Cosmos escrita por Sapphire


Capítulo 16
Capítulo 15 - Trégua para o amor


Notas iniciais do capítulo

Bom, primeiramente quero dizer a todas as pessoas que acompanham a história que tem capa nova da Cosmos. *.* E Acho que agora estou satisfeita com o resultado dessa ultima que fiz.

Segue link: https://fanfiction.com.br/historia/696582/Cosmos/

Agradecer a todas que deixaram seu comentário no cap anterior, vocês são demais ♥ Vocês que me ajudam a seguir em frente. Porque todo dia estou com preguiça para escrever. Dá trabalho demais editar e revisar o capítulo, portanto se tiver algum erro ou coisa parecida eu estava com uma tonelada de preguiça e já quero me desculpar antecipadamente pois ja reli alguns capitulos e ja encontrei erros e alguns furos. Quero deixar avisado aqui que em a London Eye foi inaugurada em 2000. Para quem nao sabe a london eyes é a roda gigante que fica no centro de Londres. E como Richard e Paola se conheceram em 1989 eles nunca chegaram a andar nela, Foi uma distração minha e eu já consertei isso no capitulo 10 - Parque de Diversão. Sorry.
Quero fazer perfeito para vocês, mas essa merda de preguiça não deixa. Ai acabo fazendo nas pressas e enrolo demais e sai essas bostas ai.

Espero que gostem do Rick. Esse filhote da Paola é uma delicia de menino. Sério ♥

AAAh e por ultimo não menos importante. Vou tentar não escrever nada tão grande. NA vdd cap grande é o maior motivo para eu enrolar tanto a escrever e ter preguiça. É muita coisa. Já to vendo onde vou dividir o próximo pq já não quero fazer dessa forma. Cansa demais e consequentemente eu demoro mais a postar.
Bom, acho que era isso Espero que gostem :*
P.S: tenho prova em Dezembro, portanto terei q estudar esse mês todo pra conseguir meu certificado. :’( Falei q ia demorar no ultimo cap pq eu ia viajar e viajei. Fui pra Oktoberfest *.* Eu e meu amigo. Adorei conhecer SC. Só loiro bonito ♥ me quebra. Enfim... voltei da viagem e enrolei pra caramba.
Mil perdoes.
Desfrutem da leitura.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/696582/chapter/16

3 Anos – Verão de 1995.

O tempo passou depressa como um abrir e fechar de olhos. A mansão Listing enchia de vida com as brincadeiras e gritos que a única criança da casa proporcionava. Rick era a alegria desde o seu pai até aos empregados.

Cada momento era registrado com vídeos e fotos que ficavam pela casa espalhados. E cada dia que esse amor ia crescendo, o coração de Paola ia diminuindo se tornando frio começando com a ponta de um iceberg.

O pequeno Rick agora estava com três anos de idade e corria para fugir de um banho do seu pai que o perseguia pela casa como um ritual de todos os finais de semana.

— Richard! – O mais velho ria chamando pelo garotinho ao mesmo tempo que se divertia também. – Volta aqui filho. Você tem que tomar banho.

Rick gritava pela casa adorando aquela perseguição. Não é que ele odiasse tomar banho, mas ele amava brincar com pai e para um menino saudável e cheio de energia, qualquer perseguição virava brincadeira. Era quase um pega-pega antes da obrigação.

Paola que acabara de voltar para casa, saiu do quarto extremamente raivosa com a barulheira de sempre. Ela passou odiar cada grito e brincadeira que seu filho dava ou aprendia. Ou pelo menos acreditava que odiava.

Do alto da escada ela olhou para a correria do andar de baixo onde passos ecoavam pelo piso de mármore sustentando uma carranca.

— RICHARD! – Chamou pelo seu filho. – VAI TOMAR BANHO! – Paola gritou vendo ele passar correndo e em seguida fuzilou o marido. – Você não consegue segurar um garoto de três anos, Richard? Você está se tornando fraco.

— A gente só está brincando amor. – Ele riu agarrando o filho de costas. – PEGUEI!

Rick gritou ao sentir as mãos dos pais em volta dele e riu mostrando seus dentinhos separado de leite, um gesto que fez Richard querer morder seu filho por ser tão lindo e fofo.

Cada dia mais Rick crescia igual a ele. Os cabelos agora mais escuros e os olhos azuis tão cheios de vida que quase podia sentir estar olhando para o céu em um dia ensolarado e contrastava com o leve furinho no queixo. E os dentes de leite que dava o ar de inocência. Cada vez que sorria fazia o parecer um mini Richard.

— Então parem com essa gritaria, minha cabeça está doendo. – Ela apoiou as mãos no corrimão olhando bem para os dois com as feições nada amigáveis.

— Shiuuu... – Richard colocou o dedo indicador em frente aos lábios. – Mamãe está com dor de cabeça. Não podemos gritar.

— Ah papai. – Ele abraçou o pescoço do pai. – Não quero.

A carinha que fez faria qualquer adulto sentir pena. Menos sua própria mãe, que balançou a cabeça indignada e nervosa batendo as mãos no corrimão.

— Você não tem querer!

Aquelas palavras fizeram o pequeno olhar para sua mãe. Ela o encarou com a mesma profundidade que seu filho a olhava, mas com frieza.

— Então... – Ele colocou o dedinho na boca pensativo. – A mamãe pode me dar banho.

— Estou com dor de cabeça. E não quero me molhar. – Suas palavras saíram frias.

— Mas mamãe. Você disse qu...

O menino parecia querer argumentar, mas foi cortado antes mesmo de terminar a frase.

— Não quero saber o que eu disse. – Ela caminhou com a pose firme em direção ao quarto dando pouca importância aos dois. – Não façam barulho, vocês estão insuportáveis!

Com um descaso e enorme dureza, Paola bateu a porta com força ao ir para o quarto. Rick se assustou olhando na direção da qual a mãe desapareceu. Todos os dias eram iguais.

Paola jamais dava banho no filho ou comida. Nunca participava das brincadeiras sempre prometendo que faria isso no dia seguinte, mas nunca cumprindo com a sua promessa. O que magoava o coração da pobre criança que só queria um calor maternal.

— Tudo bem. A mamãe só não está se sentindo bem. – Richard beijou o filho com doçura, acalmando-o – Vamos tomar banho?

— A mamãe tá passando mal?

Embora Paola não o beijasse com frequência, amasse Rick ou tivesse aquela dedicação materna. Ele adorava a mãe.

— Está um pouco, filho. Ela está dodói. – Richard subiu as escadas com o pequeno agarrado no colo.

— Dodói do que?

— A cabeça da mamãe está doendo e ela quer dormir para a dor passar. – Respondeu com toda a calma de um pai levando seu filho em direção ao banheiro do quarto e enchendo a banheira. – Vamos tirar a roupa.

Com toda tranquilidade Rick levantou os bracinhos para o pai tirar sua vestimenta. Ele era frágil e pequeno. Ainda que fosse alto para a idade, ele era somente uma criança que necessitava de cuidado.

— Tem que passar remédio né, papai? – Perguntou assim que a blusa passou pela cabeça bagunçando o cabelo.

— Isso mesmo. Mas a mamãe já tomou remédio.  – Respondeu jogando a roupa no cesto.

— Tem que tomar também? – Ele olhou para o pai erguendo a cabeça confuso.

— É que remédio para dor de cabeça não se passa. Tem que tomar.

— Mas quando meu joelho tá dodói você passa remédio papai.

— Richard, é que quando você se machuca a sua pele corta e precisa passar remédio para ficar bom e da mamãe ela não machucou em lugar nenhum, só está doendo a cabeça dela.

Rick sentou na beirada da banheira balançando as pernas colocando as mãos no joelho.

— Ela bateu? – Ele prestava atenção em seu pai se movendo de um lado para o outro jogando sais e preparando o banho deixando a toalha próxima com o xampu.

— Não filho. As vezes dói a cabeça da gente sem motivo.

— Eu não quero que a minha cabeça dodói – Ele segurou a cabeça assustado de olhos arregalados.

— Não vai. Isso é estresse de gente grande.

— Eu não quero ficar gente grande. Gente grande sente dor em tudo!

Aquela frase inocente, não poderia dar ao Richard uma outra reação se não rir discretamente do filho.

— Isso porque vamos ficando mais velho e mais fraco. Mas para você isso vai demorar acontecer. – Ele bagunçou o cabelo do filho o colocando na banheira.

Com patinhos de borrachas e navios de plásticos Rick logo começou a brincar, mas jamais deixando de fazer perguntas. O mundo era uma grande aventura e ele um cavalheiro a desbravar novos caminhos. As perguntas e curiosidades que faziam parte na vida de qualquer criança que estava aprendendo tudo a sua volta.

