Crônicas de uma galáxia escrita por Mrs Dewitt


Capítulo 18
Inferno




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— Ele veio aqui pra nada né. – Meu pai disse, sentado no sofá. – Nem quis conversar comigo.

            - Tu que mandava a gente sair sempre que ele estava por perto, pai! – Gritei, exasperada. – Tu que não deu uma chance pra ele!

            - Eu não gosto dele. – Ele disse. Disse como se estivesse falando a verdade mais absoluta do universo, enquanto finalizava o caso.

            “Eu não gosto dele” tinha sido, provavelmente, a coisa que eu mais tinha ouvido desde que o Marco fora embora. Aparentemente, ele tinha feito tudo de errado que era possível que um ser humano fizesse. Meus pais repudiaram desde o jeito que ele se sentava ao modo como penteava o cabelo.

            - Tu só gosta dele porque ele gosta de Harry Potter. – Meu pai me disse uma vez, e continuou tomando café como se estivesse tivesse falado a coisa mais aceitável e lógica do mundo.

            - Pai, Harry Potter tem praticamente o maior fandom do mundo, tu realmente acha que se fosse só por isso, eu não escolheria alguém mais perto de mim?

            - E eu vou saber por que tu escolheu ele? – Retrucou.

            Os ataques ao Marco eram constantes, e me acertavam como tiros.

            - Eu gosto dele. – Minha mãe disse certo dia, enquanto lavava a louça do almoço. Senti como se fosse um abraço quente, e cheguei a ficar feliz, até ela completar: - Como pessoa, não como teu namorado.

             Aos poucos, os momentos felizes em família foram sendo substituídos por momentos para “falar mal do Marco para a Luísa”. Eu comecei a me sentir sozinha e abandonada, visto que meu pai parecia não poder me ver sem despejar veneno em cima de mim, e eu não conseguia entender. Simplesmente não fazia sentido pra mim. Quer dizer, eles eram meus pais, por que em sã consciência faziam isso comigo? Não percebiam que doía?

            - Qual o problema que vocês veem nele, dá pra me dizer? Não é possível que sejam todas essas besteiras que vocês me falam todos os dias! – Disse, uma vez, a mesa de jantar. Logo após uma sessão rotineira de me magoar. Era exaustivo aguentar todas aquelas coisas calada, e mesmo sabendo que tudo se voltaria para mim, eu explodi.

            - Filha... – Minha mãe começou, estendendo a mão para segurar a minha. Tirei minha mão da mesa, a impedindo de completar o movimento. – Não tem um jeito fácil de dizer isso. Talvez tu não tenhas percebido, ou não tenha querido ver porque gosta dele, mas filha... – Ela respirou fundo. – Nós achamos que o Marco é gay.

            Aquilo foi, com toda a certeza, a maior bosta que eu ouvi em toda a minha vida. Eu não sabia se ria, se gritava ou se saía da mesa. Acho que fiz os três. Sentia meu sangue correndo quente por todo meu corpo, e uma vontade incontrolável de bater em alguma coisa. Não achava que fosse possível eles chegarem a um ponto desses, mas eu devia ter imaginado.

            - Vocês são inacreditáveis. – Murmurei, antes de sair da mesa e passar o resto do fim de semana no quarto.

            E o tempo passou assim. Com os meses, as coisas foram se somando, e uma nova gama de acusações contra mim surgiu também. Eu era acusada de ser uma rebelde sem causa, de usar drogas, de ser lésbica e de usar tudo ao meu alcance para desrespeitar meus tão amáveis e dedicados pais.

            Ao Marco, restava ele ser gay e só ter todo o meu amor por gostar de Harry Potter.


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