Cosmos escrita por Sapphire


Capítulo 8
Capítulo 7 - Feridas abertas


Notas iniciais do capítulo

Obrigada quem comentou no capítulo anterior e até me desejou um Happy Birthday.

Leiam até o fim. Próximo capítulo viagem ao passado. e vocês entenderão. :)



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Gostou da surpresa? – Lorenzo sorriu do outro lado com um sorriso de canto. Ele fumava um cigarro na qual ele mesmo influenciou a mesma a fumar também.

— Foi o que eu precisava. Agora eu tenho o dinheiro dele e sou livre. – Ela riu, mas era um riso de ódio à flor da pele.

Paola estava apressada e apertava no volante fazendo os nós dos dedos ficarem brancos. Não estava ligando para as multas que iriam vir e muito menos se ia perder a carteira dela. Ela ia acabar com a vida dele e iria ser naquele instante.

Os anos que traíra Richard ela conhecia gente de muitos lugares. Até mesmo aqueles que não prestavam. Ela pagaria um terceiro para dar fim a vida do Lorenzo naquele momento.

Ele mexeu no calo dela. Pisou onde mais lhe doía e ela iria se vingar de forma fria e cruel. E fazer o desgraçado sofrer o tanto que ele a fez sofrer. Ela havia mudado sim. Estava mais do que disposta reconquistar o que havia perdido durante seu casamento em que havia sido negligente. Deixou de fazer o papel de esposa e mãe. Mas estava disposta a conquistar de volta, pois seu filho e marido eram sua prioridade.

Mas mudar não significava que deixaria sua natureza cruel e calculista de lado para pessoas de fora da família. Pelo contrário, iria fazer algo que nunca havia passado por sua cabeça antes.

Matar.

— Eu disse que você deveria ter pegado o dinheiro dele antes. – Lorenzo continuou. Andou até a sacada e assoprou a fumaça enquanto olhava os prédios da cidade.

Seu apartamento era pago pelo próprio dinheiro do Richard. Paola usava os cartões para bancar o luxo do próprio amante.

— Se ele provasse que eu o traí eu poderia ficar sem nada perante ao juiz, só que ele não fará isso.  Mas bem, quem sabe não podemos sair da cidade? – Ela queria um jeito de leva-lo para fora e o executa-lo. – Eu estou com saudades

— Eu também estou. Mas hoje não posso e não dá. Você não veio mais cedo, marquei com outra.

Lorenzo saia com outras mulheres também. Para Paola isso nunca havia sido incômodo. Contanto que ele usasse preservativo com ela e não levasse garota nenhuma para o apartamento que ela bancava. Estava tudo certo.

Até porque ela nunca sentira nada por ele. Era um homem bonito e só. Usado apenas para faze-la pensar cada vez menos no marido.

— Passarei na sua porta e eu não aceito um não como resposta, querido. – Ela fez uma careta por ter que forçar aquela palavra. Na verdade, ela teve que forçar a vida inteira que gostava dele.

— Junta os três que fazemos um ménage. – Lorenzo sorria com malicia e cheio de luxuria.

— Ah não queridinho, eu quero que me comande e cuide só de mim. – Um terceiro não podia estragar os seus planos. – Quem sabe Paris? Já pensou? Ou Veneza... O país que quiser. – Se ele não estava disposto a sair, tinha que mentir de alguma maneira e atraí-lo para fora do apartamento. Levar em uma viagem internacional era uma boa sacada.

— Eu sempre quis conhecer Amsterdã. Dizem que tem um ponto de prostituição e as mulheres ficam na vitrine. – Ele era um porco nojento, pensou ela.

Paola retorceu as feições e virou o rosto para o lado da janela a sua direita. Tinha que continuar o teatro, mas ouvir ou pensar em sexo se tratando do Lorenzo fazia a vontade de enfiar uma faca em seu pâncreas.

— Vamos para lá então. – Respondeu o mais natural possível.

— Que mudança repentina é essa? – Lorenzo questionou desconfiado.

— Você não entende, eu estava fazendo charme para o meu marido àquela hora. Você ligou num péssimo momento. – Ela mentiu. – Você ficou me pressionando.

— Eu não tinha como adivinhar que o chifrudo do seu ex marido estava lá.

Paola sentiu a palavra ex marido cortar seu coração. Ela apertou os olhos cinco segundos para impedir uma lágrima escorrer pelo rosto. Mas logo os abriu porque ainda estava dirigindo.