Richard enrolou as mangas da camisa até o cotovelo molhando a cabeça do filho o observando.

— E se não demorar? – As perguntas não paravam.

— Vai demorar. Para o papai demorou.

— Demorou quanto papai?

— Bastante tempo. – Sorriu pegando o xampu do filho – Você nem precisa se preocupar com isso agora.

— Papai. Como eu sei que eu já cresci?

— Quando você ficar mais alto que o papai.

— Eu vou ficar mais alto que você? – Arregalou os olhinhos azuis jogando a cabeça para trás e fitar o pai.

— Vai sim. Mais alto, mais forte...

— Mas você é muito forte papai. Você consegue me carregar – Com seus braços pequenos ele abraçou a perna do Richard tentando levantar sem sucesso – Eu não.

O pai riu pelas calças molhadas.

— Mas um dia você vai. Papai também já foi pequenininho assim que nem você.

— Você conseguia levantar seu papai? – Por breves segundos ele pensou e lembrou que nunca viu seu avô ou avó. – Você tem papai?

 - Não filho. Eu não tenho. – O olhar do Richard ficou distante como se viajasse para outro lugar.

Por muitos anos se pegava pensando nos seus pais, como seria ter eles por perto e dividir cada momento da sua vida e com aquela pergunta do seu único filho, fizera sentir todas as emoções de novo.

— Mas porquê, papai?

As perguntas pareciam que não haveriam fim. Richard ficou em silencio por um momento rápido, em um conflito com sua mente se deveria dizer a verdade ou não. Quando se tratava de um menino de três anos que acreditava em castelos e cavalheiros; princesas e dragões a morte não era uma aventura a se explorar.

Ainda assim a verdade era o melhor caminho para determinadas situações.

Ele lavava o cabelo do filho ainda em devaneio sem perceber que Rick o observava.

— O pai do papai morreu há muito tempo.

— O que é morreu?

— Morrer? Bem.... É quando uma pessoa dorme.... Dorme e nunca mais acorda. Ela dorme para sempre.

Dizendo isso, suspirou.

— Quando morrer a gente não pode mais ficar com a família?

— Nunca mais. E o papai nunca chegou a conhecer o pai dele e nem a mamãe. Porque eles morreram quando eu era um bebe.

— Porque eles não quiseram acordar mais papai? – Ele voltou a atenção ao barquinho azul.

— Porque eles se machucaram. Tiveram um machucado muito feio que fez eles nunca mais acordarem. – Respondeu lavando o cabelo dele com xampu.

— Onde foi o dodói deles?

— No corpo todo.

— Por que? – Seu cabelo escuro ficou escondido pela espuma do produto deixando um aroma de melancia.

— Ah filho o papai não sabe como eles se machucaram. – Mentiu – Eu era muito pequeno.

Aquele assunto estava se tornando desagradável. Mas Richard mal sabia como encerrar sem magoar o filho. A hora do banho passou tranquilamente até vir a próxima pergunta.

— Quem te contou que eles morreram?

— O papai tem um tio e uma tia que cuidou dele até ele ficar grandinho para entender que não tinha mais papai e nem mamãe.

— Eu tenho uma tia e um tio?

— Tem filho – Pegou a toalha azul bordada em dourado com o nome do filho. – E você já viu eles, mas não lembra que era muito pequenininho.

— Onde eles moram agora?

— Na Alemanha. – Enxugou os cabelos do menino assanhando eles deixando para cima.

— Onde é a Alemanha? – Ele empurrou a mão do pai para sair do sufoco.

— Muito longe daqui, em um outro país. Papai te leva um dia lá.

— Que dia? Amanha? Que dia é um dia?

Richard riu com tantas perguntas. Curiosidade fazia parte do aprendizado. Mas como pai de primeira viagem ele admirava em como o filho queria saber de tudo e aprender tudo. Sem seu ponto de vista era algo bom.

— Não sei, filho. Vamos ver...

— Tá bom paizinho.

— Papai adora quando você fala assim.

— Papaizinho?

— É.... – Ele enrolou o menino na toalha levando para o closet e se vestir. Rick ficou em pé em cima de um puff encarando seu pai com toda ingenuidade que uma criança carrega em seu olhar.

— Vou te chamar assim papai.

— O papai vai adorar, filhote. – Ele virou de costa buscando uma roupa adequada para o clima.

— Não é papai mais.... É paizinho e filhote.

— Me chama de paizinho e eu te chamo de filhote.

Com o maior sorriso do mundo ele voltou com uma blusa de frio de cacharréu, uma bermuda azul, meias e uma sandália de fecho muito usado pelo príncipe Willian e Harry naquela idade. O filho parecia uma mini cópia da realeza. No que dizia moda, Paola acertava sempre nas roupas para o Rick

Ela deixou de comprar muitas coisas para o menino, mas Richard sempre lhe pedia ajuda quando se tratava da vestimenta.

Rapidamente e com uma ótima destreza o pequeno Rick estava vestido, com cabelo penteado e pronto para o jantar.

— Você vai dormir comigo, papai?

— Melhor que isso. Você vai dormir comigo e a mamãe depois.

— Com os dois? – Arregalou os olhos espantado.

Ele jamais dormia com os pais, porque a mãe sempre implicava com ele. Paola era a típica mulher que de homem rico e fresca. Queria respeito de todos e silencio na casa. Principalmente no seu quarto quando voltava cansada ou bêbada.

— Com nós dois – Sorriu lhe dando um beijo.

— LEGAL! – Com um super pulo, ele caiu como um gatinho sentado no chão.

— Agora vem comer. – Seu pai ofereceu a mão que prontamente foi aceita.

— O que eu vou comer?

— O que você quer comer hoje, filhote? – Ele agachou diante do menino para ficarem na mesma altura, fazendo o filho pensar antes de responder.

— Batata.

— Hum, batata... – Pensou antes de lhe responder. – Está bem. Vamos ver se fizeram batata com carne.

— Mas muita batata e carninha.

Richard o pegou no colo descendo para a sala de jantar. Ele ficava orgulhoso em como o filho tinha bom apetite, comia de tudo e crescia de forma rápida e saudável.

Os dois acabaram por jantar sozinho. Paola continuava a dormir no quarto e levantaria somente no dia seguinte.

Quando o sol se pôs no horizonte tanto pai quanto ao filho se preparavam para se recolher e dormir. Depois de ter ajudado ao filho a escovar os dentes, juntos entraram no quarto prontos para deitar.

— Shiuuu, a mamãe está dormindo, não pode fazer barulho, ok? – Seu tom de voz era baixo.

Rick olhou para o lado e viu que sua mãe dormia profundamente com a máscara nos olhos.

Era de praxe aquela sua aparência. Uma camisola de cetim sensual onde evidenciava suas curvas e os seios volumosos que aumentaram de tamanho após o nascimento do Rick. Cabelos soltos sobre os travesseiros e uma máscara que protegia seus olhos contra a luz.

Para o Richard era quase uma tortura. Tantas vezes tinha vontade de agarrar a esposa com aquelas posições onde o lençol não cobria suas pernas e muitas vezes via sua lingerie. Mas ela sempre o bloqueava com a desculpa de que estava com dor de cabeça ou exausta.

— Pode falar assim? – Sua voz saiu quase inaudível.

— Pode.

Rick caminhou até a cama dos pais se esticando para subir. Richard o ajudou a sentar ao lado da esposa com todo cuidado para a mesma não despertar. Mesmo que tivesse um sono pesado, parecia que sua audição era incrivelmente sensível quando se tratava do Rick.

Talvez fosse um tipo de instinto maternal que todas as mulheres adquiriam quando se tornavam mães para ouvir qualquer ruído e suprir a necessidade da sua prole.

— Fica quietinho para o papai trocar de roupa.

— Tá bom papaizinho – Ele engatinhou até a mãe e levantou a máscara dela com cuidado. – Papai, porque ela usa isso?

— O quê? – Olhou. – Filho não mexe. Sua mãe pode acordar.

 - Como a gente sabe que ela tá acordada?

— Quando ela abrir os olhos. – Explicou de costas colocando uma camiseta branca.

— Mas como a gente vê se a mamãe esconde?

Richard saiu do closet e apagou o abajur ao lado dele da cabeceira da cama.

— Quando ela se levantar. Agora chega de perguntas que está na hora de dormir. Amanhã o papai responde as outra. – Lhe deu um beijo de boa noite e outro na esposa.

Paola se mexeu, mas não acordou. Como se estivesse sonhando, sua boca repuxou em um leve sorriso.

— Boa noite papai, boa noite mamãe.

