Problem escrita por LelahBallu


Capítulo 10
Capítulo 09


Notas iniciais do capítulo

Hey hey!!

Então, eu vou passar rapidinho aqui apenas para agradecer a divertida e ao mesmo tempo carinhosa recomendação da La Volpe, quantas pessoas vocês conhecem que na mesma recomendação se pergunta como ainda não tinha recomendado e avisa que vai esquecer de recomendar as que ainda estão por vir? Haha eu adorei, obrigada pelos elogios, e por ser tão sincera com esse seu jeito, espero que goste do capítulo, e deixo aqui meu xoxo especial para você.
Em fim, desejo a todos uma boa leitura!!



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FELICITY SMOAK

Bati meu lápis de forma impaciente no bloco de anotações que estava em cima da mesa, livros me cercando, eu podia sentir que meu pé realizava o mesmo movimento repetitivo que a irritante caneta. A minha frente Roy totalmente alheio ao que se passava comigo fazia suas próprias anotações, seu rosto completamente compenetrado enquanto não pela primeira vez essa semana eu sentia minha mente fugir. Roy havia se tornado assim como Thea, alguém próximo. Surpreendentemente ele também era o melhor parceiro de estudo que uma garota poderia querer.

Hoje eu não era uma boa colega de estudo.

Como poderia ser diferente se por mais que eu tentasse, eu não conseguia deixar de pensar no meu último encontro com Oliver Queen? Não que tenha sido um encontro, afinal havia sido uma situação forçada por Thea e estávamos em uma piscina esperando o momento em que sua ela chegaria trazendo alguma bandeja para alimentar a desculpa que fez nos deixar a sós.

 E ela trouxe.

Ela também chegou antes que eu pudesse responder a pergunta de Oliver.

O que no momento eu não sabia se era algo bom ou ruim. E também era a razão pela qual eu não conseguia mais me concentrar na única coisa que mantinha mente ocupada, que antes impedia de que meus pensamentos fossem justamente nessa direção.

Na direção de Oliver.

— Se você não parar agora mesmo com esse barulho irritante eu partirei seu lápis no meio. – De forma automática meus dedos ficaram imóveis e meus olhos encontraram os seus. Ele me encarava aborrecido. Ok, talvez ele não estivesse tão alheio assim ao meu pequeno tumulto interior. – O que está acontecendo com você? – Perguntou confuso. - Geralmente você é a melhor companhia que se pode ter para estudar.

Tentando minimizar tudo optei por desviar sua atenção.

— Apenas por que não distraio você com sexo. – Dei de ombros sabendo que esse era o motivo pelo qual ele me chamava para que toda quarta feira, quando a oficina que ele trabalhava por meio período estava mais vazia e Rickie, seu patrão, o deixava usar o quarto dos fundos (Que era uma mistura despensa, cemitério de peças e escritório) para estudarmos.

— Bem, pelo menos Thea me distrai de uma maneira bem melhor. – Sorriu por alguns instantes, imagino deixando seus pensamentos vagar por essas distrações. Então seus olhos voltaram a se fixar em mim, dessa vez transbordando curiosidade.  – O que está acontecendo? – É eu não consegui distraí-lo afinal.

— Quão fácil para você foi se apaixonar por Thea? – Devolvi sua pergunta com a minha própria, o que me fez me arrepender de imediato. Eu o havia surpreendido com a natureza da minha pergunta.

Inferno, eu mesma estava surpresa.

Por que eu havia perguntado isso?

— Você está apaixonada por minha namorada? – Perguntou com desconfiança. Sua pergunta feita realmente em tom sério me fez rir.

— Não. – Falei por fim. – Você está seguro no que diz relação a mim. – Prometi.

— Ok. – Assentiu lentamente, como se tivesse guardando a informação. – Mas você está apaixonada. – Afirmou. – Ou não estaria me perguntando algo do tipo. – A questão é: Por quem? Eu não vejo com mais ninguém, sempre está com Thea e comigo... A não ser... Droga Barbie, você está apaixonada por mim?

— Não seja estúpido. – Revirei meus olhos.

— Não é tão absurdo assim. – Murmurou indignado.

— Eu não quero ofendê-lo, então eu ficar em silêncio. – Retruquei.

— Eu sou um bom partido. – Protestou.

— Roy, pare.

— Então por quem? – Perguntou novamente.

— Ninguém. – Murmurei convicta e impaciente. Eu definitivamente não estava apaixonada, isso era tolice. Eu sabia disso, eu tinha certeza, mas ao mesmo tempo eu não podia negar que havia grandes chances disso acontecer. – Eu só estou curiosa. – Dei de ombros.

— Hummm. – Encarou-me ainda incerto se acreditava no que eu dizia.

— Foi amor à primeira vista? – Perguntei antes que ele pudesse perguntar algo mais. Ele meneou a cabeça com divertimento em seus olhos, o sorriso em seu rosto mostrando-me que eu havia chutado errado.

— Ódio à primeira vista, seria mais certo. – Confessou. – Eu não suportava seus ares de garota mimada e rica, e ela me encarava como se eu estivesse pronto para pegar sua carteira e sair correndo. – Franzi o cenho diante do que disse. Percebendo isso ele girou o dedo fazendo menção ao lugar em que estávamos. – É bem óbvia a diferença social entre nós dois. Thea pode se dar o luxo de muitas coisas com as quais eu não posso nem sonhar. Naquela época Thea ainda não era do tipo “Conheça antes, julgue depois”. Mas acabamos sendo forçados a conviver juntos, trabalhos, coisas do tipo. – Respirou fundo recordando. – Então fomos ficando próximos, e em meio a farpas e ofensas eu notei que ali havia mais do que aquela riquinha deixava transparecer, e ela também gostou do que estava aprendendo a conhecer, o resto é história. – Terminou encarando as anotações a sua frente por alguns segundos. – Agora, sem mentiras, por que a pergunta?

