Cosmos escrita por Sapphire


Capítulo 19
Capítulo 17 - (Parte 1) - Frieza


Notas iniciais do capítulo

Olá.
Estou de volta com mais um capítulo novo. Desculpem a demora. Estava com preguiça. rsrs.


Espero que gostem do capítulo, pq dessa vez nao acho que caprichei tanto .

bjs



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6 Anos - Primavera de 1997

A família Listing na primavera do ano de mil novecentos e noventa e sete já haviam se mudado desde o ultimo acontecimento inesperado no final do ano anterior. Por conta do assalto o perigo se tornou eminente, então se mudaram da cidade de Manchester para o condado de Surrey, lar dos maiores milionários do Reino Unido.

A nova mansão era imponente, sendo muito maior e mais elegante comparada a antiga. Agora situada a sudoeste de Londres, ficando uma hora de distância, uma diferença bastante considerável do que era antes uma viagem de quatro horas de Manchester à capital da Inglaterra.

Tornando até melhor a praticidade de locomoção do trabalho do Richard e um futuro promissor ao Rick, pois agora frequentaria as melhores escolas em Londres.

Mas aquilo não pareceu importar a Paola, que cada dia mais ficava agressiva verbalmente. O acontecimento do assalto já havia se tranquilizado e parecia que nunca existiu. Em poucas semanas o pouco do amor que ela demonstrou naquela noite havia se esfriado.

E como todos os outros dias Richard e ela voltaram a discutir novamente, e dessa vez por uma empregada. Uma decisão que Paola tomou sem consultar seu marido.

— Posso saber porque despediu a babá? – Richard se controlou para não gritar. Ele havia fechado os punhos de raiva e se esforçava agora para não brigar.

Já havia virado costume sua mulher tomar decisões sem a sua autoridade. E aquilo em especifico implicava no bem-estar do seu filho.

— E isso interessa? – Respondeu malcriada de dentro do seu closet que era cinco vezes maior que o anterior.

— Sim. – Richard parou na porta, olhando a Paola vestir uma camisola de cetim vermelha. – Porque não vejo motivos para ter feito isso. É a terceira babá em menos de um ano.

— Ela não sabia fazer o serviço bem. – Ela respondeu virando-se para ele. O belo rosto angelical, não demonstrava nenhum pouco de suavidade em sua expressão ou algum amor por trás do olhar carrancudo.

Estava mais sensual do que nunca. Porem totalmente fria e indiferente como todas as vezes.

— Richard gostava dela e ela estava fazendo um trabalho excelente. E agora ele está chorando no quarto. – O moreno fez uma carranca enrugando a testa.

— Amanhã já vem uma baba nova e vai ser a mesma coisa. É só manha. – Paola falou com desdém não se importando com os sentimentos do filho.

Ela passou pelo Richard espalhando creme pelo braço.

— Não é só manha, são os sentimentos dele. – Richard se virou para acompanhar ela com o olhar – Ele gostava dela, e ela o tratava bem, estava cuidando mais do que bem dele, e isso eu não posso negar.

— Pois eu posso! – Ela olhou bem para ele com uma expressão séria. – E além do mais ela estava fazendo isso meia bêbada.

Os ciúmes pelo filho a atacava de um jeito que até mentiras proferia de sua boca. Não havia se quer filtro para acusar.

— Está bem, se todas são tão ruins assim, eu acho melhor que fique com ele. A babá ia busca-lo amanhã na escola. Mostre seu lado maternal, vá o pegar na escola e cuida dele. – Ele se locomoveu em sua direção dando um beijo no rosto e deitou na cama.

Ela revirou os olhos concordando.

 (...)

Rick estudava na escola tradicional e conceituada Wetherby School. Uma instituição de tanto prestigio que estudavam apenas filhos de ricos e aristocratas. Príncipe Willian e Príncipe Harry mesmo foram alunos da escola em Londres

Os uniformes eram extremamente tradicionais de um lorde inglês. Em tons cinza escuro com gravata e borda do paletó em vermelho e o brasão no peito esquerdo. Bermuda na cor preta e uma boina que fazia parte do guarda roupa da escola.

Era uma escola exclusiva para garotos.

Richard beijou o rosto do filho para se despedir. Sempre que podia antes de ir para o trabalho, ele levava o menino a escola.

— Boa aula meu garoto. Mais tarde a mamãe vem te buscar.

