"Não sei precisar a hora, o lugar ou o olhar, ou as palavras que lançaram as bases. Faz muito tempo. Eu já estava no meio antes de me dar conta de que havia começado."

Orgulho e Preconceito - Jane Austen

Três era um número sagrado na vida de Dominique.

Ela pegou três semanas de detenções para limpar todo o corujal sozinha, sem magia, por ter usado Amortentia em dois colegas de Hogwarts. Foram três dias de cada semana: segundas, quartas e sextas, até terminar a limpeza.

Foram três Berradores que ela recebeu ao longo de novembro como castigo. Um de seu tio Jorge, por ela ter surrupiado de seu estoque. Um de seu pai, agradando imensamente Tiago Potter e todo o time de quadribol da Grifinória (cujos jogadores também eram fãs dos Berradores de Gui Weasley) contendo três ameaças: trancá-la no Gringotes para sempre se ela usasse a poção em mais alguém, jogá-la de comida para a Lula Gigante (que nem era carnívora ou onívora) ou transformá-la para sempre em uma coruja. O terceiro Berrador era de Gina Potter por ela ter enfeitiçado dois de seus filhos.

Nas férias de natal, ela foi obrigada a voltar para casa e também levou três sermões pessoalmente: do pai, da mãe e de Victorie, que sabia como era traumatizante ser envenenada pela Poção do Amor.

Foram necessários três meses até que Lily Luna tivesse coragem de falar com Dominique novamente para perdoá-la. Tempo esse que Tiago Potter também aproveitou para seguir em frente e chamar a apanhadora de seu time (que era ótima em imitações) para sair.

Eram três os maiores motivos pelos quais Dominique estava tão apaixonada por finalmente, um dos seus três. O modo como ele a conhecia tão bem a ponto de levar a sério todos os seus planos mais malucos, desde inventar um novo feitiço até ser quase enfeitiçado por Amortentia, e nem por isso ter parado de adorar cada nova ideia que ela tinha. Todos os longos debates que ambos tinham sobre criaturas mágicas, grandes bruxos do passado, meios de transportes voadores, o modo de vida dos trouxas, feitiços mais úteis já inventados, as piores idéias que Dominique já tinha tido, os melhores Berradores enviados por seus pais e tantas outras coisas úteis e inúteis que só eles compartilhavam desde o primeiro ano. E por fim, ela estava apaixonada por aquelas três palavras que teve coragem de dizer assim que sentiu o cheiro de pergaminho na taça cheia de Poção do Amor, quando estavam no estádio de quadribol, iluminados pelo feitiço grandioso dele, que poucos estudantes tinham capacidade de fazer:

— Eu te amo.

Naquele dia, Lys deu alguns passos desajeitados até ela. Pela primeira vez na vida, ele estava sem graça ao lado de Dominique.

— Achei que você nunca fosse namorar ninguém. – ele disse e passou as mãos pelos cabelos arruinados dela, movimento que Dominique se lembrava de Lys ter feito mais de cem vezes enquanto eles eram amigos.

Ela lembrou-se também que não era com Tiago ou com Lily Luna que ela sonhava fazia três meses que estava beijando embaixo de um visgo, com a estátua de Rowena Ravenclaw torcendo o nariz para eles.

Os irmãos Potter foram esquecidos no estádio (Lily Luna tinha seguido para o castelo bastante perturbada), quando Lys deu um sorriso de deboche para Dominique.

— Você não gosta de mim desse jeito. – ela percebeu, horrorizada. – Desculpe Lys. – pediu Dominique, cansada.

Lysander ficou encarando a amiga, sério como nunca tinha estado antes. Dominique olhou para seus pés, o coração se entristecendo. 

— Estou só sendo maldoso. Claro que amo você. – Lys gargalhou. - E não, eu não fedo igual Severo Snape.

Dominique riu também.

Lys encostou o corpo de frente com o dela. Dominique respirou alto, ele tinha ombros largos, mas não era tão alto quanto Tiago Potter. Não precisou ficar na ponta dos pés. Quando ela o beijou, Lys ainda estava rindo. Ela contou três pintinhas em seu rosto, perto de sua boca. Ela fechou os olhos e sentiu o cheiro de pergaminho dele, grudando nela como se nunca mais fosse sair.

Eram três as formas de contato físico que ela mais amava no mundo: o abraço quente dele, o jeito como ele tocava em seus cabelos e finalmente, o beijo delicado e carinhoso de Lys, aplacando toda sua selvageria.

Quando Tiago Potter, ainda enfeitiçado, foi cutucá-los, Dominique o estuporou, para que ele saísse do caminho.

[...]

Dominique finalmente leu a carta que ele tinha enviado ao pai depois que retornaram das férias de natal. Não conseguiu conter a curiosidade.

Pai,

Eu e Lorcan estamos bem. Estudando bastante para os N.O.M.s, por isso estamos bem ocupados. Além disso, Lorcan tem as tarefas de monitor, então acho que não lhe sobra tempo para escrever tanto pra vocês.

Não há nenhuma novidade espetacular. Aprendemos sobre Tronquilhos recentemente na aula de Trato de Criaturas Mágicas e são animais tão entediantes que eu gostaria que o professor Hagrid fosse como a mamãe conta que ele era na época dela. Talvez ele tenha “aprendido a ser professor”, mas particularmente eu ainda prefiro nossas viagens. Vocês terão terminado sua expedição pela Grécia até as férias de natal? Eu gostaria de passar uns dias com Dominique.

Ela está um pouco misteriosa. Tenho notado o comportamento de Tiago Potter quando está perto dela. Isso me deixa um pouco chateado.

 Nós estávamos estudando hoje e Dominique falou que está trabalhando em algum tipo de projeto e não quer a minha ajuda. Talvez eu esteja certo sobre o interesse dela em Tiago Potter também, já que ela está se distanciando.

Eu só queria que ela não se sentisse obrigada a namorar alguém só porque de repente já tem quinze anos. Dominique nunca gostou de namorar, mas talvez ela faça isso só pela curiosidade.

Talvez seja melhor eu simplesmente deixá-la em paz com seus “projetos”, porque ela parece bem otimista em viver uma nova fase da vida.

Mande beijos para a mamãe.

Saudades,

Lysander

[...]

Três foram os N.O.M.s que Dominique conseguiu no final do seu quinto ano. Em Defesa Contra as Artes das Trevas, Transfiguração e estranhamente, História da Magia.

Foram três anos de namoro com Lysander Scamander. Pouco tempo depois de se formarem, eles se despediram, porque Dominique tinha um desejo impetuoso desde que estava em Hogwarts. E Lys ia se aventurar nas viagens com seus pais.

— Quantos anos você vai ficar viajando sem rumo? – perguntou Lys, seu namorado há tanto tempo, enquanto ela estava com a cabeleira loura deitada no peito dele, ouvindo sua respiração.

Ela sorriu para o teto antes de responder:

— Três.

[...]

De três em três semanas, eles se encontravam entre suas respectivas viagens – Lys estudando as criaturas mágicas admiradas por ele e por seus pais e Dominique viajando pelo mundo, sem destino certo, apenas buscando em cada lugar um novo significado para tanto três.

E ela sabia, sempre teria um lar ao qual voltar. Um lar cujo nome tinha três letras. Lys.

Apenas três.

E nada mais.