— Eu estava falando sério. – Murmurei na defensiva. – Apenas curiosidade.

— Felicity...  – Felizmente para mim, qualquer que fosse a frase seguinte que ele ia dizer foi interrompida. Uma única e pequena pancada na porta fez com que ele voltasse seu olhar para a mesma que estava trancada, ele se levantou e foi direto para sua bolsa, já sabendo de quem se tratava.

Até mesmo eu sabia.

Roy aproveitava esses pequenos momentos em que ficávamos praticamente sós para vender sua “mercadoria”, eu não gostava do que ele estava fazendo, e sempre haveria um desconforto, eu sempre desviava o olhar quando ele entreabria a porta  e trocava o pacote por um envelope que eu sabia ser dinheiro, eu nunca tentava ver quem estava do outro lado. Sempre achei melhor manter essa privacidade, e ele sempre tentava me ocultar de olhares curiosos. Ele sabia que eu desaprovava, e no começo tentou não fazer quando eu estava presente, mas eu tinha que admitir, eu tinha uma vida mais do que confortável, Roy precisava ir atrás de cada centavo para se sustentar e pagar a faculdade, não era fácil para ele, principalmente quando qualquer trabalho que ele pudesse pegar não era mais do que bicos e apenas em meio período, eu havia me apegado a ele e a Thea, ele era bom, eu não ia me afastar apenas por que achava que essa era uma péssima escolha e um péssimo caminho a ser seguido. Quando ele voltou trazia aquele mesmo olhar de vergonha que eu já havia flagrado algumas vezes, ele não se orgulhava do que fazia.

— Você precisa ter cuidado. – Foi tudo o que eu disse. Ele assentiu voltando a se sentar a minha frente, seus olhos percorrendo rapidamente as folhas em cima da mesa, com um pigarro ele forçou-se a se concentrar.

— Que tal um jogo de perguntas e respostas? – Sugeriu. Imagino que tentando retirar o peso que havia se instalado.

— Você está fazendo isso para provar que eu não estava prestando atenção? – Perguntei erguendo uma sobrancelha.

— Definitivamente. – Seu sorriso de menino estava ali. Meneando a cabeça e sabendo que eu ia levar uma rasteira, eu assenti em concordância.

Como previsto eu errei maioria das respostas para cada pergunta, o que o deixou muito arrogante e feliz consigo mesmo. Quando chegou a hora de ir embora o deixei em baixo de um carro novamente, o rosto já cheio de graxa e suor. Só iria vê-lo na manhã seguinte agora, diferente de Thea que havia se convidado para passar a noite em minha casa. Quando perguntei se ela não preferia passar esse tempo com Roy, ela deu de ombros, disse que amava Roy, mas que nunca seriam daqueles casais pegajosos que não conseguem dar espaço para o outro, e com um sorriso brincalhão disse que já estava acostumada a Roy ser meu na quartas.

Agora ela havia acabado de chegar e após cumprimentar brevemente Diggle, me seguia para irmos assistir alguns filmes em meu quarto.

— Por que eu nunca a vejo tocando? – Perguntou quando passamos em frente ao piano.

“Você tocaria piano para mim?”

Repreendi-me por ter parado de imediato e ter escutado a pergunta como se ele tivesse ao meu lado novamente.

— Eu parei. – Falei dando de ombros. Não ia entrar muito nesse assunto. Não mais do que me fosse perguntado pelo menos, respostas simples, curtas e diretas.

— Sim... – Assentiu concordando. – Eu lembro que você falou algo do tipo para Ollie, mas por quê? – Voltou a questionar. Virei-me notando que ela havia voltado para o piano e que no momento passava um dedo na superfície. – E se você não quer mais tocar, por que manter um piano perto de si? – Franziu o rosto enquanto erguia o rosto me encarando. – Ele está impecável, você obviamente o limpa frequentemente...

— Thea. – A cortei. – Nós temos uma empregada.

— Tem? – Pareceu mais confusa ainda. E irritada? – Onde? E por que você me fez lavar os pratos na última vez que estive aqui?

— Ela vem três vezes na semana. – A informei. Agora entendi o porquê de sua irritação, e para ser honesta, isso me divertia. – E você lavou por que foi em um dia que ela não estaria aqui. – Ela estreitou os olhos. - E por que eu não queria lavar a louça. – Acrescentei com um sorriso.

— Eu sou visita. – Reclamou. Contente por ela ter esquecido toda a questão do piano e ignorando seu tom queixoso, eu voltei a caminhar em direção as escadas.

— Por falar em Oliver...

— Ninguém falou em Oliver... – Retruquei sem me virar.

— Bem, eu estou falando. – Continuou me seguindo. Meneei a cabeça percebendo que nunca ganharia essa batalha com Thea. – Eu tenho fofoca, e você é minha única amiga, e Roy pouco se importa para o que eu tenho a dizer. Somado a isso tem o fato de que devido a minha tentativa fracassada de juntar vocês dois, eu sinto que lhe devo essa informação...

— Eu perdoo sua dívida. – Murmurei apressadamente. Rezando para que ela pegasse a dica e tirasse seu irmão dessa conversa, não bastava eu gastar boa parte dos meus pensamentos com ele, não havia necessidade dele estar presente em parte das minhas conversas também. Ainda mais quando eu o havia deixado sem resposta naquele dia, e me sentia um pouco culpada sobre isso, mas o que eu poderia fazer? Pegar meu celular e ligar para ele? Não. Eu não tinha seu número, nem a vontade de ir atrás disso. Eu podia imaginar o quanto Thea me infernizaria se eu perguntasse ainda que casualmente o número do seu irmão.