— Sim, ele estava perto de mim e a secretária xereta também. – Sua voz saiu com raiva. Ela mal conseguira disfarçar sua indignação e ódio. Lorenzo percebera a alteração de voz, mas deduziu que fosse pela secretária, mas o que não sabia era que aquele tal sentimento fosse por ele.

— Sinto muito, linda. – Fingiu compaixão. A verdade que ele não sentia nada. Sua mente começava a arquitetar planos.

— Se sente tanto, arrume suas malas, pois iremos em uma viagem que você nunca mais vai se esquecer. – Ela enfatizou no final.

Se do outro lado existisse vida ele não ia esquecer mesmo. Era o que Paola pensava naquele momento. A viagem seria com uma passagem só de ida. Diretamente para as profundezas do inferno.

— O único problema é o meu passaporte.

— Não teremos problemas com isso. Lhe garanto. Eles não vão pedir o seu passaporte. “Para morrer, você não vai precisar do seu passaporte infeliz” – Ela pensou com todo rancor.

— Como assim não?

— Eu sei, queridinho. – Ela sorriu.

— Se você está dizendo... – Ele deu uma tragada no cigarro e entrou para dentro do apartamento procurando uma mala.

— Eu estou chegando na sua casa, já está com as malas prontas?

— Arrumarei agora, doçura.

— Você tem 15 minutos. – Ela avisou desligando o celular jogando no banco do passageiro ao lado.  Seu semblante era de uma mulher perigosa. Se achavam ela perversa ainda não tinham conhecido aquela Paola.

[...]

Lorenzo abriu a porta do carro dela e entrou jogando uma mala com rodinhas e uma mochila preta que servia para guardar o notebook, no banco de trás. Ele se acomodou folgadamente colocando os pés no painel, passando o cinto de segurança e inclinou para o lado da Paola.

— Oi. Será que eu não ganho um beijo? – Ele fez um bico fechando os olhos.

— Claro que ganha, mas quando estivermos chagando lá. – Paola respondeu arrancando com o carro quando ele acaba de fechar a porta aumentando a velocidade muito mais do que permitida. Ela não estava para brincadeira e não iria flertar.

— Está com pressa, hein. – Ele olhou para ela.

— Não imagina quanta. – Respondeu sem olhar uma única vez para ele.

Lorenzo levou a mão dele a coxa dela alisando e apertando, ora forte ora leve, seu olhar já dizia quais eram as intenções. Paola acompanhou com o olhar sua mão na perna dela.

— Bem que poderíamos parar no caminho. – Ele sugeriu com segundas intenções.

— Ah não. Sem pitstop.

— Posso saber porque? – Perguntou acendendo um cigarro e abrindo a janela do carro para a fumaça sair.

— Para te levar para o inferno. – Ela resmungou baixinho, quase inaudível. Não queria estragar os planos.

— Como é que é?

— Não interessa, Lorenzo. – Ela fala um pouco mais alto deixando transparecer sua irritação. Ela focou somente a frente dela para dirigir e chegar ao destino o mais rápido possível.

— Está nervosinha? Adoro. – Ele se aproximou dela a beijando no pescoço – Sempre amei esse seu jeito selvagem. O sexo era mais interessante.

Paola empurrou ele para sentar de volta ao banco. Não queria mais aqueles beijos, ela tinha nojo e ódio. Duas coisas que logo se resolveria em breve. Assim ela pensava.

— E você vai ter o que merece, em breve. – Sua boca encheu de furor para falar.

— Hummm. Mal posso esperar para saber o que é.

— E você vai descobrir logo querido, logo. Gostará muito do lugar para onde vamos. – Ela dá uma batidinha na coxa dele sorrindo com um ar debochada.

Paola trocou a marcha da terceira para a quarta pisando mais no acelerador do carro. Ela estava com pressa para acabar logo com aquilo. Queria voltar para os braços do Richard o mais rápido possível e já estava imaginando os pedidos de desculpas e como faria para ter seu perdão de volta.

Lorenzo havia feito um estrago do tamanho de uma cratera. E agora teria trabalho para resolver as coisas. Ela não queria o fim do seu casamento. Não agora que se permitiu ser feliz sem medo.

Lorenzo puxou a mão dela para massagear no meio das pernas ignorando sua frustração. Com a Paola só existia um jeito de eliminar a hostilidade, assim ele pensava.

 - Assim é melhor. – Ele fechou os olhos esperando ser massageado bem ali.

— Ah, mas claro que é. – Ela apertou com força como se quisesse arrancar seus testículos de lá.