Rick sussurrou com todo cuidado e depositou um beijo molhado na bochecha de cada um se aconchegando bem no meio.

Na madrugada, o pequeno Rick acordou e olhou a cama vazia ao seu lado na qual pertencia ao pai. Com um desespero tomando conta, ele bateu a mãozinha na mãe debruçando sobre ela para acordar.

Paola acordou assustada e arrancou com impetuosidade a máscara que cobria seus olhos.

— O QUE É ISSO? – Gritou com fúria. – RICHARD PORQUE ME ACORDOU?

Como uma reação de autodefesa ele se encolheu na cama assustado e os ombros salientaram. Com os olhos marejados, e a curiosidade que não se aguentava dentro dele como toda criança, perguntou:

— Mamãe, cadê o papai?

Antes que ela pudesse responder ele aos berros, Richard saiu do banheiro rapidamente já sabendo o que deve ter acontecido. Só havia uma pessoa no mundo todo que podia tirar a paciência da esposa.

— O que aconteceu? – Perguntou olhando os dois.

— ELE PULOU EM CIMA DE MIM! – Vociferou.

— E precisa gritar por isso? – A pergunta saiu com a voz branda.

Naquela altura os olhos do Rick se encheram de lagrimas. Na sua cabeça, ele não entendia o que fazia de errado para a mãe sempre gritar com ele ou se ela o odiava.

— Eu disse para você não acordar sua mãe. – Ele olhou o filho e notou que ele estava quase chorando. Automaticamente sua expressão se suavizou. – O que foi meu garoto?

— Eu queria saber onde você tava e queria saber se ela não tava dormindo para sempre. – Uma lagrima escapou.

— Que palhaçada é essa de dormir para sempre, Richard? Ninguém dorme para sempre! – Estava zangada porque foi acordada e estava zangada porque não queria fazer ele chorar.

— Mas o papaizinho disse qu...

Assim que Rick ia explicar, Paola fuzilou os dois com o olhar e Richard o cortou antes que começasse a voar faíscas.

— Shiuuu – Segurou o filho no colo e o abraçou – Vamos tomar um copo de leite.

— Mas papaizinho, eu não quero que vocês durmam para sempre. Eu gosto daqui e eu não quero ir morar com meus tios na Alemanha porque seus papais dormiram para sempre.

Sob o olhar de fúria da esposa, Richard tratou de sair logo do quarto.

— O papai não vai dormir para sempre. Não são todos que dormem assim. – Mentiu para tranquilizar o coração do filho.

— Então porque uns dormem e outros não?

— Lembra do machucado que o papai falou? Então... Nem todos se machucam assim filhote.

Com uma calma sem precedente, explicou de forma clara e sem trauma para que aquilo não ficasse na cabeça do filho de forma assustadora.

Caminhando calmamente pelo corredor, Richard entrou na cozinha colocando o filho sentado em cima da bancada.

A cozinha era enorme da mansão dos Listing. Os moveis eram planejados com madeira de cerejeira com balcões e armários embutidos nos quatro cantos do ambiente. Geladeira e fornos sendo os mais modernos da época e uma ilha bem no centro com cadeiras altas e uma mesa redonda próxima a janela onde dava acesso ao fundo da casa.

— Promete que não vai se machucar assim paizinho?

— Prometo filhote. Vou estar sempre aqui com você. – Richard virou de costas pegando o copo no armário e rapidamente colocou o leite para esquentar.

— A mamãe também promete?

Rick estava com muito medo de perder qualquer um dos pais. Até quem nem ao menos lhe dava atenção.

— Ela também promete. Agora não pensa mais nisso. Richard voltou a pegar o filho no colo fazendo o mesmo deitar a cabeça em seu ombro e se acalmar. Não demorou muito para o pequeno voltar a dormir assim que terminou de tomar seu leite.

 

 

Rick foi o primeiro a acordar na manhã seguinte. Com uma enorme disposição começou a pular na cama. A energia estava carregada e pronta para ser gasta no decorrer do dia.

— Acorda papai, acorda mamãe. Já tá de manhã. PARQUEEEE.

Richard acordou esboçando um enorme sorriso sem abrir os olhos. Respirou fundo para poder mirar seu filho. Rick continuava a pular com muita disposição.

— Bom dia campeão. – Cumprimentou sentando na cama lhe dando um beijo.

— Mas que coisa, não se pode dormir mais não? – Paola arrancou com ódio a mascará mirando o filho.

— Já tá de dia mamãe.

— E eu estou com sono porque não dormi de noite porque ALGUÉM me acordou. – Ela jogou a máscara no chão.

Na mesma hora Rick caiu sentado na cama e deu um beijo na mãe. Ela fazia carinho no rosto dela ignorando os chiliques que eram de rotina.

— Vai mamãe. Levanta.

— Não Richard, vai brincar com seu pai.

Mesmo não demonstrando, ela havia gostado da demonstração de afeto.

— Mamãe você disse que ia no parquinho comigo e com o paizinho.

— Paola... Não tem como ir hoje com a gente? Não precisa ficar muito tempo lá. Só para o Rick brincar um pouquinho.

— Richard, eu estou cansada e com sono. – Protestou.

— Mas é só hoje amor, faz um esforço para o seu filho. Ele está te pedindo. – Depositou um beijo na bochecha dela. – Por favor.

— Pô favor mamãe. – Ele agarrou em volta do seu pescoço depositando vários beijos.

Ela o abraçou de leve se rendendo pelo pedido.

— Eu vou, fico uma hora e vocês me deixam em paz o resto do dia. – Apontou o dedo para os dois.

— ÊÊÊÊBAAAA. – Rick comemorou levantando os bracinhos.

— Vamos dar muitos beijinhos na mamãe. – Richard incentivou e ambos caíram em cima da Paola.

Foi uma chuva de beijos e abraços. Rick pulou em cima da mãe ficando deitado nela apertando forte. Poucos momentos ele podia desfrutar daquele contato e quando conseguia ele queria aproveitar o máximo e sentir o cheiro doce que vinha do perfume dela.

— Ok, Ok. Já chega! – Ela os afastou delicadamente, amando o contato, mas jamais admitindo.

— Porque a mamãe não gosta quando a gente dá beijinho?

— Não gosto dessa melação dos dois.

— Então a mamãe dá beijo?

Com a cara de poucos amigos ela depositou um beijo de qualquer jeito nele e levantou da cama dando as costas ao entrar no closet.

— Não precisa ser agressiva. – Richard chamou a atenção.

— Eu não fui e para de encher o saco.

— Mamãe. Parou de doer sua cabeça?

— Não, piorou!

— Porquê?

—Porque eu não pude ter uma noite de sono decente! – Bufou puxando a franja para trás impaciente porque sabia como o filho era quando se tratava de perguntas.

— O que é decente, mamãe?

— O menino só acordou uma vez, querida.

— Richard quer calar a boca? – Respondeu malcriada tirando um vestido da arara e colocando em frente ao corpo se olhando no espelho.

— Porquê? – Ambos perguntaram em uníssimo.

— Vocês estão piorando minha dor de cabeça, vocês não têm consideração nenhuma.

— O que é consideração? – Rick pulou da cama se aproximando dela colocando as mãozinhas na perna da mãe.

— Deixa Paola. Não precisa ir, eu levo ele sozinho. Volta a deitar e descansa bem. Vem filho.... Vamos trocar de roupa.

Rick acompanhou o pai cambaleante.

Paola olhou a roupa mais adequada para o amante e para o parque teimando em ir mesmo que o Richard tivesse dito que não precisaria. Tomou um banho se maquiou e usou um vestido vermelho de alcinha onde não combinava em nada para onde iriam passar a manhã.

A única importância era passar o dia fazendo sexo com Lorenzo, bebendo e talvez jantar fora de casa. Voltaria tarde e dormiria até mais tarde no dia seguinte. Tudo isso para não ficar na presença da família, o medo de uma possível recaída, ou pior, de ficar no mesmo ambiente fazendo a megera da vez.

Ela se olhou no espelho virando de costas e inclinando a cabeça para ver como a peça ficara atrás. Estava linda e sexy. Não era a roupa ideal para um passeio de final de semana com a família, mas porque o objetivo do dia não era aquele.

Pegou a bolsa em cima da poltrona onde sempre deixava e desceu para tomar o café, onde encontrou o filho sentado quase desaparecendo atrás da mesa que ficava próximo a janela que dava aos fundos da casa, comendo uma fruta e bebendo suco.

— Estou pronta. – Surgiu diante deles na cozinha.

— Mamãe você tá bonita. – Comentou mastigando a maçã com as bochechas inflando.

— A mamãe está linda né, filhote? – Richard sorriu abobalhado para a esposa e bagunçou o cabelo do filho voltando a cortar maçã para ele.

