A Assassina e o Alquimista escrita por Lilás


Capítulo 44
Licht und Schatten


Notas iniciais do capítulo

Atualização sábado de manhã? Que incomum.
O título do capítulo de hoje está em alemão e quer dizer "Luz e sombra" (mais detalhes no próprio capítulo e nas notas finais). O capítulo está divido em duas partes: a primeira parte é um flashback e, na segunda, voltamos ao tempo normal. A boa notícia é que Edward Elric estará de volta no próximo capítulo!
Quando eu escrevi esse capítulo, estava empolgada com os meus estudos particulares de alemão e nada melhor do que juntar com outra atividade, né non? Na verdade, ao reler esse capítulo dias atrás, eu fiquei com raiva dele porque eu escrevi um monte de maluquices e cheguei até a pensar em cortar fora metade do capítulo. Mas resolvi que vocês mesmos leiam e digam se tudo isso é realmente maluquice minha. Além disso, nem tenho mais tempo para corrigir.
A propósito, encontrei uma fanfic em um site gringo em que a própria autora diz ser o primeiro crossover de AGK com FMA (tá bom, ela postou dois meses antes de mim), mas a história dela chega a ser mais absurda que a minha. Para começo de conversa, Edward e Alphonse aceitam virarem assassinos numa boa e, inclusive, participam da missão onde encontram Tatsumi logo no começo de AGK!
Mas chega de falatório e vamos para o capítulo de hoje.



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— E se a gente usasse música? – Zampano sugeriu quando ele, Jelso, Akame e Alphonse sentaram ao redor de uma fogueira para jantar.

Predominantemente, eles conversavam entre si usando a língua de Xing, porém todos concordaram que seria bom conversar, de vez em quando, no idioma nativo de cada um. Alphonse, Jelso e Zampano conseguiram associar um pouco mais facilmente a língua originária do Império por causa da semelhança com o idioma de Xing, contudo não foi tão fácil para Akame compreender o alfabeto amestrino.

Amestris tinha quatro idiomas oficiais, mas apenas dois deles eram falados por pouco mais de noventa por cento da população do país. Akame aprendeu mais ou menos o primeiro idioma, depois de meses de uma repetição exaustiva das palavras mais comuns. Insistia em trocar os “eles” pelos “erres” e Alphonse sempre a corrigia com um sorrisinho sem graça. Porém, o segundo idioma, que o próprio Alphonse disse ser como uma versão mais complexa e expandida do primeiro, era um verdadeiro desafio.

— Talvez – Alphonse meneou a cabeça – não seja necessário aprender isso, Akame...

— Não – Akame tocou no braço dele para chamar sua atenção – Eu quero aprender – e se encolheu um pouco – Não é justo que vocês fiquem o tempo todo conversando em uma língua que não é sua por minha causa. E eu ainda falo com um sotaque muito ruim...

— Acho bonitinho o seu sotaque – Alphonse falou, simplesmente – Ah, eu falei isso alto? – ele coçou a nuca e, sorrindo horrivelmente amarelo, disse mais cinco ou seis palavras em uma língua que Akame não conseguiu identificar.

— Certo, garota – Zampano lançou um sorriso matreiro para Alphonse, antes de se voltar para Akame, puxando um estranho instrumento de cordas de uma das sacolas. Akame não entendia muito de música, mas achou parecido com um instrumento tocado por atendentes de casas de chá em seu país, apesar deste ter um formato mais bojudo e um pouco menor – Então, poderíamos tentar, não? Música pode facilitar o aprendizado. Deixa eu ver se eu consigo lembrar uma fácil...

Zampano ajeitou o instrumento sobre o ombro, friccionou um arco de madeira sobre as cordas e tocou uma melodia suave, antes de começar a cantar.

“Nun, liebes Weibchen, ziehst mit mir,

Mit mir der stillen Hütte zu.”¹

(Agora, querida esposa, retire-se comigo,

Comigo para a calma cabana.)

Ele parou de cantar e cutucou Jelso com o cotovelo.

