele não conhece mais ninguém, exceto eu é claro. - Sorriu. – Acontece que eu gosto de falar sobre talk shows, e mostrar boates, talvez um karaokê. Eu não sou a melhor escolha para iniciar ele na cidade. – Confessou.

—E eu sou? – Perguntei segurando minha vontade de rir. – Eu estou aqui apenas alguns pares de meses, os lugares que fui, foi com você. Eu só saio com você.

— Eu sei.  –Assentiu. – Mas ele é do tipo que gosta de música clássica, e você toca, bem, tocava piano, ele é todo intelectual, e você também é. Eu posso leva-los em um lugar legal, mas dificilmente manteria uma conversa longa se fomos apenas eu e Roy.

— Roy vai estar também? – Perguntei surpresa. Ela assentiu.

— Eu falei para você que não é bem um encontro. – Retrucou.

— É sim, é um encontro duplo. – Argumentei.

— Só será um encontro se você paquerar ele. – Contra argumentou.

— Thea de onde você conheceu esse cara? – Perguntei com suspeita, vai que ele não era real? Ao menos a história. Vai que ele era um cara que ela acha quente e inventou esse lance de amigos para me deixar mais a vontade.

— Estudamos juntos, por alguns anos. – Explicou. – Ele saiu antes da chegada de Roy, confesso que eu tinha uma queda por ele.

— Qual o nome dele?

— Rory. – Murmurou. Ergui uma sobrancelha. – Por favor, não faça piada sobre a semelhança dos nomes e o fato de eu ter acabado de dizer que eu tinha uma queda por ele.

— Ok. – Assenti. – Eu vou, mas se você prometer que não é uma armadilha, que você e Roy vão estar lá. – Exigi.

— Prometo. – Jurou cruzando os dedos. Ok, eu não comprava isso. Mas eu ainda assim eu me vi cedendo.

— Certo. – Assenti. – Me mande uma mensagem confirmando o dia, hora e local.

— O dia será hoje, a noite. – Falou fazendo com que eu abrisse a boca surpresa. – Ei, você mesma disse que eu sempre a convenço. – Sorriu sem um pingo de culpa em seu rosto.

— Thea...

— Não se preocupe, eu te mando o horário preciso e o local. – Piscou. – Precisa que ele te busque ou vai sozinha?

— Sozinha. – Falei rapidamente.

— Certo. – Assentiu. – Agora eu só preciso convencer Roy. – Murmurou olhando em volta do estacionamento, esperava por Roy que havia ido pegar um livro na biblioteca.

— Thea!

— Relaxe, ele não consegue dizer não para mim. – Sorriu. – Agora vá para casa. – Meneei a cabeça e lhe dei um aceno rápido antes de entrar no meu carro. Agora eu tinha que me preocupar com isso também, ser simpática com esse tal de Rory e conversar animadamente. Eu não queria fazer parte disse, e desde o momento em que cheguei em casa até a hora que parei em frente ao restaurante eu estava amaldiçoando esse encontro (por que Thea não me enganava, isso era um encontro.) e pensando em desculpas para sair mais cedo, era triste que minha mãe não morasse na cidade, eu poderia deixa-la internada como desculpa.

Entrei no restaurante e olhei em volta em busca dos cabelos curtos e castanhos de Thea junto a Roy e algum estranho. Demorei algum tempo para localiza-los, e encarei em choque a mesa em que Thea se encontrava, ela não estava com nenhum estranho, mas a mesa posta para quatro pessoas me disse que ainda faltava uma para chegar. Não foi a ausência do estranho que me desconcertou, junto a ela havia alguém bem conhecido, alguém que eu adoraria evitar esta noite, e que me fez perguntar o que diabos Thea tinha na cabeça.

Por que era Oliver e não Roy sentado ao seu lado?