— Ollie está namorando. – Murmurou fazendo com que eu errasse um passo, o tropeço não me levou ao chão apenas por que eu estava perto da porta do meu quarto e eu automaticamente levei uma mão ao trinco. Eu rezava agora para que ela não tivesse notado minha reação. – Talvez namorando seja exagero, mas ele definitivamente está saindo com alguém. Isabel, o nome da outra.

Que Thea referisse a mulher como a “outra” e com tom jocoso, quando até onde ela sabia, nada havia acontecido entre nós dois, me deixava um pouco contente, mesmo enquanto eu ainda sentia minha boca amargar após ter escutado a notícia. Eu sabia que não deveria me sentir assim, mas mesmo assim eu não podia deixar de fazê-lo. Também não conseguia deixar de pensar em quando havia acontecido isso. Para ser um namoro, eles deviam estar se vendo há muito tempo, certo? Ou não. Thea havia dito que eles estavam apenas saindo, algo recente, sexo casual? Qualquer uma das opções não me deixava mais tranquila.

— Então? – Thea murmurou cruzando os braços e me analisando. Sentindo a vontade de revirar os olhos eu abri a porta e fiz um gesto para que entrasse.

— Então? – Repeti.

— Você não vai dizer nada? – Sondou.

— Thea, você sabe que seu irmão é solteiro, e que não existe nada entre nós dois, certo? – Perguntei sentando em minha cama, ela me encarou com aborrecimento. – Sequer interesse de mudar isso. – Acrescentei. Assumindo um pouco de seriedade murmurei: Thea Queen, sinto lhe informar que nunca seremos cunhadas, e que um relacionamento sério entre eu e seu irmão, é impossível. - Ela exalou pesadamente.

— Eu posso pelo menos continuar a reclamar das escolhas de Oliver? – Perguntou se dando por vencida.  – Fofocar sobre essa Isabel?

— Você pode falar sobre o que quiser comigo. – Assenti mesmo sabendo que escutar sobre a vida amorosa de Oliver não estava entre minhas coisas favoritas, nem nunca estaria. Ela suspirou aliviada antes de deitar de costas na minha cama com um pulo e em só um fôlego começar a falar.

— Então, eu os vi juntos no dia seguinte ao passeio... – A partir dessa fala eu desliguei meu cérebro, de forma automática eu assenti sempre que pareceu ser uma pergunta e sorri um pouco atrasada quando notei que havia feito alguma piada, enquanto me fingia de interessada eu não conseguia por mais que tentasse descartar o peso que sua informação havia colocado sobre meu peito. O bom de Thea era que sempre que ela começava um assunto, ela acabava desviando para outro por si só, então o que começou “Oliver está namorado” terminou com “As notas terríveis da professora Michaels.” E quando mais tarde resolvemos comer algo ela foi enfática em dizer que não lavaria nenhuma louça, ainda rindo do quão chateada ela parecia com relação a isso, decidi por encomendar uma pizza que generosamente dividimos com Diggle. Terminada uma maratona de filmes ela sequer se deu o trabalho de ir até o quarto de hospedes, quando o dia amanheceu percebi que ela dormia profundamente dominando quase toda a cama e me empurrando com os pés fazendo com que estivesse bem perto de dar com a cara no chão.

Quando me arrumei para minha corrida cheguei a cutuca-la, já que no dia anterior havia dito que estava interessada em tentar algo do tipo. Mas tudo o que ganhei foi um resmungo antes que virasse de costas ignorando meu chamado. Dando de ombros internamente eu coloquei o despertador para tocar e deixei um bilhete a lembrando que deveria ir para seu apartamento já que havia se esquecido de trazer sua bolsa consigo. Quando parei no estacionamento do parque na minha vaga usual eu engoli um suspiro, eu havia cogitado a possibilidade de encontrar Oliver, e estava decidida desde o domingo, a não fugir mais desses encontros, ser educada, cumprimenta-lo e então seguir com minha corrida. Mas eu não tinha o visto ainda, ele não apareceu nos dias seguintes e embora sua ausência tenha me dado certo alívio, também trouxe essa sensação inquietante, eu não chegaria a chama-la de saudades, mas eu queria vê-lo. Mesmo quando não devesse querer, ainda mais agora que ele parecia estar comprometido.

Eu queria.

Já estava sentindo aquela inquietante sensação quando em meu primeiro quilômetro de corrida eu o vi. Sentado em um dos bancos, não vestia suas roupas normais de corrida, vestia jeans e jaqueta de couro, óculos escuros me impediam de ver seus olhos mesmo se eu estivesse mais perto. Estava completamente relaxado, com a cabeça jogada para trás encarava o céu.

Eu tinha duas opções. Eu poderia me aproximar e cumprimenta-lo, ou poderia seguir minha corrida o ignorando completamente e também a pergunta que havia sido deixada no ar. A segunda opção sem dúvida nenhuma era a mais segura, mas eu sabia que não conseguiria ignora-lo e fazer o certo, ainda mais quando sua cabeça se voltou em minha direção, ele se endireitou e me encarou longamente. Com um suspiro cansado eu me aproximei.

— Eu já estava sentindo falta do meu médico favorito. – Murmurei parando alguns metros a sua frente e cruzando meus braços em defensiva. O modo casual com que falei não enganou nenhum de nós dois. – Vejo que não veio para correr hoje.

— Não. – Assentiu, eu podia sentir a força de seu olhar por trás das lentes escuras. – Eu estava esperando.

— Esperando. – Repeti franzindo o cenho. Então por fim notei a embalagem ao seu lado, duas embalagens na verdade, um suporte contendo dois cafés para viagem e  uma sacola de papel com o que eu poderia imaginar seria o seu café da manhã e da pessoa que estava esperando.

Isabel.

A outra.