— É o quê? – Jelso perguntou com a boca cheia de comida.

— É a sua vez – Zampano disse – Isso é um dueto, oras. Você faz a parte do gato.

— Está louco? Isso é bastante constrangedor – Jelso reclamou – E por que você escolheu essa música? Isso é música de criança.

— Você não quer ajudar a Akame-chan? – Zampano insistiu – Vamos lá. Deixa de besteira.

— Vocês vão ficar rindo de mim – Jelso amarrou a cara.

— A gente promete não ri de você – Alphonse levantou a mão em juramento.

Jelso respirou fundo, largando os ombros. Ele ficou alguns minutos olhando de um para o outro antes de soltar um barulho meio abafado pela boca, parecendo mais com o som de uma dobradiça velha. Alphonse e Zampano imediatamente soltaram sonoras gargalhadas enquanto Akame apenas sorria e balançava a cabeça.

— Um gato com tuberculose – Zampano disse, entre risos.

— Vocês disseram que não iriam rir, seus dois pilantras – Jelso reclamou – Isso já está ficando vergonhoso. Vamos trocar de música.

— Vocês lembram dessa? – Alphonse pigarreou forte antes de mudar o tom de voz para um ritmo mais melodioso.

“Gute Nacht, o Wesen,

Das die Welt erlesen,

Mir gefällst du nicht.

Gute Nacht, ihr Sünden,

Bleibet weit dahinten,

Kommt nicht mehr ans Licht!”²

(Boa noite, ó Criaturas,

que escolheram ao mundo,

Tu não me agradas.

Boa noite, pecados,

Fiquem longe daqui,

Não vinde mais à Luz!)

Nas primeiras palavras, Zampano identificou logo a música e tratou de tocar com seu instrumento para acompanhar a voz de Alphonse. Akame entendeu apenas a palavra “Licht”. Foi a primeira palavra que aprendeu.

— Eu lembro dessa – Zampano parou de tocar, mas continuava com o instrumento apoiado no ombro – Essa é antiga, heim? Lembro que cantavam essa música na igrejinha da minha cidade.

— Eu ouvia a vovó Pinako cantando essa música – Alphonse assentiu com a cabeça – O Ed não gostava muito dessa.

— Imagino que não. Olha, eu acho que você conhece essa – Zampano engrossou um pouco mais a voz – “Es war ein König in Thule...”³ (Houve um rei em Thule...)

— Podem parar vocês dois – Jelso sacudiu as mãos na frente deles – Vocês só escolhem essas músicas tristes. Parece até um enterro. Querem fazer a Akame-chan chorar? Olha aí, coitadinha, está quase dormindo.

Em resposta, Akame suspendeu as sobrancelhas e deu um meio sorriso.

— Não ligue para esses dois chatos, Akame-chan – Jelso se virou para Zampano – Sem contar que você consegue estragar qualquer música.

— Você está com inveja dessa minha voz de barítono – Zampano provocou – Gato com tuberculose.

— Vamos pensar em uma música mais animada, então – Alphonse sorria, tentando evitar uma possível discussão entre os dois – Ah, lembrei de uma – ele se levantou e fez uma exagerada pose heroica.

“O Freunde, nicht diese Töne!

Sondern lasst uns angenehmere

anstimmen und freudenvollere!...”4

(Oh amigos, mudemos de tom!

Entoemos algo mais agradável

E cheio de alegria!)

— Essa é boa – Zampano apoiou novamente o instrumento no ombro e os três começaram a cantar uma música inicialmente lenta, mas que foi ganhando intensidade até se converter em um hino alegre e otimista.

No resto da noite, eles se lembraram de outras músicas mais animadas enquanto Zampano tocava e Jelso e Alphonse imitavam o som dos instrumentos com a boca ou as mãos. Mas, não importavam o que eles fizessem, a única palavra que Akame lembrava daquela noite foi “Licht”.