Paola mal notara o olhar, fazia um tempo que não se dava mais conta em como o marido ficava em sua presença.

— Não terminaram de comer até agora? – Perguntou pegando a maça da mão do Richard e comendo. – Andem logo, tenho pressa.

— Paola a maçã era dele. – O marido ficou indignado diante daquela atitude.

— Não existe só essa daí. – Respondeu fazendo pouco caso.

Ele a fitou por uns segundos, mas não dissera nada. A última coisa que gostaria era de uma briga.

— Ok. Tudo bem. Descasco outra. – Disse pegando uma maçã de cima da mesa dentro da fruteira.

Paola foi para a sala se sentando para esperar enquanto se olhava no espelho de mão. A tempo que começou a se maquiar melhor, destacando seus traços como os olhos e dando vida a boca com um batom vermelho.

Claro que aquela cor sempre esteve em seu estojo de maquiagem, mas agora não se vestia ou se pintava como uma amadora. Suas habilidades melhoraram e com isso passou a atrair mais os olhares do sexo oposto.

Rick correu até a sua mãe segurando a maça enquanto mastigava um pedaço que estava na boca.

— RICHARD... – Seu pai o chamou.

— Pera paizinho... – Ele pulou no colo de sua mãe e seus olhos pousaram sobre ela.

— Richard, vai amassar meu vestido e sujar. – Ela o empurrou para o chão tomando cuidado para não o machucar.

Ignorando qualquer coisa que a mãe fez, Rick voltou a subir no colo dela querendo se aconchegar.

— Mamãe, você vai nos brinquedos comigo? – Ele sorriu para ela mexendo no colar olhando de perto.

Tudo nela o encantava.

— Não Richard, não posso e não vou te acompanhar.... Agora sai daí, - Voltou a colocá-lo no chão verificando se o vestido estava sujo.

— Nem o tio alvo? – Ele olhou para cima colocando as mãozinhas no sofá sentado no chão.

— É o quê? – Finalmente olhou para o filho.

— Tio alvo. Que tem que acertar a latinha e ganhar brinquedo.

—  Ah, tiro ao alvo. Está bem, Richard eu vou. – Estava nervosa querendo que ele não a torrasse a paciência. – Agora vai tomar seu café.

Ele abriu um enorme e largo sorriso para a mãe que derreteria o maior coração de gelo. Mas não a Paola que apenas olhou para sua roupa passando a mão no vestido para desamassar.

 

 

Rick estava feliz na cacunda do pai, comendo algodão doce e trazendo um brinquedo na mão do Power Rangers. Em toda parte, se via crianças e jovens com bonecos ou algo que fazia a referência a série de sucesso entre os jovens.

Richard ganhara o brinquedo para o filho acertando as latinhas com uma bola de tênis. Claro que seria simples ir a uma loja e comprar a coleção dos heróis, mas para uma criança era muito mais divertido ganhar na sorte.

— Já vamos para casa? – Paola estava impaciente e com os pés cansado de ficar em pé olhando do lado de fora os dois se divertirem na roda gigante e outros brinquedos.

— Não chegamos não faz nem uma hora. – Richard olhou para ela perplexo.

— Pois quando completar uma hora, estou indo embora. – Colocou óculos escuros fazendo uma careta toda vez que olhava para as outras crianças.

— Carrinho bate-bate – Rick apontou o brinquedo onde as pessoas batiam umas nas outras, sem pensar muito ele jogou o brinquedo para a mãe segurar.

— Então vamos, filhote. – Richard segurou nos pulsos do filho erguendo ainda mais para o alto enquanto este ficava sentado em sua cacunda e correram em direção ao brinquedo com os dois rindo.

— Boa sorte – Paola se sentou no banco depois de olhar para eles e colocou um folheto antes para não se sujar deixando o brinquedo de lado com certo nojo – Sabe quantas pessoas já pegaram nisso aqui? – Gritou, sabendo que nenhum deles iriam ouvir.

O parque de diversão estava cheio, mesmo para um horário matutino. Crianças correndo, adolescentes rindo alto e pais por todos os cantos correndo atrás dos filhos pequenos que insistiam brincar nas barracas para ganhar prendas.

Eram assim em todos os verões e para ela já não era bem novidade. Aquilo irritava profundamente Paola. Odiava gritos e crianças mais do que qualquer coisa no mundo, os três anos longe do seu único filho fizera a ser uma mulher impaciente e frívola.

Estava tão absorta em seus pensamentos egoístas que não se dera conta de um garoto de doze anos se aproximar tomando o brinquedo até ele se exibir para seus amigos na sua frente.

— Olha o que encontrei.... – O menino de aparência rude se gabou.

— Hei, garoto volta aqui. – Ela levantou com uma enorme rapidez puxando ele pela camiseta com uma agressividade – Deixa de ser estupido. – Puxou o brinquedo da mão dele. – Você não achou você roubou. Ladrão.

— Estava jogado no banco moça e achado não é roubado. – Com uma agilidade ele puxou da mão dela e correu para longe se embrenhando no meio da multidão sumindo de vista.

Paola bateu o pé nervosa. Queria bater no moleque de cinta e não se importaria se fosse presa por espancamento. Caminhou até barraca que o marido e o filho jogaram com a carteira na mão para pagar ao dono.

— Meu marido e meu filho estavam aqui quase agora, quero outro boneco vermelho que eles pegaram. – Disse isso sem olhar para cara do vendedor pegando o dinheiro.

— Tem de jogar! – O vendedor da barraca avisou.

— Não quero jogar eu quero comprar o brinquedo....  AGORA! – Berrou ficando levemente ruborizada trincando os dentes de ódio.

— São as regras, madame.... Tem que jogar para ganhar. – Ele colocou um sorriso presunçoso na face com um olhar malicioso.

— Vou.... Vou jogar o dinheiro na sua cara. Agora me dá a droga do brinquedo que estou com pressa.

— Acho que a madame não entendeu. Se não vai jogar tenho mais o que fazer –  Em questão de segundos ele se virou para atender outros clientes fazendo pouco caso dela mesmo com a aparência atrativa.

— Então me dá a porcaria da bola – Ela jogou com agressividade o dinheiro puxando as bolas de tênis das mãos do vendedor que quase teve seu braço fraturado pelo puxão.

Com direito a 10 chances, Paola acertou cinco o que podia fazer escolher os brinquedos mais baratos.

— Agora me dá a porra do boneco do Power Ranger vermelho.

A expressão que estava em sua cara nenhum homem sensato se atreveria de enfrentar.

— Dei o ultimo para um menino quando a senhora chegou. Tem o Ranger Preto. – Disse entregando e quase rindo dela.

— Eu deveria fazer você pintar de vermelho e depois engolir. – Voltou com o boneco em mãos se sentando no mesmo lugar para espera-los.

Era a última coisa que queria, ter que dar explicação ao filho porque não cuidou de algo que ele gostava e vê-lo chorar.

Com uma enorme impaciência ela os viu vindo em sua direção. Seus pés mexiam freneticamente.

Rick correu em sua direção e sentou-se no colo dela para contar a novidade.

— Ai, filho. Você está sujo. – Ela reclamou, mas desta vez não teve a coragem de tira-lo dali.

— Mamãe os carrinhos ficam batendo assim ó. – Ele mostrou empolgado as duas mãos dele se colidirem – E aí... – Seus olhinhos curiosos que não paravam um minuto recaíram sobre a mão da mãe. – Cadê meu ranger vermelho?

Richard olhou na mesma direção do filho também.

— O que é isso? Ele muda no sol é? – O moreno fez uma piada rindo daquilo.

Paola viu a chance para uma mentira e sorriu para o seu garotinho.

— É.... Isso.... Muda... Olha filho que legal. – Sacudiu o brinquedo.

— Esse não é o meu ranger vermelho. – Zangou-se cruzando os braços olhando feio para a mãe.

— Deixa o papai ver. – Richard tomou da mão da esposa olhando o boneco e depois olhou para a Paola. – Você pegou outro para ele?

— Depois que o menino roubou de mim? Sim!

— Como assim roubou? – Ele arregalou os olhos e voltou a atenção ao filho que começou a fazer bico para chorar com os olhos marejados.

— Um garoto estupido passou correndo e disse que era dele, de que “achado não é roubado”. – Disse olhando o marido. – Vê se eu posso com isso? – Seu olhar desceu para o Rick. – Depois a mamãe compra outro vermelho para você! Aqui não tem mais. Nesse parque de pobre, nem tem um estoque.

— Você não fez nada para impedir do garoto? – Richard insistiu.

Nessa altura do Campeonato, Rick se jogou no chão e chorava copiosamente.