Droga.

Uma coisa era eu ter de ouvir Thea falando sobre a mulher irritante, outra bem diferente era ter que encara-la no meu lugar favorito, com meu médico favorito. Eu tinha que ter fugido, na verdade, eu ainda podia fugir.

Eu vou.

— Certo. – Murmurei rapidamente e até mesmo um pouco ríspida. – É melhor eu continuar então, tenha um bom dia Dr. Queen...

— Eu estava esperando por você. – Murmurou fazendo com que eu parasse.

— O quê? – Perguntei confusa e de forma boba enquanto o observava tirar os óculos e colocar na gola “v” de sua camisa. Percebi de forma não tão vaga que ele estava lindo. Oliver casual mexia com meus hormônios, sem dúvida nenhuma. – O quê? - Repeti fitando-lhe.

— Você me deve uma resposta. – Deu de ombros.

O quê? Repeti mentalmente. Ele estava me esperando?

— E você veio aqui, com café... – Apontei para as embalagens. – Sem saber se eu vinha ou não, por uma resposta tão curta? – Eu não poderia parecer mais incrédula. Eu tinha certeza que eu exibia uma expressão ridícula no momento. Tudo o que eu conseguia repetir em minha mente era aquele “O quê?”.

— O café é um gesto de “paz” – Murmurou o pegando e me entregando.  O segurei de forma automática, encarando a tampa brevemente antes de voltar meu olhar para o seu. – E a resposta não será curta. – Abri minha boca para protestar, mas seu olhar de advertência me fez fecha-la quase de imediato. - Eu sei que será não, eu quero saber por que, eu não estou mais jogando de meias verdades e também não estou mais fingindo que saber tão pouco de você não me incomoda, eu quero conversar com você, conhecê-la, e enquanto isso, eu posso muito bem tomar meu café da manhã. – Concluiu afastando-se do centro do banco e dando leves toques indicando que eu me aproximasse. – Vamos, sente-se, eu não vou deixa-la fugir, e certamente não temos mais minha irmã para interromper.

— Por que isso é tão importante? – Ele meneou a cabeça dispensando minha pergunta.

— Sente-se. – Repetiu. – É minha vez, eu faço as perguntas, tudo o que você tem que fazer é responder...

— Oliver...

— Sente-se, anjo. – Pediu. Segurei a respiração diante o apelido e forma com que o disse, foi suave, sem exigência dessa vez, era realmente um pedido, então surpresa por ter concedido tão facilmente eu me sentei ao seu lado. – Agora... Você tocaria piano para mim? – A pergunta mais uma vez saindo dos lábios masculinos mexeu comigo, eu já havia a repetido milhares de vezes em minha mente, sempre considerando uma resposta afirmativa, mas ainda assim sabendo que não seria assim. Escuta-la através dele novamente me fez querer reconsiderar, mas sem surpreender a nenhum dos dois eu murmurei a já previsível resposta.

— Não. – Ele assentiu tomando a resposta para si, conformidade, era o que estava em seu rosto, parecia decepcionado também, mas definitivamente não havia surpresa ali. Envergonhada por desejar responder diferente desviei meus olhos dos seus e me concentrei em tirar a tampa do copo e provar do café que havia me trazido.

Que ele tivesse comprado café para mim ainda me surpreendia.

— Por que não? – Fiel a sua palavra ele não ficado satisfeito com apenas a negativa.

— Você tem sorte que o café está me fazendo um pouco acessível. – Comentei. – Ou não teria concordado com essa conversa.

— Eu sou um homem sortudo. – Sorriu. Seu sorriso me surpreendeu. Havia algo nesse “encontro” que não fosse surpreendente? – Agora pare de tomar tempo. Eu não a deixarei até estar satisfeito.

— Emocionalmente? – Perguntei um pouco azeda. – Sexualmente? – Ergui uma sobrancelha apenas para provoca-lo. Eu estava fugindo do assunto, tomando tempo, como ele havia dito. Havia certa impaciência quando ele inclinou seu rosto e voltou seu corpo parar mim. Eu poderia ouvir uma reprimenda, mesmo sua boca não tendo sido aberta nenhuma vez após meu comentário provocativo, era uma guerra de olhares, e infelizmente eu estava perdendo. – Desculpe.

— Eu só queria que fosse honesta comigo. – Confidenciou.

— Eu não posso tocar para você Oliver. – Falei por fim. – Para ninguém. – Respirando fundo tomei seu olhar de continue e prossegui. – Eu lhe dei uma negativa, então é justo lhe dar a razão, tocar costumava me deixar feliz, era algo que fazia quando me sentia frustrada, zangada, ou triste, mesmo nos meus dias bons eu tocava, principalmente nos dias bons. – Sorri diante a memória. – Meu pai costumava subir até o salão quando estava em casa e pedir que eu parasse por alguns minutos para comer, ou dormir, ou apenas descansar um pouco. – Senti meu sorriso diminuir quando as memórias boas foram substituídas por ruins. - Mas tocar não me deixa mais feliz, e meu pai não se importa mais com isso, e eu fui para um lado sombrio em que eu não posso mais colocar minhas mãos sobre as teclas de um piano sem ter recordações ruins, e eu não posso tocar para você Oliver, por que um homem foi à razão pela qual eu parei de tocar, e eu não deixarei que outro seja a razão pela qual eu voltarei.

Ele recebeu minha resposta com silêncio.

Por agoniantes segundos tudo o que eu tive foi silêncio.

Então ele assentiu em concordância. Seu olhar ainda preso ao meu.

— O que aconteceu na noite em que eu a encontrei? – Perguntou de forma direta e que não admitia outra resposta se não a que ele julgasse verdadeira. Cansada de fugir e esconder as coisas, optei por lhe dar o que queria.