Licht. Luz. Aquela palavra voltava a rondar sua cabeça. Talvez, fosse porque era o que ela estava mais precisando agora. Mas, se existe luz, também existe seu complemento, a sombra ou, como seus novos companheiros de viagem chamavam, Schatten. Estava aprendendo aquela língua estranha mais rápido do que imaginava.

Quando descobriu sua nova condição após usar o trunfo da Murasame, ela pensou que, apesar de tudo, ela ficaria bem. Afinal, havia realizado façanhas muito mais difíceis ao longo da vida e conseguiria achar uma forma de voltar a ser quem ela era quando achasse uma maneira de reverter o efeito do veneno em seu corpo. Mas não foi tão fácil assim e o veneno se espalhou como um tumor maligno.

O Império é um país onde as pessoas geralmente se recusam a falar sobre suas vidas íntimas, principalmente sobre assuntos sérios como doenças incuráveis ou a morte de pessoas próximas. Divulgar informações pessoais sobre alguém era considerado uma extrema falta de educação e invasão de privacidade. Portanto, era natural que a primeira reação de Akame foi não contar nada para ninguém. Com exceção de Najenda, ninguém mais sabia de sua real situação. E ela pretendia manter isso assim. Não queria que as pessoas sentissem pena dela ou a acusassem de ser um monstro. Já bastava todo seu histórico de vida. Continuaria agindo como se nada estivesse acontecendo enquanto procurava por uma solução.

A chance de poder sair do Império e conhecer outros lugares foi uma benção. Poder andar em uma rua onde ninguém a conhecia foi uma experiência interessante. Não precisar dar satisfações a ninguém era o que mais queria. E isso era a vantagem que mais apreciava em Xing. Porém, ao mesmo tempo, não se sentia confortável em estar no meio daquelas pessoas sorridentes e hospitaleiras de Xing. Passava mais tempo no deserto do que nos centros das cidades. O silêncio do deserto era estranhamente reconfortante.

Murasame era sua fraqueza. E Akame tinha medo de sua fraqueza ser exposta e o escondia ao máximo. Mas, ao querer voltar tanto a ser quem era, estava também fugindo da luz e se escondendo nas sombras. Estava se distanciando cada vez mais da pessoa que queria ser. Estava usando Murasame como desculpa para não precisar viver mais. Talvez, ter uma vida solitária e miserável como a sua fosse a punição mais adequada para todos os seus crimes.

Mas luz e sombra também são forças complementares.

— Resolveu aparecer só agora, Murasame? – perguntou, ainda de costas para ele – Tem tanto medo de mim assim?

— Rá, rá, rá – Murasame fez um som de risada sem humor – Quem faz as piadas aqui sou eu, queridinha. Principalmente, porque suas piadas não têm graça nenhuma.

Akame sentiu Murasame se aproximando atrás dela, mas ela continuou abaixada, olhando para onde Kurome estava há apenas alguns poucos minutos.

— Como sabia que – a voz grave de Murasame chegou aos seus ouvidos – Kurome era a chave de saída dessa dimensão?

— Não sabia – Akame respondeu, simplesmente – Mas, eu tinha certeza que você usaria a memória da minha irmã contra mim.

— Nem comece porque a ideia de usar suas próprias memórias para encobrir as memórias de Alphonse Elric foi sua. O que foi? Ficou com medo do cérebro dele virar mingau antes de conseguir achar a chave de saída? – ele deu uma risada debochada – Além disso, achei que gostaria de reviver os bons momentos com sua adorável irmãzin...

Murasame não teve tempo de terminar a frase porque precisou sacar rapidamente sua espada e repelir um ataque relâmpago de Akame. Ele olhou meio desorientado para frente e avistou Akame parada há poucos metros, com a espada em posição.

— Quer brigar, Kame-Kame-chan? – perguntou, em um tom sarcástico – Faz tanto tempo desde a última vez. Sabia que até hoje estou traumatizado desde aquela vez que você brigou comigo? Isso me custou horas de terapia...

— Você usou as lembranças da mãe morta do Alphonse-san – Akame o interrompeu – Isso é baixo até mesmo para você.