OLIVER QUEEN

Encarei com profundo ódio o cardápio a minha frente. Gostaria de fingir interesse, mas eu não estava nem um pouco interessado nessa comida. Na verdade eu não tinha interesse algum na comida, no local ou na companhia hoje a noite especificamente as que ainda estavam por chegar. Quando Thea me ligou apenas uma hora atrás dizendo que precisa de minha ajuda urgente com uma situação que se tornaria constrangedora, eu nunca cheguei a pensar que se tratava de ir ao auxilio em um encontro arranjado entre Felicity e algum idiota arrumadinho.

Na verdade, a facilidade e rapidez com a que ela arranjou um substituto para mim me irritou.

Thea só veio me revelar do que se tratava quando eu já estava no restaurante. Quando ela disse que precisava servir de mediadora em um encontro de Felicity com o rapaz eu considerei a possibilidade de esganar minha irmã ou apenas lhe dar as costas. Ela previu isso, por que segurou meu braço antes mesmo de eu fazer qualquer movimento. Falou rapidamente que eu lhe devia isto já que eu estava sendo um péssimo irmão. Não a questionei no que eu estava falhando agora, por que Thea sempre encontrava um jeito dramático de dizer que a estava deixando de lado.

Ainda assim tentei fugir. Eu ainda estava abalado com como as coisas aconteceram no dia anterior, como tão rapidamente eu já não tinha qualquer acordo com Felicity, e que havia sido eu a desfazê-lo. O grande problema é que mais de uma vez depois disso considerei chama-la pelo celular para conversamos seriamente e ir a origem do problema, mas minha agenda lotada e cabeça ocupada me impediram de fazer isso. A primeira vez que eu encontrei um tempo para mim foi momentos antes de Thea me ligar, quando ela disse qual era o restaurante eu sorri animado. Por que apesar de não querer salva-la de coisa nenhuma eu queria muito comer. Isso até ela dizer o que estava acontecendo, por que a ideia de comer enquanto algum idiota flertava com Felicity havia levado meu apetite embora.

— Pode me dizer novamente por que sou eu e não Roy que está aqui? – Perguntei carrancudo.

— Por que Roy teve que visitar sua tia. – Murmurou simplesmente. Sem nenhuma desculpa. Nenhum sinto muito, ou você é um ótimo irmão.

— A que mora em outra cidade. – Sondei desconfiado. Sei.

— Olhe, eu adoraria estar por trás de qualquer plano vil que você esteja imaginando que faço parte. – Murmurou suspirando.  –A verdade é que adoro ser considerada um gênio do mal, as vezes.  – Sorriu. – Contudo, eu não fiz nada, Roy foi visitar a tia e me deixou na mão, eu já havia convencido Felicity e Rory, eu não podia cancelar, ou não cumprir minha parte do trato. Eu juro, Roy não está na cidade, de fato ele vai ter que faltar algumas aulas por conta desta maldita viagem.

— Certo. – Murmurei acreditando nela. De qualquer forma não havia motivo para ela mentir, ela já havia deixado de lado toda aquela baboseira de me juntar com Felicity. - É o primeiro encontro? – Perguntei de repente. Ela me encarou confusa. – É a primeira vez que eles se encontram? Ou ela já o conhece? – Será que ela já o conhecia e agora que não tínhamos nada se permitiu a ter esse encontro?

— Interessado em fofocas de repente? – Sorriu animada. Meneei a cabeça em negativa, voltando a ficar rabugento. Eu nem sabia por que eu ainda estava aqui. Thea estava pronta para dizer algo mais quando Felicity parou ao lado da nossa mesa. Desviei meus olhos até ela e não pude evitar o ato automático de checa-la.

Porra, ela estava linda.

Seu vestido justo e saltos altos fazendo com que seu corpo chamasse atenção por onde passasse. E ele tinha minha total atenção agora.

Ela estava linda, e estava assim para um encontro.

Com outro.

Droga, eu queria ir embora.

— Boa noite. – Ela murmurou educadamente antes de deixar seu olhar cair sobre Thea. – Eu pensei que Roy estaria aqui.

— Surgiu algo. – Thea deu de ombros. – Você está linda. – Deu um sorriso brilhante. – Resolveu encarar como um encontro afinal?