— Eu estava drogada. – Respondi. – Me drogaram, na verdade. – Dei de ombros. O notei endurecer. – Deve ter sido em alguma bebida, eu não me lembro direito daquela noite, mas eu havia ido a essa festa por que meu pai havia insistido, era mais uma de suas exigências em troca de eu morar sozinha e na cidade que eu queria. – Por fazer faculdade. Acrescentei mentalmente. – Cooper não mora aqui. – Expliquei. - Mas seu pai tem uma residência aqui, então meu brilhante noivo postiço ia dar uma festa e eu não podia recusar, não foi permitida a entrada de Diggle, e querendo terminar logo com isso eu disse que ficaria tudo bem. – Oliver já devia conhecer o rumo que a história teria, ou suspeitar, como sua amiga havia suspeitado, por que ele pareceu ficar ainda mais rígido e seu rosto mostrava que buscava por controle. – Não ficou bem, eu não sei ao certo quem me drogou, eu suspeito, mas não posso afirmar, mas eu sei quem foram às pessoas que tentaram se aproveitar disso...

— Foi mais de um? – Perguntou, sua voz saindo rouca e fria. Não duvidando do que se aproveitar significava nesse caso.

— Tentaram me estuprar. – Assenti deixando tudo muito cru, não floreei, ou procurei suavizar. – Cooper e seus amigos, mas eles não conseguiram, e apenas por que um rapaz os impediu. – Por algum motivo achei melhor ocultar a identidade de Roy no momento, talvez pelo motivo dele estar naquela festa em primeiro lugar. – Odeio aquela noite Oliver, e odeio ter acordado em um hospital, odeio mais do que tudo você precisar escutar isso para saber se eu mereço ou não seu respeito, sua atenção...

— Não é isso...

— É isso. – O cortei. – Você me chamou de drogada, quando se referiu aquela noite, no domingo. Agora você usará a palavra vítima.

— Você foi uma vítima...

— Eu sou Felicity. – Murmurei o repreendendo. – Sem rótulos, sem apelidos, eu preciso passar por algo trágico para ser uma boa pessoa? Se você acha que agora eu sou uma boa pessoa por que eu fui drogada ao invés de ter eu ter me drogado... Você está enganado, eu já me droguei antes, eu já fiquei bêbada, muito bêbada, eu cometo erros. Cometi muitos erros, fiz péssimas escolhas, faz parte de quem sou, mas não definem que eu sou. – Falei. Ele apoiou os braços em seus joelhos, encarando-me brevemente antes de desviar o olhar. Respirando fundo decidi terminar logo isso, se ele queria me conhecer realmente, eu daria isso.  - Algumas daquelas reportagens são reais sim, outras não, há uma em especial que duvido muitas pessoas tenham lido antes de sair completamente de circulação. Eu já fui para a reabilitação, não por que eu quis, e não por que eu estava viciada. – O informei. – Meu pai me colocou lá por que fazia sua imagem melhor, acabar com tudo antes que a coisa chegasse a piorar, ele não ia esperar uma bomba explodir se podia mandar o esquadrão antes. Eu me droguei alguns pares de vezes, na verdade foram preciso apenas duas para perceber que eu não queria isso para mim, mas Cooper transformou em algo maior, eu virei a viciada quando ele na verdade é. Toda minha família viu, foi uma vergonha, um caos. Eu não lembro muito daquela noite, daqueles rostos fora de foco, mas me lembro quão humilhante foi o dia seguinte. Cooper agindo como o namorado perfeito, meu pai, minha mãe, minha melhor amiga acreditando nele. Por culpa dele o que veio em seguida foi um período vivendo em um verdadeiro inferno. Demorou um tempo na clinica até eu perceber que negar não me tiraria dali, eu tive que fingir que era uma viciada. – Meneei a cabeça lembrando-me. - Para que acreditassem que eu estava assumindo minhas fraquezas e que estava lutando contra elas. – Meneei a cabeça lembrando os que deveriam ser os piores dias da minha vida. – Ninguém ficou ao meu lado.  Diggle pensou que estava viajando, e se eu falasse qualquer coisa sobre isso com ele, eu sabia que estaria voltando para lá novamente. E que ele seria demitido. Eu fingi lá, fingi quando saí de lá, e continuo fingindo até agora.

— Quando foi isso? – Perguntou me surpreendendo. Seu olhar de simpatia me irritou.

— Eu tinha 16. – Respondi. – Meu aniversário de 17 anos foi na clínica, eu terminei o colégio um pouco mais tarde devido a isso, e eu perdi uma audição em uma das melhores faculdades de música por culpa disso, eu não consigo tocar mais. Eu só não consigo.

— Esse é o motivo pelo qual você não toca mais? – Questionou-me confuso.

— Não inteiramente, mas é tudo o que vou revelar a você hoje. – Murmurei por fim. O observei esperando alguma reação sua, eu tinha revelado demais, os meses que eu havia sido trancada na clínica haviam sido angustiantes, solitários, carentes de conforto humano. Carinho familiar. Após aquilo eu me afastei da minha família, exceto de Connor, afastei-me da música e me tornei aquela jovem selvagem que haviam me intitulado, não eu não estava mais nas drogas, por que o único motivo que me fez provar elas havia sido para impressionar Cooper, e como eu havia dito a Oliver, havia sido apenas duas vezes, eu percebi que estava me deixando levar por um garoto que exigia minha atenção quando não estava rodeado dos amigos e que nossas brigas sempre giravam em torno de sua decepção por eu ainda não ter lhe entregado minha virgindade. Cooper era um babaca desprezível, que se embebedava em festas e deixa de ser aquele garoto que havia sido meu príncipe desde os 14 anos, o charme ia embora, ele se drogava e tentava me persuadir a fazer o mesmo, dizia que eu era uma estraga prazeres e que já que eu não queria compartilhar meu corpo ainda, eu bem que poderia relaxar algumas vezes e me divertir. Eu fui estúpida por duas vezes. Não gostava de quem eu estava me tornando, e estava pronta para lhe dar um ultimato, eu o amava, mas não podia aceita-lo assim, ele precisava mudar, eu fui visita-lo após revirar em minha cama pensando no assunto, e descobri que além de ser um babaca, Cooper era também um traidor, todo mundo sabia, menos eu.