— CARALHO, VOCÊ QUER ARRANCAR ELE FORA? – Lorenzo deu um pulo do banco quase chorando de dor. Sentiu suas bolas latejaram.

— Quem sabe, não é? – Ela soltou e dirigiu em mais velocidade ainda.

Passaram se alguns minutos até ele ter a certeza de que a dor diminuíra e quando se sentiu habilitado a falar com ela.

— Então.... Quando ele vai te dar o divórcio? – Perguntou fazendo uma pressão no meio das pernas e um tanto interessado em puxar aquele assunto.

— Eu não irei assinar.

— Ah não? E acha que ele não pode recorrer à justiça e o juiz assinar por você? Eles podem fazer isso.

— Então que recorra – Respondeu furiosa – Enquanto eu tiver opção, serei a Senhora Listing.

— Do jeito que você fala parece até que é uma senhora de respeito – Ele gargalhou terminando o seu cigarro e jogando a bituca pela janela.

Paola não aguentou mais escutar as provocações e apertou suas mãos com todas as forças se machucando com as próprias unhas. Ela ergueu sua mão no ar virou com tudo acertando um murro na boca dele. Lorenzo bateu com a cabeça no vidro e ela desviou da pista, perdendo levemente o controle do volante. Lorenzo colocou a mão na boca e no nariz e viu a quantidade de sangue saindo.

Seus olhos arregalaram e olhou muito puto para ela.

— Você vai pagar pelo o que você fez. Pagar muito caro seu maldito. – Paola agora não fazia questão de fingir, estava desabafando tudo o que estava entalado até a garganta.

— VOCÊ ESTÁ MALUCA? – Lorenzo segurou na mão dela do soco com força apertando seus pulsos – Você olha bem o que está dizendo e fazendo.

— VOCÊ DESTRUIU MEU CASAMENTO. VOCÊ ME FEZ MAGOAR O HOMEM QUE MAIS AMO NESSE MUNDO. VOCÊ VAI PAGAR CARO LORENZO. EU VOU MATAR VOCÊ. – Sua voz saiu descontrolada.

— AH NÃO ME DIGA? VOCÊ ME DEU TODOS ESSES ANOS PORQUE QUIS SUA VAGABUNDA. – Ele cuspia sangue em cima dela.

Lorenzo olhou para o pé da Paola no acelerador e viu para a cidade para qual estavam indo. Não estavam na direção do aeroporto internacional. Estavam na direção de um dos bairros mais perigosos da Inglaterra.

Ele percebeu qual a real intenção da Paola. Não era sair de férias com ele e muito menos se separar. Ela queria entrega-lo a mão de traficantes. Ela ia leva-lo ao matadouro.

— Você acha que vai me matar, sua vadia? – Lorenzo virou o volante da Paola brigando com ela para ver quem conseguiria manter o controle da situação.

A sorte de ambos que nenhum carro estava na estrada além deles mesmo. Paola diminuíra a velocidade com medo de baterem.

O carro derrapava na pista úmida, pois estavam próximo do inverno. Paola tentou empurra-lo, mas Lorenzo por ser homem possuía mais força e ele deu um soco em cheio nela que desmaiara na hora. O carro perdeu o controle saindo totalmente do eixo e se chocou em uma arvore. O airbag foi acionado na hora evitando um acidente mais grave.

Lorenzo se chocou ao airbag, mas permanecia em consciência. Ele olhou para Paola e tirou o cinto de segurança abrindo a porta do carro com força e andou um pouco cambaleante dando a volta arrancando ela com certa brutalidade de lá.

Se ela pensava que ia fazer alguma coisa contra ele, ela estava muito enganada. Paola achava que o conhecia durante esses anos todos, mas a verdade é que ela mal sabia quem ele era. Lorenzo daria um jeito de rebocarem aquele carro de lá para não levantar qualquer suspeita.

[...]  

Paola acordou depois de duas horas desacordada. Suas mãos estavam amordaçadas e tornozelos também.  Havia uma amordaça em volta da sua boca para evitar que ela gritasse assim que acordasse. Sua visão estava recuperando foco.

Sua cabeça doía. Assim que percebeu que estava em uma casa de madeira deitada em uma cama com seus pés e mão amordaçados e até mesmo seus lábios, começou a sentir o desespero tomar conta do seu corpo. Tentou gritar, mas sua voz saiu abafada. Tentou se levantar, mas sua cabeça doía tanto.