— O encontro dela está atrasado. – Murmurei voltando minha atenção de volta ao cardápio. Eu não podia deixar meus olhos comerem seu corpo novamente. Encarar o cardápio era mais seguro.

— Ollie. – Thea murmurou em tom repreensivo.

— Eu só estou dizendo, ele está atrasado. – Dei de ombros. – E eu estou com fome. – Eu podia sentir a força da desaprovação de Thea.

— Você pode pedir algo, ninguém te impediu. – Thea retrucou. – Era só você para de brincar com isto. – Concluiu tirando o cardápio de minhas mãos. – Agora comprimente minha amiga direito.

— Onde está Rory? – Felicity perguntou se sentando. Eu era bem ciente que não agi como deveria, eu deveria ter me erguido, afastado sua cadeira, ter lhe dado um aceno cortês, e desejado boa noite. No mínimo.

Mas foda-se, era ela quem dificultou tudo e que no dia seguinte já estava em um encontro.

A merda com o cavalheirismo.

— Se ele existe. Ele está atrasado. – Murmurei recuperando o cardápio. Felicity ergueu uma sobrancelha em reação ao que eu disse. Eu não sabia dizer se ela estava divertida ou irritada com o comentário. – E boa noite Felicity, você está deslumbrante. – Ela piscou surpresa. - Realmente deve estar ansiosa para conhecer esse tal de Rory. – Conclui entre dentes.

— O que diabos te mordeu? – Thea perguntou me encarando azeda. – Se era para vir com mau humor, que não viesse.

— Eu tinha que supostamente evitar uma situação constrangedora. – Murmurei. E aqui estava eu, em uma situação constrangedora. Felicity havia percebido meu pequeno ataque quando a “elogiei.” Mas não fez nada sobre isso, apenas passou a fingir ela mesma que estava interessada em pedir algo. – Ele é real? – Perguntei para Thea. Ela revirou os olhos irritada demais comigo. Estava prestes a responder quando seu olhar se desviou, ela acenou discretamente para alguém atrás de Felicity, e logo percebi que o maldito Rory era muito real.

Pior.

Ele parecia ser o tipo de Felicity.

Tímido, atencioso e que tocava violino.

Toda a noite girou em torno dos dois conversando sobre música e os instrumentos que tocavam. Felicity parecia extremamente a vontade com ele. Falava sobre o assunto com conhecimento e naturalidade, era a primeira vez que a vi falando tão entusiasmada e abertamente sobre a música. Ela não recuou, não se isolou, nem se escondeu na resposta “Eu não toco mais” e isso me deixou um pouco ciumento. A camaradagem dos dois me deixou. E a sensibilidade dela quando ele revelou um pouco sobre o acidente que o impedia de continuar tocando me irritou.

Eu não estava mais sendo racional.

Eu estava vendo Felicity ter o encontro perfeito e se interessar pelo cara bem na minha frente e em tempo real.

Eu o odiava.

Foi um alivio quando Thea se ergueu dizendo que precisava ir ao banheiro e chamou Felicity para ir junto. Eu nunca entenderia essa necessidade das mulheres em ir juntas ao banheiro. Notei carrancudo o olhar de Rory acompanhar Felicity se afastar, mais precisamente em qual parte do corpo ele estava fixado.

Idiota.

— Ela é linda não é? – Murmurei o encarando. Ele me encarou surpreso, e eu quase podia afirmar que ele corava. Sério? Corando quando a pouco estava olhando para sua bunda?

— Ela é.  –Assentiu. – Eu estava tão nervoso. – Confessou. – Quando Thea me disse que ela estava interessada em me conhecer eu quase não pude acreditar, você sabe. Eu mal podia acreditar que Thea me conhecia, quanto mais que sua amiga estava interessada em mim. – Riu nervosamente.

— Hum. – Murmurei estreitando meus olhos. Thea havia falado para mim que ele era novo na cidade. – Você mora aqui?