— Nunca ouviu que no amor e na guerra vale tudo? – Murasame também empunhou a espada – E essa cena de você com sua irmãzinha ficou realmente comovente. Se eu fosse humano e tivesse sentimentos, eu teria ficado inconsolável.

— Sei o que está pretendendo fazer – Akame exibiu o reflexo de sua espada – E não vou deixar.

— É o que vamos ver – Murasame pulou na direção de Akame e as duas espadas se chocaram no ar, saltando faíscas.

Os movimentos dos dois eram velozes demais para se acompanhar e só era possível ver os reflexos das espadas traçando desenhos brilhantes e destruidores de energia no ar. Aliás, a força dos dois era tão descomunal que o cenário ao redor sofria com cada golpe deles. O chão rachava e destroços voavam a cada investida. Além disso, Akame e Murasame corriam de um lado para o outro em alta velocidade, desaparecendo e reaparecendo em outro lugar, esperando surpreender o oponente. Mas, lutar com um ser com quem você tem uma relação simbiótica pode ser bem problemático. Além de prever seus movimentos, Murasame era tão rápido e forte quanto Akame.

Uma explosão de energia faz Murasame ser jogado para cima e se chocar contra uma grande montanha rochosa, fazendo-a vir abaixo. Quando a poeira se dissipa, Murasame aparece sem nenhum arranhão, tirando o pó de cima de sua armadura de samurai com uma mão. Murasame estava sem o capacete e exibia um rosto feminino muito semelhante ao de Akame, apesar de seus cabelos pretos estarem cortados bem curtos, em estilo militar. Ele jogou o capacete longe e sorriu, simpático, sem mostrar os dentes.

— Só isso, Kame-Kame-chan? – ele abanou a cabeça como se estivesse decepcionado – Isso não é nem um décimo do seu poder. Não sei o porquê dessa sua recusa em admitir até para você mesma quem você é. Não está me subestimando, não?

Akame respirava ruidosamente como se tivesse corrido uma maratona sem descansar.

— Está esperando que eu faça o primeiro movimento? – Murasame estalou o pescoço e alongou os braços – Então, vamos lá.

Akame suspende sua espada por instinto e apara um ataque que quase corta a sua cabeça fora. Murasame desfere golpes frenéticos enquanto Akame se defende com a mesma rapidez.

— Você não está pensando que pode me derrotar dessa vez, não é? – Murasame falou enquanto ele e Akame comprimiam as espadas uma contra a outra – Não aqui nessa dimensão.

Akame não responde e começa a empurrá-lo cada vez mais para trás.

— Ei! Espera aí! Espera aí – Murasame deslizava para trás, sem conseguir conter a pressão de Akame – Será que você poderia ser um pouco mais gentil comigo?

Os dois separaram as espadas e Murasame parecia se desequilibrar, mas ele inclina o corpo um pouco para o lado e faz um movimento rápido de baixo para cima, atingindo o rosto de Akame de raspão e fazendo um corte feio do canto da boca até a orelha da garota. Akame ignora a dor e, ao mesmo tempo em que desvia do golpe de Murasame, ela decepa o braço dele fora.

— Meu braço – Murasame faz uma voz de pânico bastante teatral – Eu não posso ver sangue – ele cambaleia para trás e começa a dar gargalhadas – Vamos apostar – ele aponta para o ferimento no rosto de Akame que começava a sumir lentamente – quem consegue se regenerar mais rápido? Mas, para ficar igual, eu vou ter que cortar um dos seus braços fora. Então, você pode me dar uma mãozinha?

Akame avança na direção de Murasame e os dois recomeçam a chocar suas espadas em um ritmo acelerado.

— Você não facilita as coisas para mim, heim? – Murasame precisou se abaixar e pular para evitar dois golpes seguidos de Akame – E olha só – ele mostrou o braço que ainda se regenerava – Sem uma mão.

Akame deu um impulso para cima e girou o corpo no ar antes de cortar a cabeça de Murasame.