— Eu coloquei ele no banco para me sentar e esse fedelho passou correndo e pegou, eu fui atrás dele e tomei da mão dele, mas o moleque imundo pegou de volta e eu perdi ele de vista! Agora para de chorar, Richard. – Ela pegou o filho no colo. – Eu já disse que compro um vermelho depois.

—  EU QUERO O MEU RANGER VERMELHO AGORA. – Gritou a plenos pulmões com o rosto vermelho chamando a atenção das pessoas em volta.

— Filho tudo bem. Outro dia a mamãe vai comprar para você um ranger vermelho mais bonito e maior que aquele. A coleção completa.

Richard agachou ao seu lado e Rick só soluçava.

— Ai, toma, pega ele... – Paola entregou o filho para o marido. – Vou procurar esse boneco para ele. – Sem despedida, segurou a bolsa e foi embora.

Ela não iria buscar o boneco, ela saiu apressada porque estava atrasada para se encontrar com Lorenzo. O seu amante número um.

Com todo carinho, Richard abraçou o seu filho Rick sentindo a tristeza dele. Não entendia porque a esposa tinha que falar tão duramente com o menino que tinha apenas três anos. Ele ficou olhando Paola sumir entre as pessoas como um pontinho vermelho em meio a maré de gente.

Ele repetia para si que talvez Paola estivesse estressada com a maternidade tão cedo e que realmente quando ela dizia não estar pronta era verdade. Mas agora que tinham um filho ela não podia pelo menos tentar?

— A mamãe vai comprar seu brinquedo, não precisa mais chorar, filho.

Rick soluçava e seus olhos em baixo das pálpebras estavam vermelhos. Aos poucos e de forma lenta ele se acalmava com o abraço do pai que lhe afagava dizendo que a mãe iria lhe dar brinquedo novo.

Richard limpou os olhinhos dele e lhe depositou um beijo na bochecha molhada.

— Mais tarde você vai ter todos os Rangers. Enquanto isso vamos aproveitar o dia no parque.

— Jura papai? – Perguntou com entre os soluços que lhe cortava a frase.

— Juro. Você ouviu a sua mãe. Então sem choro.

Ele entornou o filho de ponta cabeça fazendo cocegas. Aquilo arrancou boas gargalhadas do pequeno.

Por algumas horas Rick pôde se distrair esquecendo a manhã desagradável e tristeza na qual passou.

O céu estava pintado de laranja e o sol quase se pondo, se escondendo por trás dos prédios empresariais quando voltaram para casa.

Rick dormia nos braços do pai extremamente exausto. Richard carregava seu filho com balões e brinquedos que compraram nas barracas. Ele subiu os degraus em direção ao único quarto infantil em toda a casa. Na qual estava totalmente diferente do que foi há um ano e meio.

O quarto de bebe em tons de azul e vermelho ainda estavam lá, com a diferença que os soldadinhos da guarda real britânica desaparecera junto com o berço.

Prateleira com coleções de carrinhos enfeitavam as paredes e bonecos de super-heróis substituíram os ursinhos de pelúcia.

Paola abriu a porta da frente sorrateiramente para saber se já haviam voltado, mas estava tudo em completo silencio. Ela se dirigiu para seus aposentos se jogando na poltrona.

Rick estava dormindo tranquilamente em sua cama com seus prêmios em volta e balões decorando o teto do quarto. A figura a sua frente fez seu coração derreter. Nada mais lhe dava tanto orgulho que ver aquela figurinha dormindo a sua frente. Rick seria a pessoa que ele mais amaria em toda a sua vida.

Inclinou para dar um beijo na testa e saiu fechando a porta com cuidado para não fazer barulho. Ao entrar em seu quarto particular deparou com a Paola trocando de roupa.

— Chegou agora? – Andou até a esposa dando um beijo. – Comprou o brinquedo?

— Não, Richard. Não cheguei não – Irônica – Ainda estou na esquina. E para a sua informação eu não comprei nada. Não achei o bendito brinquedo.

— Nada? Ele estava contando que quando chegasse você já estaria com o brinquedo dele.

A loira revirou os olhos. Estava pronta para descansar e sem pensar, tomando uma atitude de momento e raiva disse:

— Ok, Richard, eu vou trocar de roupa e vou dessa vez dirigir até Londres.  – Pegou a primeira coisa que viu no closet vestindo e saiu do quarto batendo a porta sem olhar para trás.

— Mas Paola....

Cada gesto rude, grosseiro e frio confundia os sentimentos do Richard que se magoava cada dia e se perguntava se casar com ela foi a coisa certa.

 

 

A porta do apartamento foi aberta e por ela um homem de aparência latina, pele morena e cabelos negros de olhos castanhos apareceu diante da porta com calça listrada de algodão e sem camisa.

— Não pensei que nos veríamos tão logo. O que houve?

— Decidi esticar a noite – Ela o empurrou para dentro do quarto, deixando os brinquedos que conseguiu encontrar em Londres em cima da cadeira próxima a porta. – Vamos fazer sexo a noite toda e é bom me aguentar.

Ela se sentou no seu colo de frente para ele.

— O que isso significa? Sexo selvagem? – Ele a jogou na cama ficando por cima.

— Exatamente isso.... Exatamente – Ela o arranhou nas costas com força para cortar e ferir.

Todo o medo e raiva eram desforrados da maneira mais libidinosa.

 

 

Como no dia seguinte era Segunda-Feira, Richard havia levantado mais cedo que o dia anterior. A realidade é que mal havia pregado os olhos com a ausência da esposa. Não lhe cabia a ideia que ela pudesse ter feito aquilo, dormir fora de casa quando não houve um motivo real.

Será que ele estava sendo controlador? Egoísta? Realmente foi ele que havia mudado ou ela que havia deixado de o amar?

Ele estava com o olhar vago e o jornal em suas mãos parado no ar sem ao menos ter lido uma única palavra. Doía demais a falta dela em casa e aquele clima estranho de que algo entre eles acontecia.

Ao seu lado, Rick bebia o leite com a ajuda da babá.

— Papai, cadê a mamãe?

Aquela pergunta fizera Richard sair dos seus devaneios dobrando o jornal jogando em cima da mesa.

— Não sei filhote. A sua mãe saiu.

— E o meu brinquedo?

— Ela vai trazer. – Sorriu, mas na verdade querendo chorar de tristeza pela forma que a Paola saiu de casa na noite passada – “Eu espero”. – Pensou – Porque não vem trabalhar com o papai hoje?

A única coisa que ele pensava era que o filho ficava muito tempo sozinho com babá e não tinha um irmão. Ele mesmo se sentia sozinho por ter sido filho único e sabia bem o que o Rick poderia estar sentindo também.

— Eba! – Rick pulou empolgado sem entender muito bem o que era trabalhar.

Naquele exato momento – onde a mansão estava em silencio absoluto, exceto pela comemoração da única criança da casa. – Ecoou o barulho da porta de entrada.

De uma só vez Paola entrou passando na sala de café da manhã e viu os dois juntos. Entregou o boneco sem beijos e sem abraços. Não conseguia olhar na cara de nenhum dos dois.

— Tá aí filho. – Sem dizer uma só palavra a mais ela deixou os dois sozinho subindo para o quarto.

Rick só conseguia pular feito uma mola de um lado para o outro com a caixa de brinquedo. Richard estava tão feliz quanto o filho.

— Não disse que a mamãe ia comprar? – Beijou ele e pediu para a babá ficar de olho nele enquanto subia para falar com a Paola – Amor.... Onde é que você estava?

Paola estava sentada de frente para sua penteadeira que se encontrava no seu próprio closet. Retirava a maquiagem para dormir e o olhou pelo espelho com um olhar mortífero

— Procurando a droga do boneco. Onde mais eu poderia estar?

— De madrugada também? – Sua sobrancelha levantou, trincando os dentes. Mas em nenhum momento alterou a voz.

— É claro que não. Estava em uma espelunca que não consegui dormir direito, e estava cansada de mais para dirigir de volta para casa. – Ela se levantou de forma brusca cruzando os braços de frente para o marido.

— E porque você não me ligou para te buscar? – Ele abaixou as sobrancelhas em uma carranca.

— Ia adiantar? Você ia falar: Você disse que só voltava com esses bonecos esgotados em todos os lugares do planeta!

— Eu não ia falar nada disso. Richard queria muito esse brinquedo, mas também não precisava passar a noite fora por isso. Ele ia saber esperar!

— Bom eu já passei e eu estou cansada! Se me der licença.

Rapidamente ela trocou de roupa na frente do marido, escolhendo uma camisola de cetim na cor preta e caminhou até sua cama colocando uma máscara cobrindo os seus olhos e deitou o ignorando totalmente.