— Sim, por pelo menos quatro anos.– Assentiu. Então ele nunca estudou com Thea. Então, ele não era um amigo antigo? Para completar meu raciocino ele mesmo me deu a informação a seguinte, sem que eu sequer perguntasse. Bem tagarela esse pretendente de Felicity. – Conheci Thea algumas semanas atrás quando ela esbarrou em mim no café que frequento. Eu estava com um panfleto sobre aulas de musicas e ela perguntou meu nome e o que eu tocava, eu não esperava que ela fosse lembrar meu nome e me encontrar no mesmo café semanas depois falando sobre essa amiga. Ela me mostrou uma foto, e eu tenho que admitir, fui fisgado na mesma hora. – Sorri forçadamente com o que disse.

— É ela faz isso.  – Murmurei. – Rory...

— Hum?- Perguntou distraído. Olhava em direção a que as garotas haviam saído. Estava ansioso por sua volta.

Senti um gosto amargo na boca.

— Você provavelmente deveria ir embora. – Falei. Ele me encarou surpreso.

— Como? – Seu olhar chocado quase me fez me arrepender do que fazia, mas eu precisava me livrar daquele gosto amargo, e pelo o que eu podia notar, apenas me livrando dele eu conseguiria.

— Vá embora. – Falei mais sério. – Felicity não está disponível.

— Ela... Ela... – Seu olhar voltou em direção aos banheiros e me encarou novamente. Não poderia estar mais confuso.  – Ela não está solteira?

— Não. – Falei firme, embora eu me chutasse mentalmente. Eu não podia fazer isso, eu havia acabado com o acordo, ela era livre para tomar sua própria decisão. E embora um pouco atrapalhado com as palavras e tímido, ele parecia ser um cara legal. Cara legal ou não, eu não podia ficar parado. – Ela está comprometida.

— Mas então, por quê ela aceitou isso aqui? – Droga, eu agora podia sentir pena por ele.

— Thea, minha irmã. Sabe ser bem convincente.  – Expliquei. Demais até. Isso não estava bem, eu não era idiota. Thea armou isso tudo, me forçou a vir aqui, assistir esse encontro. Eu tinha certeza que convenceu Felicity a vir. Ela manipulou a todos para que Felicity tivesse um encontro bem na minha frente. E se eu somasse essa façanha, a suas constantes fugidas de mim, sua irritação com que falava comigo no telefone quando não estava pedindo algo, a cartada da culpa sendo usada mais vezes do que o costume, eu só podia concluir algo. – Parece que Felicity e o namorado estavam tendo problemas, mas eles já estão bem. – Apressei-me em dizer enquanto ainda refletia sobre minha irmã.

Thea sabia.

Ela sabia de nós dois e estava se vingando a sua maneira por estarmos escondendo.

— Ela realmente não está solteira? – Rory perguntou decepcionado. Sua questão chamando minha atenção. Assenti novamente. Ele se ergueu não dizendo mais nada, seu semblante derrotado me mostrando mais do que precisava ser dito. Puxou algumas notas e eu ergui minha mão o impedindo.

— Por minha conta. – Murmurei. Ele assentiu tristemente.

— Obrigado. – Murmurou. – Pelo aviso principalmente.

— De nada. – Murmurei com um sorriso. Ele se retirou com os ombros curvados e embora eu me sentisse mal com o que havia feito, eu havia me sentido bem também.

Se ela queria um encontro, que não fosse no dia seguinte e não na minha frente, caralho. Endireite-me quando as garotas chegaram, agradecendo que Rory e toda sua postura nerd encantador já havia ido.

— Onde está Rory?  - Feliciy perguntou franzindo o cenho. Segurei a vontade de lhe dar uma resposta inapropriada. Thea cruzou os braços e me encarou desconfiada. Havia também uma animação que ela podia esconder de Felicity, mas não de mim. Eu sabia quando seus olhos brilhavam por se sentir vitoriosa. Pequena insolente.

— Saiu. – Murmurei finalmente respondendo sua pergunta. – Algo haver com a tia dele. – Murmurei deixando meu olhar cair sobre o Thea que inclinou a cabeça me avaliando, me ergui sorrindo para as duas. – Eu preciso ir, o dia foi longo e eu não posso dizer o quanto estou cansado. Obrigado pela comida. – Murmurei tocando o ombro de Thea antes de me afastar.