— E sem a cabeça também – Akame deu as costas para o corpo decapitado de Murasame e se afastou dele alguns metros.

Akame havia acabado de perceber que não estavam mais na paisagem vazia e empoeirada de antes, bem semelhante ao deserto de Xing. O cenário mudara para uma área de árvores espaçadas, iguais aos campos ao redor da antiga sede da Night Raid.

— Você não tem senso de humor mesmo – a voz de Murasame chegou aos seus ouvidos – Isso não foi muito legal da sua parte.

Akame bufou, sem paciência, de costas para Murasame.

— Seu pai era muito mais engraçado – Murasame continuou – Olha o que você fez. Sujou minha armadura de sangue. Você sabia que isso é pior que molho de tomate?

— Não vai me deixar sair daqui até ter o que quer, não é? – Akame não olhou para Murasame.

— Eu?! – Murasame perguntou, cinicamente – Você é quem é a grande mestre. Esqueceu? Eu sou apenas seu humilde criado. Apesar de que – ele meneou a cabeça – você vai precisar da minha permissão para sair daqui.

— Você não tem jeito mesmo – Akame finalmente se virou para encarar Murasame. O braço decepado de Murasame estava totalmente regenerado, mas seu pescoço ainda ostentava uma grossa linha vermelha feita de sangue – Então, basta apenas que eu te derrote.

— Se você conseguir me pegar – Murasame estalou o pescoço e alongou os braços novamente – Bom, chega de aquecimento. Agora podemos começar a lutar de verdade. Mas, primeiro, vamos mudar esse plano de fundo. Detesto todo esse mato.

Murasame estala os dedos e o ambiente muda outra vez. Akame não conseguiu identificar inicialmente onde estavam, mas aos poucos ela reconheceu o lugar. Parecia muito com a rua principal da Capital do Império, porém estava... diferente. Os prédios em ruínas pegavam fogo enquanto pilhas de corpos se amontoavam nas sarjetas. A fuligem e o fedor de carne queimada impregnava o ar.

— Assim está bem melhor – Murasame se espreguiçou – Gostou dos efeitos especiais? – ele esperou que Akame dissesse algo mas, como não houve resposta, Murasame largou os braços ao lado do corpo com uma expressão desapontada – Eu sempre faço tudo para te agradar, sabia?

Logo após, sem aviso, Murasame dá um grande salto e Akame o segue. As lâminas das espadas se chocam violentamente enquanto os dois ainda estão pairando no ar. Flutuando a vários metros do chão, os dois trocam infinitos golpes de espadas, acompanhados de chutes e socos.

Murasame consegue acertar um violento chute em Akame e a garota voa como um míssil contra um prédio em ruínas, derrubando paredes durante sua trajetória.

— Ah, assim não tem graça, Kame-Kame-chan – Murasame diz com a voz entediada enquanto o prédio se esfacela como um castelo de cartas – Eu sei que isso não é suficiente para te derrubar.

Ele cruzou os braços e ficou alguns segundos batendo um pé como sinal de impaciência.

— Ah, vamos lá – Murasame dá de ombros e voa na direção onde Akame caíra – Onde está você, Kame-chan? – cantarolava enquanto andava no meio da poeira dos escombros.

Akame surge inesperadamente atrás de Murasame e, se ele não tivesse virado rápido, teria sido dividido ao meio. Mais faíscas voam com o choque das espadas combinado com os saltos acrobáticos dos dois. O lugar onde estavam parecia estar em ruínas e tanto Akame quanto Murasame usavam o ambiente para se desviar ou atacar. Murasame havia atraído Akame para uma espécie de rampa estreita de madeira, mas não adiantou muito porque Akame conseguiu fazer com que ele perdesse o equilíbrio e caísse por cima de um telhado, quebrando várias tábuas pelo caminho. Akame pulou atrás dele e as frágeis construções desmoronaram com a força dos impactos. Eles acabam aterrissando no imenso quintal de uma das casas. Murasame ainda não conseguira se levantar quando Akame parou ao lado dele, empunhando a espada de forma ameaçadora.