Piscou diversas vezes e olhou para a janela próxima, se esforçou mais um pouco e conseguiu sentar-se.

— Vai a algum lugar? – Ela olhou rapidamente para a direção da voz.  E em pé diante da porta estava Lorenzo. – Interessante, Paola. Achei que tínhamos algo junto e podia confiar em você. Esses anos você havia demonstrado tanta lealdade e dedicação.

Os olhos dela faiscaram, e no olhar poderia encontrar a frase: “Eu vou matar você. ” Lorenzo podia ler aquilo em seus olhos.

— É uma pena que as coisas tenham chegado a esse ponto. – Ele aproximou-se dela dando lhe um tapa com força deixando seu rosto vermelho, em seguida agachou a sua frente e apertou sua mandíbula com uma única mão fazendo ela olhar para ele. – Você tentou me matar, só que o tiro saiu pela culatra não foi sua puta? Você vai ter o que merece.

Lorenzo enrolou a língua assobiando e dois homens altos, troncudos e de origem hispânica apareceram atrás dele. Um deles possuía uma cicatriz vertical do lado esquerdo do rosto que começava na sobrancelha e terminava na bochecha. Ambos possuíam uma fisionomia nada amigável, podendo ser confundidos com qualquer terrorista.

Paola conseguiu se livrar da mordaça na boca e olhou para o Lorenzo.

— Você acha que vai sair dessa? Não sou tão fácil assim de matar, Lorenzo. Tenho 7 vidas como os gatos. E acredite em mim, vou caçar você até ao inferno e te torturar da pior maneira possível. – Ela estava com medo, mas não demonstraria aquilo na frente dele.

— Quem falou matar você? – Ele sorriu de forma sádica. –  Não, não, Paola. Eles só vão foder com você violentamente, do jeito que você gosta. – Ele ajeitou o corpo ficando ereto. – É com vocês rapazes, usem ela como quiser. – Ele andou até a porta e antes de sair olhou para trás e sorriu com prazer.

Paola gritou, mas ninguém ali poderia ouvi-la.

Rick estava preocupado com seu pai que não comparecia dias no escritório da empresa ou muito menos ligava para falar com as crianças. Assim que soube onde o pai estava correu para o hotel de Londres e conversar com ele.

Richard estava deitado na cama olhando para o teto, diretamente para o lustre de luzes apagadas e um copo de uísque na mão.

Rick passou pelo hall assim que confirmou com a recepcionista em qual quarto e andar o pai estava, pegou o elevador e assim que chegou no andar correto, bateu na porta do quarto e torceu para ser atendido.

— PODE DEIXAR DO LADO DE FORA QUE DEPOIS EU PEGO. – Gritou do outro lado, pensando ser o pessoal do serviço de quarto que trouxera sua comida.

— Sou eu pai. Abra para mim a porta. Vim conversar. – Rick pediu com certa suplica.

Assim que ouviu a voz do seu filho, Richard levantou no mesmo instante e abriu a porta. Seu olhar estava cabisbaixo e seus olhos vermelhos pela quantidade do choro e inchados. A barba estava por fazer e os cabelos desgrenhados.

— Que bom vê-lo. – Sorriu tristemente para o filho que se assustou ao ver a aparência do seu pai.

— Pai! O que aconteceu com o senhor? – O tom saiu de pura preocupação.

— Muitas coisas. – Ele respondeu caminhando até o sofá da sala e se sentou. Ele apertou suas mãos nervoso e fungou.

Rick entrou e fechou a porta sentando-se ao lado dele. Parecia que aquele homem quem estava a sua frente não era seu pai. Nunca em toda a sua vida viu o seu pai daquele jeito, Richard Listing era um homem tão controlado, seguro e por mais emotivo que fosse não deixava suas emoções tomar conta dele daquele jeito.

— Pai, eu não tenho notícias suas e da minha mãe há um tempinho. Eu ligo e nenhum dos dois atende. O que aconteceu? – Ele não desgrudava seu olhar, mas seu pai ainda se mantinha cabisbaixo.

— Eu espero que a sua mãe tenha desaparecido para sempre, ela era uma víbora. – Sua voz saiu com tanto furor praticamente cuspindo em cima do filho, mas Rick percebeu que ele estava meio alto. Mas o que fizera Rick arregalar os olhos e ficar em choque foi pelo pai ter falado daquela maneira. Ele jamais falaria da Paola com aquelas palavras.

— Como? Vocês brigaram? O que foi? – Estava receoso e tomando cuidado com as palavras, mas precisava perguntar.