— Ela vai ficar comigo hoje? – Ele perguntou com o olhar triste com saudade da babá.

— Vai sim senhor. – O moreno sorriu afetuosamente passando a mão no cabelo dele.

Rick abriu um sorriso tímido.

— Tá bom papai.

O único problema que Paola não viria buscar o seu filho. Rick esperou sentado no banco do corredor da escola, assistindo seus amigos irem embora um por um com suas babás ou um dos seus pais e ele ficou esquecido ao lado do professor.

Ele desejou no fundo do coração que sua mãe aparecesse no final, mas não foi isso que aconteceu. O professor do colégio ligou para o ramal pessoal do Richard. Este ficando furioso ligando mais de dez vezes para o celular da esposa na qual não respondia.

Ele buscou contato em casa com os empregados que atenderam avisando que a senhora Listing já estava horas fora de casa.

— QUE DROGA, PAOLA! – Ele arremessou o telefone na mesa fazendo um estardalhaço na sua sala, assustando a secretaria do lado de fora.

(...)

Uma hora após o ocorrido, Paola despertava da cama espreguiçando-se.

Lorenzo fumava num canto do quarto observando a sua amante abrir os olhos. Passavam tanto tempo juntos como amantes que pareciam como marido e mulher casados a anos. Pois o tratamento e troca de carinhos eram raros, mas dividiam momentos e ela lhe contava tudo.        

— Você dorme mais do que eu. – Lorenzo falou soltando a fumaça para cima.

Paola lhe devolveu o comentário com um sorriso falso.

— Boa tarde para você também. – Ela estava sonolenta e olhava para os lados em busca do relógio de cabeceira – Que horas são?

— Passa das quatro horas da tarde.

— O QUE? – Ela deu um pulo da cama buscando as roupas para vestir.

— Porque está gritando? – Seus olhos a acompanhavam. – Onde você vai? E a proposito.... Seu celular ficou tocando toda hora. Acho que era ele.

— Era ele. – Pegando o celular para falar com o marido, ela terminou de se vestir.

Porem em frações de segundos sua mente achou melhor não retornar à ligação. E um plano maquinou na sua cabeça rapidamente para se sair daquela situação.

— Porque esse desespero todo? – Lorenzo fincou a testa desconfiado.

— Eu estou atrasada. – Paola pegou a bolsa e beijou o amante jogando a bolsa nele desligando o celular jogando para ele também – Ele vai me matar. Faz o que quiser com tudo que tiver na minha bolsa, vou falar que fui assaltada.

Lorenzo riu. O tempo que passavam juntos já fazia Paola mostrar que filtrava muito da pessoa dele.  Cada dia mais ela se tornava manipuladora e calculista. Ele sabia que ela era a companheira perfeita para ele. Juntos poderiam ir longe.

— Por isso amo essa mulher. Posso atender quando ele ligar? – Um sorriso travesso apareceu.

— Não. – Seus enormes olhos apareceram – Desliga o telefone e vende ele.

— E em quê exatamente você está atrasada? – A curiosidade atingiu Lorenzo.

— Tinha que buscar Richard na escola. Prometi que estaria lá.

Lorenzo no mesmo instante deu uma gargalhada fria, que no fundo não agradou nenhum pouco a Paola, porém não deixou mostrar a sua irritação.

— Esquece isso. Alguém já deve ter buscado o menino.

— Sim, já deve, mas Richard já está nervoso porque eu despedi a babá de novo. Eu vou falar isso e pronto. – Ela o entregou todo o dinheiro para ele na carteira – Eu vou fazer queixa que fui assaltada, então se livra disso tudo logo.

— E eu não ganho nada pelo servicinho?

— Já tem o dinheiro. – Respondeu malcriada.

— Não é esse servicinho, mas também está valendo. – Respondeu diante das libras em suas mãos.

— Você já teve sexo o suficiente por hoje. Pega com o que conseguir com o celular.

Lorenzo a puxou para si lhe dando um beijo de língua. Na sua cabeça Paola já era de sua posse.

— Mais uma coisa... – Ela o alertou terminando o beijo com um selinho. – Eu quero que você me machuque.

O homem a sua frente levantou a sobrancelha confuso.

— Você está falando sério? É só dizer que foi assaltada com uma arma apontada na sua cabeça e pronto. Ele acredita em qualquer coisa, até se você disser que se perdeu seguindo o coelhinho do país das maravilhas.