— Espera aí. Tempo. Tempo – Murasame se contorcia de bruços no chão – A regeneração não está funcionando...

Porém, antes que Akame chegasse mais perto, Murasame se levanta sobre um joelho e afunda a espada na barriga de Akame.

— Enganei você – Murasame fala como uma criança que acabou de realizar uma travessura. Mas, seu sorriso morre quando ele tenta puxa a espada de volta e Akame a segura com a mão livre – Larga isso, Kame-chan. Você pode se machucar... – Akame aproveita a proximidade e também crava sua espada no meio do peito de Murasame – Ai! Isso dói, sabia? Assim você destrói meu coração... – Murasame puxa o outro braço bruscamente, revelando uma nova espada, e tenta acertar o tórax de Akame, mas ela desvia e a espada acaba atravessando seu braço – Olha só – Murasame fala, cinicamente – Eu tinha outra espada.

Akame chuta Murasame para longe e os dois acabam se desprendendo um do outro, cambaleando para trás e espirrando sangue pelo chão. Ela olhou seus ferimentos se fechando lentamente e Murasame parecia fazer o mesmo. Apesar do poder de regeneração ser ilimitado, perder sangue não era nada bom. Isso sem contar a dor.

Os dois recomeçaram a lutar um pouco mais lentos porque suas feridas ainda estavam se fechando. No entanto, mesmo assim, ambos ainda eram muito rápidos e Akame se defendia das duas espadas de Murasame com uma única espada.

Em determinado momento, Akame acerta uma das espadas de Murasame e ela sai rodopiando no ar para encravar no chão a alguns metros de distância dos dois. Totalmente fora de alcance.

— Não poderia esperar menos de minha mestra – Murasame olha desanimado para a espada perdida, antes de trocar mais dois golpes com sua espada restante – Mas você ainda não está prestando a devida atenção para mim. Alphonse Elric está aqui por acaso? – ele bate com mais força na espada de Akame – Kurome está lutando com você? Não! Quem está aqui sou eu! Sabe que eu também sinto ciúmes?

Akame e Murasame se encaravam através das espadas pressionadas uma contra a outra. Eles ficaram alguns poucos segundos em um impasse até Murasame ser empurrado cada vez mais para trás por Akame. Ele se desequilibra um pouco, mas aproveita a quase queda para rolar para longe de Akame. Os dois se encaram a distância com as respirações ofegantes.

— Vamos esquentar as coisas? – Murasame sorri, maliciosamente, e imediatamente fogo envolve a lâmina de sua espada – Você deveria tentar usar suas chamas, Kame-Kame-chan.

— Dispenso – Akame franze a testa.

— Não quer usar as chamas? – Murasame parecia impressionado – Por causa de orgulho humano idiota? Bom, você quem sabe...

A luta recomeçou de um jeito mais desigual. As chamas de Murasame não ficavam restritas a lâmina da espada. Vez ou outra, ele as lançava na direção de Akame como se Murasame estivesse empunhando um lança-chamas. As rajadas de fogo se espalharam de forma incontrolável pelo local enquanto Akame se desviava intuitivamente, apesar de estar cada vez mais difícil fazer isso. Ela se sentia praticamente dentro de um forno e, aliado ao calor insuportável, Akame começava a ganhar queimaduras pelo corpo. E elas demoravam bem mais de sarar do que cortes de espadas.

— Por que não usa todo seu poder comigo, Kame-Kame-chan?! – Murasame urrava entre um golpe e outro – Está me subestimando?!! Eu vou te derrotar!! Ouviu?! Eu não vou ser familiar de uma humana para sempre!! EU SOU MAIS FORTE QUE QUALQUER UM!!