— Já passava da hora. Daqui a pouco não conseguiria cruzar uma porta nem abaixado.

Rick pôde compreender o significado por trás daquelas palavras e mais surpreso ele ficou por saber que o seu pai descobriu algo que pensou ser impossível descobrir depois de todos aqueles anos.

— Pai, o que aconteceu? – A pergunta agora não era para saber o que era, e sim como ele havia descoberto.

— Há alguns dias chegou uma encomenda na empresa. E era um vídeo da sua mãe e outro homem na cama... – Richard balançou a cabeça começando a chorar sem conseguir falar.

Por mais que Rick soubesse das cachorradas que a sua mãe fazia, isso não deixou de ser chocante. Seus olhos arregalaram, ele abriu a boca, mas por alguns minutos nenhum som saiu de lá, até ele conseguir perguntar.

— Isso é sério?

— Eu vi o vídeo com meus próprios olhos. Eu ouvi sua mãe debochando com o seu amante, me chamando de meloso, corno e outras coisas. Eu ouvi exatamente isso. Me ridicularizaram me chamando de corno burro, que era capaz de transarem na nossa cama e eu nunca descobriria. – Richard dá um murro na mesinha de centro por um pouco não fazendo ela rachar.

— Pai... – Rick pôde sentir a dor do pai e a sua própria voz saiu cortada pelo sofrimento dele. – Não...

— Não o quê? – Richard Levantou a cabeça para encara-lo. – Não acredita? Não sofra? Sinto muito filho, não tem como. Meu coração está partido bem no meio, parece que um taque de guerra e manadas de elefantes passaram por cima. Me sinto enganado, estou magoado, quebrado.... Maldita – Ele xinga entre dentes.

Rick deslizou para o lado e abraçou o pai lhe doendo até a alma em vê-lo infeliz daquela maneira. Ele sabia que era daquele jeito que ficaria caso descobrisse da traição da mãe dele. E por isso nunca teve coragem de contar ao seu pai. Porque por mais que ela o fizesse sofrer sendo tão hostil, ele sabia que o pai sofreria muito mais com a traição da esposa.

— A minha mãe não te merece pai. Nunca mereceu, o senhor deveria ter ido atrás de quem o respeitasse verdadeiramente. Nunca é tarde para recomeçar sua vida. – De fato era isso que ele queria que o pai tivesse feito há anos.

— Eu não sei se estou pronto para procurar outra mulher. – Richard saiu dos braços do filho e levantou e andou de um lado para o outro.

— Nunca ninguém está. Mas não pode ficar sofrendo para sempre pela, Paola. Tire um tempo só para o senhor. – Rick acompanhava o pai andar de um lado para o outro.

— Eu não sei como começar a ter um tempo para mim. Filho, eu estou acabado.

— Ah pai, eu sinto tanto. – Ele levantou – Se pudesse pegar sua dor para mim.

— Eu acho que a única coisa que tirei de proveito de todo esse casamento foi você.

De fato, era o que Richard sentia. O único presente que Paola já deu a ele que compensava todo aquele sofrimento era o seu único filho.

— E tudo o que eu sou eu devo ao senhor. – Rick o abraçou novamente mais apertado – Eu te amo muito, pai.

— Eu te amo mais, filho. Muito mais. – Ele correspondeu o abraço na mesma intensidade e se afastou olhando o Rick segurando o rosto do filho entre as mãos.

— O senhor é a pessoa em que sempre me espelhei. Tenho muito orgulho. – Rick sorriu e seus olhos brilhavam confirmando exatamente aquilo que dissera.

— Não mais do que eu Richard, olha o homem que você se tornou e olha as escolhas que você fez. Você foi responsável quando a Camille falou que estava grávida, e escolheu ficar com ela e o bebê. E por mais que tudo tenha sido rápido, eu tenho certeza que escolheu a mulher a certa e ela nunca vai te decepcionar.

— Não me arrependo de nada e faria tudo outra vez se precisasse. Eu amo minha família. – Rick sorriu

— E você está certo. Eu também não me arrependia. Até alguns dias atrás e eu me pergunto: Do que valeu tudo, tirando você? – Richard foi até o quarto e buscou o copo de uísque na qual estava bebendo.

— O senhor era feliz com ela. – Rick o seguiu pelo quarto de hotel – Pelo menos até uns dias atrás.