Típico.

Ele riu quando eu o encontrei.

Perguntou se achava que ele ia me esperar para sempre, disse que era mais do que justo ele ter em outros lugares o que eu lhe negava a dar, mas só até quando isso acontecesse. Jurou que assim que eu me resolvesse ele seria só meu.

Nojento.

Eu terminei o namoro naquela noite, mas a vergonha me fez manter isso para mim por um tempo, e quando o disse ninguém levou a sério, talvez por que eu não havia revelado o motivo. O que fez com todos ficassem ao seu lado, e que não acreditassem quando em um gesto mesquinho de vingança ele me drogasse em seu aniversário.

Eram assim que eu sabia que havia sido ele agora, por que ele já havia feito isso antes. Que eu tivesse caído novamente, mesmo sendo anos depois, me irritava. Naquela vez ele disse para todos que não era a primeira vez que isso acontecia, que eu me drogava, Disse que tentou fazer com que parasse, que foi por essa razão que eu terminei com ele. Ninguém acreditou em mim, fui internada em uma clínica de reabilitação, quando era ele quem devia estar lá. Quando finalmente saí eu o evitei, estava zangada com ele e todos que aceitaram suas palavras, durante os cincos anos seguintes travei batalhas com meus pais desejando ter um lugar só para mim, desejando o que eu tinha hoje, e enquanto eu não tinha o queria, aceitei o que era me dado, viajei, conheci o mundo, fugi da minha casa. Fugi de Cooper.

— Fale alguma coisa. – Pedi após não aguentar mais seu silêncio perturbador. Encarei seu rosto procurando uma pista dos seus pensamentos, mas eu não consegui lê-lo. – O que foi Oliver?

— Eu estou zangado. – Falou por fim. Franzi o cenho diante sua resposta. – Com você. – Acrescentou.

— Eu? – Murmurei incrédula, meneei a cabeça não aceitando isso. – Se você é o tipo de machista que acha que fui atrás disso... – Murmurei me levantando, ele segurou meu pulso me impedindo de ir.

— Não. – Negou rapidamente.  Puxou-me de volta para o lugar. – Não se trata disso. – Falou em tom firme.

— Então o que eu fiz dessa vez que o irritou tanto? – Perguntei cansada.

— Nada. –Falou deixando-me confusa. – E esse é o problema, você não faz nada, não se defende, eu não preciso ser aquele a dizer que você precisa denunciar Cooper, e você devia esclarecer quando as pessoas, quando eu, chegam a uma conclusão errada sobre você, quando alguém julga você.

— Eu só não consigo entender o propósito disso. – Murmurei o surpreendendo. – Por que eu deveria perder meu tempo me explicando ou me defendendo para pessoas cuja opinião não me importa? – Perguntei duramente. – Quando eu precisei que acreditassem em mim, quando eu me importei o suficiente para precisar disso, minha própria família não ficou ao meu lado, então... Por que outra pessoa ficaria?

— Você não confia mais. – Murmurou me analisando.

— Eu não me importo mais. – O corrigi.  Ele não pareceu gostar do que eu disse, mas se manteve em silêncio, seu olhar perdido, não me encarava mais, seu rosto estava voltado para frente. Estava tenso, e sim parecia muito irritado. Eu podia afirmar que essa era a primeira vez que o via tão irritado assim. - Você não precisa se preocupar com Cooper, por cinco anos eu o evitei, mesmo quando nossos pais insistiam em uma união que não existe, eu o evitei. Tudo o que eu preciso manter de Cooper é distância. O que aconteceu na noite em que nos conhecemos, não vai se repetir.

— Você diz isso. – Falou voltando a me encarar. – Mas estava com ele em uma festa, poucos dias depois. – Censurou-me. – Ele é perigoso. Ela tinha que ser preso pelo o que te fez e o que tentou fazer, e você precisa estar o mais longe dele o possível, esse cara...

— É um covarde. – Falei. – E eu não sou tola, eu sei como teria terminado, sei o quanto ele é perigoso, mas eu sei lidar com ele.

— Eu não acho isso. – Retrucou. – Muito pelo contrário...

— Oliver, pare. – Pedi. – Você está agindo como se fosse meu namorado...

— Eu não...

—... E você não é. – Continuei ignorando seu protesto. – Não faz nenhum sentido. – Murmurei angustiada. – Você claramente não quer nada comigo, eu sei bem disso, eu não sou idiota, mesmo hoje, mesmo sabendo o que sabe, eu ainda sou inadequada. Ou pela idade, ou por ser próxima a sua irmã, qualquer outra desculpa que você possa usar, você ainda não vai fazer nada com relação a nós dois, por que mesmo admitindo que há sim um interesse por mim, você não quer explora-lo, eu ainda sou complicada demais, certo?

— Felicity...

— Então pare de se importar. – Pedi. – Volte para o seu mundo perfeito, vista sua capa de superman e, por favor, salve vidas. Por que definitivamente eu não estou aqui para ser salva por você.

— Eu sinto muito. – Murmurou em tom azedo. – Eu acordei essa manhã disposto a tentar fazer as coisas diferentes entre nós dois, por que eu senti que no outro dia isso havia ficado suspenso no ar, eu quis compreender você. O que há de errado nisso? Eu não quero ser seu namorado, você está certa, mas qual o problema em ter alguém se importando com você? Ter alguém que acredita em você?