Ela revirou os olhos.

— Pega logo uma luva e me aperta pelos braços.

— Para que usar luvas? Tem marcas minhas pelo seu corpo todo, não seja ingênua, Paola. Se forem fazer corpo de delito em você, vão me descobrir.

Após colocar a cabeça para pensar, Paola lembrou que as marcas roxas de chupões deixariam seu marido desconfiado. O mais sensato era deixar a agressão para lá.

Lorenzo umedeceu os lábios passado a língua e o polegar junto. Aquele gesto foi logo percebido pela loira.

— Não tenho tempo, mas pode ser para próxima vez?

— Não tem tempo? Você tinha que buscar o moleque que horas? Umas três horas da tarde? Não faço ideia que horas esses pirralhos estudam, mas esquece isso. Do que jeito que está, até parece que se preocupa.

Quanto mais ele falava, mais raiva ela ia ficando.

— Porque não deixamos isso para outra hora? Já durou muito esse assalto, você não acha?

E tirando os brincos, ela jogou na cama e lhe deu um beijo correndo do apartamento. Deixando somente intacto o anel de casamento. E com o pouco dinheiro ela pagou um taxi para lhe deixar em um bairro menos nobre e ligou de um telefone público das cabines tão famosas para o marido tentando fazer sua voz sair tremida de choro.

Richard estava em seu escritório, irritado ao mesmo tempo que tentava se concentrar para trabalhar. O telefonou tocou fazendo a fúria em si subir ainda mais.

— Alô? – Respondeu do outro lado com a voz ríspida.

— Richard. – A voz saíra ofegante e por alguma razão o moreno sentiu a urgência e desespero.

Ele se inclinou melhor em sua poltrona.

— Richard, eu fui assaltada. Preciso de você.

No mesmo instante ele abaixou a guarda esquecendo completamente que estava com raiva da esposa.

— Onde você tá? Eu vou te buscar. – De repente ele levantou de supetão, assustando Rick que brincava em frente a mesa do pai.

— Estou em Coventry, quase duas horas de distância de Londres. Eu estava indo buscar o Rick quando dois homens pararam meu carro e me assaltaram. Eles acabaram de me largar... Richard, eu tô assustada e com medo... –  Soluçava – Eu nunca estive aqui antes, o bairro é horrível.

Com uma destreza, ele vestiu o paletó que estava sobre a cadeira.

— Já estou indo te buscar.

(...)

Com um abraço forte, Richard confortou Paola. Seus olhos fecharam com grande alivio.

— Tudo bem com você? – Ele a fitava com preocupação misturado com culpa por ter odiado a pessoa dela por algumas horas.

Rick olhava pela janela do carro os pais se abraçando logo seu olhar desviando em seguida, preferindo não ver. Ainda estava magoado com a mãe por ter demitido a babá e por ter o esquecido na escola.

Paola encenou um choro, forçando a situação para acreditar que estivesse realmente desesperada.

 - Já passou eu acho. Você mandou buscar ele, não é? – Ela ergueu seus olhos para o marido ainda abraçada a ele, e não havia uma lagrima sequer. – Não queria deixa-lo esperando.

— Mandei, ele estava comigo na empresa. – Richard a acariciava. – Eles não te machucaram..., Machucaram?

— Um pouco. Mas estou bem. – Seus olhos cor de avelã correu em direção ao carro e fitou um Rick de cabeça baixa. – Eu quero pedir desculpas para ele. – Sua mão deslizou para do marido puxando em direção ao filho.

Rick não mostrava interesse em olhar a mãe uma única vez. Ele era um garoto perspicaz e muito inteligente para a idade. E estava magoado porque a mãe o esquecera. Ele voltou para o desenho que rabiscava desde que saíram de Londres para pegar estrada.

— Oi filho, desculpa a mamãe, ela ficou presa aqui nesse bairro e não pôde chegar lá na escola a tempo e....

— Tá bom. – Rick a cortou sem antes terminar a frase.

— Desculpa meu anjo. – Ela abriu a porta de trás e lhe deu um abraço na qual não foi correspondido. Rick deixou ser abraçado sem demonstração qualquer de afeto.