— Ollie. – Thea murmurou chamando minha atenção.

— O quê? – Perguntei me virando.

— A conta. – Falou em tom baixo.

— É toda sua. – Murmurei com um grande sorriso antes de lhe dar as costas sentindo-me muito feliz comigo mesmo.

Só mais um problema a ser resolvido.

FELICITY SMOAK

Mas o que diabos acabou de acontecer aqui e agora?

Deixei meu olhar cair sobre Thea que me encarava incrédula, sua boca aberta. Oliver realmente havia a surpreendido. Para ser sincera ele havia me surpreendido também. Eu havia notado que ele havia odiado cada aspecto da noite e eu não o culpava, afinal eu também não estaria de bom humor se fosse obrigada a assisti-lo em um encontro com outra pessoa no dia seguinte ao que “terminamos”, que ele saísse contente, com bom humor e deixando ninguém mais do que sua irmãzinha pagando por tudo, bem eu sabia que era sua forma de vingança, mas ainda assim me surpreendia.

— Eu não consigo acreditar. – Thea murmurou ainda atônita.  – Meu irmão nunca me deixou pagar uma conta antes, eu realmente o irritei?

— Ele não queria estar aqui e você sabe disso. – Murmurei segurando um sorriso. – Vamos, eu divido a conta. – Murmurei abrindo minha carteira e segurando uma enorme vontade de rir. Toda a situação era estranha e ainda assim cômica. Ela suspirou e pediu desculpas pelo irmão, disse ainda que eu não precisava pagar por uma situação que ela havia forçado, quando a encarei com uma interrogação no olhar, ela apenas deu de ombros e se apressou a dizer que falava do encontro que não deu certo. Pedi que deixasse de bobagem e falei que sabia no que eu havia me metido.

Quando nos despedimos ainda na porta do restaurante, ela falou que ainda ligaria para Oliver, eu apenas assenti sem me deixar pensar muito tempo nele. Havia sido um choque encontra-lo no restaurante , algo que eu tentei ignorar completamente. Havia me arrumado com esmero para esse encontro, não por que estivesse ansiosa por isso, eu na verdade estava ansiosa para chegar, passar algum tempo com Thea, Roy e o rapaz chamado Rory, meu encontro. Eu já havia planejado uma falsa chamada de Diggle, pedir desculpas e ir embora, deixaria para confrontar toda a reprovação de Thea no dia seguinte, ou com sorte apenas na segunda, quando tivéssemos aula. Então não, eu não me arrumei pelo cara que eu nem sabia se ia gostar ou não, eu me arrumei por mim, por que eu me negava a ficar em casa vestindo moletom e comendo sorvete pelo fim de algo que nem podia ser chamado de um relacionamento, um namoro.

Então, eu havia me arrumado enquanto fazia todos os planos de voltar o mais rapidamente. Eu era uma contradição, eu sabia disso.

Mas nada aconteceu como imaginei, eu cheguei lá e me deparei com Oliver. Sabia que cada minuto que viesse seria uma verdadeira tortura, mas não foi. Rory surpreendentemente me agradou, não como um encontro, eu não acho que conseguiria vê-lo assim com Oliver bem a minha frente. Mas ele se mostrou atencioso, divertido e adoravelmente tímido, conversar com ele foi fácil, mesmo falando sobre um assunto que tendia ser doloroso para mim, veio de forma natural, por que ele nunca perguntou se eu ainda tocava, ou veio em direção ao tema. Perguntou quem era meus compositores favoritos, e coisas do tipo, mostrando tanto interesse nesse aspecto da minha vida quanto em qualquer outro. Eu quase consegui ignorar a figura irritada a minha frente.

Quase.

Entrei em casa me lembrando da forma como seu rosto se contraiu quando segurei a mão de Rory de forma automática quando ele falou que já não tocava como antes devido a um acidente de carro, o mesmo que havia perdido seu irmão.

Não foi tão fácil assim ignorar Oliver.