— Por que a questão não é se você está aqui sentando ao meu lado. – Murmurei. – É quanto tempo irá durar. É o quanto você está disposto a dar e se é o suficiente para mim, você veio aqui tentando me compreender, você não deveria querer.

— Eu só estou tentando...

— Eu não consigo entender qual o ponto disso tudo. – Meneei a cabeça. – Por que você está aqui? Qual o sentindo disso tudo? Até onde eu me lembre você disse que nós dois éramos um erro. Então por que você está aqui? Você acha que podemos ser amigos? – Murmurei debochada. Ele respirou fundo parecendo buscar controle.  - Eu te respondi bem mais do que você me perguntou hoje, eu posso ter direito a uma pergunta? – Ele franziu o cenho não entendendo onde eu queria chegar, mesmo hesitante ele assentiu em concordância. A questão era que eu queria trazer a tona o que vinha me incomodando e por que me deixava tão na defensiva sobre ele está aqui comigo, supostamente querendo me conhecer. – Por que você está tomando café comigo, quando deveria estar com Isabel?

 

OLIVER QUEEN

Encarei o rosto feminino com surpresa. Havia tanta emoção em seu rosto agora, genuína, ela não estava forçando um sorriso provocativo, ela não estava se escondendo sobre a fachada inexpressiva, ela parecia confusa, e decepcionada. Mais do que isso ela também parecia bem irritada. Se me perguntassem no início da semana quais os meus planos para hoje, eu definitivamente não estaria respondendo com algo que sequer parecesse com o que estava acontecendo agora, eu passei os últimos dias me convencendo a deixar de lado minha conversa com Felicity na mansão de minha família, convencendo-me que assim seria melhor.

Na segunda pela manhã eu comecei meu dia como qualquer outro, não pude fazer minha corrida por que logo cedo estaria em cirurgia, sabia que os próximos dias também seriam assim, então empurrei de lado a vontade de aborda-la e dissecar mais seus segredos. No meu horário de almoço fui importunado por Tommy e Caitlin que queriam detalhes de como havia sido o dia anterior, irritado com as duas crianças que eram meus amigos e colegas de trabalho os deixei sozinhos, estava apenas me afastando quando me esbarrei com Isabel Rochev, uma velha conhecida e para ser sincero alguém com quem eu costumava dividir a cama quando ela estava na cidade e se estávamos os dois sem compromisso. Ela pareceu ser a solução perfeita, era alguém que estava ao alcance, que não desejava mais do que eu estava disposto a dar, e que acima de tudo não ocuparia meus pensamentos com incontáveis “E se”.

Isabel Rochev era uma distração.

Ela estava visitando uma amiga próxima no hospital, e estava claramente interessada em rever um velho conhecido, em fazer de mim sua distração também. Marcar um jantar no mesmo dia pareceu uma boa ideia, leva-la para seu apartamento também, assim como o que veio depois.

— É disso que se trata? – Questionei surpreso. – Isabel?

— Se trata de você me deixando confusa como o inferno. – Retrucou. – Você tem ideia da quantidade de sinais contraditórios você me deu até agora?

— Como você soube sobre Isabel? – Perguntei ainda confuso. – Quem... Thea? – Como diabos Thea ficou sabendo sobre Isabel?  Tudo o que tivemos foram duas noites antes dela partir novamente. E eu não tinha falado sobre Isabel com Thea, não valia a pena.

— Isso importa? – Perguntou aborrecida. – Você disse que não fica com outra pessoa quando está envolvido com alguém, eu não estou dizendo que a única vez que ficamos juntos possa ser chamada de envolvimento, não é, mas se você está com ela... Por que você está aqui agora?

— Eu já disse...

— Vocês transaram? – Perguntou direta. Minha falta de resposta já foi por si só uma resposta, ela meneou a cabeça como se a ideia a deixasse divertida, quando obviamente estava chateada. Agora eu compreendia sua pressa em ir embora quando eu disse de forma simples e que estava esperando, seu olhar até onde estavam as embalagens, seu tom mordaz quando meu chamou de Dr. Queen, quando na verdade ela sempre se referiu a mim com o ultrajante Dr. Delícia. Eu entendia tudo.

Ela pensou que eu esperava por Isabel, e a ideia a irritava tanto que quando eu finalmente estava disposto a fazer mais do que evita-la ou entrar em nossas costumeiras brigas sem sentindo, ela estava me afastando. Ela não queria minha aproximação, mesmo depois de ter se aberto comigo, por que ela achava que tudo o que eu queria era respostas, que depois de recebê-las eu me retiraria satisfeito.

Não havia sido exatamente isso que eu tinha pensado quando me levantei hoje?

Os encontros com Isabel foram vazios, aplacaram a necessidade física, mas tão logo eu fechava a porta do seu apartamento atrás de mim, havia a sensação inegável de arrependimento, Felicity ainda estava em minha mente e a necessidade de conhecê-la ainda se fazia presente. Apenas o tempo dedicado ao hospital me distraía. Meu trabalho me mantinha focado e distante, mas era só chegar em casa que eu estava tão perdido quanto antes.

Hoje, foi à necessidade de mudar isso que me fez me aproximar. Eu pensei que no momento em que tivesse as malditas respostas, tudo estaria bem, o interesse iria embora e o desejo poderia ser ignorado.

Eu estava errado.

Agora eu me sentia protetor com relação a ela.

E se fosse sincero comigo, o fato dela saber sobre Isabel me incomodava.

— Por que você está aqui Oliver? – Repetiu a pergunta uma vez mais.  

— Eu não sei. – Murmurei com um suspiro cansado. – Eu pensei que isso aqui seria uma espécie de fim. Que seria o suficiente.

