Me aconchego em meu ninho, de modo que posso observar o pôr do Sol. É nesses momentos que sinto orgulho de mim mesmo por ter escolhido me instalar aqui, na Pirâmide de Uhlez, a vista é belíssima, além de ser de cima. Aprecio ver tudo de cima, creio que qualquer dragão deva gostar, na verdade.

Embora agora "qualquer dragão" signifique, eu, Rhaegal e Drogon, não consigo deixar de pensar nos que vieram antes de nós. Não que eu os tenha conhecido, obviamente não, mas ouvi as histórias que nossa mãe nos contava, devo ter sido o único a ouvir tudo atentamente, cada nome, cada luta, não apenas pelos relatos, mas por gostar da voz dela.

E não apenas nas histórias me sinto próximo de meus ancestrais, mas em alguns momentos creio ter lembranças de um passado que nunca vivi, ou não deveria me lembrar. Eu e meus, bem... Irmãos, como os chamo por falta de palavra melhor e por no fim, termos crescido juntos, não viemos da mesma ninhada, é fácil ver por nossa aparência. Não tenho certeza se o mesmo acontece com eles, porém algumas vezes, consigo lembrar de minha mãe biológica.

Embora nunca a tenha visto, lembro de seu cheiro passando pela casca de meu ovo, seu rugido chegando aos meus ouvidos ainda não bem formados e especialmente de seu calor, seu aconchego.

Curioso. Sinto falta de viver com outros dragões, mas na verdade esse passado nunca ocorreu, sinto falta do que nunca vivi.

Suspiro fazendo fumaça sair de meu nariz.

Imagino onde os outros estarão agora.

Drogon deve estar caçando, incrível seu desejo por sangue. Evidente que ela sempre foi a favorita de nossa mãe, mas também sempre foi a mais rebelde, sempre afastada levemente de mim e Rhaegal, talvez por sermos machos, não sei. Penso nela toda vez que imagino que podemos ser os últimos dragões do mundo, o que espero seja mentira, e que em algum momento ela e Rhaegal podem acabar procriando assim como os dragões de Aegon, O Conquistador.

Por que não eu? Sou o dragão subestimado, meu caro. Viserion, o dragão branco. Nominação que nunca entendi na verdade, afinal minhas cores são creme e dourado. Drogon é aquela que comparam com Balerion e Rhaegal o que já ouvi dizerem, mais perigoso e selvagem do que eu.

Sou tão dragão quanto eles, prezo a liberdade e tenho um certo desejo pela destruição, o que dizer do cerco de Mereen, onde eu queria apenas observar os homens caindo ou algumas vezes em que posso ter queimado o que não devia (o que posso dizer? Adoro os tons do fogo que solto). Mas talvez tenha sido muito humanizado por minha mãe, não sei dizer. Drogon e Rhaegal frequentemente zombavam de mim por eu gostar de comer da mão dela, enquanto eles achavam mais coerente caçarmos. Por favor, mal conseguiríamos pegar um coelho na época.

Ouço um rugido ao longe. É Rhaegal.

Meu bom irmão, engraçado como sempre fomos próximos mesmo sendo diferentes. Brigamos e brincamos muito ao longo da vida, sem nunca nos desligarmos. Ser chocados juntos pode ter esse efeito, ou talvez sejamos apenas uma formidável equipe.

Conforme o Sol some, lembro de nossa mãe, Daenarys. Estaria ela fazendo estratégias agora? Ela é exatamente o tipo de ser que não entendo completamente.

Sei que ela espera muito de nós, que sejamos fantásticos quando chegarmos a Westeros, como na Conquista Targaryen. Três dragões lutando juntos. Algo que esse mundo não vê há muito tempo. Até mesmo meu nome, em homenagem a seu falecido irmão, ela disse que eu seria forte como ele não foi, uma grande responsabilidade.

Porém ela toma decisões indecifráveis, como ter nos prendido. Podiamos estar maiores e perigosos, mas não vejo razão para aquilo. Somos livres, ela mesma o diz. Mas o que posso dizer, ela é minha mãe, acabei por perdoá-la, afinal estivemos juntos desde... Bom, desde que nasci.

Graças a ela conhecemos tanto do mundo em pouco tempo, conheci seres humanos intrigantes. Quentyn, que mostrou-se nada confiável, Tyrion, nosso pequeno libertador tagarela, Ben, a quem me afeiçoei não sei ao certo porque...

Graças a ela ouvi histórias fantásticas e pude saber os nomes de meus ancestrais, entre os relatos o meu preferido sempre foi o da Batalha pela Aurora. Até hoje penso comigo mesmo, se os tais outros não poderiam estar por aí, a espreita... Pelo menos é o que eu faria se fosse um deles, esperaria o momento certo para voltar.

Eu estava lá em seu ombro, quando soubemos da morte do rei de Westeros e estarei lá quando ela sentar no tão falado Trono de Ferro.

Lutarei por ela, queimarei quantos homens e bestas forem necessários.

Derreterei armas e incendiarei castelos até que meu fogo se extingua, se assim for preciso.

E poderei assumir meu lugar ao seu lado, bem onde meus ancestrais, e gosto de pensar, até mesmo meus pais estiveram um dia.