Akame tentava manter a concentração, apesar das chamas fazerem seus olhos arderem e a espada começar a escorregar das suas mãos. Murasame pulou no meio das chamas e conseguiu aplicar um chute forte contra o estômago de Akame. Como a luta já havia se deslocado para o alto de uma elevação de terra, Akame acabou despencando morro abaixo. Ela até tentou se segurar no mato ao longo do morro, mas só foi parar mesmo quando atingiu o telhado de um casebre miserável no final da encosta. Akame perdeu totalmente o ar ao bater as costas no chão e sentir três ou quatro costelas se quebrarem. Ela ficou alguns segundos intermináveis tentando inutilmente puxar o ar para dentro dos pulmões.

— Isso vai doer mais em mim do que em você, Kame-chan – Murasame não esperou Akame se regenerar e espetou a espada contra a barriga dela, prendendo-a no chão. Dessa vez, Akame deixou escapar um grito de dor abafado – Você ficou mais fraca, eu fiquei mais forte – Murasame tentava segurar os braços de Akame que ainda se debatia no chão – ou todas as alternativas anteriores? Por que você acha que eu trouxe você aqui? Aqui eu sou mais forte!!

Akame não conseguia pensar direito por causa da dor. As feridas estavam demorando a sarar e estava se sentindo fraca e cansada. Queria acabar logo com tudo isso. Queria um pouco de paz. Queria morrer. Talvez, conseguisse se sufocar com o próprio sangue. No entanto, nada era tão fácil assim para Akame.

— Desculpa, Kame-Kame-chan – desferiu um forte soco contra o rosto dela – Eu não aceito ordens de quem é mais fraco que eu – mais um soco e Akame sentiu o maxilar ser destroçado – Eu disse que um dia iria tomar seu lugar.

Akame só conseguia ouvir o som da própria respiração e das pancadas que levava no rosto. Murasame não queria esperar que sua mestra se regenerasse e continuou esmurrando-a sem parar, apesar de fazer uma careta de desaprovação a cada soco.

— Você é uma humana notável – admitiu quando Akame, com o rosto coberto de sangue, parou de lutar e respirava com dificuldade. Murasame também havia parado de bater em Akame, contudo continuava prendendo-a no chão – Orgulho-me de ter sido seu familiar. Não poderia deixar de ser. Nós somos iguais. Ambos levamos destruição aonde passamos – e deixou escapar uma risada pelo nariz – Temos um talento para destruir a vida de qualquer um a nossa volta.

Akame continuava respirando lentamente, sem se mexer. Mesmo que suas fraturas estivessem demorando para sarar, Murasame sabia que logo Akame estaria recuperada. Por isso, mantinha a espada atravessada na barriga da garota. Enquanto a espada ficasse ali, a ferida não se fecharia.

— Não foi assim com sua irmã, Kame-chan? – Murasame sussurrou perto do ouvido de Akame – Com seus amigos da Night Raid? A maldição atrai sangue e guerras e quem estiver por perto pode levar a pior. Me admira os irmãos Elric ainda estarem vivos. Vai ver eles são sortudos mesmo. Mas, ainda bem que Alphonse Elric ainda está vivo, não é? Ele será muito útil.

Através de todo aquele sangue, Akame encarou o rosto andrógino de Murasame. Ele afastou afetuosamente uma mecha de cabelo da frente dos olhos de Akame.

— Mudei de ideia sobre nosso acordo, Kame-chan – Murasame cochichou como se estivesse contando um segredo – Eu vou ficar com tudo. Vou ficar com você e com Alphonse Elric. Você vai ser minha ponte para o Mundo Humano e Alphonse Elric será minha ponte para o Plano Superior. Apenas imagine a festa que vai ser.

Murasame fez uma cara de surpresa ao encarar Akame.

— Você pensou que eu mataria Alphonse Elric? – Murasame sorriu para ela – Que mau juízo você faz de mim! Não, não o matarei. Agora, nada me impede de brincar com ele um pouco. Sabe como é minha natureza...

Akame fechou os olhos, lentamente.

— Você não vai dormir agora, não é? – Murasame perguntou – Não na melhor parte da festa. Alphonse Elric está com o pescoço salvo, mas você não quer ver o que eu vou fazer com a família e os amigos dele?