— A mamãe não esqueceu, só não conseguiu chegar a tempo. – Com frieza ela o soltou e olhou para Richard – Eu só consegui salvar a aliança. – Com a mão no bolso ela tirou o anel de diamante colocando no dedo novamente. – Quando eles bateram no vidro e mostraram a arma eu consegui tirar ela escondido.

— Amor, você não deveria arriscar a sua vida por algo tão supérfluo.

— Eu precisava sim, foi o anel que me pediu em casamento. Ele significa muita coisa pra mim. Consegui esconde-lo quando cercaram meu carro. – Ela esticou a mão para o Richard voltando a abraçar o filho. – Se importa se eu ficar no escritório com você?

— Claro que não. Mas precisamos dar queixa na polícia. Precisa contar como foi.

— Eu saí mais cedo e passei em algumas lojas, e depois estava indo buscar o Rick... Não achei que.... Eu fui pega de surpresa.... Eles me ameaçaram de morte se desse queixa, falaram que era uma quadrilha maior e se falasse outros viriam, que me conheciam e conheciam você.... Eu não quero arriscar aquele último evento de novo Richard, você sabe que não.

— Também não quero, mas é o certo a fazer. Eles vão ficar soltos por aí? Quantas pessoas por aí eles podem prejudicar?

— E eu vou arriscar a vida de vocês?

O moreno a conduziu para o banco da frente fechando a porta e dizendo palavras de conforto o tempo inteiro. E sempre que a abraçava um sorriso diabólico surgia em sua face de anjo. Aquele sorriso jamais sairia da mente de Rick.

(...)

 

6 Anos – Verão de 1997

As férias de verão era o período aguardado das crianças, onde viajar com os pais para os lugares maravilhosos sempre voltavam com grandes histórias. Diferente do Rick, que sempre viajava por pouco tempo porque seu pai trabalhava muito e sua mãe nunca o levava para conhecer lugares diferentes em sua companhia.

Nunca o levava nem mesmo para ir a esquina. Paola evitava contatos físicos ou emocionais a todo custo. Nem ao menos tentava.

Era o primeiro dia de férias e Rick estava de cara pintada sem camisa somente com uma calça bege imitando um índio como viu em um filme americano. A sua babá sorriu ao ver o porte magrelo do menino e tão inocente sob aquela fantasia.

No exato momento Paola entrou na sala trajando um vestido branco tubinho elegante, com seu cabelo curto chanel e o batom vermelho destacando nos lábios. Estava impecável e linda como sempre. Era uma mulher fina.

Ela parou diante do espelho jogando a bolsa na poltrona como se checasse a aparência. Iria sair com Lorenzo. Rick aproximou da mãe com curiosidade e bateu com a mão na boca imitando o som do índio correndo em volta dela.

— Onde você vai, mamãe?

Ele dava voltas e mais voltas correndo rápido em círculo, enquanto Paola olhava sua imagem diante do espelho.

— Vou sair. – Respondeu no piloto automático.

— Mas onde?

— Por aí Richard. – Respondeu sem ligar muito para o filho. Como em todas as vezes que ele lhe dirigia a palavra.

— Fica em casa então. A gente brinca de índio, aí eu sou índio que tem que casar com você. – Estava empolgado com a possibilidade de a mãe ficar.

—  Não tenho tempo para brincar Richard. – A voz era de irritação. Odiava quando seu filho começava a perguntar demais ou falar demais.

Não tinha paciência para criança nenhuma.

— Vai mamãe, fica... Não tem graça brincar sozinho.

— A sua babá está aí para isso.

— Mas eu queria que hoje você brincasse comigo. Só você e eu. E ela não é paga para brincar comigo, é só pra cuidar.

Ele continuava a correr em volta da mãe como uma lebre saltitante. Estava elétrico com a animação das férias e com a possibilidade de passar o dia inteiro com a mãe. Porem infelizmente uma felicidade da qual passaria depressa dali em diante em poucos minutos.

— Não vai dar.

Rick parou de correr em volta dela e ficou diante da sua mãe. Seus olhos azuis levantaram para se encontrar com os olhos frios avelã. E por alguns segundos eles se miraram.

 - Só hoje, você me deixa te pintar e colocar um cocar. Você finge que é a minha índia.

— Não Richard, eu estou atrasada e não insista.

— Por favor mamãe. – Suas feições mergulharam em tristezas e desapontamento. Era nítido notar aquilo se a pessoa tivesse no mínimo uma sensibilidade para entender o mundo das crianças, mas não a Paola.