— Você é um covarde. – Murmurou de repente.

— Desculpe? – Murmurei achando que não havia escutado direito o que havia dito.

— Você é um covarde. – Repetiu. – Você me quer. Você não sabe o que fazer sobre isso e age como um babaca. Honestamente eu não sei se o que estamos fazendo é bom para qualquer um de nós. Por eu quero você também, mesmo sabendo que você está com outra pessoa, eu ainda quero você.

— Eu não sei o que fazer em relação a isso. – Confessei.

Nem eu.

Ela não disse, mas era tão presente em seu olhar que eu quase podia ouvir as palavras saindo de sua boca.

— Por que você transou com ela? – Amaldiçoei sua maneira direta de falar.

— Ela... – Eu não acreditava que estava falando sobre Isabel com Felicity, eu sequer entendia por que ela queria saber sobre a morena. Eu não me sentia bem com isso, e eu sequer sabia responder sua pergunta. – Ela é...

— Descomplicada. – Terminou. – E é isso que você quer.

— Sim. – Assenti.

— Podemos tornar isso descomplicado o suficiente. – Murmurou me surpreendendo. Ela se ergueu deixando o café de lado, tão absorto eu estava em suas respostas, eu havia esquecido completamente o meu, bem ao meu lado junto com a sacola de pães doces. Eu me limitava a encara-la com confusão, tentando entender seu raciocínio. – Uma vez eu disse que não pegaria nada mais do que você pode me dar. Eu continuo pensando assim. - Encarei surpreso ela levar sua mão até meu rosto, traçou a linha do minha mandíbula, e o toque delicado fez de imediato meu corpo se agitar.  – Sem vínculos. – Murmurou se aproximando e ficando entre minhas pernas, seu corpo se curvou, o rosto se aproximando mais do meu à medida que as palavras saíam de sua boca, eu era vagamente ciente do que dizia, mas estava concentrado demais na proximidade de nossas bocas, do quanto diminuía a cada frase dita. – Sem complicações. – Senti sua outra mão descansar sobre meu ombro. O aperto leve sendo registrado, o calor passando através das camadas de roupas. – Sem romance. – Uma pequena careta se formou no rosto bonito, como se a ideia a desagradasse também.  – Sem drama familiar. – Prometeu.  – Sem “ex-noivo” drama. – Acrescentou rapidamente.  A menção ao homem que havia feito com ela abrisse mão de tanta coisa fez com que por alguns segundos eu esquecesse que Felicity estava praticamente nos meus braços. Percebi que havia levado minhas mãos a sua cintura e que em sua última frase eu havia apertado o corpo feminino com certa brusquidão. Possessivo. Antes que eu pudesse pedir desculpas ou pensar em afasta-la de mim, ela continuou. – Apenas nós dois, apenas sexo. – Segurei minha respiração percebendo que tudo isso era parte de um acordo. E não importava o quanto meus pensamentos estavam mais lentos devido a sua aproximação, a coisa toda ainda parecia complicado demais, se tratando de nós dois, eu duvidava que algum dia isso se tornaria simples, ainda assim eu não consegui impedi-la de continuar. – Esse é o acordo. – Murmurou, seus lábios tão próximos dos meus, que o pensamento de cobrir os seus com os meus era natural demais, ainda assim eu resisti  a vontade de fazer exatamente isso.

Ela não.

Enquanto seu perfume me cercava e excitava, sem nenhuma surpresa senti a pressão da boca feminina sobre a minha. Parte de mim queria assumir o controle do beijo, mas eu estava mais do que interessado em abrir mão deste, deixei que fosse ela a determinar o ritmo, enquanto tudo o que eu fazia era receber o toque das mãos feminina em meu pescoço, as unhas arranhando levemente a pele. Senti o familiar rompante de desejo, quando sua língua acariciou meus lábios induzindo-me a abri-los, bastou o leve contato entre nossas línguas para que eu me visse agarrando a aquele controle de volta, levando uma mão a sua nuca e enterrando meus dedos nos cabelos macios ajustei o ângulo do beijo, e com voracidade aprofundei o beijo, tomando, exigindo, implorando. Estava perdido e embriagado no calor de seu beijo quando ela se afastou de repente. Deixando-me confuso e incrédulo.

— Pense nisso. – Murmurou com um sorriso coquete. – Eu fico com isso. – Pegou a sacola da padaria que havia sido deixada de lado e ainda portando um sorriso provocativo ela se afastou deixando-me mais do que confuso e frustrado como o inferno.

Olhando para baixo me dei conta que ela não só havia levado meu café da manhã, mas também o que teria sido um disfarce perfeito para a constrangedora ereção.

Distraído demorei alguns momentos para perceber que meu celular tocava, dessa vez não pude segurar o palavrão que veio a minha boca ao ler o nome. Quando levei o celular à orelha eu não sabia dizer se esse havia sido um perfeito ou péssimo timing. Definitivamente algo com “p”.

— Isabel... – Murmurei em tom de cumprimento.

Boas notícias. – Murmurou com um sorriso sedutor em sua voz. – Voltarei mais cedo do que pensava para a cidade, o que acha de nos encontramos para um jantar novamente? Quem sabe algo mais?

“Pense nisso”

Oh sim, eu definitivamente estava pensando, o problema era que eu não sabia que diabos de resposta eu ia dar.

Oliver?— Pisquei percebendo a impaciência mesmo através da linha. Percebendo que havia dado tão pouca atenção a outra mulher. – O que acha? Você quer ou não me encontrar novamente?


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Notas finais do capítulo

Iiiii Isabitch chegou!! Apesar dessa presença um tanto quando indesejada, espero que tenham gostado, se sim ou não, me deixem saber. Fico no aguardo do feedback ;)
Xoxo, LelahBallu.



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