— Olha filho.... Há alguns anos não. Eu me sentia sozinho no nosso casamento, mas ela teve um sonho há alguns dias e ela pareceu mudar. Ela estava carinhosa e eu estava gostando – Ele olhou para baixo e em seguida entornou a bebida goela abaixo – Mas acho que ela já sabia que ele ia contar e queria me amolecer.

— Sonho? Que sonho? – Rick franziu o cenho.

— Falou que eu tinha morrido nesse sonho e sofreu ao saber que havia me perdido. Acho que era um monte de lorotas.

— E por esse sonho ela mudou? – Rick riu como se tivessem lhe contado a melhor piada do mundo. – Ai, pai.... Nunca ouvi tanta bobagem.

— Eu fui tão inocente, eu achei que sim. Eu queria que fosse verdade. Mas ela sabia que ele ia contar provavelmente. E tentou arranjar um jeito de me enrolar. – Ele suspirou.

— Pai, me desculpa pelo o que eu vou dizer, mas a minha mãe nunca foi uma mulher honesta de família. Como o senhor nunca percebeu isso? – Era algo que o intrigava.

— Eu estava cego por ela. – Ele sentou na cama com o corpo relaxado deixando as costas envergada.

— Estava mesmo. Ela sempre lhe tratou mal. Nunca estava em casa. Porque casou com ela? – Rick o imitou sentando ao seu lado.

— Porque ela era carinhosa e gostava dos meus eventos. Gostava de ir comigo aos lugares, gostava de estar ao meu lado, gostava de passear comigo e gostava quando eu era romântico. E ela me deixava ser livre para eu ser quem eu sou. Era minha melhor amiga e eu me apaixonei por ela. – Ele respirou fundo e um sorriso lhe brotou na face, viajando ao passado. – Ela sempre estava sexy, linda e poderosa e quando me dei conta, já estava na dela completamente. Mas depois do casamento após seu nascimento ela mudou.... Tudo mudou. Acho que ela enjoou de mim, eu não sei o que fiz de errado.

— Então eu fui o culpado por cortar a ligação que vocês tinham? – Rick suspirou como quem já sabia. – A minha mãe sempre disse que nunca queria ter tido filho. É.…. Eu lembro quando ela me jogou isso na cara quando eu tinha 8 anos. Não tem como esquecer. Eu estava brincando de índio e me pintando e pedi para ela entrar na brincadeira que ia pinta-la. Ela se recusou dizendo que estava atrasada para um compromisso. Eu nervoso sujei o vestido dela com a tinta e ela me espancou com tanta força, seus olhos carregavam tanto ódio. Grande mulher – Ele olhou para o pai. – Mas ela estava lhe tratando bem assim porque na verdade pai o que ela sempre quis é viver confortavelmente. Desculpa pela verdade, mas Paola sempre foi interesseira.

— Desculpa por isso filho. – Richard olhou para o Rick com um olhar de falta. – E eu não te culpo por nada. Não te culpo por ter nascido, porque você não imagina o quanto eu fiquei feliz naquela noite quando te segurei pela primeira vez no colo.  – Ele fez uma pausa e respirou antes de continuar. – E eu acho que ela só foi se afastando depois do casamento porque ela já tinha meu dinheiro e depois que você nasceu ela se mostrou de verdade. Eu só queria te dar tudo o que um menino precisava, infelizmente com a mãe errada.

— Ah pai, eu só falei isso para mostrar que ela já mostrava o que era e o senhor nunca percebeu. Para mim isso é passado. – Ele deu uma batidinha nas costas do pai.

— Desculpa por ter lhe feito sofrer. – Ele olhou para o filho dentro dos seus olhos, como se implorasse por perdão.

— Não tem que se desculpar. Não tem culpa. Eu já não ligo para isso, eu passei ignora-la quando tinha 14 anos. Eu sempre tive o senhor e agora tenho a minha esposa e meus filhos e para mim nada mais é importante do que eles e o senhor. São as pessoas que eu sempre vou amar mais que tudo.

— Eu digo o mesmo. Eu só não fiz nenhuma besteira por causa de vocês. – Sua mão pousa na mão do filho apertando.

— Eu sei que deve ser decepcionante e doloroso, mas nunca pense em tentar tirar a vida. Você tem a mim e as crianças e eles te adoram. E vem mais um a caminho para fazer parte do seu fã clube. – Rick olhou para os sapatos com o olhar vagando para longe. – Ela não merece seu sofrimento.

— E eu também não te deixaria sozinho filho. Você é a coisa mais importante para mim.