Por seis anos ela errou com seu filho e não possuía nenhum tato maternal para saber quando seu filho precisava dela, quando estava triste ou doente.

Todo este trabalho foi passado para o pai, que já acumulava responsabilidades o suficiente no trabalho para dar o melhor a família. E depois de tudo ainda arrumava tempo para ser bom marido e bom pai.

— Eu já estou indo. – Ela continuava a olhar para a sua imagem no espelho totalmente aérea.

— Não vai. Brinca comigo. – Ele cruzou as mãos em forma de oração.

— Não posso filho. – Suas mãos ágeis ajeitavam os cabelos loiros escuros.

Rick continuava implorando totalmente em vão.

— Richard, eu disse não! – Ela alterou a voz subindo um pouco mais mostrando sua impaciência.

— VOCÊ NUNCA LIGA PRA MIM. – Ele gritou com o rosto ficando vermelho e os olhos queimaram.

Ele se esforçava o máximo em não chorar.

— Eu ligo sim, mas agora não da.

— Não liga não – Os olhos marejaram. – Você só quer saber de fazer compras e quando peço pra ficar comigo você sempre diz não. O papai é o único que liga pra mim. – Sua voz estava embargada e com a tinta vermelha que usara para pintar o rosto Rick jogou em cima dela. – EU TE ODEIO.

Por puro reflexo, Paola pulou para trás, mas não fora ágil suficiente para desviar. Seus olhos varreram pelo vestido branco manchado pela tinta vermelha que escorria.

Rick sustentava um olhar raivoso ao mesmo tempo que era digno de pena se percebido por um adulto sensível.

Por frações de segundo o ambiente entrara em silencio completo antes dela gritar.

— VOCÊ. – Berrou enfurecida avançando em cima do filho e lhe dando um tapa no rosto.

Paola não medira a força com a tamanha raiva que estava sentindo naquele instante esquecendo completamente que lidava com uma criança e sendo essa criança o seu próprio filho.

A babá arregalou os olhos em choque correndo em direção ao menino que começou a chorar ao cair no chão com a força do tapa. Porem Rick foi puxado para longe.

— Você está de castigo. – Berrou puxando a orelha dele e levando para o quarto. – Você fica aí, empregadinha imunda.

— Senhora... – A babá tentava argumentar ao mesmo tempo que não sabia o que fazer.

— CALA A BOCA! – Sem cuidado, Paola agarrou Rick pelo braço e subindo para o quarto do menino ela o jogou se trancando com o seu filho pelo lado de dentro. – OLHA O QUE VOCÊ FEZ!

Rick mirava sua mãe de olhos vermelhos soluçando ainda sem parar de chorar. Ambos tinham no olhar o ódio instalado e era incrível como ele podia parecer fisicamente com o pai, mas o gênio e o olhar eram todos da sua mãe.

— Você vai aprender a me respeitar. – Paola caminhou com fúria até seu filho, fazendo o salto alto bater no chão de madeira com violência e ecoar o barulho no quarto. E sem pensar mais pegou um cinto do closet do menino.

Rick tentou fugir, mas não foi o rápido suficiente para desviar dos golpes que sua mãe lhe infligia.

Ele escondia o rosto e o protegia enquanto seus braços e pernas recebiam os golpes.

 - PA.RA... PA..RA – Gritou desesperado. Ele chorava enquanto berrava para ela parar e os soluços cortavam as palavras.

Paola parou como se soltasse fumaça pelas narinas passando a mão pela testa bagunçando a franja não sabendo mais o que fazer. Pela primeira vez ela olhou com nojo seu único filho.

— Não devia ter concordado com seu pai quando ele disse que queria um filho.

Aquelas palavras atravessaram cortando o coração do menino deixando gravadas permanentemente.

Rick chorava mais do que nunca, no chão do quarto ele estava vermelho e nas suas costas um filete de sangue escorria, fora as marcas de dedos em seu rosto pelo tapa.

— Nunca devia ter aceitado algo que não queria. Foi a pior coisa que me aconteceu.

Rick soluçava quase sem ar e o rosto molhado. Ele tremia por inteiro.

— VOCÊ VAI FICAR AQUI ATÉ EU VOLTAR! – E com aquele ultimato saiu do quarto para trocar de roupa.