Akame voltou a abrir os olhos.

— Mais gente que vai morrer por sua causa, não é? – ele deu um sorriso quase afetuoso – Você se acostuma. Você sempre se acostuma. Não já se acostumou com o que aconteceu com Kurome? Pobre Kame-chan – Murasame afagou os cabelos de Akame – Não conseguiu nem salvar a irmãzinha. Além de ter a abandonado, matou com as próprias mãos. Mas, você deve ter ficado satisfeita, não? Ao sentir a espada perfurando o corpo de Kurome. Cumpriu sua função patética de irmã mais velha. E, afinal, ela teve o que mereceu...

Murasame é jogado com violência para trás, levando casas, árvores, pedras e o que mais estivesse na frente pelo caminho, aterrissando a quilômetros de distância de onde estava. Ele levanta a cabeça com dificuldade e aperta os olhos através da poeira levantada, tentando localizar o que o atingira. Ao final da trilha de destruição, uma figura envolta em chamas o encarava com olhos diabólicos e estranhas tatuagens espalhadas pelo corpo.

— Esqueceu quem é que manda aqui, Murasame? – Akame empunhava sua espada enquanto seus longos cabelos esvoaçavam ao redor.

— É magnífico – um sorriso de admiração misturado com surpresa se formou lentamente no rosto de Murasame – Você fica maravilhosa quando está na sua forma demoníaca, sabia? Você deveria ficar assim mais vezes.


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Notas finais do capítulo

Provavelmente, Zampano estava tocando um violino ou viola clássica, mas Akame confundiu com uma shamisen, um instrumento tocado por gueixas.
As músicas cantadas não foram escolhidas de forma aleatória e nem estão aí de graça. Três delas (ou todas elas) são pistas para acontecimentos futuros. Para facilitar, vou explicar algumas coisas:
1 - A primeira música se chama "Nun, liebes Weibchen"(Agora, querida esposa), mas é mais conhecido como "Dueto para dois gatos" e foi escrito por Amadeus Mozart para a ópera "Der Stein der Weisen" (que quer dizer, adivinhem, A Pedra Filosofal).
2 - Essa música é uma cantata sacra de J.S. Bach chamada "Jesu, meine Freude" (Jesus, minha alegria) - Parte IX. Por isso, Zampano disse que Edward provavelmente não gostaria dessa música.
3 - Na verdade, "Der König em Thule" ("O Rei em Thule") é um poema alemão por Johann Wolfgang von Goethe escrito em 1774. Goethe o usou mais tarde em sua tragédia "Fausto" e foi musicado por uma série de compositores. Na trama, Fausto é um alquimista que vende sua alma ao diabo Mefistófeles em troca de conhecimento e o amor de sua amada Gretchen.
4- Ode an die Freude (Ode à Alegria) é o nome do poema escrito por Friedrich Schiller em 1785 e cantado no quarto movimento da 9.ª sinfonia de Ludwig van Beethoven. A letra prega a união entre os povos e é o hino não oficial da União Europeia.
Ah, e não estranhem eu saber essas coisas. Quando eu era criança, eu ouvia muita música erudita. Segundo o meu pai, isso aumenta a inteligência.
...
Alguém entendeu o plano de Murasame? Lembra que, ao entrarem nessa realidade, apareceram as memórias de Alphonse? Era Murasame tentando invadir a mente dele. Akame percebeu e tentou ocultá-las jogando suas próprias memórias por cima. Então, Murasame estabeleceu uma condição para sair da dimensão que era Akame matar Kurome porque ele sabia que Akame evitaria encontrá-la. Mas ele não contava que Alphonse fosse atrás de Kurome. Tudo isso porque Murasame estava evitando ao máximo um confronto direto com Akame porque ele sabe que ela é bem mais forte que ele e, durante toda a luta, ele tentou ganhar dela pela intimidação.
Ufa! Nota gigante. E já chega por hoje!



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