Richard estava magoado e cansado de tentar um diálogo com a Paola.

Bem no exato momento que Richard iria deixar o quarto, Rick entrou pela porta exibindo os novos Rangers coleção completa.

— OLHA PAPAI... – Ele jogou os bonecos no chão organizando eles um ao lado do outro.

— Que lindo filho. – Respondeu sem olhar muito. – Você já agradeceu a mamãe?

— De nada – Paola respondeu sem nem mesmo deixar o menino ir até ela e falar.

— Bigado mamãe – Subiu na cama para dar um beijo nela.

— De nada – Respondeu de olhos fechados – Agora deixa a mamãe dormir filho, ela está cansada. – Ela depositou um beijo nele e virou para o outro lado.

O sorriso que o filho deu, foi o suficiente para Richard perdoar o que a esposa fizera. Toda a raiva havia passado por ela ter arrancando aquele sorriso lindo e inocente que fazia toda a diferença do mundo.

— Amor, eu vou levar o Rick para o trabalho hoje, tudo bem? – Lhe deu um selinho para se despedir enquanto pegava o menino no colo.

Ela mexeu os ombros e um som quase inaudível saiu de sua boca.

— Tá – Respondeu totalmente com a voz grogue de cansaço, mas sem ao menos escutar de verdade.

       

 

Exatamente as quatro horas da tarde a empregada arrumava a mesa para quando Paola acordasse encontrasse o seu “café da manhã”. O sol naquela altura estava baixo, entrava timidamente pelas janelas deixando um pouco de sua luz dourada pelos objetos da casa.

A mansão dos Listing se encontrava em perfeito silencio.

A empregada deixou o suco de laranja posta na mesa e um prato de chilaquiles, como era de costume a patroa comer todos os dias. Todos sabiam a preferência por pratos mexicanos que a senhora Listing prezava.

No andar de cima Paola tomava seu banho, deixando a agua lavar o seu rosto, pensativa. Lembrava na noite anterior que passara nos braços de Lorenzo. Aos poucos a culpa ia deixando de lado para tomar conta do seu coração apenas a raiva e amargura.

Seu olhar recaiu em sua coxa onde uma mancha roxa estava.

— Eu vou matar ele. Mandei tomar cuidado com as manchas. – Ela esfregou o local como se pudesse retirar dali friccionando.

No andar de baixo Helga se aproximava da empregada para supervisionar o trabalho dela.

— Preparando o café da Senhora Listing? – Helga perguntou.

— É. – A outra fez uma careta lhe respondendo.

— Ela já acordou?

— Ainda não. Mas daqui a pouco ela vai levantar com certeza. Já são quatro horas. – Ela suspirou – Daqui a pouco chega gritando com todo mundo.

— Às vezes sonho com ela sumindo de vez dessa casa. – Helga riu com a empregada mais jovem que compartilhou do sentimento.

— Pode me ajuda arrumar tudo isso e levar para sala de jantar? Sabe que ela não gosta de comer na cozinha. Ela não se mistura com os empregados – A jovem fez uma outra careta ao falar da patroa.

Todos da casa compartilhavam da mesma ideia e sentimento. Odiavam a Paola com toda a sua força e com toda a sua alma. Sabiam que a patroa era uma pessoa mesquinha e sem compaixão.

Helga era sua hater número um, pois ela amava o pequeno Rick e não se conformava em como ela podia ser tão grossa e cruel com o próprio filho. Chegava a pensar que a qualquer momento mataria o próprio filho, talvez não propositalmente, mas porque não media as palavras e atitudes que tinha com a criança.

— É porque ela acha que vai ao banheiro e deixa para trás diamantes, só pode! – Comentou Helga fazendo as duas rirem.

— O que há tão de engraçado aqui? – Paola estava em pé atrás das duas com a mão na cintura em pose de modelo e olhar superior. O nariz olhava para cima e enrugava como se o ambiente estivesse fedendo.

No mesmo instante as duas funcionárias ficaram sérias.

— Não há nada senhora. – Responderam juntas.

— Acho bom mesmo. – Olhou para a mesa. – Vou tomar só o suco de laranja?

A empregada mais jovem arregalou os olhos para a governanta e correu até a cozinha trazendo o prato de chilaquiles.

— Aqui senhora – Colocou a comida de frente para ela. – Desculpa, não esquecerei na próxima vez.

— Você é nova aqui? – Paola a acompanhou com o olhar vendo ajeitar a mesa a seu gosto enquanto se sentava.

Sempre se sentia superior a outras pessoas, principalmente se tratando de empregados ou pessoas com situações financeiras inferior a ela. Esquecendo que ela mesma não viera de berço de ouro.

— Não senhora. – A jovem empregada respondeu abaixando a cabeça.

— Então já deveria saber!

— Deseja mais alguma coisa senhora?

— Não, estão dispensadas para longe de mim! – Ela pegou o guardanapo colocando no colo pegando o copo de suco e bebendo.

— Com licença – Disseram em uníssimo.

— ESPEREM – Gritou chamando de volta apertando as mãos sobre a mesa em nervosismo.

Ambas pararam no meio do caminho com o cabelo da nuca arrepiando e por dentro fervendo de raiva. Ainda assim se virando para encarar o monstro a sua frente.

—Sim? – Responderam.

— Onde está o Richard? – Coçou a cabeça ansiosa. Paola sentira a casa silenciosa e dando por falta do filho que sempre vinha em sua direção quando ela se encontrava em casa.

O coração disparava de ansiedade.

— O Senhor Listing ou o menino Richard? – A mais jovem perguntou.

— Não ia perguntar pelo meu marido que está na empresa não acha? – Sua boca só faltava escorrer veneno.

— O Senhor Listing levou o Rick para a empresa, hoje. – Helga cortou a empregada na frente respondendo depressa.

A governanta olhou a empregada para que esta ficasse calada e não dissesse mais nada.

— Então porque perguntaram qual dos dois eu queria?

Paola não desculpava nenhum erro, perguntas estupidas e falta de profissionalismo. Era como se ela mesmo vivesse dentro de uma própria bomba prestes a explodir. Cada dia mais raiva e medo iam crescendo dentro dela e menos humana ela se tornava.

— Desculpa senho....

— Agora SAIAM! – Gritou como ultimato.

 

 

Richard abriu a porta para babá e abraçou o filho ajeitando no colo enquanto entravam em casa. Rick dormia com a cabeça no ombro do pai e os cabelos húmidos indicavam que brincara muito e estava exausto.

Por um momento achou que a ideia de levar o filho ao trabalho tinha sido péssima. Mas Rick e a babá souberam bem aproveitar os andares do prédio. Como sempre, tudo se tornava uma grande brincadeira e aventura.

Estava pronto para subir as escadas quando ouviu uma voz atrás de si.

— Porque não me avisou? – Paola estava de pé de braços cruzados com uma cara nada amigável, mas nada tão sério quanto do outro dia.

Por um momento ele quase pôde sentir em sua voz tom de preocupação. Estaria Paola preocupada? Parecia que esperara a tarde toda por eles somente para flagrar aquela cena.

— Mas eu avisei. – Se defendeu descendo o primeiro degrau para poder olha-la melhor.

— Quando? – Ainda de braços cruzados ela batia o pé no chão.

— Quando você estava indo dormir. – Ele aproximou para lhe dar um beijo no rosto e ela aceitou ainda sisuda.

— Sabe que não presto atenção quando estou com sono.

— Você concordou. Achei que tinha escutado... - Ajeitou o filho que lentamente escorregava no colo. – Vou por ele na cama.

—Ok.... – Ela virou de costas.

— Você não vai dar um beijo nele?

— Traz ele aqui então... - Olhou para o marido.

Richard levou o filho até a esposa inclinando um pouco, tirando a manta de cima do menino um pouco para ela beijar o rostinho dele.

Ela depositou um beijo mais serena, como se um peso tivesse sido tirado de suas costas. E uma vontade de o agarrar em seu próprio colo tomou conta dela.

— Pronto, coloca ele para dormir. – Ela mesmo voltou a cobri-lo passando a mão nas costas do filho.

— Ele adorou o presente.

— Que bom.  – Respondeu sem emoção indo para a sala de tv ligando em um canal qualquer.

— Disse que amanhã vai querer ficar com você em casa. – Richard a seguiu.

— Não tenho nada para fazer mesmo...

— Porque fala assim? Como se ele fosse qualquer coisa. Como se ele ficasse em segundo plano o tempo todo para você.

— Porque é meu jeito de falar assim Richard, vai querer se meter nisso?

Qualquer pergunta era suficiente para que ela o respondesse agressiva.

— Não. Mas você não era assim. Mudou tanto.