Deslizando para desviar da patroa, a babá entrou no quarto e abraçou o menino no colo horrorizada com o que presenciou e viu as marcas deixada pela mãe dele. E se surpreendeu pelo corte nas costas que fizera nele.

— Essa mulher é um monstro. – Rapidamente correu para o banheiro destacando um kit de primeiros socorros e cuidando da ferida do Rick.

Automaticamente ele a agarrou querendo conforto e proteção. As lagrimas molhavam o uniforme da babá.

— Vai passar lindo. – Ela passava a mão pelo corpo dele massageando para aliviar a dor.

De forma hábil ela o levou até a cama e o deitou pegando no telefone ao lado do criado-mudo e ligou para a única pessoa que poderia ajudar e deveria saber do caso.

— Sua mãe não devia ter descontado a raiva dela em você. – Ela passava as mãos pelos cabelos sedosos do menino até uma voz do outro lado atender.

— Richard!

— Senhor Listing? É a Jeniffer. Eu estou ligando por que.... – As palavras morreram naquele exato momento e as lagrimas ameaçaram a sair. – Ai, senhor eu não sei como falar isso.

— Aconteceu algo com meu filho? – Richard levantou da cadeira apreensivo.

— Sim. A sua esposa estava indo sair, e o menino pediu para ela ficar e brincar com ele e.... Ela disse não. Os dois se desentenderam e ela espancou o menino. – A voz quase falhara ao falar a última frase.

De certa forma ela se sentiu culpada pelo o que acontecera. Podia ter se atirado a frente dos dois e impedido, mas não poderia imaginar o que se sucederia.

— ELA FEZ O QUÊ? – Gritou com os olhos arregalando, ao mesmo tempo que o coração disparava.

— Ele está aqui comigo, chorando, cheio de hematomas no corpo e no rosto... Eu já não sei o que fazer senhor Listing. Ele está desesperado.

— Eu estou indo para casa. – Richard deixou tudo para trás sem mais se preocupar com mais nada, apenas preocupado como seu filho estava.

Estava tremulo quando entrou no carro e a respiração falhava com o nervosismo. Era a gota d’agua o que a esposa fizera.

 (...)

— Cadê o meu filho? Onde ele está? – Richard entrou sobressaltado em casa com o rosto cheio de angustia. Suava só de pensar que Rick pudesse estar tão mal a ponto de ter que o levar ao hospital, como se estivesse morrendo.

Uma das empregadas informou que estavam no quarto

Richard subiu de dois em dois degraus apressado e entrou no quarto de uma só vez e a cena cortou seu coração.

A babá estava na cama sentada abraçando Rick que de bruços chorava sobre o travesseiro e ela o acalentava massageando suas costas dizendo palavras doces para anima-lo. E Helga estava próximo a cama e tentava convencer Rick a tomar um copo de água para se acalmar e que estava ali para ele.

Seus olhos inchados olharam rapidamente para ela e voltaram a afundar na cama.

— Meu filho, vem cá o papai está em casa agora, ele vai te proteger.

— Senhor, ele está muito assustado. Tentei de tudo, mas nada faz ele sair da cama ou parar de chorar – Ela girou Rick mostrando a marca nas costas em que fizera o curativo mais o rosto marcado pelo tapa.

Seu sangue ferveu no exato momento que seus olhos varreram o corpo do menino notando quão longe Paola havia ido.

— Não precisa chorar filho.

Parecia que aquelas palavras eram mágicas, porque produziam um efeito contrário. Fazendo-o chorar ainda mais.

Jeniffer aproximou do patrão com cautela sussurrando próxima a ele.

— Ela disse coisas horrorosas ao menino.

— O que ela disse? – Ele a olhou com intensidade quase deixando a moça corar.

— Disse que nunca deveria ter concordado em ter um filho, nunca ter aceitado algo que não queria. Foi horrível ver ela bater nele de cinta depois de ter dado um tapa no rosto dele. Mesmo depois de machucar ele tanto, tanto.... Mandou ficar aqui sem sair do quarto sem nem se importar se ele tava bem.

A voz ainda saia baixo, como se tivesse medo que mais alguém escutasse, sabendo que todos ali presente ouviam muito bem.

Richard só apertava o filho contra ele dizendo: eu te amo, eu te amo, eu te amo.

E pela primeira vez após um longo tempo se ouviu a voz do menino aparecer no comôdo.

— Mas ela não me ama, papai. – A voz estava rouca e chorosa.