Deixei meu olhar cair sobre meu piano localizado na sala adjacente.

Passava por ele tantas vezes, sempre ignorando a atração que exercia em mim, por que embora eu desejasse tocar, sentir a vibração das notas através das teclas, o som se propagando por todo o ambiente e fazendo-me esquecer até mesmo onde eu estava, eu também sentia outras coisas, sentimentos que me afogavam quando mergulhava neles, que me fazia desejar evita-los. Mas hoje eu havia conversando com Rory, deixado algumas pequenas lembranças de minha primeira professora, a única de quem eu havia realmente gostado, surgir em minha mente. E eu senti pela primeira qualquer coisa menos tristeza por aquilo que eu havia perdido.

— Chegou cedo. – Pisquei desviando minha atenção do instrumento e deixando cair em Diggle. Franzi o cenho notando quão bem vestido estava e cheirava.

— Parece que alguém tem um encontro quente hoje. – Murmurei deixando um sorriso provocativo escapar. Ele sorriu brevemente antes de ficar sério.

— Eu posso cancelar. – Murmurou. – Pensei que você demoraria um pouco mais, que ficaria com Thea.

— Não seja bobo. – Falei o dispensando com um pequeno gesto de mão. – Vá ter seu encontro, não é a primeira e espero não ser a última vez que fico em casa sozinha, isso é um forte Diggle, e eu não estou em perigo.

— Eu sei, mas... – Começou receoso.

— Vá. – Insisti. – Vá se divertir. Traga-me detalhes. – Pisquei.

— Eu não vou falar sobre meus encontros com você. – Murmurou seriamente.

— Que vergonha de você. – Falei revirando os olhos. – Tratando-me como se eu fosse uma criança.

            - Até mais. – Murmurou se afastando. Ansioso por se livrar de tal conversa. – Se precisar de mim...

— Não vou. – Gritei sem me dar o trabalho de me virar para ele. Já encarava o piano novamente, entrei mais na sala em que ele ficava, caminhei lentamente até ceder ao desejo de me sentar ao banco e levantar a tampa, meus dedos pausaram sobre as teclas, meus olhos dançando por brancas e pretas, minha coluna ereta, minhas mãos na altura das teclas, posicionadas com elegância sobre o dó central. Por alguns segundos me mantive assim, a enorme vontade de toca-las me preenchendo. Mas então senti meu corpo tremer,  baixei uma mão colocando sobre meu colo, meus dedos apertando firmemente sobre o tecido do vestido. Apenas o dedo indicador esquerdo deslizando levemente sobre uma única e solitária tecla. Meus ombros curvados.

Em derrota.

Meu dedo coçava por toca-la e deixar o som solitário vibrar dentro de mim.

Eu queria tanto.

Tanto quanto doía pensar em fazê-lo.

— Toque. – Ergui meus ombros, minha cabeça identificando imediatamente a voz daquele que havia quebrado meu pequeno momento presa a dúvidas.

Oliver.

Dr. Delícia.

Olhei por cima do ombro precisando confirmar sua presença, precisava disto para acreditar que ele realmente estava aqui, em minha casa. Ele que ainda estava encostado ao batente do arco que dividia as salas, sorriu. Eu não conseguia entende-lo.  Por que ele estava aqui? Como? Ele parecia estar lá tempo o suficiente para ter pegado todo o meu drama interior.

“Toque” ele havia dito.

— Como você entrou? – Perguntei lhe dando as costas, dessa vez ambas  mãos em meu colo.

— Seu fiel amigo. – Murmurou, sua voz soava próxima, logo ele estaria ao meu lado. Fiquei confusa, Diggle deixando Oliver entrar? Não parece algo provável.

— Não fale de Diggle como se ele fosse meu cachorrinho. – Murmurei indo de contra o que eu realmente gostaria de dizer. – Por que você está aqui Oliver? – Perguntei finalmente deixando meus olhos colidirem com os seus. Ele me encarou por alguns breves segundos de silêncio e finalmente colocou em cima do piano um par de sandálias de salto alto vermelho vibrante.