— Vai ficar resmungando que nem velho?

— Só queria que não falasse com tanta frieza e descaso com a gente. Somos sua família.

— Por acaso está tentando me mudar? – Ela jogou o controle para o lado pronta para levantar e fugir do assunto, mas ele se sentou ao seu lado.

— Amor você não era assim. Você era carinhosa, alegre, brincava com o Richard logo no começo. Estava mais presente em casa, tínhamos mais relações. Você está tão diferente. É como se fosse uma outra pessoa! Tão distante e fria. Se irrita por qualquer coisa, nunca quer estar presente nas coisas em que nosso filho está. O que houve? Você não me ama mais? É isso? Se enjoou de mim?

Com uma raiva e incomodo enorme ela levantou do sofá encarando ele.

— Para de tentar adivinhar o que aconteceu comigo! Você não está conseguindo chegar nem perto. – Pisando forte ela subiu as escadas indo para o quarto.

Suspirando e exausto de tanta briga Richard, subiu para pôr o filho na cama, tirou o tênis dele e deu um beijo antes de sair. Assim que entrou no quarto sentou-se ao lado da esposa lhe afagando as costas.

— Então me conta o que há. Eu vou saber entender, conversa comigo, meine liebe.

— Eu não posso. – Ela agarrou com força o travesseiro se encolhendo na cama.

— Porque não?

— Eu não quero contar. Porque vai acontecer de novo.

— O que vai acontecer?

— O que já aconteceu! O que me levou para o Estados Unidos e o que me trouxe para cá depois.

Uma frase. Era somente uma frase que lhe causava pânico. O sentimento de amar verdadeiramente e ser rejeitada era o que bloqueava.

E se ele deixasse de ama-la?

E se ele fugisse com o Rick?

E se o próprio filho não quisesse mais ela como mãe?

Eram tantos pensamentos e sentimentos dentro de si. A ansiedade os pensamentos negativos que torturavam dia após dia.

— Você nunca me contou porque saiu do seu país e depois dos Estados Unidos. Que tal me contar agora? – Ele tirou o cabelo dela da frente que lhe cobria o rosto.

— Eu não gosto de falar disso e não quero contar. Eu disse que quero esquecer o passado. Só que ele está acontecendo de novo.

— Se não me contar não vou poder te ajudar. Não vou poder impedir de que seja lá o que for aconteça.

— Você não pode impedir nada... Mesmo se quisesse...

— Mas eu sou seu marido. Tenho obrigação de te ajudar e te apoiar em tudo.

— Você não pode... – Fechou os olhos para não chorar, conseguindo conter as lágrimas.

— Posso sim... – Deu beijos nas costas dela. – É só me dizer. – Seus beijos continuaram até chegar ao pescoço.

Ela não se conteve e virou para o Richard prestes a ter uma recaída.

 - Você vai fazer que nem todos os outros. Você vai embora e eu vou ficar sozinha.... De novo. – Seus olhos encontraram o dele.

— Eu nunca irei embora. Nunca. – Olhou dentro dos olhos dela para passar confiança.

— Você vai sim – Ela fechou os olhos para não precisar sustentar aquele olhar. – Todos vão.

— Eu não sou todos. – Os lábios desceram para o colo dela e subiu para boca. – Eu te amo.

Ela enlaçou os braços em torno do pescoço do marido.

— Não quero falar o que é, eu não quero que vá, e já aconteceu duas vezes, não quero arriscar uma terceira vez.

— Eu te amo meu amor.... – Ele a puxou trazendo para seus braços a apertando forte.

Ele a abraçou firme, não forte para não machucar e nem fraco porque seu amor não era frio. Inalou o aroma delicado dos seus cabelos e o que mais queria no fundo da alma era salva-la dos demônios interiores que a machucavam e não a deixavam viver.

Queria poder fazer alguma coisa, mas ela jamais lhe dava uma brecha para poder entrar.

— Richard...

— Diga... - Beijou o pescoço dela, o ombro e voltando a apertar mais.

Ela retribuiu o abraço descansando a cabeça no seu ombro.

— Eu senti saudade dessa Paola... – Sorriu se afastando dela para fita-la.

— Se ela continuar aqui você vai embora.

— Eu nunca irei para lugar algum. Eu sempre estarei aqui para você e nosso filho.

— Não. Eu tenho certeza disso, quando acontecer você vai pegar o Rick e vão embora...

— Amor – Ele a chamou entre risos. – Qual é a parte do: eu te amo você não entendeu? Vocês dois são tudo na minha vida.

Nada daquilo faria a mudar de opinião.

— Você que não entendeu. Ninguém fica comigo depois que eu falo...

— Fala o que?

— Eu não vou te falar!

— Então não precisa. – Ele tomou os lábios dela. – Esqueça o passado e viva o presente comigo. Eu te amo e é o que importa nesse momento. Você tem um filho lindo que te ama. Nosso filho. E tudo o que ele mais quer é a mãe dele com ele a Paola de antes que o enchia de mimo. Quero a minha mulher, melhor amiga e amante. E eu jamais poderei me abdicar dessas duas pessoas que eu tanto amo.

Como se a culpa e vergonha a dominasse, Paola virou-se de costa debruçando sobre o travesseiro escondendo o rosto.

O remorso de ter dormido com outra pessoa e como tratou as duas únicas preciosidades na vida dela de forma áspera, parecia ter aflorado diante daquele homem falando coisas lindas.

— Eu não posso.

— Será que isso que você teme é maior do que nós dois?

— Significa não ter mais vocês. Então sim, é maior esse medo.

— Eu não sou igual a essas pessoas que te magoaram e o Rick não tem culpa. – Suas sobrancelhas grossas afundaram sobre os olhos indignado.

Ela voltou a se sentar para poder olhar cara a cara.

— Não.... Não posso – Sacudiu a cabeça espremendo os olhos. – Desculpa, eu não posso voltar a ser o que era, porque você fala isso hoje, mas depois de dois ou três dias você vai embora e eu não vou ter ninguém.... Não vou ter nada.

— Eu nunca fui embora com aquela Paola quando namorávamos, não vai ser agora que eu irei você sendo a minha mulher.

— Isso porquê aquela Paola não tinha o que estou sentindo agora.

— E o que você sente agora?

— Medo.

Como gostaria de dizer que sentia muito amor por ele agora. Mas a coragem não foi suficiente e a palavra ficou presa na garganta.

— Porque antes não sentia medo que eu fosse embora e agora tem?

— Algo mudou.

— E o que acha que foi?

Paola olhou para ele e fazendo carinho na bochecha do marido. Richard tomou a mão dela e beijou e sem mesmo avisar ou se conter, inclinou por cima dela e a beijou na boca, passeando a mão pelo corpo feminino.

— Rich... – A frase que veio à mente morreu pelo caminho e mais uma vez ela se entregou.

Seus braços entrelaçaram em volta do pescoço dele e seus olhos fecharam para receber o beijo.

 

 

Os dois se abraçavam e beijavam aconchegantes no corpo um do outro na cama. Paola pousou a cabeça sobre o braço do marido enquanto Richard a abraçava olhando para o teto com o peito nu.

Por um bom tempo nada disseram um ao outro, apenas apreciaram o momento magico que havia acontecido ali.

— Pude sentir minha Paola novamente.

Diante daquela frase, ela escondeu o rosto no peito dele.

— Que foi? – Richard ergueu a cabeça tentando olhar para ela.

— Não foi nada. – Ela se esforçava para não chorar.

— Parece triste. – Ele acariciou a bochecha rosada da esposa e ela nada dissera.

Rick no outro quarto da frente acordava confuso. Ele olhou para o lado espantado notando estar em casa. Com medo correu para o quarto dos pais com a manta enrolada em volta do corpo. Porem encontrou a porta trancada do quarto deles.

— PAPAI. ENTRAR! – Com desespero ele mexia a maçaneta girando-a enquanto chorava com pavor do corredor.

Tomados pelo susto Paola pulou da cama pegando a camisola branca de cetim vestindo rapidamente colocando uma peça intima e esperando o marido se vestir com uma calça de algodão.

Com os dois vestidos apropriadamente ela abriu a porta olhando para baixo oferecendo seu colo para o filho se aconchegar.

— O que foi, hijo?

Rick a abraçou com tanta força que a fez tossir a engasgando.

— Hei filhote, o que foi? – Richard aproximou dos dois colocando as mãos nas costas do Rick.

O menino estava suado com os cabelos grudando na testa e na nuca. O olhar estava arregalado e as bochechas vermelhas.

— Você sumiu, não quero dormir sozinho.

— A mamãe deixa você dormir aqui hoje – Paola lhe depositou um beijo. – Tudo bem?