— Eu tenho certeza que sim, ela só estava nervosa – Richard mesmo queria acreditar naquilo, mas cada dia mais era difícil.

— Pai – Rick se afastou do afago do mais velho e olhou para o moreno a sua frente. – Eu nunca fui desejado?

— Claro que foi filhão. Você é um sonho que virou realidade. – Ele segurou o rostinho do filho entre as mãos com o coração diminuindo e apertando cada vez mais.

— Então porque ela disse que nunca deveria ter nascido? Papai eu não quero ficar aqui, eu quero ir morar em outra casa, só com você.

Aquele pedido pegara o mais velho de surpresa. Rick sempre pareceu amar tanto a mãe. Parecia sempre chamar a atenção dela para ganhar um beijo, um abraço ou um pouco mais da sua presença. Aquilo despertara em si para real situação das coisas.

— Eu vou falar com sua mãe quando ela chegar. Eu não gostei do que ela fez também, mas fica calmo antes.

— Não papai, não faz isso, por favor – Ele ameaçou chorar.

No exato momento Helga que estivera ali presente em silencio se manifestou, achando que fosse o momento ideal para falar.

— Se me permite dar um conselho Senhor... – Richard acenou para prosseguir – Poderia levar o menino para passar as férias na Alemanha com os tios. Um pouco de ar puro fará bem a ele.

O patrão sorriu diante a ideia.

— O que acha disso filho? Quer isso?

O olhar ia do pai a governanta.

— Eu posso? – Ele limpou rapidamente os olhos com as mãos de qualquer jeito.

— Se você quiser sim, mas o papai não pode tirar férias. Posso te levar e deixar com os titios e depois voltaria para casa. Você aceita?

— Quero. Pode ser hoje?

Richard sorriu novamente acenando com a cabeça.

— Pode sim. – O moreno levantou olhando a babá. – Poderia nos acompanhar? Gostaria que ficasse com ele lá. Prometo uma boa quantia por essas horas extras. Terá uma boa bonificação.

— Tudo bem senhor Listing. – Concordou fazendo carinho na cabeça do menino.

Jeniffer mais do que nunca sabia que Rick poderia precisar da presença dela ali. E o patrão precisava de alguém que confiasse.

— Vou arrumar as malas do menino Rick – A governanta tomou a frente tirando as malas colocando sobre a cama arrumando depressa.

— Vou descer agora e ligar para meus tios e avisar que estamos a caminho – Richard cruzou a porta saindo do quarto.

 (...)

Algumas horas mais tarde Richard e Rick junto a babá desembarcavam no aeroporto de Munique. Um grande fluxo de pessoas passava por ali, e Albert e Esther estavam ansiosos esperando no desembarque pelos sobrinhos.

Tudo foi feito de ultima instancia. Até mesmo Richard estava ansioso para abraçar a tia e pela primeira vez após anos de casamento ele sentiu a necessidade de correr para os braços de uma mulher que não fosse a esposa e ouvir palavras de conforto como antigamente quando chorava.

Mal Rick avistou os tios e correu ao encontro deles sorrindo. E foi recebido de braços abertos para o colo da tia.

— Meu amor. Que saudade. – Disse Esther sorridente o abraçando.

Rick gemeu com dor fazendo a tia levantar a sobrancelha com desconfiança.

— Eu quero um abraço também. – Albert bagunçou os cabelos do menino.

— Tá bom, mas abraça de vagar titio. – Ele caminhou em direção ao mais velho dando um abraço amigável. – Vou ficar bastante tempo aqui.

— O tempo que quiser ficar, meu anjo – Esther beijou a face dele acariciando a bochecha em seguida.

Richard apareceu logo atrás arrastando as malas. Se segurou ao máximo para não mostrar em seu olhar que estava muito triste, mas   a cara estava abatida. Mais pálido que o normal.

Ele soltou as malas e de um abraço forte nas pessoas que mais confiava nessa vida e que lhe ensinou amar da forma mais intensa.

— Já não era sem tempo deixar o menino nos visitar. – Seu olhar foi do sobrinho para o sobrinho neto - O que foi isso aqui nele? – Esther mirou as marcas de dedos.

— Agora não, tia – Richard estava com o olhar cansado quando percebeu o que ela iria dizer.

— Ela bateu nele, não foi? – Sua voz subiu chamando atenção de outras pessoas ao redor.