Eu os reconhecia.

Eram os mesmos saltos que eu havia deixado em seu apartamento na primeira vez que transamos.

— Eu acho que já estava na hora de devolver isso. – Murmurou por fim.

— Você veio aqui. – Murmurei ainda fixando meu olhar nas sandálias. – Para me devolver algo que poderia ter mandado alguém entregar?

— Eu também vim aqui para que possamos conversar. – Murmurou tirando os saltos e colocando-os no chão, logo se aproximou sentando-se ao meu lado no banco. Sua proximidade me incomodou, me deixou inquieta e ainda mais confusa.

— Eu não entendo. – Murmurei por fim. – Eu não consigo te entender.

— Você realmente tenta me entender?- Não foi algo dito para ofender, uma frase repleta de sarcasmo, de provocação, não foi. Foi uma pergunta genuína, séria e que eu pude perceber, esperava por resposta. Assenti lhe dando aquela resposta, não por palavras, mas pelo gesto simples. Sim, eu tentava. – Eu procuro te entender também. – Sorriu. - Eu já lhe disse uma vez, você me intriga.

— Então, você está aqui, depois de dizer que não podia mais continuar com isso. – Murmurei. – Você acabou com nosso acordo, apenas para no dia seguinte vir até minha casa e dizer que eu te intrigo? Você me dá tantos sinais contraditórios.

— Eu recebo muitos destes de você. – Retrucou. – Por que começar com isso se vai sempre me afastar?

— Eu quis deixar tudo mais fácil, mais leve. – Murmurei sincera. – Não podemos fazer apenas isso? Qual seria o ponto de envolver um na vida do outro? Você não gostaria de fazer parte da minha vida Oliver.

— Desculpe, anjo. – Sorriu ternamente. – Mas eu já faço.

Respirei fundo assimilando o que dizia. Deixei meu olhar vagar até as teclas novamente, dessa vez apenas por que não conseguia continuar encarando-o.

Ele já fazia.

Tantas vezes eu recuei. Neguei-me a ficar um segundo mais do que necessário, sabia o quanto Oliver podia ser encantador, sabia quão bom ele poderia ser para mim, além do sexo, mesmo com nossas diferenças, eu sabia. Ao menos suspeitava. Então eu sabia que eu poderia muito fácil e rapidamente me apegar a esse tipo de carinho, a ter alguém me colocando como prioridade, se preocupando. Eu não queria me apegar a isso, por que sabia quão difícil é saber no momento seguinte que tudo isso era mentira, sabia como era perder tudo o que você achava ser um relacionamento perfeito, sabia como era amar alguém e descobrir que você nunca foi amada de volta.

Então eu não queria Oliver penetrando em minha rotina, em minha vida, em minha mente e coração. Eu não queria, não podia.

Mas ele já fazia.

— Toque. – Repetiu percebendo minha atenção demasiada concentrada nas teclas monocromáticas.

— Eu te disse. – Murmurei sem fita-lo. Até mesmo um pouco irritada por sua insistência. – Eu não vou tocar para você. Por ninguém. – Esclareci.

— Eu não quero que você toque por mim. – Murmurou sua voz mais perto. – Eu quero que você toque para você. Por você.

Uma vez mais senti sua frase me tocar profundamente.

Eu seria capaz de tocar?

Por mim?

— Eu não sei se posso. – Murmurei por fim. Eu podia?

— Eu sei que sim. – Respondeu-me. – Você vem me mostrando que há poucas coisas que não possa fazer, anjo. Eu a admiro. – Confessou.

— Por quê? – Perguntei confusa voltando a encara-lo. – Eu não faço nada digno de admiração. Eu vivo minha vida, como qualquer pessoa. Eu acordo pela manhã, eu corro e vou para a faculdade, eu estudo, converso com amigos, volto para casa e durmo. Não há nada a ser admirado aqui.