Rick concordou com a cabeça.

Com agilidade e extrema cautela, Richard trocou o lençol da cama e deixou que os dois se acomodassem. Paola deitou junto ao filho, ninando e cantando sua música favorita que ele amava quando um bebê.

— Vou preparar o leite dele. – Richard saiu do quarto deixando os dois a sós. Momento perfeito para ela que não gostava de demonstrar carinho pelo Rick na frente das pessoas.

— Acordou assustado filho? – Paola olhou para seu garotinho fazendo carinho em seu rosto.

— Sonho ruim.

— Que sonho ruim meu anjo? – Ela o puxou mais para perto e fechou os olhos para sentir o cheirinho do seu menino.

Ela fazia isso tão poucas vezes e já que abaixou a guarda por algumas horas, queria aproveitar aquele contato que era o seu predileto. O cheiro de talco, a mãozinha pequena a tocando e a vozinha a chamando de mamãe. Não havia sensação melhor.

— Papai e mamãe dormiu para sempre.

— A mamãe e o papai não vão dormir para sempre, filho!

— Promete? – Os olhinhos azuis buscaram os dela para sentir segurança por trás daquelas palavras.

— Eu prometo. – Disse dando um cheiro no pescoço dele tirando gargalhadas do menino.

— Cosquinhas.

— Coquinhas, é? – Sem aviso voltou a beijar o filho no pescoço que com os protestos entre risos pediu:”Para” – Porque parar se você se é uma delícia? – Seus beijos desceram para a barriga.

Paola amava ver em como Rick era tão parecido com o pai quando sorria e como era uma fofura ver os dentes de leite dele. Ele esperneava buscando uma maneira de fugir da mãe.

— Lindo! Nem tenta sair daqui mocinho. – Ela o segurou firme torturando ele com carinhos mais um pouco antes de parar e o fez sentar na cama. – Mamãe parou.

Ele respirava ofegante olhando ela.

— Faz mais. – A cara de sapeca estava estampada.

Aquilo fez ela sorrir enchendo de beijos na barriga branca do seu filho que gritava e se mexia como uma minhoquinha.

— Você agora.

— Eu? – Perguntou assustada.

— É...

Sem esperar por aquilo, Rick levantou a camisola da mãe para assoprar na barriga dela.

— Não filho. – Ela o impediu e levantou os bracinhos dele para cima – Vou morder seu pescoço!

— Não, não, não. – Ele riu.

Brincaram juntos por exatamente dez minutos antes do Richard chegar com a mamadeira de leite. Ela o ajeitou entre as pernas e o deitou para mamar.

— Depois dormir, cariño. E não precisa ter pressa, o seu leite não vai fugir. – Ela passou a mão na testa do seu filho tirando o cabelo da frente dos olhos dele.

Rick se aconchegou nos braços maternos e a olhava com aqueles olhinhos azuis e inocente como se a mãe fosse um anjo e a única no mundo. Um olhar que somente um filho se dirige a sua mãe.

Com aquele aconchego e os dois ao lado, nada poderia lhe dar mais segurança e sensação de ser amado.

Rick puxou a mão do seu pai para segurar a mamadeira. Quando tinha a mãe junto de si, adorava ser mimado.

— Segura na boca dele Richard. – Paola disse.

— Melhor que isso. -  Sem avisou, ele se acomodou as costas da esposa e a abraçou puxando-a para que se acomodasse entre suas pernas dando na mão dela o leite. – Agora você vai dar para ele.

Na posição que estava ele acomodava ela e podia acariciar a cabeça do Rick enquanto assistiam a cena do filho sereno com eles.

Por aquele gesto, Paola não esperava e o coração transbordou de amor derretendo naquela noite.

— Você me desarma.

— Eu? Mas eu não quero que ande armada.

— Não quero perder vocês e se para isso tiver que ir armada eu irei.

— Por favor não faz isso.

— É instinto, não controlo. Hoje você me desarmou, mas eu ainda estou com medo.

— Esse momento está sendo tão bom. Eu quero que continue assim para sempre. Cadê aquela mulher valente com quem eu me casei?

— Ela está com medo e está atacando para se proteger. – Ela apoiou a cabeça no peito dele e fechou os olhos tirando o foco de atenção do filho. Richard, me desculpa. Me desculpa por tudo, mas se você for embora.... – Ela não conseguiu dizer. – Eu acho que prefiro que não olhe na minha cara por um tempo porque fui uma cretina do que vocês irem embora para sempre.

Rick largou a mamadeira e já prestava atenção aos pais. Ele sentia que algo de muito importante acontecia.

— Eu te amo tanto que eu não sei porque não acredita em mim. Eu não te abandonaria.... Nunca! Eu não sou igual as pessoas que te magoaram. Se no caso fosse você que fosse embora eu tentaria fazer de tudo para voltar para casa, eu não aguentaria a distância.

A garganta ficou embargada.

— Não quero arriscar. Você pode não estar mentindo, mas não pode prever a sua reação.

— Mamãe, eu terminei. – Rick sentia que aquilo não era bom, ele nunca tinha aquilo com frequência e agora que tinha não queria os dois discutindo.

— Prontinho lindo? Não quer mais? – Ela tomou a mamadeira da mão dele colocando na cabeceira do lado. – Richard, me entende.... Eu não posso arriscar isso, vocês.

— Filho, você ama a mamãe? – Richard perguntou.

Rick se sentou ficando de frente para a mãe, automaticamente ficando de frente para o pai também. Seus olhos correram para os pais.

— Amo muitão. – Seus dedinhos deslizaram para o rosto da Paola em seguida de um beijo.

— Só se eu fosse um monstro para separar ele de você, amor.

Ela o apertou o filho feliz de ouvir a declaração mais sincera e pura.

— Mamãe amanhã eu quero ficar com você.

— E eu vou ficar, mi amor.... – Ela sorriu para ele. – Porque não tira o dia de folga, Richard?

— Eu poderia tirar um dia de folga, mas o que eu queria mesmo era viajar junto com vocês dois.

— Para onde?

— Que tal irmos ao México novamente? O que você acha filhote? Vamos passear?

— O que é México, papai? – Rick perguntava, mas já não dava muita atenção aos dois. Ele pulava na cama perto deles.

— Um lugar longe daqui, onde a mamãe nasceu.

— Eu não tenho saudade de lá, amor. Não quero voltar onde tudo começou.

Aquela rejeição de voltar ao país de origem deixou uma desconfiança no Richard. Passaram a lua de mel no México e Paola havia adorado, mas parecia que todo o pavor havia desenvolvido de tal maneira que parecia que a qualquer momento Paola diria o que realmente aconteceu se ele insistisse um pouco mais.

— Às vezes precisamos enfrentar nossos demônios.

— Então eu aceito ir. Mas vai ser Cancun.

— Por mim não tem problema, querida. Olha... – Ele fez uma pausa como se pensasse no que dizer antes de continuar. – Se você prometer se esforçar a tirar essa dor e me deixar entrar mais nessa carapaça que você criou, eu prometo não tocar mais no assunto e de fazer perguntas sobre seu passado.

Paola não teve chance de prometer, pois Rick pulou em cima deles tirando a concentração bocejando em seguida. Ela o trouxe volta para si ninando ele que ficou quietinho fazendo um pouco de manhã.

— Hoje de manhã eu fiquei pensativo, sabe? Fiquei vendo o Rick brincando sozinho com a babá e pensando porque a gente não pode outro filho?

— Não, Richard! Nem pensar. Você me pediu um filho só com um ano de casamento e eu só tive porque já estava gravida. Mas nem pensar. Nem sempre irmãos são bons.

— Você tinha algum irmão?

— Sim, mas não vem ao caso. É minha última palavra. Não quero outro filho! E sem mais perguntas, você disse que não ia falar sobre meu passado.

— Tudo bem. Sem passado. Somente o presente.

Ficaram sem dizer mais nada. Rick não demorou muito para dormir com os carinhos maternos e parecia que ao contrário de alguns minutos atrás que o fez correr para o quarto dos pais, estava tendo um sonho maravilhoso pelo sorriso estampado.

Ela beijou a mãozinha dele suspendendo a cabeça do filho perto do peito.

— Ele parece um anjinho, se eu pudesse congelaria essa noite toda. – Admitiu sincera o que sentia no peito.

Richard virou o rosto dela lhe dando um beijo selando ali seu compromisso de que a amaria para toda a vida.

Naquela noite de verão, ambos não conversaram mais nada. Deixaram que os sentimentos e as ações falassem por si só. Por um dia a família Listing teve sua paz deixando o amor reinar.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Mereço recomendação? Só curiosidade mesmo. rsrs



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Cosmos" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.