— Quer ficar alguns dias casa ou tirar umas férias? Vai viajar pai.... Vai para o Caribe, uma praia e pegar uma cor. – Rick o incentiva achando aquela a melhor maneira do pai ir esvaziar a cabeça.

— Acho que prefiro ficar com vocês. Me distrair – Ele forçou um sorriso – Ficar com a minha família.

— Certeza? Bom.... Acho que se a Camille não estivesse grávida eu poderia acompanhar o senhor, mas...

— Vamos todos nós para um país qualquer. Os sete. A mãe da Camille pode vir também. É por minha conta. – Richard levantou se animando um pouco.

— Ah, pai tem escolas das crianças e a Camille está gravida, acabei de dizer.

— Esperamos as aulas entrarem de recesso para festas de final do ano. Passamos as festas longe daqui. Que tal?

Richard estava tão eufórico e desesperado em viajar e esquecer da Paola que mal pensava direito. Como se uma viagem pudesse curar aquela dor.

— É o período do bebe nascer pai, não dá. – O filho explicava mais uma vez.

— Ok. Tudo bem – Ele sorriu para o Rick – Você tem razão.  Vou ficar com vocês em casa então. Vou tomar um banho agora e tirar essa cara horrível de mim.

— Eu espero aqui então. – Rick olhou para o pai sair correndo para o banheiro e deu um suspiro pensando em tudo o que havia acabado de ocorrer. – “Ele tinha que ver que você não presta mãe, mas não desse modo. ”

Após 15 minutos, Richard saiu do banho com barba feita e limpo.  Seu semblante estava mais revigorado. Graças a conversa com seu filho e os desabafos.

— Tem certeza que não vou incomodar? – Richard perguntou com receio de ser um estorvo para o filho e a nora. Mesmo ambos serem tão amáveis com ele, ele sabia que todo casal precisava de sua privacidade. – Eu não quero voltar para minha casa.

— Pai, você sempre é bem-vindo lá. E eu te entendo.

— Prometo tentar incomodar de menos.

— O senhor nunca incomoda. Cadê a sua mala? – Rick olhou pelo quarto do hotel inteiro. Dando um giro de 360 graus.

— Vim para cá quase sem muita coisa. Só tem essa mala. – Mostrando uma mala de mão masculina pequena em baixo de uma cadeira no chão.

— Tudo bem, lá em casa tem roupas sua. – Ele pegou a mala do pai e caminhou até a porta – vamos lá.

— Obrigado filho, mesmo. – Richard o abraçou de novo e deu batidinhas em suas costas.

— Vai se divertir em casa e se distrair, vai ver.

Ambos os homens foram diretamente para o elevador e Rick pagou a hospedagem na recepção. Quando chegaram em casa foram recepcionados pelas crianças.

— Papai chegou. – Rick entra em casa tirando o casaco e a boina sendo imitado pelo pai.

— VOVÔ. – Alice correu em direção do Richard que de imediato a pegou no colo e a beijou.

— Oi minha gatinha, linda. – Richard abraçou a neta e deu um beijo demorado.

— Eba! – Tom correu em direção até eles e deu um aperto de mão nos dois como um homenzinho e depois os abraçou. Ambos os homens riram do gesto. – Trouxe alguma coisa para comer? – Perguntou o típico esfomeado da casa.

— Thomas! Você vai jantar daqui a pouco, filho – Camille apareceu segurando um conjunto de pijama na mão enquanto uma garotinha espoleta passa voando abraçando as pernas do pai, vestida só com a calcinha de renda.

Camille chegou perto deles sem fôlego, querendo respirar. Ela sempre foi uma ótima corredora, com uma excelente disposição e flexível. Mas a gravidez atrapalhava conseguir dar conta do recado dos seus filhos tão pequenos e cheios de energia.

— Precisando de ajuda? – Rick pega a filha caçula Annie no colo rindo muito. – O que é isso?

— Tá tão boooom assim, papai. – Ela ri com uma carinha sapeca, sabendo que o que está fazendo não é o certo.

— Mas está frio. Aqui em casa está quente, mas não pode ficar andando pelada, princesa.

Camille aproxima e coloca a parte de cima do pijama da filha. Annie puxa para a cabeça passar logo pela gola. Odiava ficar sufocada pelas roupas.

— Minha menina travessa. – Camille a beija no rosto. – Mamãe já não consegue mais ser tão rápida assim. – Ela olha para o sogro sorrindo – Tudo bom, Richard?