— Eu estou arrasado com isso. Não vamos falar disso agora... Dessa vez Paola passou dos limites.

Rick abaixou os olhos para o sapato como se fossem a coisa mais interessante do mundo.

— Covarde! – Esther se alterou interrompendo o sobrinho, não querendo saber que ele estivesse pedindo para não falar sobre o assunto.

— Tia, por favor... – Ele passou a mão pelo pescoço fechando os olhos suplicando com seus gestos para não entrar a fundo daquele assunto.

Ambos estavam tão distraídos pensando se discutiriam ou não que não observaram quando mais uma presença chegou próximo a eles.

— E quem é esta? – Albert sorriu com as mãos em seu paletó tirando um relógio de bolso.

— Ah, desculpem. Com isso tudo acabei esquecendo. Essa é a Jeniffer, é a nova babá do Rick e ficará com vocês e com ele durante o tempo. Ele gosta muito dela e quis que viesse.

— OUTRA BABÁ? – Esther se alterou. – Para que serve sua mulher? Paola é enfeite?

Jeniffer foi invadida por um grande desejo de rir, mas se segurou ao máximo em frente do patrão. Sabia seus limites. Ele podia ser um bom chefe, mas não abusaria. Além que sentia uma forte atração por ele.

— Esther vai com calma, aposto que o Richard tem uma boa explicação. – Albert dizendo aquilo, olhou para o Richard – Não tem?

— Paola tem medo de ficar sozinha com ele desde que ele virou talco nos olhos quando ainda era bebê e ela não conseguiu impedir. Além que também não gosta de brincar.

— Que mulher foi arrumar, para mim isso é desculpa para não ficar com o menino. – Esther fez um gesto com as mãos como se estivesse espantando uma mosca.

— Gostaria que não falasse dela dessa forma. – Richard pediu.

— Diferente dela eu vou cuidar bem dele e não é querer fazer desfeita da moça que não tem culpa, mas não precisava trazer babá. – Esther continuou a falar como se não tivesse sido interrompida.

— Rick quer ela aqui, eles são amigos e ele gosta muito dela, por favor deixe-a fazer o trabalho dela. – Richard tratou de se explicar.

— Sim eu deixarei, mas só quis deixar isso claro. E não gosto da sua mulher.  

Tia e sobrinhos se encararam por um tempo até acordaram com a vozinha infantil.

— Nós vamos ficar aqui? – Perguntou Rick um pouco impaciente para ir logo a fazenda.

— Já estamos indo para casa, querido. – disse Esther.

— Eu tenho que voltar. – Richard ajeitou a jaqueta de couro.

— Já? – perguntou Albert.

— Eu adoraria ficar, tio. Mas tenho a empresa lá para tocar. Afinal, eu larguei tudo para trazer o Rick aqui. E amanhã tenho trabalho.

— Poderia nos visitar. – Albert sugeriu – Rick ia amar ficar com você lá, e nós também.

— Na próxima semana na sexta à noite eu venho e fico com vocês o fim de semana. – Prometeu sorrindo de forma triste e com pesar ele abaixou na direção do Rick – Bom filhão o papai está indo, mas deixa você em boas mãos. Vai se divertir muito aqui.

Ele abraçou o pai com força em torno do seu pescoço.

— Pai você é o cara mais legal que eu conheço. Eu te amo.

Aquela declaração fez o coração do moreno aquecer. Jamais conseguiu imaginar amar tanto uma pessoa como aquela coisinha pequena a sua frente. Capaz de fazer tudo por ele.

— E você é o menino mais forte que eu conheço. Eu te amo muitíssimo. E sou muito feliz por ser seu pai. Vou ligar todos os dias. – Deu três beijos no rosto dele.

— Uma hora no telefone. – Rick respondeu.

— Até duas, para me manter a par de tudo. – Richard riu. – Vou sentir saudades de te abraçar todos os dias. – Olhando o filho admirado e dando um beijo na bochecha dele uma última vez - E se alguém mexer com você e você não gostar, me liga.

— Quero saber quem seria esse alguém – A voz ríspida da Esther soou – Parece que não confia que vamos cuidar dele.

— É claro que sim tia.  – Ele sorriu com bondade.

Girando nos calcanhares ele se foi voltando ao seu jatinho particular e pensando que teria uma conversa muita séria com a Paola.


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Notas finais do capítulo

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