— Você é uma mulher forte. – Respondeu-me. – E atrevida. – Sorriu. – Algo que pode ser irritante às vezes. Você enfrenta qualquer um que lhe olhar feio, aqueles que não são dignos de sua atenção você sequer se preocupa em responder a qualquer uma de suas ofensas. Desde o começo me colocou no lugar e me desafiou. Você passou por muita coisa. Pouco foi me dito e eu tenho certeza de que não sei de tudo, mas o evidente é que sua maior decepção foi a quebra de confiança e por essa razão não consegue em confiar em ninguém exceto Diggle. – Ergui uma sobrancelha notando que essa era a primeira vez que Oliver mostrava-se tão falador. E eu estava surpresa por ele ter pego tanto quando eu lhe mostrei tão pouco. - Mesmo em Thea você não confia, ou teria falado sobre nós. Você teme que a amizade de vocês não seja forte o bastante e teme perde-la. Você não quer ficar decepcionada com Thea. Tantas pessoas a decepcionaram que você não confia em ninguém, não consegue, mas está tentando. Exceto comigo. Você não quer me deixar entrar. – Ele deu de ombros. – Eu não posso fazer nada sobre isso, a não ser ficar aqui, ao seu lado enquanto você toca. Eu me sentiria honrado.

— E por que eu faria isso? – Perguntei hesitante.

— Por que você quer. – Respondeu sem sequer hesitar. – Você anseia por isso. Eu pude perceber hoje o quanto você é apaixonada por isso. Por tocar.

— Eu era. – Assenti.

— Você é. – Corrigiu-me. – Eu não sei exatamente por que você parou, você disse que perder a audição não foi o principal motivo. Eu não me importo se não quiser me dar mais do que isso. Eu só acho que se você não quer que uma pessoa seja a razão pela qual você voltará a tocar, foi uma pessoa a razão pela qual você parou. Então, quem quer seja ela, seja Cooper, seja seu pai, ou qualquer outro. Quem que seja, está na hora de você tirar esse poder dele.

Refleti sobre o que ele disse.

Ele estava certo.

Eu apesar de tudo, de toda a minha postura de foda-se os outros, eu ainda me prendia a algo que alguém me disse. Eu dei esse poder a ele, e eu tinha que tira-lo.

Mas eu não tinha certeza se conseguiria.

— Eu não posso. – Murmurei soltando um suspiro de pesar, meus olhos encontraram-se aos de Oliver. – Eu acho que não sou tão forte assim. - Ele inclinou sua cabeça, seu olhar me avaliando, sua cabeça meneando em uma negativa, indo de contra o que eu havia dito, não aceitando isso.

— Feche seus olhos. – Eu não saberia dizer se era um pedido ou uma ordem. O tom suave me confundia. Fosse o que fosse eu me peguei fazendo o que disse. Meus olhos se fecharam e a escuridão me rodeou. Eu podia senti-lo perto, seu cheiro e o calor do seu corpo, de repente eu estava ciente de tudo, inclusive do silêncio que havia seguido. Eu não sabia por quanto tempo deveria ficar assim, não entendia por que ele não disse nada mais. Sua presença reconfortante me acalmou, minha respiração tranquilizou, e mesmo estando ansiosa pelo seu próximo movimento, meu coração seguia em um ritmo calmo.

Oliver me acalmou.

Até que sua mão tocou a minha, a erguendo até que descansou sobre as teclas, foi natural para mim erguer a outra, minha coluna mais uma vez ereta, meus braços formando um ângulo de 90º, meu pé apenas tocando levemente um dos pedais. Senti seus lábios em meu rosto, beijando minha mandíbula, como asas de borboletas roçou meu rosto até chegar a minha têmpora. Movi meu rosto respondendo ao carinho.

Nunca manter meus olhos fechados foi tão difícil.

— Toque. – Repetiu.

E contrariando tudo o que eu havia dito, como eu havia me sentido diante a ideia. Foi exatamente o que eu fiz.


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Notas finais do capítulo

E aê?? O que acharam? Fico no aguardo do feedback de vocês, a propósito agradeço a todos os comentários do capítulo passado, adorei cada um deles, obrigada pelo carinho. Espero poder responder ao que estão por vir.
Xoxo, LelahBallu.



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