— Oi Camille. – Ele sorri de volta.

— Vovô, onde a vovó, Paola? – Alice perguntou olhando para o avô, fazendo carinho no queixo dele.

Richard olha de imediato para o seu filho Rick e ambos trocam olhares cumplices. Como dariam a notícia de que a vovó nunca mais voltaria? Paola não se importava com os netos, assim era o que eles pensavam. Mas eram tão crianças, tão pequenos para passar por aquele sofrimento, não lhe restando outra alternativa se não uma mentira. Era isso que ia contar.

— A vovó está viajando, princesinha. – Sua voz tenta sair o mais natural possível.

— Sem você vovô? – Ela abre a boca surpresa. Richard balança a cabeça confirmando e beijando ela de novo colocando no chão e beijando a Annie.

— Vovô, eu quero montar a arvore de natal hoje à noite, mas eu nunca alcanço a estrelinha. Você me ajuda? – Alice olhou para cima com os olhinhos enormes e azuis, sendo a única a puxar para os homens de olhos cor de oceano da família.

— Ele vai fazer a melhor macarronada, Alice. Sai. Vovô vai ficar comigo. – Tom olhou para a irmã.

— Não, não. Vovô vai ver desenho das princesas comigo e fazendo cafuné. – Brigou a Annie, querendo disputar a atenção.

Richard riu e adorou ver aquela cena e saber que era tão amado pelos netos. Alice a criança mais serena da casa, carinhosa e pensando nos irmãozinhos e nos pais. Tom com seu vigor, bagunceiro, estourado e com um apetite de 10 crianças. Já a Annie era a garotinha ciumenta e que gostava de receber 100 porcento de atenção de todos. Cada um com sua característica, mas que moravam dentro do seu coração e dividiam o mesmo sentimento pelo avô.

— Eu ajudo a Alice com a arvore de natal, faço seu macarrão Tom e vejo desenho com a Annie. Vovô faz tudo pelos pequenos dele. Tudo bem assim? Mas um de cada vez. – Sorriu.

— Não precisa se incomodar, Richard. – Disse Camille – Eu que farei o jantar.

— Você tem que descansar, está gravida. – Ele apertou o nariz da nora como se fosse a filha dele. – Você é muito teimosa, bem que sua mãe disse. Você não para nem na reta final.

— Sabe que eu gosto. Adoro fazer isso para minha família é a forma que demonstro que os amo. – Ela dá uma risada pelo gesto dele em seu nariz.

— Eu quero comer a comida do vovô, ela é gostosa. – Disse Alice. – Eu quero até ajudar ele.

A pequena Alice abraça as pernas do avô e recebe um sorriso dele e de sua mãe.

— Ah, eu vou amar a ajuda dessa linda boneca. Eu vou adorar a ajuda dos três. – Ele vai para a cozinha sendo acompanhado das crianças sumindo pelo corredor da enorme mansão.

Camille desmancha o sorriso e olha diretamente para o marido.

— Aconteceu alguma coisa, não é? Seu pai está muito estranho. Aqueles olhos de quem chorou uma noite inteira. – Sua mão descansou sobre a barriga.

— Nada passa despercebido por você, não é? – Rick olhou a esposa dentro dos olhos – Queria saber como consegue ser tão perspicaz.

— Não sou tão boba assim, Richard! Você está tentando falar com seu pai alguns dias e até a sua mãe sumiu. Puff. Em um passe de mágica. O que está acontecendo?

— A verdade é que meu pai descobriu que a minha mãe estava traindo ele.

 Camille paralisa com a mão ainda sobre a barriga, mas diferente do Rick, sua reação não foi arregalar os olhos ou abrir a boca. Ela apenas parou. Sua mente estava raciocinando ainda o que acabara de escutar.

Ele segura ela delicadamente pelas mãos e a conduz a sala de visita e senta para lhe contar absolutamente tudo.

[...]

Quilômetros de distância dali Paola encontrava-se jogada na cama nua, com suas roupas rasgadas pelo chão e marcas no corpo de quem foi completamente violentada. Ela abraçava seu corpo e encolhida em uma posição fetal como uma criança na barriga da sua mãe. E um sentimento de remorso e raiva estavam presentes.

Mas o sentimento de arrependimento era maior do que a própria raiva dos seus estupradores. Sua mente só estava em um único lugar....

O Passado.

Era onde tudo começou...


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Notas finais do capítulo

Sinto que no fim desse capítulo muita gente vai querer me apedrejar kkkkkkk



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